Por Maria Betânia Monteiro
Para a Tribuna do Norte
O tema mais quente do primeiro dia do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa surgiu ainda no pátio de acesso ao auditório do Alberto Maranhão, onde estavam reunidos os escritores convidados e parte da plateia. Em entrevista à imprensa ou em bate-papos informais, eles falavam do movimento de valorização da língua materna nos países que tem o português como língua oficial, como Cabo Verde.
Tema recorrente no primeiro dia do Encontro de escritores de língua portuguesa é a questão do movimento de países como Cabo Verde, pela oficialização de sua língua maternaPara os escritores, o encontro trata com menor intensidade, da língua em si – como o recente acordo ortográfico. A maior ênfase está sendo dada ao processo de opressão cultural, firmado desde o período da colonização. “Investir na língua portuguesa não por ser uma forma de colonialismo lingüístico, ou neocolonialismo lingüístico, disse o professor Carlos Reis, durante a abertura oficial do evento.
O jornalista e escritor caboverdeano Daniel Eurícles Rodrigues, fala que Cabo Verde está passando por um momento político e social de resgate da identidade cultural, através da valorização da língua materna do país, que passa agora a ser chamada de caboverdeano. “Nós falamos o Crioulo, mas se o crioulo é falado em Cabo Verde, então falos caboverdeano. O Brasil não fala o português, fala brasileiro”, disse Daniel Eurícles.
Alguns escritores, porém, deram menor ênfase ao tema da opressão lingüística e preferiram ressaltar a importante fase do Brasil, que vem sendo colocado como uma potência mundial. Um desses escritores foi Antônio Carlos Cortez, poeta, professor e crítico literário português. Segundo ele o Encontro de Escritores é uma forma de afirmação da língua portuguesa para o mundo. “A língua transporta valores humanos e de uma cultura plural, promovendo um diálogo entre a Europa, a América e a África”, disse Antônio Carlos.
Falando também sobre a importância do Encontro de Escritores, o jornalista e professor potiguar Tarcísio Gurgel, colocou que neste momento em que foi firmado o novo acordo ortográfico para a língua portuguesa, discutir as transformações da língua com representantes de diversos países parece ser oportuno. Segundo ele, neste momento está sendo dada ênfase à língua e, por conseguinte à literatura. Além disso, ele ressaltou que quando se promove um encontro de diversos países que falam um mesmo idioma, as possibilidades do enfoque cultural são multiplicadas por mil. E assim como o professor Carlos Reis, Tarcísio Gurgel fala que é preciso ter cautela quando se discute diversidade cultural e unificação lingüística.
Carlos Reis destacou autores como A. Lobo Antunes
A abertura do EELP aconteceu na tarde de ontem, por volta das 15h30 e contou com a presença de autoridades, como a prefeita Micarla de Souza, e de convidados como o português Miguel Anacoreta, secretário geral da UCCLA. Estiveram presentes na abertura, representantes da UFRN, UNP e da Academia Norte-rio-grandense de Letras. Depois da abertura, o público formado por cerca de 500 pessoas prestigiou a conferência proferida pelo professor Carlos Reis. Em sua fala, Carlos Reis fez um passeio sobre a origem da língua, trazendo para os dias atuais registros históricos de autores portugueses. Um desses registros foi o de A. Lobo Antunes, no texto As Naus, que diz que a língua portuguesa tem vários séculos de peso histórico, de conquistas, de pobreza e de opressão.
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