Axé music completa 25 anos com maturidade financeira e perspectiva de longevidade no mercado fonográficoOs números do axé music alcançam cifras milionárias presentes no Guiness Book. O carnaval de Salvador é hoje o maior evento público do mundo, segundo o Livro dos Recordes. Somente este ano a festa popular recebeu investimentos de R$ 50 milhões e acolheu 500 mil visitantes vindos principalmente de outros estados e do exterior. Nestes 25 anos de trajetória, o axé music se transformou em um dos gêneros mais populares e rentáveis da música nacional. E pensar que tudo começou numa fobica...
As origens do axé remontam ao frevo pernambucano comungado com as “guitarras baianas”, inventadas por Dodô e Osmar na década de 50, em cima de um Ford 1929 chamado de fobica. Nascia ali o trio elétrico. Na década de 70, Moraes Moreira, ainda no Novos Baianos, subiu no trio (que era apenas instrumental) para cantar – foi o marco zero do axé music. A proliferação dos trios elétricos era concomitante aos blocos-afro. Filhos de Gandhi, Ilê Aiyê, Olodum tocavam ritmos africanos como o ijexá.
Foi Luiz Caldas (do trio Tapajós) quem teve a ideia de juntar o frevo elétrico dos trios ao ijexá para criar o Deboche, e os primeiros sucessos nacionais do que seria o axé. Chiclete com Banana, Cheiro de Amor, Sarajane vieram no rastro, até Daniela Mercury escancarar as portas do ritmo para o Brasil com O canto da cidade, em 1992. E porta aberta entra todo tipo de gente. Vieram Ricardo Chaves, Asa de Águia, Banda Eva e, aos poucos, a deturpação dos ritmos afros seria evidenciada com bandas como Gera Samba.
ProfissionalismoMicaretas e carnavais fora de época consolidaram o ritmo pelo país e fizeram do axé music um negócio promissor. Empresas passaram a gerenciar a carreira de artistas e a contratar pessoal de apoio, técnicos e mão-de-obra para montagem de megaeventos – uma indústria responsável por sucessos consecutivos em rádios do país. Segundo a Associação de Produtores de Axé (APA) – responsável pela carreira de centenas de artistas –, afora o carnaval, apresentações individuais, férias e gravações de discos, são garantidos 40 fins de semana (dez meses) de trabalho para os artistas baianos em festivais de grande porte no país.
Apesar da super infraestrutura, o axé da última década revelou apenas Cláudia Leitte e o estouro do hit Rebolation, do Parangolé. Mas o diretor executivo da APA, André Simões dá a fórmula para o sucesso de um novo artista: “investimento, conhecimento, bom relacionamento e pagamento”. E nada de talento. E nem preocupação. Matéria publicada na revista Sucesso noticia acordos com multinacionais, investimentos dobrados no carnaval de Salvador, novos projetos e a pretensão de criar a Fundação do Carnaval da Bahia – espécie de agência reguladora do evento, formada pelo poder público, produtores e profissionais.
Forró eletrônico segue mesmo caminhoO radialista e produtor Rô Medeiros chama atenção para um fator singular: a união na indústria do axé music. “Se a música de um artista do axé faz sucesso, outros tocam a mesma música em micaretas e shows. Essa união possibilita maior disseminação dessa cultura que o movimento baiano conseguiu reproduzir no país”. O maior empresário de bandas de forró elétrico do Estado, Alex Padang, tem a mesma opinião: “Eles pensam em conjunto. E Essa união possibilita maior investimento”.
Outro fato acordado entre empresários do axé e do forró elétrico é a renovação. Enquanto o axé estacionou em nomes como Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, Jammil e Cláudia Leitte, o forró tem produzido bandas em profusão e invadido rádios Brasil afora. “Pesquisa da Folha de São Paulo mostrou que o forró é ritmo preferido dos entrevistados, mas também o de maior rejeição”. Alex Padang justifica: “Isso porque o forró é o único ritmo predominante no Brasil impossível de dançar só. E quem não dança, rejeita”.
Se a explosão comercial do axé passa longe da unanimidade – inclusive pela rejeição do baiano Dorival Caymmi e de Luís Caldas que desqualificou a harmonia das músicas e a “durabilidade de um abadá de carnaval fora de época” – a do forró elétrico, mesmo de grande rejeição, tem alcançado públicos fora do Nordeste e invadido micaretas antes tomadas exclusivamente pelo axé. A banda potiguar Cavaleiros do Forró tem agendado dez shows em São Paulo apenas no mês de julho. “Só não chegamos ainda no Sul”, comemora o empresário.
Rede Potiguar de MúsicaEnquanto o axé music e o forró eletrônico nadam em milhões ou em milhares de pessoas e vozes estridentes em shows pelo Brasil, músicos e compositores potiguares reconhecidos pela qualidade musical lutam pelo prestígio merecido. A léguas de distância da organização e do profissionalismo conquistado pelos dois ritmos, os artistas se engajam em um novo movimento que aos poucos ganha mais espaço junto às gestões culturais: a Rede Potiguar de Música.
Instrumentista e autor de mais de 400 músicas, Júlio Lima acredita no complexo de inferioridade do potiguar, no desprestígio público e falta de união entre a categoria como causas para a estagnação da música local. “O baiano consome baianidade. Em Recife também vemos um pouco isso. Aqui consumimos a música deles. Sofremos de uma ideia de inferioridade e tentamos mudar isso com a Rede Potiguar de Música. Falta espaço e prestígio”, reclama.
Segundo Júlio, a RPM pretende despertar o público potiguar a esta falta. “Rádios não tocam a nossa música – o velho problema do “jabá”. A internet ajuda, mas é pouco. A TV União parece que irá ceder espaço para a Rede mostrar seu trabalho. É assim que começa. É assim que a música passa a se tornar conhecida. Mas é preciso que esse despertar aconteça também no público. Às vezes parecemos um monte de rádio particular. E sozinho não rola”.
* Matéria publicada hoje no Diário de Natal
Alex Padang justifica: “Isso porque o forró é o único ritmo predominante no Brasil impossível de dançar só. E quem não dança, rejeita”.
ResponderExcluirrárárá...
Ok, Sr. Padang. O motivo da rejeição ao "forró" dos dias de hoje é não saber dançar. Doce ilusão, para dar uma aura de legitimidade aos milhões ganhos com a mais pura porcaria.