terça-feira, 30 de outubro de 2007

Oxímoro

Recebi por imeio. E como todos sabem, há muitas maldades nesse universo eletrônico. Mas vale para distrair:

“Oxímoro é, segundo o dicionário Houaiss, uma figura de retórica, na qual se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam uma expressão. Por exemplo: “o grito do silêncio”, “silêncio ensurdecedor”, “obscura claridade”, “contentamento descontente”, “ilustre desconhecido”, e por aí vai.

Escola Superior de Guerra, em outro exemplo, é um oxímoro, na opinião de Millor Fernandes: segundo ele, sendo de guerra não poderia ser superior. Pois é. O Brasil, além de tudo, é mesmo um país oximoroso. O autor da descoberta é o professor de português Sérgio Rodrigues. Ele descobriu que há um tremendo oxímoro que não sai das manchetes dos jornais nos últimos dias: “Conselho de Ética do Senado”.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

De impressões variadas

Texto pra registrar impressões de um blogueiro desatento, mas que pesca aqui e ali algumas veleidades do momento. E talvez sejam os tempos da estação veraneio e os arroubos de superficialidades a inspirar os atores da nossa dileta Câmara Municipal de Natal. Enquanto esperam (eles e nós) o julgamento da tal Operação Impacto, nossos edis despejam seu precioso tempo para propor projetos como o de conferir à dublê de Ivete Sangalo, a baiana Cláudia Leite, o título de cidadã natalense. Bravo! Idéia genial do vereador Enildo Alves. A outra aberração vem do boxeador Adenúbio Melo e o projeto de lei que regulamenta o acesso às lan houses. Isso mesmo: o lutador quer a exigência de apresentação de requerimento dos pais para adentrar aos estabelecimentos. Parece brincadeira.

E para amenizar as barbáries, o clima natalino também pega carona e já arrefece corações. A decoração já começa a ser discutida. Fala-se na maior árvore iluminada do Brasil e, quiçá, do mundo. O titular da Semsur, Raniere Barbosa, tem procurado pesquisar o assunto para atestar com certeza. Será uma árvores de 100 metros, na entrada da cidade. E outra de 60 metros na Zona Norte. E a idéia é deixar permanente, mesmo quando o capitalista Papai Noel fugir com suas renas. O secretário tem feito um trabalho excelente no curto período de 10 meses. Foram quase 100 praças reformadas ou construídas. Um marco para qualquer gestão. Já se fala em pré-candidatura do moço à prefeitura.

Aliás, o discurso político de que só se fala em sucessão em 2008 já está se esgotando. Políticos já começam a soltar as famosas deixas de que serão candidatos ou descartarem seus nomes. É o momento para jornalistas aproveitarem. O ex-senador Geraldo Melo já avisou que está fora do páreo. Mas seu apoio ainda está indefinido. Outro que já lanço nome, indiretamente, no estilo “pra bom entendedor meia palavra basta”, foi o ex-secretário petista Rui Pereira. Mas briga mesmo fica pra Mineiro e Fátima. E ninguém tenha dúvida, nosso próximo representante será a borboletinha, Micarla de Sousa. E eu vou embora pra Pasárgada!

E lendo os jornais percebo a volta com todo o fôlego do jornalista Franklin Jorge, - acredito eu, um dos maiores intelectuais deste estado. Franklin andava sumido, talvez cansado em tanto escrever e nada publicar. Sem apoio, ainda guarda mais de 40 livros escritos a espera de serem publicados. Soube que ira jogar na praça cinco até o fim do ano. Assim esperamos.

E por falar em livro, a Feira do Livro de Mossoró trouxe discussões, palestras, debates e convidados excelentes e nem assim a mídia impressa de cultura dos jornais de Mossoró conseguiu acordar seus cadernos para o fato. É uma lástima. Mossoró é hoje candidata à capital nacional da cultura, tem nomes, companhias, grupos, autos dos mais expressivos do estado e a mídia cultural dos jornais não corresponde. Uma pena, mesmo. No mais é uma estrutura de carnatal sendo montada. E já escuto o barulhinho “todo mundo pra direita”, “tira o pé do chão”, “que galera é essa, mermão”. Sei não, viu? É isso.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Da aventura de ser tio

Já comentei da aventura de ser tio. E reafirmo, amigo leitor: é uma jornada instigante, sempre. E por isso a renovação das impressões em novo texto. É como desbravar caminhos para conhecer cada vez mais uma estrada ainda misteriosa. Ora, e o que são estas mentes tão cheias de deslumbramentos senão uma caixola cheia de vida e descobertas a cada vista?

Guardo a certeza de que se cronistas fossem, as crianças seriam as melhores do ofício. Os olhares são os mais atentos a qualquer banalidade. E deslumbram-se com qualquer bobagem de vida. E é disso que vive a filosofia: de deslumbramentos com a vida. Partem das superficialidades da vida as novas teorias acerca dos mistérios da alma.

E talvez as crianças sejam lá mestres inocentes do jogo da vida. É o que vejo na minha sobrinha Ana Beatriz, com um ano e dois meses. Mesmo pequenina, há três ou quatro palmos do chão, sabe fazer amigos sem sequer conhecê-los. Se está em um shopping logo procura os da mesma idade e procura conversar, mesmo sem repertório de palavras.

“Bia”, como toda criança, é lição para os mais sábios. Faz-se feliz com qualquer coisa. Esnoba presentes caros e se diverte com uma tampa de xampu. E se tentar tomar o objeto da mão fechadíssima, ela briga. E perdoa logo depois. Coisa de criança, mesmo. Mania de perdoar por impulso e fazer a gente: adulto-bicho, acreditar na essência humana.

Ser criança é acreditar no impossível e viver sem medos. É andar sorrindo pelo simples fato de estar andando – mania recente e empolgante, Anda como se corresse, sem olhar para trás ou para os obstáculos à frente. E corre de braços abertos, para abraçar a vida e todas aquelas surpresas do dia.

Se em cada esquina cai um pouco minha vida, como lembrou Cartola à sua filha que desejou sair de casa, quando estou com Bia renovo minha esperança na existência. Reabasteço as energias perdidas no contato com os bípedes-adultos e com o perfume hipócrita do mundo. E viro criança novamente, longe das vontades perturbadoras da vida e perto da magia inocente e sã dos impulsos irracionais.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Cultura é diferente de arte

Numa passagem do texto Diferencie os Bifes, citei que autores de livros nem sempre são escritores. Mais das vezes são bons livros de crônicas, filosofia, produtos de aprofundadas pesquisas ou até bons romances, mas sem recursos literários que justifiquem a classificação de Escritor. E metaforizei com o exemplo de que cultura é diferente de arte.

Para minha grata surpresa, o gentil professor Raimundo Paulino envia-me um imeio com a afirmação de que usou o escrito na aula de produção de textos para seus alunos do 7º ano. Disse ainda ter gerado boa discussão o fato de eu ter afirmado que cultura é diferente de arte. “Os alunos ficaram um pouco confusos, mas no geral os mesmos gostaram muito da reflexão e acharam interessante o título”.

Pois bem, professor. Deixa então eu esclarecer melhor minha opinião, em breves palavras, para afastar as nuvens negras da dúvida. E desde já afirmo: está longe de ser verdade absoluta. Discutir conceitos de cultura é assunto complexo. Basta citar que a abstração é uma característica do que é cultura e simboliza tudo o que é aprendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo. E definir o que é arte é campo de searas demasiado subjetivas.

Mas vamos tentar: é certo que o ambiente exerce papel fundamental sobre as mudanças culturais. E também que o ambiente é mutável. Ou seja: a cultura sofre mudanças conforme a linha do tempo. Claro, essas mudanças acarretam resistência, saudável até, pois resulta em incorporações realmente proveitosas, de modo a preservar as tradições, mas adaptadas à modernidade. Em síntese mesmo, já que o conceito de cultura é um para a antropologia, outro para biologia, filosofia e assim vai, penso ter esclarecido um pouco mais minha opinião.

A arte, penso ser um pedaço disso tudo. E deve ser definida conforme o conceito de cultura a ser analisado, período histórico ou mesmo o indivíduo a que produz. No velho Aurélio, a definição diz mais ou menos isso: “atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação”.

Agora, façamos uma interligação entre esses dois conceitos no tempo-hoje, para afunilar mais e a definição ser mais plausível para discussão. Vivemos hoje, professor, em um sistema neoliberal e de devastadora difusão da comunicação. E poucas são as nações detentoras desse poder de influência. Após o advento da Indústria Cultural temos um cenário mais claro: o da cultura como forma alienadora de propagação ideológica e/ou produto de consumo.

Essa relação fundada no consumo rebaixa a verdadeira arte e ressalta a arte moldada e arquitetada para confeccionar modelos de vida ou de indivíduos. Pura manipulação, com o princípio de comercializar a arte, sem análise criteriosa de seu conteúdo. Como exemplo clássico, as produções cinematográficas de Hollywood, tão cheias de vazios e senso comum.

Acho que é isso, professor Paulino. Agradeço, com o sentimento da verdade das artes superiores, os elogios. E espero que quando afirma que meus textos o alimentam culturalmente, seja por uma arte qualquer, mas verdadeira. É o que tento passar, sempre. E essa talvez seja a verdadeira diferença entre cultura e arte: a verdade em cada fazer, em cada sensação, em cada produzir.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O homem que desafiou o diabo

E o filme de Moacyr Góes continua a colecionar críticas ferrenhas sobre a adaptação para o cinema da obra do escritor potiguar Nei Leandro de Castro, As Pelejas de Ojuara, como O Homem Que Desafiou o Diabo.

Assisti ao filme no último sábado. A maior sala de cinema do Cinemark estava quase lotada à tarde. A resposta do público parece ter sido boa. Risadas, comentários. Sobretudo a linguagem, claramente identificada com cada um de nós, potiguares.

Se critiquei os críticos paulistas e cariocas sobre as resenhas elitistas sobre o filme, retiro, em parte, o que eu disse. Algumas, de fato, foram demasiado preconceituosas, até. Na verdade, senti-me atingido, como nordestino e potiguar, com críticas a um filme montado aqui, com atores locais e baseado numa senhora obra literária de um escritor de indiscutível qualidade.

Mas não há como negar: o filme é um desleixo só. Li o livro de Nei Leandro assim que foi lançado, acho que em 2004. A seqüência da narrativa é dinâmica, realmente. Nada perto de um quase trailler que vi na montagem do filme. Tudo muito corrido, sem um encadeamento firme entre as cenas.

A cena de luta com o personagem de Otto parece uma seqüência de filme dos Trapalhões, como lembrou o crítico carioca Eduardo Valente. E quem leu o livro sabe que não precisava esse caráter “trapalhão”.

Acho que o filme se prendeu muito em uma comédia regionalista. Não precisava tanto. O livro não tem esse caráter. Se tivesse seguido a tônica da obra literária – a de retratar costumes através do universo mítico do sertão –, alguns personagens, como o poeta Moisés Sesyon não precisariam ser encaixados à força na narrativa.

Alguns aspectos também achei de extremo mal gosto: a imagem do Forte dos Reis Magos é despropositada. A escolha de atores globais pareceu-me pura jogada de marketing. A encenação no Castelo de Engady, no café entre Ojuara e o Corcunda foi paupérrima. Pareceu coisa improvisada, feitas às pressas. As cenas de sexo permearam as chanchadas da Atlântida, longe do cunho poético-erótico de da verve literária de Nei Leandro.

Vale uma ida ao cinema por pura curiosidade. Afinal, é filme todo montado aqui na terrinha de Cascudo. Tem participação de personagens locais, como a fraca e rápida atuação do escritor Tarcísio Gurgel (e não poderia ser diferente) e do convincente Pedrinho Mendes. De resto, é esperar o filme de Xuxa, filmado em Jacumã. Quem sabe?

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Mercado do Peixe

Almocei no Mercado do Peixe ontem. Foi a primeira visita minha ao lugar. E posso atestar: ficou uma maravilha. Um prédio limpo, bem organizado, com estacionamento interno, banheiros e voltado para o Rio Potengi. A comida é simples, como tinha de ser. O prato de ontem foi uma bela posta de peixe serra, suculenta, fresquinha, ainda com gostinho de mar. Foi do Box 5. O prato feito, bem robusto, custou R$ 5.

Senti falta foi do Bar do Pernambuco, antes localizado mesmo em frente ao Mercado do Peixe. É dos mais, senão o mais antigo bar ali do Canto do Mangue. Quase que contemporâneo à Peixada da Comadre, o bar mais antigo de Natal. O dono era ou é o recifense Edson Machado. Entrevistei-o uma vez. Ele me falou que estava lá há 45 anos e tinha recebido intelectuais os mais variados em seu bar, quase que todo construído em tábuas de madeira.

Assim como a ausência do Bar do Pernambuco, também senti falta da aparência bucólica do Canto do Mangue e seus pescadores artesanais tecendo redes e tratando do peixe naqueles quiosques. Eram padronizados já. Mas não há como negar. A mudança foi pra melhor. O cheiro incômodo de peixe quase que sumiu por todo. Os pescadores têm agora uma vida mais digna. E merecem muito mais do que isso.

Oração ao poema

Transcrevo aqui poesia linda de Alberto da Cunha Melo, lida ontem na coluna mareada de Serejo. É coisa boa de ser ler num meio de semana tão comum e imaginar o cheiro de mar e uma casinha branca de alpendre humilde, nas beiradas de praia da vila da Redinha, onde o poema foi escrito. Chama-se Oração ao Poema:

“Senhor, nesta manhã de outubro, / ainda com o jeito de quem ia / reiniciar longa viagem, / meu poema chegou ao fim”. A seguir: “Agora todo meu trabalho / é procurar uma palavra / que te agradeça humildemente / todas as outras que me deste”. E depois: “Entretanto, nem mesmo isso / posso sozinho conseguir: / Dá-me, Senhor, essa palavra, / antes que chegue o último verso”. E mais: “Que ela se espalhe como as brisas / dentro das minas, de repente, / e una-se sólida na hora / em que apertar a rua mão”. E, por fim: “Quero morrer, quero alcançá-la, e já começo a persegui-la / como se fosse uma serpente / que fugisse com minha morte”.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Mar adentro

O premiado longa do espanhol Alejandro Amenábar, Mar Adentro, tinha tudo para eu gostar: estava fora do circuito hollywoodiano, abordava o mar de forma doce e lançava questões existenciais sobre a vida. Apostei tanto no filme que comprei o original do DVD, junto com a produção mexicana Como Água Para Chocolote. Este outro, de pouco esperava e se mostrou uma grata surpresa.

Mar Adentro é um bom filme. Premiadíssimo, por sinal. Ganhou o Globo De Ouro e Oscar de melhor filme estrangeiro. Isso com apenas R$ 13 milhões investidos. O recurso parco compromete a fotografia da obra. Um filme cujo nome leva o mar e tem em seus mistérios alguma ponte para o enredo, poderia render boas imagens. Mas para excelentes atuações não precisa de dinheiro. Javier Bardem dá um show como o protagonista Ramón Sampedro.

Ramón é tetraplégico. Quebrou o pescoço na juventude ao pular no mar de cima de um arrecife. Depois de 26 anos sem movimento de corpo e em plena consciência, decide morrer. É a tônica do filme. A eutanásia é questionada, mas com argumentos passíveis de fácil resposta. Ainda assim, faz o telespectador pensar, questionar sua vida. Não desperta emoção; não faz chorar.

Somente no final dos créditos a informação de que Mar Adentro é baseado em história real, com pitadas fictícias. Seria outro ponto a favor de um roteiro mais instigante, poético. Acho que poderia sair algo parecido com O Carteiro e o Poeta. Nem de longe.

O suicídio é sempre polêmica de muitos questionamentos. E o filme consegue humanizar isso muito bem; faz o telespectador se colocar no lugar de Ramón e perguntar qual sua determinação em suportar a inércia do corpo por toda uma vida. Um filme bonito e sensível, que peca apenas pela falta de poesia e roteiro mais criativo. Seguindo o conselho de Pessoa, se a alma num é pequena...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Como se fosse ontem...

Vi um teste de memória em outro site e resolvi colocar aqui minhas lembranças, manias de outrora. O amigo leitor pode colocar também algumas das suas. Responda e veja se está ficando velho. Tempos bons!...

- Você roubava chocolate na Lojas Americanas?
- Foi ao Gramil provar da cerveja mais gelada de Natal (mofada) acompanhado do miudinho? Ficava em frente onde hoje está o Mercado de Petrópolis.
- Usava mochilas da Ratos de Praia, tênis redley ou berbudas ciclone?
- Teve medo de ser espancado pela tropa da Guarita?
- Já puxou latinha de areia amarrada em barbantes e cordas na praia?
- Já desceu de tábua de morro nas dunas de Genipabu?
- Ouviu dizer que o pó do pirulitinho Diplique vendido na banquinha do colégio dava câncer?
- Usou parafina no cabelo pra ficar mais loiro?
- Chupou dadá de chiclete?
- Freqüentou as lojas Whiplash, na Avenida Salgado Filho, em frente hoje onde é a UnP pra procurar vinis de heavy metal e achar preciosidades?
- Visitou o Cabaré Danúbio, quando Capim Macio era quase que só capim, ou o Cabaré de Aninha, em Areia Preta, onde estão erguidos hoje os prédios mais luxuosos da cidade?
- Já comprou uma pulseirinha de pano com tiras desfiadas nas pontas nos camelôs da Cidade Alta?
- Assistiu os filmes de Bruce Lee.
- Brincou de Playmobil.
- Participou das festinhas americanas promovidas na rua de casa, em que os meninos levavam refrigerante e as meninas salgadinhos?
- E o “dancin” da época eram os Pet Shop Boys ou A-Ha. Um pouquinho depois veio o Tecnotrocnic.
- Comeu feijoada no final do supermercado do Hiper Bompreço?
- Colecionou biloca, tinha um “tecão” de ferro e era chamado de “rato” porque tinha boa mira?
- Assistiu muito Trapalhões nos cines Rio Grande e Nordeste?
- Brincou de Amarelinha, Bandeirinha, Tica (e suas variações), Tô-no-Poço, Polícia Ladrão, Garrafão, Tora-Réia e Cuzcuz?
- Já teve um Lango-Lango e um Pogobol?
- Assistiu seriados como Mcgyver, Trovão Azul e O Elo Perdido?
- Curtiu o playstation ou kibe do Bar de Nazi, no Hiper?
- Dançou no Pontal de Genipabu movido por “Senegal”, tocado ao vivo pela Banda Reflexus?
- Assistiu os “pegas” de carros do recém inaugurado prolongamento da Prudente de Morais?
- Precisou da balsa para atravessa seu bugre Baby de Genipabu à Barra do Rio e ouviu um senhor imitando o som de um burro pra ganhar um trocado?
- Jogou Trunfo?
- Comeu algodão-doce na AABB? O velhinho fazia na hora!
- Lembra do chocolate Lollo? Depois virou Milk (acho que é isso.rs)
- Ah, o tempo!...

E das saudades?
- Saudade de sentir varal de roupa com cheiro de sabão.
- Saudade do sol mais brando, mesmo ao meio-dia.
- Saudade das brincadeiras inocentes de criança.
- Saudade de jogar tira de casca de laranja no telhado e fazer pedidos.
- Saudade do refrigerante em garrafa de vidro.
- Saudade da liberdade e da segurança dos papos na esquina da rua, até altas horas da noite.
- Saudade de Toquinho e Vinícius; de Jobim; Gonzagão. Saudade de Cazuza e Renato Russo.
- Saudade dos vizinhos; saudade de vizinhos.
- Saudade do padre Teobaldo e sua voz gasguita a ecoar no espaço apertado da igreja São de São Judas Tadeu, em Petrópolis.
- Saudade de tudo isso. Saudade, sobretudo, naquilo tudo que um dia acreditei ser verdade...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Da genialidade incompreendida

Li agora a pouco uma carta interessantíssima, escrita de uma mãe para seu filho de 17 anos, no século 19. Ao final, estão os nomes. Talvez alguns se identifiquem com algumas passagens. Outros podem achar estúpidos a mãe, o filho ou ambos. Eis as palavras:

“(...) Conheço você, (...) é uma pessoa irritante e agressiva, acho muito difícil conviver com você. Todas as suas qualidades ficam comprometidas por ser tão inteligente e deixam de ter utilidade no mundo. (...) você acha defeitos em tudo e em todos, menos em si mesmo. (...) e assim exaspera os que estão perto – ninguém quer ser melhorado ou ilustrado à força, muito menos pela pessoa insignificante que você continua sendo. Ninguém agüenta também ser criticado por quem mostra uma tal fraqueza, principalmente em sua insistência em garantir, em tom de oráculo, que as coisas são de determinada forma, sem sequer desconfiar que pode estar errado. Se você não fosse assim, seria apenas ridículo, mas sendo como é, se torna muito desagradável.”

Da escritora Johanna Schopenhauer para seu filho, o então estudante e futuro gênio Arthur Schopenhauer.

Apenas uma observação: o amigo leitor quer ser melhorado ou “ilustrado”?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O fim do som da mata

Soube agora a pouco que o projeto Som da Mata terminou por pura burocracia: não repassaram os encargos financeiros aos coordenadores do projeto.

Visitei algumas vezes o Parque das Dunas para ver, aos domingos, a já tradicional música instrumental, extraída do talento dos melhores músicos do estado. Só para citar o exemplo da semana retrasada, estavam lá o guitarrista Manoca Barreto, o saxofonista Costinha e o baixista Júnior Primata. Coisa excelente de se ver.

Com esse, é mais um programa praticamente gratuito (R$ 1 para quem não é sócio do Parque) extinto por falta de verba. Outra lamentável perda foi o Domingo na Praça. Na última semana que fui, o deputado Fernando Mineiro estava lá com a família. Espero que se sensibilize com os amantes da boa música, do clima tranqüilo e cercado de vegetação nativa.

E eu que falei no texto passado das coisas boas e gratuitas...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Das coisas boas e gratuitas

Sobre o texto do “Goiamum Cultural” e os elogios que fiz ao trabalho do prefeito Carlos Eduardo para a cultura local, com programas e projetos variados de janeiro a janeiro, o leitor Marcelo Pegado afirmou: “E quem, além da ‘panela’, desfruta desses programas e projetos? Não acredito que essas iniciativas surtam efeito. É tudo muito ‘viciado’!”.

Discordo, Marcelo. Minha opinião pode ser equivocada, mas o que tenho visto são projetos gratuitos e abertos. A citar o Som da Mata, todos os domingos, no Parque das Dunas; a competição musical do MPBeco; tem o Cineclube Natal; o próprio Goiamum Audiovisual, o Festival de Cinema de Natal; os projetos Dançarte e Pixinguinha; o Sexta da Viola; Nação Potiguar e outros muitos motivados pela Lei de Incentivo À Cultura Djalma Maranhão.

Somente a programação do Natal em Natal, com início próximo, inclui um Encontro Natalense de Escritores, com entrada gratuita e nomes de peso da literatura local e nacional, além de shows musicais de qualidade; o Auto de Natal – um espetáculo teatral ao ar livre grandioso; shows musicais gratuitos no Anfiteatro da UFRN e celebrações do Dia de Reis com procissões, quermesses e apresentações folclóricas.

No entanto, o que se nota é a pouca participação dos ditos agentes culturais, artistas e espécies semelhantes. Num encontro promovido pelo Itaú Cultural, no fim do primeiro semestre deste ano, contei 13 músicos no auditório da Funcarte. O organizador do encontro afirmou-me que a média é de 100 em outros estados. Nas recentes reuniões das câmaras setoriais da Fundação José Augusto, para discutir políticas públicas, soube que a freqüência foi muito abaixo da média, com exceção do setor de Livro e Leitura.

Assim, a panela vai ser sempre panela; nunca um imenso caldeirão cultural. Falta união, engajamento e vontade entre a classe artística. É o que me parece. Reclamar não transforma. Gritos solitários ou de uma claquete desunida são zunidos pifeis para um objetivo maior de promoção organizada e direcionada de cultura. É o que penso.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Um teatro mágico e revolucionário

O respeitável público pagão assistiu no último sábado um relâmpago de otimismo, poesia e magia. E nem precisou assistir tudo da pedra mais alta. O teatro do hotel Vila do Mar foi o palco ou a lona imaginária de um circo musical revolucionário. A trupe paulista do Teatro Mágico é renovação de um desejo de vida apagado neste novo século ou nas últimas décadas. É música alternativa, opinativa e sugestiva. E a pedida é pintar a cara em tons alegres de vida para despertar a fantasia e fazer dormir o medo.

O letrista, cantor e violonista Fernando Anitelli se mostra o Renato Russo dos novos tempos. Menos pop. Mais didático. É um porta-voz de uma juventude antenada e antes de tudo desejosa de mudança; de esperança e revolução. A poesia do Teatro Mágico dispensa o otimismo barato e hipócrita, ou a mídia massificante. Ela é realista com as dores do mundo e sugere escapatórias por um caminho mais ameno: o da poesia musical; da magia circense; da fantasia não-alienada e torpe. É a proposta de um novo vislumbre de encantamentos.

Anitelli é demasiado realista quando diz que “o dia mente a cor da noite. O diamante, a cor dos olhos. E os olhos mentem dia e noite a dor da gente”. E mostra a estrada para fugir das mentiras cotidianas do dia e da noite: “Metade de mim agora é assim: de um lado a poesia, o verbo e a saudade. Do outro, a luta, a força e a coragem para chegar no fim. E o fim é belo incerto. Depende de como você vê o novo, o credo, a fé que você deposita em você, e só”. Mas essas são citações escolhidas por este jornalista parcial. Anitelli também descreve o Teatro Mágico:

“O Teatro Mágico é o teatro do nosso interior; a história que contamos todos os dias e ainda não nos demos conta; as escolhas que fazemos em busca dos melhores atos, dos melhores sabores, das melhores melodias e dos melhores personagens que nos compõem; as peças que encenamos e aquelas que nos encerram. Nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada de viver a vida; de sobreviver a vida, de ressaltar os tombos e relançar as idéias: o teatro nosso de cada dia”.

O título da canção com esses dizeres é “O Teatro Mágico entrada para raros”. E os raros são soldados de chumbo e bailarinas de brilho nos olhos. Diferente de expressões em transe dos espantalhos, corrompidos pelo exagero-pop da massa, de sonhos roubados e falsas alegrias. Os da geração anos 70 talvez entendam o que escrevo. Eles viveram as raízes das delícias e horrores deste novo século. Alguns deles estiveram no show. De certo viram naquela vitamina musical um recomeço; uma nova tentativa experimental mais madura e consequente.

A geração anos 70 quis evitar a intermediação. Eles experimentaram um abandono completo e assumiram a captura do momento fugaz de forma intensa. Não tinham a intenção de transformação ou revolução. Não eram experiências para serem lavradas em atas ou livros de história. Eram para serem carregadas no mais fundo da alma. “Não, não é uma estrada, é uma viagem”, cantavam os Mutantes. E o Teatro Mágico é isso: uma proposta democrática de aceitação a um mundo mais leve, “sem deixar que a vida escorregue”.

A solidão e o amor em cena

A platéia soube entender cada sílaba de poesia; cada expressão mambembe e o todo ideológico do grupo. A interação foi completa. Um folheto com um texto intitulado Hino aos raros foi distribuído antes do show para uma surpresa à trupe no meio da apresentação. Após a canção De ontem em diante, o público, em uníssono, leu os dizeres do folheto: um verdadeiro tratado positivista e de apologia à uma revolução libertadora. Os integrantes, vestidos de clows, ficaram desarmados. Colocaram as mãos para trás e ouviram emocionados. Um deles botou as duas mãos na cabeça, meio sem acreditar:

“... O dia do prato, o dia do raro. Junte tudo numa coisa só! O agora é a hora. E da pedra mais alta, nós vamos pular. E voar! Solte a prosa presa. Revele a criança, revele a surpresa. Abram alas, palhaços e princesas de palavras e sonhos à beira-mar. O Teatro Mágico é hoje potiguar, e só enquanto eu respirar”. A resposta de Anitelli resumiu a empatia de artista e público: “A gente se merece!”. Aliás, um espaço mais aberto e democrático seria palco mais adequado para um grupo que mistura teatro de rua e performances circenses, do que um teatro de um hotel, mesmo de acústica perfeita. Muitos fugiram das cadeiras e se amontoaram nas laterais abertas para soltar “a prosa presa”, recheada de vontade e contestação.

Sequer o atraso de mais de uma hora e a desorganização nas filas de entrada foram desanimadores. Alguns da terceira idade se chatearam mais, enquanto adolescentes e jovens com nariz de palhaço esperavam ansiosos o início do espetáculo e as tradicionais palavras prefaciais: “Sem horas e sem dores, respeitável público pagão, bem vindo ao Teatro Mágico! Sintaxe à vontade...”. E assim, brincando com as palavras, a trupe intercalou sucessos, traçados tecnológicos de ruídos telefônicos, mensagens de voz, malabarismos, pirofagia e outros truques.

As vestes de palhaço, de clows, levam a idéia do “personagem interno” escondido em cada um de nós. E se o Teatro Mágico é um pouco a história que contamos todos os dias ou a nossa maneira improvisada de viver a vida, é também um espelho das ausências cotidianas. O individualismo é também solidão. E a solidão é morada para a angústia e a reflexão: sentimentos da coletividade generalizada. O diferencial do Teatro Mágico é a sobra do amor; de um amor como porta-estandarte da alegoria da vida; é o amor fraterno, terno; o amor entre dois, entre quatro, entre 500.

E cantar a solidão nossa é cantar o presente. Cantar o amor é cantar revolução, transformação. Talvez por isso o Teatro Mágico seja poesia ultra-moderna, posto que futurista. A única revolução possível para os novos tempos é a do amor como solução para o individualismo, o medo e o banal. Para essa cura, boas doses de circo, teatro e cultura da poesia e da música. E, claro, a união. Ora, se o sol de cada um é solidão, porque não se junta tudo numa coisa só? Afinal, “os opostos se distraem e os dispostos se atraem”.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Goiamum cultural

Em recente discurso no auditório da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), em comentário à assinatura do termo de cooperação entre Natal e Cuba para um intercâmbio cultural, o prefeito Carlos Eduardo comentou da produção cultural vista de janeiro a janeiro na capital.

O prefeito citou programas e projetos variados e ressaltou o Natal em Natal, com o Encontro Natalense de Escritores, Auto de Natal e shows e exposições variadas. E devo concordar: o prefeito tem se voltado para a cultura. Nem tanto para a educação, como também frisou no discurso.

Realmente Natal apresenta um grande projeto ou iniciativas culturais com certa regularidade, como a criação, quinta-feira, da Associação Cultural José Martí, para estreitar os contatos entre Natal e Cuba para futuros projetos. A Associação ganhou uma sala para atuar nas dependências da Funcarte.

Agora é a vez do projeto Goiamum Audiovisual. O lançamento foi agora a pouco, às 8h, no Mercado de Petrópolis. Além do nome de muito bom gosto, o projeto é uma verdadeira miscelânia cultural, com fóruns, exposições, seminários, exibições, mostras e oficinas. Engloba, portanto, vasta programação cultural e convidados de peso.

Como discursou o prefeito, em um discurso eminentemente socialista, a cultura e a educação libertam as pessoas, sobretudo em um mundo globalizado de uma oferta avassaladora de consumo. E tem razão nosso chefe do executivo municipal. O problema são aqueles encarcerados que gostam da vida mansa da prisão.

domingo, 7 de outubro de 2007

Professor McCartney

Já imaginou ter aulas com ninguém menos que Paul McCartney? Seria demais para a vida mesma deste blogueiro, fã do ex-beatle. Verdade é que ele acaba de se comprometer a dar aulas de música pop no site www.nowplayit.com A primeira aula da série já está gravada e tem uma hora de duração. Como exemplo didático, Paul McCartney sacou de seu novo disco (Memory Almost Full) a canção Ever Present Past. As aulas terão lições para violão/guitarra, baixo e bateria.

Outros artistas devem gravar suas aulas, como Blur, KT Tunstall e Placebo, mas eles terão 30 minutos para passar as lições. No geral, cada um conta curiosidades e como compuseram suas canções, além de sugerir soluções para determinadas dificuldades. O material tem fácil visualização em reprodutores digitais de vídeo e áudio.

As lições até estão em conta: devem custar cerca de nove dólares. Existe também a possibilidade de a Outside Line, proprietária do site Now Play It, oferecer gratuitamente suas aulas às escolas. Mas, por enquanto, o interessado terá de comprar as lições desejadas. Dos chãos desta província fico apenas a imaginar a cena: eu e meu velho violão ao lado de McCartney. Eu sem jeito, nervoso no blem, blem, blem das cordas e o ex-beatle a reclamar, já impaciente: “Yesterday, all my trouble seemed so for away...”.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Da fidelidade partidária

Não gosto de escrever sobre política. É “chover no molhado”. O aforismo até cai bem para descrever a política-clichê brasileira, de especulações e nenhuma novidade. Mas ontem à noite os brasileiros assistiram um resultado histórico, a ser lembrado em qualquer livro de retrospectiva política.

Infelizmente não partiu do nosso batido Congresso a iniciativa do alicerce para o processo da reforma política. Foi preciso o Supremo Tribunal Federal intervir – ultrapassando inclusive a Constituição Federal e os 19 anos de livre autoridade partidária quanto aos mandatos eleitos – e dar a largada para atender o clamor da opinião pública.

Antes tarde do que nunca, para citar mais um adágio. Penso que, entre outros resultados práticos, os partidos ganharão mais identidade. Será mais fácil cada eleitor identificar-se com a ideologia pregada por cada um. Este blogueiro já assistia o PCdoB arrebanhar novos integrantes sem identificação histórica com o partido, ou o PT, notoriamente, perder uma imagem conquistada em 25 anos.

É um começo. A deputada federal e petista Fátima Bezerra disse hoje num programa de rádio local que acredita numa reforma política para depois de 2010. É tempo demais para uma ação urgente. É bem provável que o STF intervenha novamente até lá. Com isso, nossa Carta Magna será mais uma vez desmoralizada. Tudo em nome da tal democracia, da moralização da nossa política e da identidade ideológica partidária. Amém.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Diferencie os bifes

Reluto em classificar meros escrevinhadores como “escritores”. Na minha mesinha de cabeceira vejo daqui o livro Almanaque Anos 70. A autora, Ana Maria Bahiana é conceituada jornalista dos campos culturais há pelo menos três décadas, de indiscutível talento. Mas o livro nada mais é do que um excelente apanhado de fatos e fotos da referida década, muito bem escrito e organizado.

Na biografia da autora consta o que se vê comumente. Além da profissão acadêmica, a complementação de “escritor”. Quem leu o livro deve concordar: não há elementos literários que diferenciem a obra de uma pesquisa ou de um trabalho jornalístico. Também leio o livro já por aqui comentado do psicanalista Irvin D. Yalom, A Cura de Schopenhauer. Interessantíssimo, do ponto de vista filosófico, não literário.

Meu amigo e jornalista da cultura, Tácito Costa comentou em seu blog (www.substantivoplural.com.br) sobre outro best seller do psicanalista: Quando Nietzsche Chorou. Diz Tácito, com o gabarito de algumas décadas de jornalismo cultural, que conseguiu chegar à página 100 do livro e largou-o. Gostei quando disse que um encontro de dois personagens rendeu 70 páginas e que poderia ter sido em 7. O último livro de um grande escritor que li foi Memórias de Minhas Putas Tristes, de Saramago. Livro pequeno e de uma amplitude incrível.

Poder de síntese e clareza cabe ao verdadeiro escritor. É exigência notória, também, do jornalista. Mas ao escritor cabe ser mais objetivo e empregar alguma poesia, algum recurso literário, opinativo, descritivo, lúdico. E no final apresentar uma obra de valia, rica para sua época. Mesmo escritores de ofício merecem maior rigor ao se auto-classificarem escribas.

Quem ler as críticas de Millôr Fernandes à obra do ex-presidente José Sarney vai entender o que digo. Ao ambientar uma cidade, prédios, sítios ou pessoas é preciso conhecimento e atenção. A geografia de tudo isso requer detalhes e precisão. Essa premissa para qualquer escritor. Nomear qualquer escrevinhador que junta crônicas ou poesias em um livro, ou aquele que elabora uma pesquisa aprofundada sobre determinado assunto de escritor, é desmerecer o verdadeiro artista das letras. Veja bem: cultura é diferente de arte. Saiba diferenciar bife à milanesa de bife atrás da mesa!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Do cansaço de meus 30 anos

“Quando eu tinha 30 anos, estava cansado e aborrecido por ter de considerar iguais a mim pessoas que nada tinham a ver comigo. Como um gato que, quando pequeno, brinca com bolinhas de papel porque acha que são vivas e parecem com ele, assim me sinto em relação aos bípedes”.

Não tenho ainda 30 anos. Faltam poucos meses. Quem escreveu os dizeres acima foi o filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Identifiquei-me. Não só com a proximidade da idade quando dessas sensações. Mas também com a repugnância às pessoas tão distantes das minhas idéias e princípios.

Lembrei dessas palavras de Schopenhauer quando nada vejo de resultado a tantas denúncias inescrupulosas e sem resultados práticos de punição. Há cerca de dois meses vimos nossa cidade ser esfaqueada com o pagamento de propina contra o Plano Diretor de Natal. Dois terços das excelências parlamentares da Câmara Hipócrita de Natal foram denunciados, também por crime de peculato.

Em fins de julho ficamos estarrecidos com o maior desastre ecológico em rios da história do Rio Grande do Norte. Mais de 40 toneladas de peixes, crustáceos e moluscos mortos no nosso Potengi. Segundo estudos, serão precisos pelo menos 15 anos para o rio se recuperar.

Coincidência ou não há mais de 10 anos a indústria do camarão opera na área. Também por coincidência, talvez, mais da metade do manguezal – responsável pela limpeza, funcionando como um filtro natural – está ocupado por tanques de engorda do camarão. Centenas de famílias dependentes do rio continuam passando fome.

Passaram-se pelo menos mais de dois meses dessas duas tragédias para a imagem de Natal. Nada foi sentenciado. Onde estão os empresários corruptores? Quem são e o que fizeram, exatamente, os corrompidos? E quem são os responsáveis por tamanha maldade com o rio e a população ribeirinha?

Não, amigo leitor, reconheço minha mediocridade e meus defeitos muitos. Mas não sou igual a essa gente. Hipócritas, somos todos, em menor ou maior grau. Mas ainda resta em mim sensibilidade e um senso de humano. Cada vez mais me convenço de que a raça humana apodrece. Os maus exemplos são muitos e a impunidade alimenta mentes vazias, que também são em demasia.

Perto de meus 30 anos, sinto-me cansado desses bípedes. E nada posso fazer. Ou quase nada. Talvez o silêncio, o isolamento. Acho que quando menos contato com essa espécie de dois pés melhor se filtra desta vida. Talvez o melhor seja rastejar, como os répteis e suas vidas presas ao chão. Ah, os pássaros!...