Publico neste espaço a matéria veiculada no Diário de Natal deste domingo. Lá, a matéria saiu cortada. Aqui, sai a íntegra. E com um adendo: se a Banda Grafith toca um som de qualidade questionável como as suingueiras, axés e forrós pornofônicos, para este blogueiro, os músicos são excelentes, versáteis, carismáticos, compositores e também afeitos à boa música. Nos shows há espaço para boa música internacional e clássicos do rock brazuca. São músicos vencedores. São potiguares. Está valendo. Segue a matéria:A Banda Grafith é talvez a mais longeva do cenário musical potiguar em plena atividade. Atravessou as décadas de 80 e 90 com a marca do pioneirismo no lançamento de ritmos de apelo popular em Natal, como o samba-reggae ou a mais nova coqueluxe do momento: o arrocha e a pisadinha, cujo sucesso
Me chama de my love já estourou nas rádios. A formação original dos quatro irmãos músicos se mantém inalterada. A sintonia musical e o repertório sem limite de gênero ou preconceitos permite apresentações em eventos dos mais sofisticados até shows em áreas periféricas da cidade. A flexibilidade de adaptação, a produção elaborada de show independente de local e a qualidade e experiência musical dos integrantes colaboram para shows quase diários e agenda marcada já para 2011.
Os irmãos Grafith driblam os efeitos de um tempo contemporâneo a bandas como Impacto Cinco, Terríveis, Montagem, Banda Mix, Circuito Musical e outras. Todas elas bandas de baile iniciadas entre as décadas de 70 e 80. A Banda Grafith se destaca com algumas composições próprias ou intérprete de músicas que se tornam marca da banda. É o caso do hit do samba-reggae,
Camaleão. Outro grande sucesso -
Chico bateu no bode - esconde um crítica pouco conhecida ao compositor Chico Buarque. A composição é do genro de Chico, o baiano Carlinhos Brown. “A música estoura com a gente e passa a ser quase nossa. Temos essa marca de apresentar a novidade, agora com o arrocha e a pisadinha”, afirma Cristiano Gomes de Lima Júnior, o Júnior Grafith, que saiu dos palcos para empresariar o grupo.
Durante mais de duas décadas de atividade, a Banda Grafith conquistou um público fiel em diferentes camadas sociais. No carnaval de Macau consegue arrastar mais de 80 mil pessoas - público comparável aos grandes shows mundiais ao ar livre. Foi esse também o público presente no Mossoró Cidade Junina, recorde do evento. O Dvd do grupo foi gravado ao vivo em show para 20 mil pessoas no Shopping Estação, na Zona Norte. O slogam da banda - “Quem sabe faz ao vivo” - reflete a rotina dos irmãos. Eles respiram música e tocam vários instrumentos. “Temos uma legião de fãs sobretudo em estados do Nordeste como Ceará, Pernambuco e Paraíba, e também no Rio de Janeiro. Essa credibilidade nós conquistamos em função de tocarmos tudo e em qualquer canto”, se orgulha Júnior Grafith.
De fato o repertório é tão vasto que os integrantes sequer têm estimativa de quantas músicas compõe o set list da banda. Jovem guarda, reggae, axé, forró, bolero, brega, conforme o pedido. E também à época. O Grafith sempre esteve adequado às novidades de cada geração. Nos anos 80, predominava o rock de Brasília, com Legião Urbana, Capital Inicial, também o Kid Abelha e os Abóboras Selvagens. Na década seguinte, a explosão do pagode romântico e do axé. No novo século, a banda se mantém na crista da onda. A alternância entre ensaios e shows é diária. A média é de 15 apresentações ao mês. Isso durante os últimos 20 anos. O único período de férias do grupo é uma semana após o carnaval.
“E sempre procuramos apresentar a novidade, como o samba-reggae iniciado em 1989, com a música
Camaleão (“Olha quem chegou: Camaleão; olha quem chegou meu amor, Camaleão…”). Agora é com a pisadinha e o arrocha. É dessa maneira que a banda fica conhecida. Mas o povo gosta de ver a gente tocando tudo. O povão prefere essa diversificação, com o flashback de músicas internacionais e gosta menos de forró. Nas baladas preferem o axé”, afirma Júnior Grafith. Uma mostra desta diversidade pode ser conferida no Dvd. A música inicial é o clássico
Thriller, de Michael Jackson (o Dvd foi gravado antes da morte do rei do pop). Clássicos dos anos 70 antecipam uma série de suingueira até o novo ritmo do arrocha e final com os sambas-reggae de outrora.
História da banda atravessa geraçõesOs tropicalistas e a aura psicodélica herdada de Woodstock reinavam naquela década de 70 quando João Bastista de Lima, 53, o Joãozinho, resolveu escapar da severidade da educação militar imposta pelo pai para dar vazão à vocação musical. “Éramos doze irmãos criados com soldados para se formarem profissionais liberais”, lembra Joãozinho. Na vizinhança da casa situada no bairro Santos Reis, outros jovens dedilhavam guitarras e mais tarde formariam a base das principais bandas de baile de Natal.
A primeira experiência musical de Joãozinho uma rápida passagem pelos Infernais, formado no bairro das Quintas. Se firmou mesmo como guitarrista e cantor na The Shinys, em 1974. “Papai perguntou se pelo menos eu estava ganhando algum dinheiro para dar o aval. O medo dele era termos algum vício. Mas nenhum de nós sequer bebe ou fuma até hoje”. Quando Joãozinho saiu do The Shinys, Luís Cláudio de Lima, o Kaka, foi indicado para substituir o irmão. Joãozinho passou a integrar o Alerta 5, depois refundado como Suigeneres, com shows em São Paulo.
Em 1977, Kaka e o irmão mais novo, Carlinhos, se encontrariam na banda Os Impossíveis. Seria o embrião da futura banda Grafith. Enquanto o precursor Joãozinho se apresentava em programas como o Chacrinha, Raul Gil, Clube do Bolinha e outros em São Paulo com o Suigeneres, Júnior também se integrava aos Impossíveis. Quando Joãozinho voltou a Natal em 1981, recusou o convite do Skema Livre para se juntar aos irmãos e o contrabaixista Jaílson. A nova formação dos Impossíveis durou até 1987.
Uma sociedade foi formada com a banda Suigeneres em troca do equipamento de som, fundamental para alavancar qualquer banda na época. Desentendimentos levaram à ruptura. Um micro-empresário de Jardim de Piranhas, fã dos irmãos, vendeu um equipamento completo de som com pagamento dividido em quatro vezes. “Era 1988. Financiamos o carro e apostamos nos shows da campanha política daquele ano. No fim havíamos faturado o equivalente a um mês adiantado. Começamos mesmo daí. O salto mesmo veio com dois grandes shows em Pedro Velho e São José do Mipibu”. Depois vieram as apresentações sequenciais nos vários clubes da época.
Kaka relembra saudoso aqueles anos 80. “As festas em clubes como o América, Assem, Camana, Quintas Clube, eram mais saudáveis. Cada bairro possuía seu clube e as pessoas iam e voltavam a pé, sem violência ou medo. Hoje as casas de shows são fora de Natal. Culpam o som alto no ambiente urbano, mas não sei até que ponto a medida é favorável porque, em contrapartida, aumentou os acidentes nas estradas”. E conclui: “Sinto falta daquela época. Mesmo a música mudou. Sentíamos mais qualidade na música produzida antigamente”.