O amor acalanta pesares. Após batalhas quase intermináveis do escritor contra a disciplina das palavras e o mergulho abismal nos recônditos da alma para transpor a abstração dos sentimentos à concretude do papel, vem o amor para pintar de azul a alma tingida pelo cinza oxidado do lítio. A Cega Natureza do Amor é o segundo livro do escritor Patrício Jr. São 13 contos leves a respeito do amor. Chega após a melancolia densa e existencial do romance Lítio, publicado há quatro anos.
Cartas apaixonadas. A gravidez indesejada e depois amada. A relação impossível. O romantismo da moça que se apaixona por um gringo. O mesmo sexo. A espera no cais do porto por quem nunca vem. Discussão. Traição. São essas situações às quais nos submete o maior dos sentimentos que constroem os 13 contos escritos por Patrício Jr nesta “cega natureza do amor”. O livro (Jovens Escribas, 124 pág, R$ 25) será lançado hoje, às 19h, na livraria Siciliano do shopping Midway Mall.
A maioria dos textos é inédita. O conto intitulado “Diva” foi publicado na extinta revista Brouhaha e está sendo adaptado para o cinema pelo diretor Buca Dantas. O processo coletivo de criação que envolve a obra, inclusive, reforçou o seu teor artístico. Destaque para a participação da fotógrafa Drika Silveira e para as interpretações musicais de Marlos Ápyus que fizeram, cada um, suas leituras dos contos. No lançamento, haverá uma exposição das fotos do livro e um pequeno show ao vivo.
Entrevista - Patrício Jr.
Lítio traz uma carga sentimental mais densa. Você quis fugir deste peso existencial ao publicar um livro de contos sobre o amor?
Talvez sim. Mas inconscientemente. “Lítio” foi difícil de escrever, foi exaustivo. Quando publiquei, queria logo escrever outro romance. Mas tudo que começava era muito Lítio. Eu estava preso naquele universo tão conturbado. Então, passei a escrever contos e a buscar temas opostos ao do meu romance. Depois de muitos contos escritos, percebi que a maioria falava de amor. Então foi um movimento natural tentar organizá-los numa coletânea que falasse desse tema.
Quais abordagens foram usadas para fugir do sentimentalismo piegas do tema?
Eu sempre tento sair do comum. Sempre tento um cuidado estilístico diferente para cada conto, uma linguagem própria para cada história. Obviamente, é impossível falçar de amor sem ser piegas. E eu não tenho essa pretensão. Assim, após mais de 30 contos escritos, selecionei apenas 13. Tendo em vista esse critério: quanto menos piegas, melhor. A essa peneira sobreviveram histórias como a do padre grávido, que luta contra a Igreja para ter seu filho. Ou a do travesti apaixonado por um amigo de infância. Ou ainda, a da esposa que tortura o marido após anos e anos de casada. São abordagens pouco ortodoxas do amor, mas que compõem um interessante mosaico do sentimento.
Moacir Scliar acha os contos o gênero mais difícil de escrita. No entanto, você já disse ter sofrido bastante para escrever Lítio e pariu quase sem muito esforço A Cega...
Lítio exigiu disciplina, trabalho intelectual e braçal. O romance tem essa dificuldade: ele só termina uma vez, só tem um ponto final. Já um livro de contos é diferente. Eu não escrevi um livro de contos, eu escrevi contos. E numa determinada hora eu resolvi compilá-los num só volume. Isto significa que não senti a pressão que senti com o romance, a angústia de escrever o ponto final. Além do mais, os temas são bem diferentes. Era muito comum terminar um capítulo de Lítio e estar emocionalmente esgotado. Já falando de amor, senti mais esperança. E isso facilita as coisas.
Nei Leandro, em recente entrevista ao DN, afirmou que sente falta de ficcionistas potiguares e aponta a falta de paciência dos jovens a se debruçarem em pesquisas para escrevem bons romances. O que acha da opinião do escritor?
Concordo plenamente com ele. A internet tornou as coisas muito velozes e o imediatismo prejudica o trabalho de pesquisa. Mas sei do potencial de muitos escritores da minha geração e creio que o amadurecimento de cada um revelará grandes ficcionistas.
Já há algum esboço para um próximo livro? Quais os planos editoriais do Jovens Escribas?
Quero iniciar meu próximo romance ainda este ano. Será um projeto ousado, que vai misturar linguagem de quadrinhos e de romance numa única obra. Não comecei ainda porque não descobri a chave dessa história, a linguagem que devo usar. Mas já tenho toda a história na cabeça. Basta iniciar. Já com o Jovens Escribas, estamos animados em investir numa gestão ainda mais profissional dos nossos livros. Queremos expandir nossas atividades e publicar mais e melhor. Os planos para 2010 são muitos, e todos passam pela profissionalização do nosso trabalho.
Lançamento literário
Livro: A Cega Natureza do Amor
Quando: quinta-feira
Onde: Livraria Siciliano, Midway Mall
Hora: 19h
Quanto: R$ 25
[image: Quando usar a preposição trás?]
Saber quando utilizar a preposição "trás" pode ser um desafio para muitos
estudantes de português. É importante e...
Há 11 horas
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