terça-feira, 30 de junho de 2009

Cartas de Cascudo e Mário de Andrade serão publicadas

O poeta Diógenes da Cunha Lima adiantou a este blogueiro a publicação neste 2009 das correspondências trocadas entre Cascudo e Mário de Andrade durante mais de 20 anos. Será uma edição patrocinada em parceria entre as academias norte-rio-grandense e paulista de letras.

A mulher na poesia potiguar

Sempre me senti um ET ao ler a poesia de Auta de Souza. Suas palavras nunca me tocaram e, como uma mulher insegura, sempre pensei que o problema fosse comigo. Não sei se minha cisma se deve ao conteúdo poético claramente influenciado pela religiosidade de Auta. Não sei. Verdade é que nunca a apreciei como uma poeta presente no cânone do nosso escrete poético, mesmo o feminino, riquíssimo nas representações de uma Carmem Vasconcelos, Iracema Macedo, Ada Lima e, principalmente, na potiguar de essência, Zila Mamede. Pois eis que leio no BLOG do escritor e jornalista Franklin Jorge o texto abaixo, de Márcio de Lima Dantas. Descoheço a formação de Márcio. Franklin o cita como professor. Sei, pelo texto, que tem opinião semelhante a minha. E ainda cita no mesmo bojo Nísia Floresta e Palmira Wanderley.

Por Márcio de Lima Dantas

Auroras Femininas

O Rio Grande do Norte detém no seu sistema literário uma pequena plêiade de poetas dignas de constar em qualquer rol de boas mulheres escritoras. Esquecendo as canônicas Auta de Souza, Palmira Wanderley ou mesmo Nísia Floresta (como poeta), que não suportam uma segunda leitura, nem muito menos serem traduzidas para língua nenhuma, servindo apenas para que se repita os lugares-comuns de sempre, à falta de outros nomes existentes.

Por que o humano não tolera o vazio é que se justifica o lugar ocupado por essas três personagens nas rumas de antologias publicadas aqui entre nós. Longe de mim destituí-las do valor histórico que compete a cada uma, agora dizer que têm valor estético é um acinte à Érato, musa da poesia lírica. Nem inventem. Respeito enormemente Nísia Floresta como ensaísta e como autora de belos livros de literatura de viagem, agora querer fazê-la poeta, é pouco compreender o fenômeno literário.

Assim sendo, prefiro me restringir ao que se inscreve como poéticas com valor artístico, produtos do espírito que transcenderão espaço e tempo, nada ficando a dever às literaturas de outros Estados da federação.

Penso, sobretudo, numa Zila Mamede, numa Myriam Coeli, numa Nivaldete Ferreira e, principalmente, naquela mais esquecida (e, quiçá, mais conscientemente escritora), com dois livros de poesia e que se chama Jacirema da Cunha Tahim, autora de Poema e A hora antes da hora. Não lida e nem muito menos conhecida no parnaso contemporain do Estado, astuciosamente obliterador daquilo que não afina no diapasão dos elogios mútuos e da simulação astuciosa do meio literário.

Porém, tudo se move. Aos dias, sucedem as noites. Nos últimos tempos, apareceu na cena literária norte-rio-grandense três poetas de bom quilate, denunciadoras de uma sintonia com o espírito da época e capazes de produzir obras que se coadunam com muitos rebentos advindos de uma literatura feita por mulheres.

Os temas são vários: as cismas e inquietações do presente, os derredores da condição feminina, o amor como objeto de derrisão; enfim, abandonaram o arquétipo do aguardo de Penélope, indo ao encontro das platibandas plenas de espelhos, expondo uma diferença em muito bem construídos e inspirados poemas.

Refiro-me a Iracema Macedo, Carmem Vasconcelos e Anchella Monte. Tríade detentora de uma poesia refinada e sóbria, distante dos pesadumes de tantas, da choradeira que grassa entre mulheres poetas, empurrando o piegas e o lacrimogênico como se fosse lirismo de qualidade, que não tem que agüente mais. E o melhor disso tudo é que parece não haver um ideário comum, ou seja, são poéticas com dicções próprias; algumas optaram pelo respeito às normas gramaticais, outras desafiam a sintaxe ortodoxa, em atitude de plena liberdade, fazendo dizer do discurso poético como lugar que se opõe ao chamado real. Ou seja: a escritura como crítica do mundo e da sua perversa lógica.

O que chama atenção nos livros daquelas autoras é uma espécie de inscrição, digamos, do “feminino” - que até então havia aparecido de maneira ostensiva tão somente na poesia de uma Marize Castro ou de uma Diva Cunha - como um projeto escritural detentor dos topos mais vinculados às especificidades da condição da mulher num mundo predominantemente dominado pelos homens, e que se estende da política até as associações de literatos, como as Academias de Letras, por exemplo.

Com efeito, ocorre ostensivamente uma guinada na mentalidade dessas novas vozes femininas no contexto da lírica norte-rio-grandense contemporânea. O discurso poético quer instaurar-se como diferença, não mais como aquele que segue cânones e normas estabelecidas por uma vida literária dominada pelos homens.

Não há como negar a inserção da nossa mais conhecida poeta, Zila Mamede, como epígona da Geração de 45 (Rosa de pedra), da poesia concreta (Exercício da palavra) e da forte influência do poeta João Cabral de Melo Neto, em alguns poemas (Procissão, por. ex.). A poeta, não há como não reconhecer, afinava seu timbre lírico consoante o que se encontrava em vigor na produção literária oriunda dos homens, não conseguindo, apesar do seu inegável talento, uma caligrafia própria, que a distinguisse da virilidade dos seus colegas contemporâneos.

Embora nada se possa dizer contra sua competência poética, elaboradora de belas metáforas, de uma concretude sóbria e seca (no melhor sentido), também não podemos deixar de afirmar que pouco ou nada inovou no que diz respeito à escritura oriunda das mulheres. Mesmo por que, se olharmos bem, constataremos que sua escritura estava bem de acordo com seu temperamento. Doméstica e recatada, de temperamento forte, ligada sempre às classes dominantes, pragmática, não se permitiu uma liberdade maior.

O certo é que hoje nada nos impede de dizer que somos detentores de um cabedal de mulheres escritoras que, além de disporem de dicções próprias bastante diversificadas e criativas, também encontram-se em sintonia com a mentalidade das formas contemporâneas de se relacionar afetivamente, consoante com o espírito do tempo que as entorna. A mulher, diferente do passado, quando se atinha ao simples pastiche estético advindo dos círculos masculinos, hoje insculpe seu nome e seu número no discurso poético produzido no Rio Grande do Norte.

Concurso de cordel

O prazo para as inscrições do prêmio Cosern de literatura de cordel termina nesta sexta-feira. O concurso é destinado a estudantes de ensino fundamental, do ensino médio e cordelistas. O tema é "sustentabilidade". Os interessados em participar podem obter mais informações no site www.premiocordel.com.br ou no 3201-0501. A inscrição é gratuita. Neste ano, o prêmio está distribuído em três categorias: estudantes de ensino fundamental, do ensino médio e não estudantes. Os alunos do ensino fundamental e médio devem estar devidamente matriculados em escolas públicas e privadas do Rio Grande do Norte. A categoria não estudante é livre e direcionada àqueles que pretendem participar sem comprovação de freqüência escolar. O trabalho precisa ser inédito. Ao final do concurso serão escolhidos os dez melhores trabalhos para publicação de uma coletânea, distribuída nas principais bibliotecas do Estado. A premiação será realizada no penúltimo dia de programação da quinta edição da Feira do Livro de Mossoró, promovida entre os dias 4 e 9 de agosto, na Estação das Artes Elizeu Ventania.

Neil no CQC

Nei Leandro de Castro foi flagrado agora há pouco pelas telas do CQC durante a programação dos 40 anos do Pasquim. A mesa estava cercada de bebuns, a começar por Jaguar. E agorinha vai passar um pingue-pongue com o boêmio jornalista Xico Sá, no mesmo programa. Para uma segunda-feira, o aroma da cerveja já ronda a atmosfera cotidiana.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Divisor de águas do pop


Se o papa é pop, muito se deve a Michael Jackson. O mito black and white revolucionou diferentes aspectos da cena artística. Criou passos e estilo próprio de dança com o moonwalker e o break. Foi dos primeiros a transformar o videoclipe em arma comercial. Representa ainda hoje o maior fenômeno da indústria fonográfica. E, antes de tudo, praticamente inseriu o fenômeno pop à música.

A história da música pop é contada a partir do álbum mais vendido de todos os tempos. Thriller foi lançado em 1982. Antes disso o cenário musical era dominado pelo rock progressivo, o punk ou o soul music, promovido, sobretudo, pela Motown, gravadora pela qual o Jackson 5 alcançou o sucesso e, mais tarde, lançou Michael Jackson em carreira solo, ainda no início da década de 70.

Mesmo antes da década de 80 o mundo conhecia apenas ritmos distantes da suavidade da indústria cultural fomentadora do estilo pop. A historiografia musical percorreu a monodonia da época medieval, a música orquestrada, as sinfonias, o gospel, o jazz, o blues até chegar ao rock dos anos 50 e 60. Ora, Michael Jackson criou o pop como Bob Marley fundou o reggae.

No álbum Off the wall (1979), Michael Jackson mostra uma identidade pop ainda sob influência da black music característica da época dos cabelos blackpower. A música "Rock with you" é bem representativa do período. O álbum também marca o início da parceria do ídolo ainda promissor com um dos maiores astros da história da música: Sir Paul McCartney. A união dos dois perdurou por álbuns seguintes até a briga pelos direitos autorais dos Beatles. Na época, o nome de Michael Jackson era maior que qualquer outro. Estavam ali, reunidos em um único corpo mutante, o talento bailarino de Fred Astaire ou a voz afinada de Frank Sinatra. Uma miscelânia inigualável (comparável, na música, apenas a Madonna) em 30 anos de música pop.

Polêmica e talento

A figura de Michael Jackson é associada ao talento e à polêmica. O jornalista potiguar Marcelo Barreto, 31, contextualizou ambas vertentes doídolo a partir de uma vida contida de quem se mostrou ao poder da indústria midiática aos cinco anos de idade. "Nessa idade ele já dançava e cantava como poucos adultos. Se destacou rápido dos irmãos também talentosos e descobriu sua homossexualidade quando era um astro ainda adolescente. Ele nunca teve vida privada e precisou mascarar durante toda a vida um lado gay e imaturo. Daí vieram as polêmicas a partir do contato mais íntimo com as crianças", opina.

O professor, bailarino e um dos nomes mais respeitados da dança no Rio Grande do Norte, Edeílson Martins coloca Michael Jackson no mesmo patamar de dançarinos célebres como a musa Ginger Rogers, Barishnikov ou Fred Astaire. "Talvez seja até maior porque conseguiu popularizar; levar a dança aos palcos e ao show business". Segundo Edeílson, Michael Jackson reelaborou passos da dança de rua e expressões culturais negras em novas criações aproveitadas depois por outros astros da música pop como Madonna e Britney Spears.

Repercussão

Nas ruas da cidade, os álbuns de Michael Jackson reviveram a época áurea dos recordes de vendagem. Mas o atual momento é diferente daqueles anos consumistas da década de 80. Nas duas lojas que restaram na Cidade Alta, nenhuma procura. A Discol, localizada na Rua João Pessoa, próxima ao Ducal, a caixa de som ecoava em alto e bom som a música do último álbum do cantor, o Invincible (2001). Nem assim. Na resistente loja já sem nome ao lado da C&A, também nenhum interesse. A comerciante de DVDs piratas, Edna Santos é quem comemorava: vendeu o que tinha do cantor. Carlos Costa vendeu os quatro DVDs que tinha e já buscou mais. "Foi um cara muito famoso, sabia cantar e dançar. Tinha aqueles problemas com as criancinhas, mas a música era muito boa", opinou.

* Matéria publicada no DN nem sei quando

Um romântico incurável

Natal ainda acoberta em cada esquina um poeta e em cada beco um jornal, como afirma a epígrafe datada do início do século 20 e ainda atual. A produção de romances na cidade do folclorista Cascudo ainda é incipiente. Nei Leandro de Castro, François Silvestre e outros poucos arriscam algumas palavras geralmente ambientadas nos chãos potiguares. Mas numa rua estreita, espremida entre a Apodi e a Jundiaí, no Tirol, mora um senhor de 72 anos. Na estante de Raymundo de Sá há livros de filosofia aos montes. Entre eles três romances de sua autoria. E também uma antologia portuguesa de poemas, a qual guarda cinco poesias de Raymundo.

Nos fundos da casa também transformada em lan house improvisada, Raymundo se debruça em estudos de lógica quântica e produção literária. A figura de Raymundo se confunde com o personagem de Gabriel García Márquez, em Memória de Minhas Putas Tristes. O protagonista é um nonagenário solitário, cronista que descobre os prazeres da vida tomado pelo medo do amor. Raymundo é um romântico incurável, casado com a universitária do curso de Letras, Elizabete e com a imaginação e romances vividos em tempos outros. As frases proferidas têm sempre palavras cavalheirescas ou tiradas sacanas bem postadas, em fino requinte.

Os três romances escritos por Raymundo são uma trilogia. Um deles - Potyra - foi publicado em 2005 pela Lei de Incentivo Djalma Maranhão. Conta o romance entre a índia Potyra e o narrador-observador da ficção, Mauro. Os cenários amazonenses são descritos com propriedade. Raymundo é manauara de nascença. Ronda o Nordeste há 28 anos e se estabeceu em Natal há seis. Conhece os palmos dos igarapés e terras ilhadas daquelas paragens nortistas. Ainda assim mergulhou em pesquisas para escrever o livro, como na linguagem tupi-guarani e fases da lua, temáticas recorrentes no romance. A filosofia integra a formação profissional de Raymundo e serve de alicerce à construção de encadeamentos bem arquitetados no enredo de Potyra.

Como afirma o crítico literário Émile Faguet, o meio mais comum e a melhor garantia recorrente aos romancistas conhecedores de seu ofício é o de cercar os casos expecionais de um bom número de fatos cuja observação é, ao contrário, bem corriqueira, e que são bastante conhecidos. É um modo de ganhar a confiança do leitor, pois se percebe no romancista a competência para observar o que o leitor observa, e assim também provoca o respeito diante dos casos expecionais relatados. Raymundo usa este artifício com propriedade ao unir o corriqueiro e o excepcional à narrativa de Potyra.

Raymundo de Sá é universal quando narra uma história clássica de amor. E se muito do enredo é explicado em cada parágrafo, o amor - fio condutor da narrativa - permanece misterioso como sua essência. Mesmo o fim surpreendente encobre a clareza das respostas e incita novas leituras, complementadas nos outros dois livros da trilogia ou mesmo nas poesias que escreve.

Raymundo foi, talvez, o único poeta residente no Nordeste a integrar a antologia poética publicada em Portugal. Ainda assim teve seu livro de poemas rejeitado pela comissão da Fundação José Augusto. Uma das cinco selecionadas no livro se chama "Se explicado, amor não foi". Segundo Raymundo, o amor é inexplicável. “Se alguém disser que ama pela beleza, pela simpatia, pela simplicidade, inteligência, não é amor, ele já explicou o que é: admiração. Se explicado, amor não é”. Em outra poesia, Raymundo escreve:

Desejava que ligasses,
Não esperava que ligasses,
Não ligaste,
Esperei.

Imaginei que viesses,
De vestido branco,
Toda molhada de chuva,
Não vieste.

Sonhei que aqui ficavas,
Tiravas o vestido branco,
Vestias minha camisa,
Só sonhei.

Nas mãos o teu cheiro,
Na boca, o teu gosto,
No peito a saudade,
Acordei.

Por entre as frestas: o sol,
A claridade, o novo dia,
A sala vazia,
De ti.

O segundo livro da trilogia, As rosas dos dias três, traz novos elucidamentos. O livro está concluído e já aprovado pelo Programa Djalma Maranhão, da Capitania das Artes. Espera agora concluir a burocracia para o patrocínio da iniciativa privada. Dois hospitais demonstraram interesse no financiamento e o livro deve chegar às livrarias em breve, sem lançamentos em livrarias prestigiadas da cidade ou qualquer pompa. Se vale mais discrição, Raymundo ainda assina com o pseudônimo de Richard Sullivan. O nome é mero joguete com as iniciais do nome de batismo.

O terceiro e último livro está no “prelo da mente” e se chama Evelyn. Com ele, a geografia temporal da trilogia compreende um período de três gerações. São cerca de 100 anos e a necessidade de pesquisa de costumes e detalhes de cenários de época. Tanto trabalho faz Raymundo se emocionar ao ler trechos da sua obra. Lê como se recitasse cada palavra. Tem prazer - como todo autor - em mostrar seu trabalho. Se veste mesmo dos personagens e até expressa na face cada sentimento, seja de raiva, nojeira ou alegria. Chora quando a frase toca a alma. Como nas poesias que escreve.

*Matéria publicada nesta segunda-feira no DN

domingo, 28 de junho de 2009

Música popular também tem Luzz


A história de Waldir Nascimento de Souza é a mesma de outros artistas talentosos residentes neste cemitério musical chamado Rio Grande do Norte. Alguém aí conhece Waldir Luzz? A Elba Ramalho sabe quem é. A classificação geralmente atribuída ao compositor-intérprete é a de artista popular, já cercada de estigma e preconceito. Waldir Luzz está há mais de 30 anos na estrada. Corrigindo: está há 30 anos entre bares e palcos natalenses. A estrada propriamente dita foi percorrida pouquíssimas vezes, em rondas de aventura no Sudeste do sucesso distante.

Waldir Luzz é natalense da gema, ou do bagaço do caju mais genuíno e doce. Conta 42 anos. É filho de peixe-cantador de banda de baile, João Paulino, e peixinho, seguiu o pai no ofício. A casa no Bairro Nordeste vivia recheada de músicos. Cada nota musical tocada naquele ambiente grudava no ouvido como perfume na pele. Ainda menino assistia em sua sala João de Orestes, integrantes de bandas como Terríveis, Impacto Cinco, Apaches, Impossíveis, Os Íngaros e outros. O Bairro Nordeste foi celeiro de músicos nos anos 70.

A escola musical transportou Waldir Luzz aos palcos da vida noturna. Sem muita alternativa. Aos 16 anos já cantava com o pai. A versatilidade no exercício de vários estilos musicais das bandas de baile foram repassadas ao jovem. Dez anos depois, aos 26 anos, Waldir Luzz cantava na noite. E cantava de tudo. A Praia dos Artistas era o novo celeiro de cantores natalenses. A Escotilha, o Calamar, os hotéis da então recente Via Costeira (ainda hoje) eram os espaços mais frequentados pelos músicos. E lá estavam Pedrinho Mendes, Sueldo Soaress e o jovem Waldir Luzz a procura de uma brecha.


Passados quase 30 anos, Waldir Luzz, Pedrinho Mendes, Sueldo Soaress e outros nomes da época continuam dentro das muralhas de Natal e a procura de espaços para mostrarem suas músicas. "Ninguém faz sucesso em Natal. O artista começa a tocar em bares, festivais e permanece nesse ciclo, rodando os mesmos lugares e projetos culturais até o fim", lamenta. Durante mais de 20 anos, Waldir Luzz integrou a Banda Pôr-do-Sol, contemporânea a Banda Feras, Circuito Musical, Fobos e outras que se dividam entre a Assem, Aeroclube, América, Quintas Club e Casa da Música, nas já distantes décadas de 80 e 90.

As amigas Cida Airam e Rejane Luna procuraram outros ares, em Curitiba e Rio de Janeiro, respectivamente. "Elas me estimulam a sair daqui. Dizem que lá tem mais espaço para o artista. Mas já fui a São Paulo. Lá o artista vira escravo da noite. Dificilmente faz sucesso, apesar dos espaços". E artistas como Lenine despontaram como? Waldir Luzz abre excessões. Segundo ele, o artista pode despontar como compositor na voz de algum intérprete famoso. "Muitos famosos gravam músicas de compositores desconhecidos. Aí quando caem na boca do povo, o compositor aparece. É o caso de Lenine, Chico César e outros".

Shows

Waldir Luzz se apresenta mais em festas particulares ou nos fins de semana no Hotel Escola Barreira Roxa. Participa de festivais eventualmente, como o Forraço. Há um ano tenta gravar o terceiro Cd. O novo trabalho terá 90% de músicas autorais. As outras são releituras de composições de Babal, Magnus Araújo, Elino Julião e outros. Serão 12 faixas. Oito já foram gravadas, de forma independente. "Passamos um mês para gravar uma música. Tem que ser aos poucos porque é independente. Iremos atrás de patrocínio pelo menos para a capa e a confecção do Cd. Estamos tentando a participação de Elba Ramalho. Da última vez ela prometeu que no próximo Cd ela participaria".

A associação do trabalho de Waldir Luzz com o xote e o baião ainda é muito forte. E muito se deve à admiração do compositor com o trabalho de Elba Ramalho. "Já assisti a 66 shows dela. Quando vem a Natal e concede entrevistas, às vezes ela cita meu nome". E assim Waldir Luzz é lembrado. Quando toca na noite natalense, insere suas composições sem identificar a autoria. "É uma maneira de o público aceitar sem reclamar. Pensam que é de alguém famoso. Só digo que é minha se perguntarem".

E tome lançamento

Depois de Lívio Oliveira, Adriano de Sousa, Rubens Lemos Filho e Carlos Magno Araújo é a vez do decano do jornalismo potiguar, Cassiano Arruda Câmara ser estrela de uma noite de autógrafos. Será quarta-feira, na badalada Siciliano do Midway. O jornalista Cefas Carvalho também será astro nesta semana, na mesma Siciliano.

Os lançamentos literários têm evidenciado uma união de jornalistas nunca dantes vista em reuniões do Sindjorn. Na noite da última sexta-feira houve quem soltasse pilhérias e apontasse um encontro de ex-jornalistas do DN. Mas o leque foi bem maior e mostrou o prestígio do Capitão Charles no meio artístico da província.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Cabeças pensantes do futebol


A magia do futebol é inexplicável. Consegue unir antônimos e sinônimos numa mesma paixão. Adocica textos de Nelson Rodrigues. Vira poema escrito e jogado; arte plástica; música cadenciada; paulicéia literária. Desde quando os primatas descobriram a roda, a pelota é objeto de estudo e carece de explicação científica para definir seus efeitos sob a massa homogênea. Coisa que Freud e A cabeça do futebol explicam. O livro é organizado pelos literatos e futebolistas frustrados Carlos Magno Araújo, Samarone Lima e Gustavo de Castro - jornalistas e cronistas também deste campeonato do cotidiano.

Choro, revolta, euforia, ironia, angústia… O futebol retrata pedaços existenciais. No compêndio de suas histórias está a ilusão e os fatos. Sem um deles a vida seria metade. A cabeça do futebol reúne esses pedaços na tentativa de explicar o imponderável. Um escrete comparável à seleção brasileira de 70 foi escalado para preencher os limites das quatro linhas do livro. São 28 craques da literatura e do jornalismo. Poetas, cronistas, ensaístas, romancistas, contistas e até jogador estrangeiro. Time pra jogar em todas as posições e emplacar este golaço, já lançado em passe milimétrico em Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e hoje recebe o aplauso da torcida natalense na Siciliano do Midway, às 19h.

O livro A cabeça do futebol (Editora Casa das Musas, 2009, R$ 25) será apresentado aos torcedores de todas as agremiações. É provável que alguns dos selecionáveis, comandados pelo capitão Carlos Magno Araújo, estejam presentes. Formam o time Juca Kfouri, José Roberto Torero, Luiz Zanin, Daniel Piza, Xico Sá, Humberto Werneck, Fabrício Carpinejar; os potiguares Moacy Cirne, Rubens Lemos Filho e Gustavo de Castro.

As histórias parecem contos de fadas. Servem mesmo para contação às crianças. Talvez até despertem esta magia pronta a desabrochar. Há também os relatos tristes, como a escrita pelo espanhol Enrique Vila-Matas e a tragédia do meio-campista uruguaio Abdón Porte, ídolo do Nacional. Corria o distante 1918. Abdón festejava com amigos a vitória do seu time após a partida. A uma da madrugada retornou ao estádio. “No meio da noite, foi até o círculo central do campo, onde tinha o costume de reinar. Ninguém mais o substituiria. Ali, no próprio centro do estádio, matou-se com um tiro no coração”. Foi sua última partida.

Relatos de craques nacionais também figuram neste campo literário. Mas também os mais anônimos ou tão famosos que só cabem no pôster do time campeão da sua cidade. As lembranças infantis naquele alumbramento mágico despertado pelo time de coração que acompanha os próximos domingos da sua vida, também ilustram a obra. E lá estão as bolas de meia, a primeira ida ao estádio, os torcedores folclóricos, e os fatos cotidianos que apresentam o futebol como pano de fundo; como pintura íntima da vida. Na crônica de Carlos Magno Araújo, o duelo do abecedista Hélcio Jacaré com ídolo Fio Maravilha, ex-rubronegro, em cenas coloridas pela nostalgia.

CAPITÃO CHARLES
Apesar da pompa dos elogios já registrados na imprensa nacional e da circunstância dos lançamentos, Carlos Magno Araújo imprimiu a categoria e discrição do botafoguense Didi, maestro da seleção campeã de 58, para justificar a reunião de tantos “cartolas temporários neste sonho de reunir craques do jornalismo e da literatura para falar do mais passional dos esportes”. Está logo na apresentação: “Não esperam a glória fútil do Motoradio, a entrevista útil na boca do túnel ou o destaque na resenha da noite. Foi tudo por amor ao futebol - sem preço que pague”. E falou mais:

Sérgio Vilar - Como surgiu a ideia de elaborar o livro?
Carlos Magno Araújo - O livro surgiu da ideia de mostrar que o futebol é bem mais do que 22 homens correndo atrás de uma bola. O futebol pode ser visto, sim, como um microcosmo da vida. Os que praticam, em geral, aprendem a ser solidários, a conviver com derrotas e vitórias e a ter consciência de que precisam da ajuda dos demais para vencer. Assim é a vida. O futebol é o grande e verdadeiro Big Brother. Em noventa minutos, oferece aos espectadores alegria, dor, emoção - e o melhor: sem precisar discar para o Pedro Bial.

Qual a recomendação dada a cada colaborador?
Junto com os dois outros organizadores, meus amigos Gustavo de Castro e Samarone Lima, começamos a sondar escritores e jornalistas. O projeto que, a princípio, seria mais “local”, foi ganhando outros contornos. Todos os colaboradores adoraram a ideia e fizeram questão de participar. Os textos foram chegando e formando um caleidoscópio interessante e muito peculiar sobre o futebol.

Os textos fogem do academicismo da técnica jornalística. Seriam eles parâmetros às editorias de esportes tornarem suas matérias mais humanas?
Não pensamos nisso na hora de montar o livro. O que pedimos, basicamente, foi que cada um narrasse um episódio marcante na sua vida envolvendo o futebol. Em relação às editoria de esportes, vale o mesmo para qualquer outra: não há jornalismo bom sem personagens, mas acima de tudo não existe jornalismo bom sem texto bom.

O livro é permeado de nostalgia; as histórias são alumbramentos antigos. O futebol perdeu muito desta magia relatada?
O futebol, como tudo hoje em dia, paga o preço da pressa, da urgência. Se por um lado dispomos hoje de uma infinidade de meios para ver jogos e acompanhar notícias de futebol (TV aberta, TV paga, internet, pay per view, sites, blogues), por outro sente-se falta daquela magia particular, daqueles grandes jogos, dos craques inesquecíveis. Antes vivíamos a era do texto no futebol, das crônicas marcantes, hoje vive-se a era da imagem e do mercado. Estamos vivendo o tempo do futebol fast food.

P.S: Esta é mais uma matéria que sairia hoje no DN e foi barrada em virtude da morte do Michael e de um espetáculo de dança.

Arte Sã

Arte Sã

Homem é um bicho esquisito:
caça, come, joga fora a carcaça.
Mulher tem outro instinto:
escolhe, leva para casa, usa...

e com sobras dos ossos,
faz um par de brincos.

(Valéria Tarelho, paulista)

P.S: Esta poesia foi a escolhida da revista Brasileiros para uma sessão mensal destinada à poesia.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Prorrogada inscrição em editais de cultura

Uma boa notícia para quem pretende se inscrever nos editais de fomento à cultura lançados em maio pela Capitania das Artes (Funcarte): os prazos para inscrições em quatro dos sete editais foram prorrogados. O Auxílio Fomento permanece com período de inscrições de 1 a 25 de setembro.

Os editais que estenderam o limite de inscrição foram o Auxílio Pauta, o Auxílio Cultura Popular, o Auxílio Difusão, o Concurso Cine Cordel e o Concurso de Dramaturgia “Auto de Natal 2009”. Os interessados em inserir projetos nesses editais podem ir à Capitania das Artes das 8h às 12h e das 14h às 17h.

Auxílio Pauta: Foi adiado para 3 de agosto o prazo para inscrições no Auxílio Pauta. Com o objetivo de estimular temporadas nos teatros da cidade, o edital irá premiar cinco grupos, cada qual com direito a quatro pautas. Estão aptos a participar os espetáculos que já estrearam ou que estão em fase de finalização (pré estreia). O resultado será divulgado dia 13 de agosto de 2009.

Auxílio Cultura Popular: As inscrições para o Auxílio Cultura Popular também se estendem até 3 de agosto. O auxílio será dado por meio de seleção a grupos ou instituições que realizem manifestações culturais de natureza material ou imaterial por meio de manifestações típicas, produtos ou projetos. As entidades culturais devem relatar suas histórias enquanto perpetuadoras da cultura popular. O resultado sai em 22 de agosto de 2009.

Auxílio Fomento: O Auxílio Fomento permanece com o mesmo período de inscrições: 1 a 25 de setembro, com resultado publicado dia 15 de outubro. É exclusivo para estabelecimentos de pequeno porte que promovem constantes programações culturais.

Concurso Cine Cordel: Até 31 de julho, roteiristas cinematográficos podem se inscrever no Concurso Cine Cordel. O edital de audiovisual premiará cinco roteiros para vídeos adaptados de cordéis. Os cordelistas que tiveram suas obras adaptadas também receberão o prêmio. O intuito do concurso é unir a linguagem popular tradicional às novas linguagens tecnológicas. No dia 22 de agosto, serão anunciados os projetos vencedores.

Concurso de Dramaturgia “Auto de Natal 2009”: O edital selecionará, até dia 3 de agosto, o texto para o espetáculo Auto de Natal, inserido no Ciclo Natalino elaborado pela Prefeitura através da Capitania das Artes. O texto selecionado [WINDOWS-1252?]— que deve contar a história livremente adaptada do nascimento de Jesus Cristo [WINDOWS-1252?]— será divulgado dia 13 de agosto.

Contatos: 3232-4948

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Serão dez os indicados ao Oscar


Li agora há pouco matéria da agência Reuters que os organizadores do Oscar anunciaram hoje um plano para ampliar a lista de indicados à estatueta de melhor filme de cinco para dez filmes.

Ora, se se nos últimos anos está difícil de escolher um entre cinco candidatos de gosto duvidoso, imagine dez. Por outro lado, as chances de uma produção brazuca disputar fica mais fácil.

Tropa de Elite 2

Segundo a coluna Mônica Bergamo, no jornal Folha de São Paulo, Tropa de Elite 2 mostrará a crimilidade entre as pessoas poderosas no Brasil.

Sobre o Capitão Nascimento (Wagner Moura, de Romance), ainda de acordo com a jornalista, ele aparecerá mais velho e, desta vez, como funcionário da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro.

Teremos mais uma mudança na sequência, mas agora nas cópias que serão distribuídas. Bergamo publicou que a intenção da produção é não fazer pré-estreia e sem sessões para críticos. Tudo isso para sentir a reação do público e não da imprensa.

Além de Wagner Moura, Selton Mello (Meu Nome Não é Johnny) também está confirmado no elenco de Tropa de Elite 2. Fernanda Machado, que viveu estudante Maria no primeiro filme, já está em negociações.

Bráulio Mantovani (Última Parada 174) está a cargo do roteiro, que ainda se encontra na fase de desenvolvimento, mas já há previsão para o começo das filmagens, janeiro de 2010.

Tropa de Elite já foi exibido em vários países e ganhou o Urso de Ouro no último Festival de Berlim. Foi o filme nacional mais visto nos cinemas brasileiros em 2007.

(Da redação do site Cineclick)

A arte de ler

"O meio mais comum e a melhor garantia a que recorrem os romancistas que conhecem seu ofício é o de cercar os casos excepcionais de um bom número de fatos cuja observação é, ao contrário, bem corriqueira, e que são bastante conhecidos. Diante disso, passamos a confiar neles, pois vemos que sabem observar com competência aquilo que nós próprios observamos, e os respeitamos como bons observadores e supomos que também o foram diante dos casos excepcionais que nos relatam; e esse caso excepcional se beneficia, num certo sentido, da exatidão de tudo aquilo que o circunda".

De Émile Faguet, o intelectual que assinou escritos famosos sobre La Fontaine, Flaubert, Freud, Nietzsche, Honoré de Belzac e Jean-Jacques Rousseau, entre outras obras com enfoque político e moral sobre liberalismo, socialismo, pacifismo e feminismo.

A citação foi extraída do livro recém-lançado A arte de ler (Casa da Palavra, 143 pág). O livro é bem didático, como a citação. E na sua despretensão, ensina muito. Tem sido a diversão deste blogueiro nestes dias de chuva na janela.

Ócio necessário

Enquanto o sistema do DN não volta (e já são 10h50 neste instante), vasculhei alguns blogs e achei o do Milton Ribeiro (www.miltonribeiro.opsblog.org). Textos às vezes longos, mas extremamente prazerosos, como seu quase ensaio sobre Mozart. E outros divertidíssimos, como o do Haikai. Vale uma olhadela.

Projetos culturais adiados

Domingos cinzentos. Projetos como o Domingo na Praça, Som da Mata e Domingo Melhor, todos previstos para voltarem a ativa neste semestre, continuam na geladeira.

A produtora do Domingo na Praça, Cida Campello, emitiu nota avisando do cancelamento da estreia marcada para este domingo. A causa foi a estimativa de chuva para o período.

Como o DNP acontece em cada último domingo do mês, haverá nova tentativa em julho. Para quem esperou dois anos, um mês é pouco e a volta será triunfal, tenho certeza. O DNP é, na minha opinião, o projeto cultural mais interessante deste chão-jerimum.

O Som do Mata esbarra na burocracia e na troca de gestão na direção do Idema - patrocinador do projeto. Há poucas semanas houve uma edição especial só para abrir o apetite. O produtor Marcos Sá também estima para as próximas semanas a volta definitiva.

Quanto ao Domingo Melhor, não sei o motivo. Seria o primeiro destes a começar, com previsão para maio, no mesmo local de origem: o Bosque das Mangueiras, em Lagoa Nova. O patrocínio é da Fecomercio.

Escrevi uma matéria para o DN antecipando a volta desses três projetos para este semestre. Mas, assim como a revista Preá, da Fundação José Gugu e também prevista para maio, a burocracia emperra tudo e o segundo semestre será a próxima estimativa.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Capoeirista lendário é retratado em filme

O trailler abaixo é um verdadeiro manjar dos deuses a quem é capoeirista (aos verdadeiros não cabe conjugar o verbo no passado). É apenas um aperitivo. O lançamento do longa Besouro será só em outubro, com orçamento de blockbuster: R$ 10 milhões. Roubei o link da G1.

A figura do baiano conhecido como Besouro Mangangá é quase lendária; mítica entre os capoeiristas. E por isso sempre despertou em mim, durante os oito anos de prática ininterrupta, um fascínio nunca provocado pelas duas figuras mais importantes da capoeira: os mestres Bimba e Pastinha.

A história do baiano de "corpo fechado" conhecido também como Besouro Cordão de Ouro é cercada de mitos. Sabe-se que odiava a polícia, sempre desmoralizada perante a destreza de Besouro quando tentavam fazer jus ao preconceito contra o negro reinante naquelas primeiras décadas do século 20.

Há dois anos distante da capoeira e dos amigos de academia, bateu uma saudade sem tamanho assistir este trailler, enviado pelo cumpade Diogo, lá das bandas do Sul Maravilha. O filme aproveita a “lenda” de Besouro para florear a história com alusões claras ao filme O Tigre e o Dragão.

Na matéria do G1 consta a informação de que o coreógrafo do filme é o responsável também pelas lutas de ação de Matrix e Kill Bill. Acho que a história de Besouro renderia um filme bonito, numa mescla entre a pesquisa documental e, como diz Cascudo, as histórias que a própria razão desconhece. Temo pelo excesso dos efeitos e feitura hollywoodiana.

O link a seguir transporta você à matéria do G1 e ao trailler. É só clicar AQUI

Natal em Perigo Iminente

A matéria a seguir deveria ser publicada hoje no DN. Não me perguntem o porquê da rasteira. Fato é que figura aqui, neste espaço em gradativo crescimento de prestígio. É sobre a revista-livro editado pelo escritor Adriano de Sousa e sua Flor do Sal. Reúne textos alusivos a Natal daqui a 50 anos, inspirada na conferência centenária proferida pelo jornalista e jurista Manoel Dantas, em 1909.

O lançamento foi ontem na Siciliano do Midway. Aliás, este mês a livraria se tornou o point da cidade dos arraiás chuvosos. Não pude ir justo pelo trânsito caótico que me prendeu por quase uma hora na BR 101. Soube de Tácito que foi prestigiado e contou com a presença do sobrinho de Manoel Dantas, Edgar Dantas - figura ímpar com quem tive o prazer de longa conversa e que porta o legado de Oswaldo Lamartine.

Edgar se emocionou ao relatar a vida e a pessoa do tio e da Natal da época - uma Belle Èpoque paraguaia (observação do blogueiro). A revista foi distribuída entre os presentes. Como afirma Adriano de Sousa (o qual peço perdão pela falta do espaçamento original de seu poema abaixo, culpa do sistema), o sentido da revista é repetir o espírito da Conferência, promovida para angariar fundos à família do - provavelmente - o primeiro poeta potiguar, Segundo Wanderley.

Segue a matéria:

A alma da cidade repousa nas esquinas. E Natal é quina continental. O Estado tem formato côncavo, sorridente ao resto da humanidade. O tapete estendido é azul marinho e os ares chegam do Atlântico. Daí o sonho cosmopolita ao povoado provinciano. Desfilam as épocas na passarela do tempo e Natal continua a província desconsagrada de Cascudo. Desde a Conferência do jornalista, jurista e político Manoel Dantas, há 100 anos, a cidade vive a espera de uma nova invasão estrangeira. Primeiro foram as caravelas francesas (que invadiriam depois a Belle Èpoque natalense). Vieram os americanos na 2ª Guerra. E agora o escritor Adriano de Sousa reúne alumbramentos futurologistas de uma Natal para além do pós-moderno; uma Natal mergulhada no imaginário de literatos e jornalistas despidos de utopias, crentes na atmosfera presente para projetar o faz de conta do futuro.

“A ironia guarda perfeita relação com as centúrias de Manoel Dantas. Lidas em retrospecto, aquelas visões e projeções geram a sensação de que o autor sabia da nossa (em 1909, 1959 ou 2009) precariamente como construtores do futuro. E concluiu que, nesse caso, tanto fazia brincar de faz de conta ou especular a sério com fatos e datas; fabular absurdos ou sonhar concretudes; desejar verdadeiramente o futuro ou simplesmente caricaturá-lo”. As palavras aspeadas integram o editorial da revista, escritas ao estilo do organizador. E penduram no varal os textos de cada autor. São páginas agridoces. Natal é pintada de cores cinzas, como na poesia seca de um presente-futuro de Alex Nascimento (ler abaixo), ou na melancolia de cenários cotidianos e personagens de alma faroleira, detalhados pelo jornalista e escritor Mário Ivo Cavalcanti. Tácito Costa se dá ao luxo de reportar a mesmice da província em viagem ficcionista ao inferno.

O próprio poeta Adriano de Souza dá o tom desta produção literária livre de qualquer amarra de técnicas jornalísticas ou rigor profético e pincela quadros ácidos à cidade de rotina besta, vista das janelas drummonianas, mas vestida de roupa importada. Segue um trecho:

“Iés, meu patrão
o futuro passou
por aqui
nós o vimos
ir por ali
a passo de jegue
digo melhor
a passo de dromedário
tomar a barca da redinha”

A revista editada pela Flor do Sal tem formado de livro e papel couchê. O material - lançado ontem na livraria Siciliano do Midway - reúne ainda imagens do fotógrafo Giovanni Sérgio e uma edição fac simile da edição original da conferëncia, publicada em 1909 pela Imprensa Oficial. Segundo Adriano de Souza, a ideia embrionária do livro foi publicar textos divididos em áreas técnicas como educação, saúde, transporte e outros setores relevantes ao cidadão. O material seria escrito por especialistas em cada segmento. “Apenas um colaborador entregou o trabalho pronto. Então modificamos o perfil da revista e convidamos pessoas do qual sou admirador como leitor ou tenho afinidade pessoal”. O currículo de Adriano de Souza reportou a poetas e cronistas da cidade, como Carlos Fialho, Vicente Serejo, Carlos Magno Araújo, Rodrigo Levino, Carmem Vasconcelos e outros. Todos voluntários no projeto, em alusão ao espírito filantrópico da Conferência. À época, o intuito foi arrecadar fundos à família do poeta Segundo Wanderley.

As últimas páginas de Perigo Iminente - distribuída gratuitamente nas escolas - são reproduções de cartas e desenhos de alunos da Escola Viva, sob o tema referido. O último parágrafo é da aluna Tainá Macedo de Andrade, de nove anos. E diz: “Eu acho que a vida em Natal daqui a 50 aos vai tar (sic) mais precária porque hoje em dia o ser humano está jogando mais livro nos mares e nas ruas. Se as indústrias replantarem as árvores que cortaram o mundo vai ficar com mais ar puro. Dependendo da colaboração de cada um a vida será bem melhor”.

Feliz 2059
“Quando haver era verbo aqui havia
Um vulto que chamavam de cidade
Um Éden, fauna, flora e vaidade,
Chorava o riso e da tristeza ria.
Felizmente o Atlântico sabia
Que o vazio não tem posteridade
E guardou submersa essa beldade
Num tsunâmi de filantropia.
A vida inteira vendeu mal por bem
E comprou sem pagar o bem por mal
Recebeu justa paga a hipocrisia
Cujo nome secreto era Natal;
A ilha do Careca foi um dia
Um morro de saudade, sangue e sal”.

(Alex Nascimento)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Aos fãs do Trio Irakitan - parte 2


Esta matéria foi publicada em setembro de 2007, também no DN/O Poti. Lembro como se fosse hoje. Até conceituei como o melhor show daquele ano. No texto, a informação de que Edil foi homenageado pela Assembleia Legislativa como cidadão norte-rio-grandense, juntamente com seu irmão, ambos sergipanos. Mostra ainda os bastidores do show no TAM e curiosidades quase históricas, diria, como a participação de Chico Elion no palco. Uma noite divina.


PRAIEIRA DE AMORES E HOMENAGENS

Uma noite seresteira de homenagens mútuas. Quem visitou o Teatro Alberto Maranhão segunda-feira sentiu até a presença de uma lua gorda imprescindível no cenário romântico de uma época mais lírica e provinciana. O Trio Irakitan cantou a Natal de boleros, de pega-rapaz nos cabelos, sutiã de bordas duras e casacos de veludo. O Ranchinho de Paia, de Chico Elion também se viu. E naquela aura de memórias recontadas, sentia-se um calafrio causado por um vento amigo e mensageiro; um vento que recebe preces e chega com notícias sobre a amada escondida. Parecia critério uma flor na lapela, seja uma flor-de-liz, um cravo ou uma imensa begônia. Os presentes no TAM vestiram-se como para uma noite romântica, de marcas de giz reescritas. Se jovens também estavam era para acompanhar os avós, já com dificuldades no caminhar.

E o teatro lotou para o lançamento do CD Praieira - um presente para a Natal de ontem e de hoje e uma homenagem ao Trio Irakitan, idealizado pela pesquisadora Leide Câmara. Com 57 anos de carreira, este é o primeiro CD do Trio - de raízes potiguares - gravado em Natal. Foram oito meses de ensaios e seleção de músicas para escolher as 13 faixas do CD. Leide Câmara disse que havia 150 músicas no repertório pesquisado por ela ou sugeridos pelo Trio. Entre elas, Linda Baby, de Pedrinho Mendes. ‘‘Queria muito que estivesse no CD. Mas o Trio gravou de todo jeito a música e não ficou bonita como ela é. Teve que ficar de fora. Falei com Pedrinho (Mendes) e ele entendeu’’, disse a pesquisadora. Edil, vocalista e violonista do trio, conta que gostaria de Anos Dourados, de Chico Buarque e uma música inédita de Evaldo Gouveia (famoso intérprete de sucessos de Altemar Dutra), no CD.

Edil e seu irmão, Edílson, foram homenageados ontem, às 10h, na Assembléia Legislativa com o título honorífico de Cidadão Riograndense, proposição do deputado Leonardo Nogueira. ‘‘Eu já me sentia potiguar. E agora fico sem palavras para agradecer esse gesto. Nunca vou esquecer essa homenagem’’, disse o sergipano Edil, com uma taça de vinho do porto na mão, durante a passagem de som antes do show. Os três estavam tranqüilos; pareciam em casa. O potiguar Paulo Gilvan Duarte Bezerril, único remanescente da formação original contou que, mesmo aos 77 anos e 57 de trio, ainda sente o mesmo prazer em cantar. ‘‘Até onde o povo agüentar vou cantar’’.

Gilvan confidenciou que há um projeto para gravação de um DVD ao vivo em Natal. A idéia é repetir mais ou menos o mesmo repertório do CD Praieira, com duas ou três músicas inéditas. Por enquanto, definido só a idéia da gravação. A fase é a da busca por patrocínios. E não deve ser difícil conseguir. O DVD será mais um presente para Natal, como frisa Leide Câmara. Ela lembra que o Trio já gravou no México, Inglaterra, Holanda e participou de 17 filmes, totalizando mais de mil gravações, espalhadas em 79 LPs entre discos de carreira e participações, 25 compactos, 32 CDs, entre discos próprios e participações, e mais 32 discos em gravação 78 rpm.

A emoção tomou conta do palco

Nos ensaios, a passagem de vozes com Luna Lunera, imortalizada na voz de Ângela Maria, antecipava o que viria no abrir das cortinas do teatro. O show começou com atraso de 40 minutos, às 19h40. Mas o público deliciava-se em conversas de lembranças e histórias passadas. O teatro parecia uma grande confraria. Ainda de cortinas fechadas, o coro em uníssono de três vozes e os aplausos. Uma senhora seguramente com mais de 70 anos dirigiu-se com dificuldade à frente do palco e por lá ficou durante quase todo o show. Ela dançava solitária, por vezes de olhos fechados. Animava-se mais aos boleros. No intervalo entre uma música e outra, não se conteve e debruçou-se sobre o palco para pedir um autógrafo do CD que acabara de comprar. ‘‘A senhora será a primeira da fila quando acabarmos o show’’, prometeu Edil.

Nas cadeiras laterais do teatro, algumas senhoras também ensaiavam danças. Algumas até traziam a tona expressões moderninhas e gritavam ‘‘gostoso’’, ao final das músicas. Quando da música Moinho D’Água, composta pelo açuense Chico Elion e Edson França, da formação original do Trio, o potiguar, de macacão e chapéu, foi convidado a subir ao palco. Chico cantou sua música, gravada pelo Trio na Inglaterra. Antes de cantar e após paparicar os integrantes, disse: ‘‘Não fosse esses 100 mil anos do trio - porque eu os escutava quando era pequeno - não teria coragem de beijar estas pétalas de rosa numa madrugada tão cheia de cores’’. Ao final do show, Chico revelou: ‘‘Me lasquei todinho hoje. Com dor na garganta (mostra o remédio no bolso) e cantando no tom do outro ficou difícil pra mim’’, disse Chico, segundo ele, aos 77 anos e com mais de 400 composições escritas. Além de Moinho D’água, Chico Elion também emprestou Ranchinho de Paia para o CD do Trio.

Outra surpresa foi a participação da diva, ainda com uma voz potente e segura. A platéia a recebeu em pé e sob fortes aplausos. Glorinha cantou Caminhem, e reviveu a aura da magia do rádio potiguar na década de 50. “Faz de conta que o tempo passou...’’

PRAIEIRA
Cazuza sequer estava vivo para cantar que ‘‘o tempo não pára’’ quando Praieira foi composta quase que às pressas por Othoniel Menezes, para ser recitada por pescadores. E a letra é extensa. Muitos a conhecem apenas por trechos. Edil comentou no palco a dificuldade de memorizá-la e até pediu desculpas por alguns erros após a interpretação. E o Trio Irakitan reviveu um momento histórico no TAM - palco para a primeira interpretação da canção, na voz de Deolindo Lima, em dezembro de 1923. Após 84 anos e como se o tempo não parasse, a música era cantada novamente para um público que viveu a época das serenatas à luz da lua.

Depois de Praieira, Gilvan rendeu-se para homenagear uma amiga, carinhosamente chamada por ele de ‘‘Ane’’. É Ana Maria Cascudo – personagem presente desde o início do Trio. Gilvan contou no palco que os primeiros ensaios do Trio eram na casa de Câmara Cascudo, na Junqueira Aires. ‘‘Fernando (irmão de Ana Maria) proibia ela de assistir porque dizíamos muitos palavrões no ensaio’’. Gilvan, já emocionado, ofereceu Prece ao Vento, para a amiga Ane, música de Fernando Luís da Câmara Cascudo e parceiros. Um texto de Ana Maria Cascudo foi lido antes da entrada do Trio no palco. Ela contou a origem do nome Irakitan, dado por Cascudo e corroborado por Gilvan, e fez referência também ao livro de Heider Furtado, que se diz autor do nome.

O show foi mesclado com músicas do novo CD e do repertório clássico do Trio. A banda, formada pelo produtor e instrumentista Eduardo Taufic, e os músicos Jubileu Filho, Fernando Oliveira, Wagner Tse, Fábio Isaac, Alexandre Johnson, Zé Hilton e Faisal Hussein, por vezes deu lugar ao percussionista Carlos Raposo, um quarto integrante que acompanha o Trio há 19 anos. Raposo participou dos momentos mais intimistas do show; um show de memórias, homenagens e romantismo, para ficar na história da música potiguar.

Aos fãs do Trio Irakitan

Publico abaixo entrevista publicada na edição de O Poti, em 14 de maio de 2006. Não é com Edil, o integrante do Trio, que morreu ontem. Mas com o único potiguar que sobrou da formação original do Trio Irakitan, Gilvan Bezerril - figura simpatissíssima.

Com Gilvan Bezerril

Nem só de baião, forró e xaxado vive a música nordestina. Um trio de origem potiguar dribla a força inexorável do tempo e resiste há quase 60 anos na estrada da música popular brasileira. Os boleros são a marca inconfundível do Trio Irakitan. Mas seu diferencial está na suavidade dos arranjos vocais, sutis, a transportar os que ouvem à cenários de luar, boemia e romantismo. E quem nunca velejou em A barca, antes que ela partisse para uma praia vestida de amargura? Ou mergulhou ‘‘naqueles olhos verdes, que inspiram tanta calma’’? É o amor cantado de forma pura, com alguma inocência, como nas serenatas de outrora.

O Trio Irakitan - nome sugerido pelo professor Câmara Cascudo e que significa verde mel ou doce esperança, em tupi guarani – também experimentou estilos variados ao longo da carreira. E talvez more aí o segredo da longevidade do grupo. Afinal, como resistir à passagem da Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicália, ou às músicas comerciais do tempo-hoje? A explicação pode estar nas assinaturas de alguns sambas que ganharam voz no coro afinado do Trio: Noel Rosa, Dorival Caymmi, Ary Barroso e... Nat King Cole. Isso mesmo. E quando o mito americano vivia seu auge, nos idos da década de 50.

O único remanescente da formação original do grupo, Paulo Gilvan Duarte, 76, conta, em entrevista exclusiva ao Poti, o episódio da vinda de Nat King Cole ao Brasil para conhecer o Trio, os ensaios do grupo na casa de Câmara Cascudo, o início da carreira, as primeiras apresentações na Rádio Poti e os cenários da Natal antiga, segundo o músico, ainda uma cidade romântica. A entrevista foi concecida após a apresentação que o Trio fez no TAM, dentro do Projeto Seis e Meia. Foram quase duas horas de show. Gilvan, como é chamado, ainda atendeu os fãs e o entusiasmo de sua família potiguar em seu camarim, com a mesma disposição de sua performance no palco.

O Trio é formado há 14 anos por Gilvan e os irmãos sergipanos Edildécio (Edil), no violão, e Edilson Andrade, no tantã. O percussionista Carlos Raposo marca o compasso da banda há 18 anos. E dá um toque caribenho à música. A percussão e o coro das três vozes de pouco mudou. A morte do potiguar Edson Reis de França (Edinho), em 1965, coincidiu com uma caída de produção do Trio. Nada que comprometesse a fidelidade dos fãs ou a qualidade da música. Em 1990, o outro integrante potiguar, João Manoel de Araújo Costa Netto (Joãozinho) também viria a falecer. Gilvan dedicou o show realizado na última terça-feira a eles dois. E é como se ambos continuassem no palco e o Trio Irakitan ainda fosse aquele das décadas de 50 e 60, com a mesma vitalidade vocal. E com o público não é diferente. Talvez o que falte seja um sobrado, uma janela receptiva de uma casa qualquer ou uma flor na lapela. Nada demais.

Sérgio Vilar: Como o grupo foi formado?
Gilvan: Éramos estudantes do Ateneu. Eu tinha vindo de Recife. Sou de lá. Juntamos 15 estudantes e saímos cantando em 20 e tantas cidades do interior. Quando chegamos em Areia Branca, foi quando o Trio deu seu primeiro acorde musical. Com o trio, em vez de irmos ao sul, fomos para o resto do Nordeste, depois pelo Norte do Brasil. Depois saímos pelas guianas, Trinidad, Venezuela... Passamos quatro anos fora do Brasil.

Como era Natal no início de 1950? O que tocava naquela época?Música romântica. Nós tínhamos programa na rádio Poti só de estudantes. Cantávamos de tudo; contávamos até anedotas. Mas o que agradava mesmo era a música romântica. Me parece que o Rio Grande do Norte tem uma força tremenda com a música romântica. Você viu o povo cantando conosco, todo afinadinho? Uma beleza!

Os cenários de Natal ainda influenciam a música do Trio Irakitan?Claro. A gente fica chateado quando não vem aqui. Viajamos 36 países, em três continentes, sempre levando o nome do Rio Grande do Norte.

O senhor também é artista plástico; pinta em naif. Também na pintura, há influência potiguar?
Também. Pinto as coisas do Nordeste.

Qual o segredo da longevidade?Sobrevivemos a tudo. E o Trio Irakitan não tem mídia em nenhum parte do Brasil. Nossa mídia foi o cinema, em décadas passadas.

Mas qual o segredo?
Francamente não sei. Talvez seja a maneira de cantar e escolher as músicas. O Brasil é muito romântico. Conheço jovens no Rio de Janeiro da faixa de 12 anos que são fãs do Trio Irakitan. É impressionante.

As músicas que compõem e interpretam remetem muito a uma cidade ainda romântica, à época das serenatas... Ainda cabe esse tipo de música em uma Natal tão cheia de muros?
Cabe. A música não tem idade. No Nordeste, a cidade mais musical que conheço é Natal. Tudo em Natal é muito romântico.

Como foi a escolha do nome do Trio Irakitan por Câmara Cascudo?Estávamos procurando um nome musical para o Trio. Inicialmente queríamos colocar Trio Trairi, trio... nomes de rios do Rio Grande do Norte. Aí ele descobriu a palavra Muirakitan. Mas como já havia um trio de moças, em Recife, com esse nome, tiramos o ‘‘mu’’.

Como foi o contato com Cascudo? Explique melhor essa história.
Ele era amigo nosso. O filho dele estava em nossa primeira excursão pelos interiores. Conhecíamos a família toda de Cascudo. Ensaiávamos na casa dele. Era ali na Junqueira... Deixa eu ver. Junqueira Alves? – Junqueira Aires. Isso! Cascudo tinha uma sensibilidade musical como poucos. E era uma sensibilidade bem brasileira. Cascudo foi a pessoa mais brasileira que conheci; uma figura impressionante.

Qual o maior orgulho em 60 anos de carreira?Conhecer artistas como Nat King Cole, Gregório Barros... Vários artistas estrangeiros, que tivemos a oportunidade de gravar com eles.

Como foi essa história de Nat King Cole vir ao Brasil conhecer vocês?
Ele já veio com os discos debaixo do braço. Chegou na fábrica que gravávamos, que era a mesma dele. E disse: ‘‘Eu quero gravar com esse trio’’. E era pra gravar uma música só: Andorinha Preta, uma música bem regional. Terminamos gravando cinco músicas com ele, em espanhol, português...

O Trio Irakitan tem muito da influência dos mariachis mexicanos, não?Não. Temos influência dos trios mexicanos. Quando saímos daqui (do Brasil) éramos considerados os magos do folclore brasileiro. No México, cantamos com vários trios e ficamos amigos de todos. Quando voltamos ao Brasil a gravadora pediu que gravássemos só em espanhol. Mas gravamos de tudo. O Trio Irakitan é muito eclético. Sendo bom, nós cantamos.

O senhor ainda demonstra gosto pela música.Esse entusiasmo vai até quando?O senhor não. É a segunda vez que me chama de senhor. Me chame de você, rapaz (risos). Bom, até quando
puder estarei cantando; até quando Deus quiser. Mas a música não pára; a música é eterna!

Morre integrante do Trio Irakitan

Tristíssima notícia recebi da pesquisadora Leide Câmara. Morreu ontem, no Rio de Janeiro, um dos integrantes do Trio Irakitan, Edil (Edildecio Andradre. Edil integrava o Trio Irakitan há mais de 20 anos.

Vou atrás de algumas matérias que fiz com o Trio para o DN e coloco aqui depois. Fica a saudade. Continuo fã da simpatia e do som refinado do Trio Irakitan. Lembra muito meu pai; uma época de boemia inocente.

Seletiva Natal escolhe Bugs e AK-47

A Seletiva Usina da Cultura no Centro Cultural DoSol recebeu sete bandas no palco montado na Rua Chile, Ribeira e selecionou o Bugs e AK-47 para o que já demonstra ser o maior festival da cultura independente do interior do Rio Grande do Norte e uma das fortes promessas para o cenário cultural no Nordeste.

Segundo o release, o Bugs é uma das bandas mais competentes do rock potiguar e está para lançar novo material, dentre seus grandes shows, já tocou no Porão do Rock, em Brasília. Já ouvi o som dos caras e atesto a opinião. A AK-47 não conheço. É descrita como uma das bandas da nova geração do nosso rock. Aposta no peso, complemento de guitarras e performances. Representou o estado na última edição do Palco do Rock, em Salvador.

Com as bandas selecionadas na Seletiva Natal, o Festival Usina da Cultura completa seu time de atrações musicais, que contará com as bandas: Nuda (PE), Parole (RN), Rosa de Pedra (RN), Clube de Patifes (BA), Arsenic (CE), [UTF-8?]Jurubeba's (RN), Manifestarte S.A (RN), My Fair Lady (CE), Sick Life (RN), Bugs (RN), AK-47 (RN) e Cordel do Fogo Encantado (PE). As doze bandas se apresentarão no dia 4 de julho, em Mossoró.

O Festival Usina da Cultura será realizado nos dias 03 e 04 de julho, no Espaço Villa Oeste, em Mossoró. O evento tem por objetivo celebrar e incentivar as manifestações artístico-culturais independentes, propiciar um momento de discussão em torno da sustentabilidade do setor artístico-cultural em Mossoró e região, bem como cumprir o papel a que se propôs que é difundir os ideais da Economia Solidária e estimular a produção cultural independente.

Mais Informações: www.festivalusinadacultura.com.br e www.rockpotiguar.com.br

Loki caritocaturado

Do eletrificado poeta Carito, sobre o filme Loki - uma cinebiografia do mutante Arnaldo Baptista. As palavras, para Carito, parecem peças de lego no jogo da linguística:

O elo pedido
Assisti ao filme Loki e cheguei em casa e fui correndo procurar minha fantasia de Peter Pan.

Quando o sol nasce do amarelo perdido e só sobra o elo pedido para um novo dia.

Amado amarelo queimado são as cinzas do meu coração ao pôr do sol.

Não estou preocupado com as conexões - entre as frases, entre as fases, conexões tigres, e Eufrates, e eus fracos, meus eus, tão não mais meus, sentimentos velhos com vontade de viver são tigres de bengala, mesmo a palavra de bengala, quero soltar com ela na banguela, soltar o freio de mão, não soltar o seio da mão, tão lindo de acariciar, descobrir teu mistério no acaricio da terra, beijar teu seio e canção.

Amo Arnaldo, mutantes, durantes, e depois.

Amo Arnaldo, gosto que não se descurte.

domingo, 21 de junho de 2009

Tem potiguar na revista Brasileiros

Há poucos dias elogiava a presença e os textos do jornalista Filipe Mamede, colega do DN, na revista Brasileiros. Pois a matéria está aí abaixo. Podem conferir. E peço vênia para correção. Havia dito que era sobre o poema processo, mas é sobre o cinema processo, ideia encabeçada pelo cineasta Buca Dantas, já figurada também pelas páginas do DN.

Por Filipe Mamede

Um novo processo

Diretor propõe uma maneira inusitada de fazer cinema, onde o dinheiro não é tudo e onde tudo pode mudar no meio do caminho

Há um cinema diferente por aí. Ele não depende de estúdios, nem de muito dinheiro para acontecer, mas não chega a ser feito de uma maneira espartana. O cinema-processo - como é chamado pelos seus idealizadores - é um movimento de cinema livre, onde tudo pode mudar e se adaptar. O filme é realizado com os recursos que a equipe de produção encontra no local, sejam financeiros ou humanos. Nascido da parceria do cineasta potiguar Buca Dantas com o roteirista Geraldo Cavalcanti, e da necessidade de se criar algo novo, o cinema-processo é uma metodologia de trabalho que pressupõe a economia solidária e o protagonismo local. "É o compromisso de contar histórias com as pessoas dos lugares, com os saberes dessas pessoas. É a gente juntar o nosso saber técnico com o saber lúdico delas. Oferecemos a oportunidade delas tornarem-se atores de si mesmas", simplifica Buca. Com esse idealismo, o diretor fez em 2006 Viva o cinema brasileiro, o primeiro filme sob o signo do cinema-processo. Para produzi-lo, ele e sua trupe mudaram-se de mala e cuia para o "interior do interior" do Rio Grande do Norte. "Quando chegávamos às comunidades, a primeira reação era de estranheza", lembra. Falar de cinema num lugar onde a maioria das pessoas sequer pisou numa sala de exibição não foi tarefa fácil. "Tivemos de convencer as pessoas de que aquela proposta era verossímil, mesmo sem ter nada que provasse que ali seria realizado um filme", diz.

Numa época de seca intensa e de temperatura elevada, a equipe percorreu três comunidades da região do semiárido do Rio Grande do Norte: Serra da Tapuia, Barro Preto e Bom Sucesso, onde foi gravada a maior parte do filme. Com cerca de 800 habitantes, Bom Sucesso é um distrito da cidade de Santa Cruz, onde o lazer se resume em colocar as cadeiras para fora de casa e bater papo com a vizinhança. Quando eles aportaram por lá, a comunidade não via chuva há pelo menos nove meses e tal visita atiçou o imaginário popular. "As pessoas passaram a ver nossa chegada como um sinal de que iria chover em breve", recorda a atriz Quitéria Kelly, protagonista do filme. "O sertanejo é desconfiado por natureza. Mas, no momento em que se estabelece uma empatia, aí a casa dele passa a ser a sua", diz Buca.

O DIRETOR DO NOVO PROCESSO

Nascido há 38 anos na cidade de Currais Novos, interior do Rio Grande do Norte, José Alberto Dantas, o Buca, foi diretor e produtor do projeto Brasil Total, na Rede Globo, entre 2002 e 2004, e é consultor do Canal Futuradesde 2005. Com o filme-documentário Fabião das Queimadas - Poeta da liberdade, produzido para o DOCTV/TV Cultura, em 2004, foi ganhador do 1° Festival de Cinema e Sertão do Ceará, em 2005, e foi convidado para participar do VI Imacom, no mesmo ano, em Cuba. Em sua bagagem audiovisual traz A Feira(1999),A estrada(2000), A força(2001),Viva o cinema brasileiro!(2006) e Perdição(2009), ainda inédito.

O segundo filme, Perdição, ainda inédito, foi realizado na cidade de Janduís, no médio-oeste potiguar, e teve uma maior aproximação com o cinema clássico. Ao contrário do primeiro filme, esse teve roteiro, preparação de atores e planejamento prévio, mas sem deixar de lado as marcas costumeiras da linguagem pensada pela dupla. "Havia uma flexibilidade que permitiu mudanças de última hora e criação ao vivo. Uma cena podia ser modificada na fotografia ou no jogo dos atores, sem interferir na continuidade do roteiro, além de contar com atores e técnicos locais", explica Mathieu Duvignaud, diretor de fotografia dos filmes-processo. O filme Perdição é uma livre-adaptação de uma peça chamada O fuxiqueiro, escrita por Lindenberg Bezerra, natural do município. Ele conta a história de amor entre uma mulher casada com um homem simples e um mochileiro argentino. Ela engravida do rapaz, que vai embora e só aparece depois de 15 anos. "É um filme sobre mudança, sobre a decisão de permanecer ou ficar, violência, temas que são universais", define Duvignaud. Durante as gravações, além das surpresas que a linguagem pressupõe, aconteceu o inusitado. "Um ator morreu no meio das filmagens. Não havíamos terminado as cenas com ele e precisamos mudar a história. Eu filmei o enterro real do Dedé Capoeira, que era um ator local, e usei no filme. Foi uma homenagem. Nessa variável, está a riqueza do cinema que criamos, por que nós podemos nos adaptar a qualquer situação", explica Buca.

O cinema-processo não é um cinema endêmico, representante apenas da estética sertaneja e das temáticas que ela pressupõe, como o estereótipo da seca. É, sobretudo, um cinema universal. "Surge a ideia do filme, surgem as necessidades e nós vamos buscar os parceiros que possam supri-las. Aí é que está a diferença, pois fazemos isso com as filmagens já em andamento. Não podemos prescindir do dinheiro, mas podemos minimizar ao máximo a sua ingerência na decisão de se realizar um filme, o que não significa fazer de qualquer jeito", defende o cineasta. Bebendo da fonte do Cinema Novo, do Cinema-Verdade e do Neorrealismo, o cinema-processo pretende romper fronteiras e realizar filmes com temáticas urbanas, desde que se respeitem as tradições locais e as histórias que as pessoas têm para contar. "O nosso objetivo é realizar cinema em qualquer lugar do mundo, é dar voz à massa", diz o cineasta. O cinema-processo deve mudar o português para a língua francesa por algum tempo. A trupe foi convidada a participar do 12º Cinéluso Nantes, festival de cinema que acontece anualmente em Nantes, na França, com o objetivo de debater e provocar intercâmbios de produções cinematográficas de países de língua portuguesa. Eles desembarcam em junho no país de origem do diretor de fotografia Mathieu Duvignaud e, além de produzir 20 microdocumentários, devem realizar um longa-metragem dentro da filosofia do cinema-processo. "O roteiro já está concluído. A ideia é abordar aspectos de pessoas que nasceram em outros países e, por motivos diversos, foram parar na França. Vamos contar as histórias que eles quiserem contar. Essa é a nossa linguagem", reforça Buca.

De Lívio Oliveira

Geografia

Geografia estranha
explorei.
Não encontrei a gema
que explodia em cores
entre os teus seios
pulsantes.
Mergulhei mais uma vez,
loucamente,
como quem busca
o colostro.
Boca infantil
saciada
em tuas auréolas
indecentes,
incandescentes.

(Lívio Oliveira)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Das leis culturais e indelicadezas 'despoetizadas'

As discussões a respeito da nova lei de incentivo à cultura pipocam no plano nacional e aqui permanece na mesma inércia. Pelo menos no tocante ao Estado, nos arredores da Fundação José Gugu.

Há alguns dias a Capitania das Artes anunciou mudanças quando da apresentação da renúncia fiscal da prefeitura para o Programa Djalma Maranhão. A impressão geral é de que as mudanças foram poucas. Achei o contrário e ontem tive uma boa prova disso.

Voltei à casa do escritor e poeta Raymundo de Sá, a qual falei mais abaixo. Raymundo teve um romance publicado pela Lei Djalma Maranhão há uns quatro anos e tem lutado para publicar o segundo.

Ele conseguiu o mais difícil. O livro não só foi aprovado pela Lei, como também recebeu patrocínio empresarial. Em parte. Dois hospitais da cidade bancariam o livro caso a lei eliminasse um entrave totalmente desnecessário e burocrático que a impedia de colaborar com projetos culturais aprovados pela lei.

Segundo a antiga Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão, agora chamada Programa Djalma Maranhão, caso algum dos acionistas ou sócios da empresa apresentasse pendência junto à prefeitura, estaria impedido de patrocinar qualquer projeto cultural pela lei.

Esse entrave era o impedimento do patrocínio do livro de Raymundo. Ontem eu disse a ele que este obstáculo havia sido eliminado há poucos dias. A alegria foi contagiante. A esposa ligou na mesma hora pra Funcarte pra confirmar e logo em seguida foi atrás dos hospitais para contar a novidade.

Espero que Raymundo consiga emplacar este segundo livro, intitulado As Rosas dos Dias Três. É o segundo de uma trilogia. O terceiro já está o prelo. O primeiro foi Potyra, a qual vou ler este fim de semana e depois comento.

Raymundo teve cinco poemas inseridos numa antologia editada em Portugal. Foi o único potiguar e talvez nordestino a conseguir o feito. A poesia dele é refinada; de um apelo sentimental fortíssimo.

E para atestar o que falo quanto à poesia, de que o mais vale a penetração das palavras e frases do que a técnica, a poeta Marize Castro renegou - grosseiramente - o envio do livro de poemas de Raymundo - aprovado em Portugal - para ser aprovado na Fundação José Gugu.

Li o ofício respondido pela poeta. Foi de uma indelicadeza sem tamanho. Ela que integra a Comissão de Literatura da FJG. A frase mais amena dizia que a obra nada representava para a literatura potiguar.

É esta a porta que os bons ou maus poetas encontram na FJG. Não bastasse a dificuldade de aprovação, de busca de patrocínio, ainda esbarra em palavras no mínimo desestimulantes como as da poeta, admirada pelo próprio Raymundo.

Último dedo no angu

Para encerrar o assunto Obrigatoriedade do Diploma de Jornalismo, já encerrado no STF, coloco a opinião do jornalista e professor universitário das antigas, Duarte Guimarães:

"De fato, os argumentos, que deveriam ser razões, são terrivelmente primários. Basta ler o parecer do relator: depois dos prolegômenos, em tons de filigranas, de enchimento de linguiça, perfeitamente dispensáveis, pois ocupam mais da metade da peça, a decisão é um libelo do desconhecimento, por vezes rudimentar. Risível. Decepcionante. Confesso que esperava mais de quem se julga saber julgar - e assim está estatuído. A parte mais importante do parecer é quando trata da liberdade. Nesse aspecto, chega a confundir tomé com bebé. Por exemplo: quando acusa o jornalista com diploma de impedir a liberdade de expressão. Quanta injustiça! Os jornalistas, com ou sem diploma, em sua grandiosa maioria, são a expressão prática e a vigilância histórica da liberdade. Na verdade, quem tolhe a liberdade do cidadão e do próprio jornalista são as empresas, os donos das empresas, com suas regras, seus interesses, suas circunscrições, legais e ilegais. Mas uma outra coisa me chamou atenção. Quando nivela jornalista e cozinheiro, ou seja, funde (o que não seria problema) e confunde (o que é devastador) ofício com arte, no caso o jornalismo
com a arte culinária, põe uma salvaguarda para aqueles que são formados em direito. Sim. Porque depois de defender que os diplomas só devem ser exigidos daqueles que no seu trabalho põem em risco a vida dos outros, como os médicos e engenheiros, já coloca lá, como que dando um aviso: e também dos advogados e dos magistrados. Estaríamos assistindo no Brasil a inauguração do julgamento subliminar e antecipado em causa própria?"
(Duarte Guimarães)

E abaixo, o que escrevi há pouco no blog Substantivo Plural:

Da Redação à Cozinha

O tom do editorial do Jornal Nacional de ontem foi o mesmo da opinião de Alex. Essa coisa de que o jornalismo é recheado de gente despreparada. Ou que há uma galera sem diploma e especializada em alguns assuntos que superam os jornalistas formados. Isso é sabido e negar é hipocrisia. Qual profissional de comunicação, por exemplo, vai comentar campeonato de ginástica olímpica? Melhor procurar um ex-atleta.

Ontem conversava com Rodrigo Levino a respeito. Ele que escreve magistralmente bem suas matérias e assistiu apenas a duas aulas na faculdade. É um exemplo típico desta política saudável de abertura aos bons escritores às redações. Embora ache que essa galera que não pisou nas faculdades esteja mais apto a escrever matérias puxadas para o jornalismo literário ou cultural. Geralmente são pessoas que se destacam justo em função da maior prática literária. Não os vejo escrevendo matérias bacanas em caderos de economia, por exemplo, quando exige mais técnica. Mas isso é mais relativo.

A bronca maior, na minha opinião, é que esta canetada do ministro Gilmar Mendes - que deveria passar por um concurso público em vez de ser escolhido pelo presidente da República - enfraquece a profissão. E não é por ter “regularizado” a função dos sem-diploma. Mas por perdas de conquistas. Sem estas conquistas datam da época ditatorial, que sejam revistas, melhoradas, não extingas, porque são representativas, sim.

Teremos faculdades e alunos desestimulados. E isto fatalmente vai afetar AINDA MAIS a qualidade do ensino e, consequentemente, da produção de matérias, da informação passada à opinião pública. Perdas também trabalhistas. Teremos sindicato? Os concursos públicos passarão a não exigir mais o diploma. Coisas do tipo.

Tomara que o gesto deste deputado do PDT não passe de mais uma falácia parlamentar e consiga assegurar algumas dessas garantias da nossa profissão sem barrar essa abertura aos não-diplomados.

Do contrário, vejamos pelo lado positivo. Estaremos livres da cotribuição sindical, o Burro Elétrico ganhará caras novas e os jornalistas ficarão mais estimulados a ingressar no curso de gastronomia do Barreira Roxa.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Diploma de jornalista: tem novidade!

Quis superar o assunto posto que parecia definitivo. Até já me comemorava o ganho do pagamento sindical descontado no contracheque todo ano. Mas uma alma caridosa destes partidos dito de trabalhadores resolveu botar lenha nova no assunto. O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) afirmou hoje (18) que poderá propor ao Congresso um projeto de lei para regulamentar a profissão de jornalista, após ouvir os representantes da sociedade civil e entidades do setor.

"Acho que nós podemos repensar o assunto. Assim que ouvir uma manifestação da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), vou procurar me posicionar, porque imagino haver um campo para se construir um projeto de lei, com uma regulamentação que esteja dentro dos balizamentos contidos nos votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)", afirmou.

Miro considera possível suplantar a decisão tomada ontem (17) pelo STF, que aboliu a necessidade de diploma universitário para exercer a profissão de jornalista, pela via legislativa dentro da discussão constitucional.

"Temos que verificar, nos votos dos ministros do Supremo, onde estão os focos da inconstitucionalidade e aí suprimi-los, para construir uma regulamentação profissional, o que está amparado pela Constituição", disse.

Segundo o parlamentar, a decisão do Supremo não levou em conta a evolução das profissões. Ele citou como exemplo a advocacia. "Os advogados, antigamente, para atuar nos tribunais, não precisavam de diploma. Depois, havia o diploma, mas não o exame da Ordem. Em seguida, além do diploma, passou a ser necessária uma prova duríssima na OAB", explicou Miro.

(com informações da Folha Online)

Plano Nacional de Cultura

O STF já julgou. É a última instância da bagunça. Não tem mais jeito. Essa discussão em torno da obrigatoriedade do diploma de jornalismo deveria ter sido travado antes. Somos mesmo meros cozinheiros da palavra. Agora, depois da canetada do vingativo Gilmar Mendes, um pouco mais sem tempero.

Vamos ao que interessa ao momento.

A deputada Fátima Bezerra apresentou ontem (17) um resumo do relatório preliminar sobre o projeto que estabelece o Plano Nacional de Cultura (PNC). Foi destacado que o Plano definirá as diretrizes das políticas públicas de cultura para os próximos 10 anos. O resumo foi apresentado durante o evento A cultura no centro da agenda do país, realizado pelo Ministério da Cultura e a Frente Parlamentar da Cultura, no auditório da TV Câmara.

A deputada disse que pretende apresentar seu parecer definitivo ao projeto do Plano no início do mês de agosto. “Pretendemos apresentar uma versão definitiva do parecer no mês de agosto e tão logo o mesmo seja aprovado, esperamos iniciar um amplo trabalho de divulgação do PNC que culminará, no próximo ano, com a realização da II Conferência Nacional de Cultura”, ressaltou.

Diretrizes - Segundo a deputada Fátima, em se tratando de um plano a ser cumprido no prazo de dez anos, o PNC traz um conjunto de objetivos e ações encampados em cinco diretrizes básicas: Fortalecer a ação do estado no planejamento e na execução das políticas culturais; Proteger e promover a diversidade das expressões culturais e linguagens artísticas; Universalizar o acesso dos brasileiros à fruição e à produção cultural; Ampliar a participação da cultura no desenvolvimento socioeconômico sustentável; e Consolidar os sistemas de participação social na gestão das políticas culturais.

Monitoramento - No projeto substitutivo que será apresentado pela deputada Fátima em agosto, o monitoramento do Plano Nacional de Cultura será feito por um Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais, a ser desenvolvido pelo Ministério da Cultura, a fim de fornecer subsídios para avaliação do Plano. Segundo a parlamentar, serão realizadas revisões periódicas do Plano para corrigir possíveis distorções. A primeira avaliação será realizada após quatro anos da promulgação da lei. Outra novidade no parecer prévio da deputada é que o Poder Legislativo também acompanhará o processo de avaliação do PNC por meio da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e da Comissão de Educação do Senado Federal.

Planos estaduais, municipais e setoriais - Além do Plano Nacional de Cultura, segundo Fátima Bezerra, os estados, o Distrito Federal e os municípios deverão elaborar planos correspondentes ao nacional. Serão também elaborados planos setoriais, que contemplem as identidades culturais, as expressões culturais e as linguagens artísticas.

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, fez uma avaliação da consulta pública sobre a reforma da Lei Rouanet (Lei 8.313) e falou da importância da aprovação de leis de incentivo ao desenvolvimento da cultura do país. Na ocasião, também foi apresentado o relatório preliminar da proposta de emenda constitucional (PEC 150) que destina recursos dos orçamentos da União, estados e municípios para a área cultural.

Participaram do evento secretários de Cultura de vários estados, produtores, gestores culturais, artistas, militantes e simpatizantes da Cultura. Do Rio Grande do Norte, estava presente o presidente da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto. Entre outros artistas presentes, destacaram-se o cantor e compositor Chico César, recém empossado secretário municipal de Cultura de João Pessoa, e o carnavalesco, Joãozinho Trinta.

Diploma de jornalista - palavras da Fenaj

Manifesto da Federação Nacional dos Jornalistas:

Em julgamento realizado nesta quarta-feira (17/06), o Supremo Tribunal Federal deu provimento ao Recurso Extraordinário RE 511961, interposto pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão de São Paulo. Neste julgamento histórico, o TST pôs fim a uma conquista de 40 anos dos jornalistas e da sociedade brasileira, tornando não obrigatória a exigência de diploma para exercício da profissão. A executiva da FENAJ se reúne nesta quinta-feira para avaliar o resultado do julgamento e traçar novas estratégias da luta pela qualificação do Jornalismo.

Às 15h29 desta quarta-feira o presidente do STF e relator do Recurso Extraordinário RE 511961, ministro Gilmar Mendes, apresentou o conteúdo do processo encaminhado pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão de São Paulo e Ministério Público Federal contra a União e tendo a FENAJ e o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo como partes interessadas. Após a manifestação dos representantes do Sindicato patronal e da Procuradoria Geral da República contra o diploma, e dos representantes das entidades dos trabalhadores (FENAJ e SJSP) e da Advocacia Geral da União, houve um intervalo.

No reinício dos trabalhos em plenário, às 17h05, o ministro Gilmar Mendes apresentou seu relatório e voto pela inconstitucionalidade da exigência do diploma para o exercício profissional do jornalismo. Dos 9 ministros presentes, sete acompanharam o voto do relator. O ministro Marco Aurélio votou favoravelmente à manutenção do diploma.

O relatório do ministro Gilmar Mendes é uma expressão das posições patronais e entrega às empresas de comunicação a definição do acesso à profissão de jornalista, reagiu o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade. "Este é um duro golpe à qualidade da informação jornalística e à organização de nossa categoria, mas nem o jornalismo nem o nosso movimento sindical vão acabar, pois temos muito a fazer em defesa do direito da sociedade à informação", complementou, informando que a executiva da FENAJ reúne-se nesta quinta-feira, às 13 horas, para traçar novas estratégias de luta.

Valci Zuculoto, diretora da FENAJ e integrante da coordenação da Campanha em Defesa do Diploma, também considerou a decisão do STF um retrocesso. "Mas mesmo na ditadura demos mostras de resistência. Perdemos uma batalha, mas a luta pela qualidade da informação continua", disse. Ela lembra que, nas diversas atividades da campanha nas ruas as pessoas manifestavam surpresa e indignação com o questionamento da exigência do diploma para o exercício da profissão. "A sociedade já disse, inclusive em pesquisas, que o diploma é necessário, só o STF não reconheceu isso", proclamou.

Além de prosseguir com o movimento pela qualificação da formação em jornalismo, a luta pela democratização da comunicação, por atualizações da regulamentação profissional dos jornalistas e mesmo em defesa do diploma serão intensificadas.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Com François Silvestre

François Silvestre ressurge na literatura. Remanso da Piracema é outro enigma deixado pelo escritor. Como em A Pátria Não é Ninguém, a verdade desfila na corda bamba. Os dois romances são narrados em primeira pessoa. Parece mesmo história (ou estória?) vivida. Quem conhece o mínimo do passado do autor reconhece nas descrições a pessoa de François como protagonista. Mas há o mistério. Ora, qual graça teria ler Moby Dick, de Melville, sabedor de toda a verdade a respeito do autor e sua obra? A ilusão conforta o espírito. Melhor assim.

Frederico de Deus Perdoe é o observador e narrador das cenas. São paisagens sertanejas de grotas, espinhos e amanhecências. Também a ambientação dos cabarés de Caicó e da Ribeira natalense, o cantão Grande Ponto, a vida intelectual da cidade... O nome sintomático do protagonista denuncia o início do enredo. Frederico nasceu da morte da mãe. É mergulhado em culpas inocentes. Parece personagem das novelas dostoievskianas. Vive a problemática universalista, mesmo sob chãos tão regionais. A vida quase cigana é de fuga das aflições. Não é propriamente um retirante clássico, das narrativas de Patativa do Assaré. Frederico busca em São Paulo o sossego das angústias universais. É mais um entre tantos. E por isso, tem a humanidade aos seus pés.

Quem detalha o perfil de Frederico é o escritor Honório de Medeiros, na orelha do livro: “(...) ele é um observador engajado de si, dos outros e das coisas, que vão ressurgindo – seja no viés alegre que a primeira leitura dos seus relatos exponha; seja no viés melancólico que surge quando mergulhamos em uma releitura – via articulados engastes frasísticos, esteticamente surpreendentes, expressos em sínteses vestidas de paradoxos estilísticos”. E continua: “(...) se eu descrevo minha aldeia, ou minha saga, descrevo a terra inteira. Se eu disser um homem, digo toda humanidade”.

Na simplicidade dos personagens e cenários vividos, François expunha pedaços personificados de seu cotidiano. É sabedoria sertaneja misturada à intelectualidade indesejada ao autor. Seja no arcabouço de expressões peculiares ao sertão, seja na filosofia prática de vida deixada em cada personagem. Ou na poesia achada. Mesmo quando demonstra desconhecer um poeta: “É um feitor de verso ou um desinventor da vida? Um desrimador da sorte? Ou quem se equilibra na lâmina da rima? Ou quem sabe desperguntar as perguntas? Ou quem sabe desresponder as respostas? O que é um poeta? Talvez um desinventor da invenção? Metáfora é o miolo ou a casca da poesia? Poesia é pergunta ou resposta? Poeta é o que faz versos com palavras ou quem faz da vida sua poesia?”.

Como nos últimos livros de François – A Pátria Não é Ninguém e Alças de Agave – o texto é enxuto como borracha. Rimado na prosa, em perfeita cadência. É característica do autor a construção técnica das frases. Sempre diretas; curtas (não passam de duas linhas e meia em qualquer página do livro). Lembram a objetividade de um Hemingway. Os adjetivos e preposição são mínimos e necessários, como os gerúndios. Em Remanso da Piracema, as orações recebem ainda a poesia dos cenários e costumes sertanejos. Ou a melancolia disfarçada e a alma despida de hipocrisia dos puteiros de outrora: “A dignidade do cabaré é uma fotografia da arte. É a naturalidade do nu. É o gozo sem culpa”.

Trechos do obra mal conseguem esconderijo por trás do pensamento de Frederico. Mesmo na voz da tia, na segunda parte do livro. É François cagado e cuspido. É seu espírito neoanarquista. De quem aprecia o desalinho das casas tortas. Frederico, como François ou qualquer outro, sob perspectiva niilista, foge da vida; da solidão. E longe, tem vontade de piracema; da volta ao seu chão. É fome de viver.

Com François Silvestre

Onde está Frederico e onde está François no livro?
François Silvestre - Em todo canto e em canto nenhum. Minha vida foi bem diferente da de Frederico. Frederico é filho de puta e não tem pudor para ganhar dinheiro. Muitas das opiniões filosóficas dele também são diferentes. Mas as lembraças de Caicó, de Natal, da Arpege, são quase as mesmas.

A solidão é o elemento mais presente na obra?
Ah, aí é sim; a solidão é mais presente. Até em mim.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Um romancista escondido

A profissão de jornalista tem lá suas agruras. Mas há as recompensas. Hoje mesmo tive um encontro fantástico. A culpa é do amigo Laurence Bittencourt, autor da sugestão de pauta com o escritor Raymundo de Sá.

Raymundo é amazonense. Tem 72 anos. Mora em Natal há um bom tempo. Laurence havia me informado de que Richard Sullivan (pseudônimo usado nos livros) era romancista. E dos bons. Para mim, o aval de Laurence bastava. Do contrário não teria sido meu orientador na faculdade.

Mas descobri muito mais. Raymundo é poeta excepcional e contista também muito bom. Mais do que isso: uma figura humana sem igual. “Peça rara”. Coloco aqui depois o texto completo com as informações a respeito da obra e da pessoa de Raymundo.

Vão contando: devo ainda um sobre o livro de François Silvestre, para breve. E está no prelo outros dois, que adianto depois os temas. Pago quando puder.

Por enquanto, uma das poesias do livro do amazonense-potiguar, a espera de patrocínio. Gosto de expor alguma coisa do autor para que minha opinião não seja absoluta, e o blog, um mero instrumento opinativo. Particularmente gosto das poesias tristes.

Vale compartilhar. O leitor tire suas conclusões. Até pela má qualificação do blogueiro. Em matéria de poética sou bom prosador.

Ele imprimiu sem o título da poesia. Nem eu ouso colocar. Segue a poesia:

Desejava que ligasses,
Não esperava que ligasses,
Não ligaste,
Esperei.

Imaginei que viesses,
De vestido branco,
Toda molhada de chuva,
Não vieste.

Sonhei que aqui ficavas,
Tiravas o vestido branco,
Vestias minha camisa,
Só sonhei.

Nas mãos o teu cheiro,
Na boca, o teu gosto,
No peito a saudade,
Acordei.

Por entre as frestas: o sol,
A claridade, o novo dia,
A sala vazia,
De ti.


(Raymundo de Sá)

Um dia reservado a Bloom

Por Adriana Amorim*

Dezesseis horas. Esse é o período em que se passa a história de Leopold Bloom, personagem principal da mais famosa obra do irlandês James Joyce (1882-1941). O livro Ulisses, escrito entre 1914 e 1921, narra um dia comum no ano de 1904 em Dublin, capital da Irlanda. Os mais fanáticos por literatura dizem até que o autor fora, com essa obra, um divisor de águas na história do romance no mundo. Tempos depois de sua publicação, a data de junho ficou caracterizada como ‘Bloomsday’, tornando-se feriado na capital irlandesa e sendo comemorado com pompas todos os anos em diversos países do mundo. O Brasil não ficou de fora. Só em Natal, esta vai ser a 17ª edição da homenagem a um verdadeiro símbolo da revolução literária do século XX.

Como de praxe, as comemorações na capital potiguar acontecem no dia 16 do mês junino, nesta terça-feira, em diversos pontos da cidade. As comemorações, este ano, serão intensificadas, já que haverá - além de debates e das clássicas exibições de filmes que reverenciam Joyce e sua obra - o lançamento do livro “Panorama do Bloomsday em Natal”, uma reunião de tudo o que foi publicado na imprensa natalense sobre o dia de Bloom, desde a primeira edição do evento, em 1987, até o ano passado. Conta-se 17 edições porque, após 1987, a segunda edição só foi realizada em 1993, passando a acontecer ininterruptamente no decorrer dos anos.

Editada pelo Sebo Vermelho, a obra foi organizada por Francisco Magno de Araújo e traz a apresentação do maior dos fãs de Joyce nas terras de Poti, professor Francisco Ivan, titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ivan, que guardou todas as notas, notícias e artigos sobre o evento, é o responsável por transformar em tradição a homenagem que nasceu, segundo ele, de forma involuntária e tornou-se uma ‘obrigação’ no calendário da cidade. “Todos os anos, durante as comemorações do dia 16 de junho, o público comparece em peso, sempre cheio de juventude, dos mais jovens aos mais idosos”, destacou.

Para Francisco Magno, o livro narra uma leitura de Joyce de todos os que vivenciaram as homenagens a ele prestadas, como jornalistas que divulgaram o evento, articulistas, artistas que expuseram seus trabalhos, alunos, intelectuais, leitores e demais participantes. “É um prazer intelectual que se constitui tanto no universo acadêmico, quanto em diversos outros pontos da cidade”, disse. Para ele, o Bloomsday faz um brinde à Literatura Universal e visa, sobretudo, atrair novos adeptos da obra de James Joyce. “Com este evento, nós quebramos todas as barreiras. É quando a arte em Natal se encontra, especialmente por ser Joyce um artista universal”, justificou. Para os interessados, ‘Panorama do Bloomsday em Natal’ sai ao custo de R$ 50.

Programação extensiva marca o Bloomsday este ano

Como sempre, todos os eventos relativos ao Bloomsday em Natal serão gratuitos. A programação tem início na manhã desta terça-feira, no Sebo Vermelho, localizado na Av. Rio Branco, 705, em Cidade Alta. A partir das 9h, haverá a exibição do filme ‘A portrait of the artist as a young man’ (Joseph Strick, 1977), seguido do lançamento do livro ‘Panorama do Bloomsday em Natal, às 11h. Às 13h, mais uma exibição cinematográfica, desta vez de ‘Ulysses’ (Joseph Strick, Milo O’Shea e Barbara Jelford, 1967). Outro filme será exibido às 16h, ‘Bloom’ (Sean Walsh, 2006). Também no centro histórico de Natal, o público pode optar por assistir aos filmes exibidos no Sebo Vermelho em locais como o Bar do Pedrinho (Rua Vigário Bartolomeu, 540, Cidade Alta). Lá, às 11h, a homenagem ao dia será marcada com ‘Ulysses’. No Bardallo’s Comidas & Artes (Rua Gonçalves Lêdo, Cidade Alta), o filme eleito é ‘A portrait of the artist as a young man’, às 17h. Quem preferir, pode ir ao Mercado Público de Petrópolis, onde, no recém-inaugurado Sebo Cata Livros, haverá a exibição de ‘Bloom’, às 17h.

Contudo, o ponto alto dia dia ocorrerá na Biblioteca Central Zila Mamede (campus central da UFRN). Lá, a programação tem início às 11h com a exibição dos três filmes, prosseguindo até às 19h, quando acontecerá a mesa-redonda ‘James Joyce e a literatura no século XX’, com Profº. Dr. Francisco Ivan/UFRN, Profº. Dr. Antônio Eduardo de Oliveira/UFRN, Profª. Drª. Ana Graça Canan/UFRN e Profº. Dr.João da Mata Costa/UFRN. Às 20h haverá mais um lançamento para o livro ‘Panorama do Bloomsday em Natal’.

Serviço
Bloomsday em Natal 2009
Quando: terça-feira, 16 de junho
- Sebo Vermelho:
Às 9h - exibição do filme ‘A portrait of the artist as a young man’; às 11h -
lançamento do livro ‘Panorama do Bloomsday em Natal; às 13h - exibição do
filme ‘Ulysses’, às 16h - exibição do filme ‘Bloom’.
- Bar do Pedrinho:
Às 11h - ‘Ulysses’
- Bardallu’s Comidas & Artes:
Às 17h - exibição do filme ‘A portrait of the artist as a young man’ (Joseph
Strick, 1977)
- Sebo Cata Livros:
Às 17h - exibição do filme ‘Bloom’
- Biblioteca Central Zila Mamede:
Às 11h - exibição do filme ‘A portrait of the artist as a young man’; às 13h -
exibição do filme ‘Ulysses’, às 17h - exibição do filme ‘Bloom’; às 19h -
mesa-redonda ‘James Joyce e a literatura no século XX’; às 20h - lançamento
do livro ‘Panorama do Bloomsday em Natal’.

* Adriana Amorim é repórter de cultura do Diário de Natal

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Da Caicó de François

Comecei a ler hoje o mais novo livro de François Silvestre, o Remanso da Piracema. Não vou comentar a obra agora. Quero acabar de ler. Fica pra depois. Queria apenas citar um trecho do capítulo 2, quando François descreve o caicoense.

Lembrei, num destes rompantes inexplicáveis, de uma cena passada há alguns anos. Foi numa bienal do livro, ainda no Midway.

O escritor paraibano e radicado em Natal, Aldo alguma coisa (esqueci o nome agora, apesar de muito bom escritor) foi convidado local da bienal. Na plateia estava o caicoense Moacy Cirne.

Lá pras tantas, Moacy se levanta e despeja alguma revolta contra a organização da bienal em ter chamado um paraibano para falar na bienal como escritor potiguar. E mais: conhecedor da Caicó de Moacy, onde teria passado a infância, coisa e tal.

Como diz François, "o Seridó possui uma compleição diferenciada. O seridoense não quer ser diferente. Ele é diferente. E o caicoense pode ir pra onde for, nunca sai de Caicó. Ele carrega Caicó na soleira do abanhado. O sol de Caicó se hospeda nas suas pedras e se entranha nelas até o demorado entrar da noite".

François, Moacy, Caicó. Todos são fantásticos.