O Beco da Lama vive dias de euforia tão incontida que por onde se caminha há um celular tocando com membros das duas chapas em disputa pela presidência da entidade que se fez dona do lugar - a Samba - conclamando eleitores a votar. Hoje à tarde, um dos frequentadores daqueles chãos, que sequer está inscrito no tal Livro Preto, recebeu duas ligações, quase seguidas. É o poder, é poder de mudança, espero.
Li faz alguns dias o edital da eleição. Não sei quem a escreveu. Mas só para mostrar o quão difícil é escrever apressada e diariamente (leia-se dar a cara à tapa) e constar perfeita sintonia de informação e gramática, no próprio edital, já no primeiro item se lê: "Na segunda dia". No subitem seguinte, erraram o nome do sempre simpático Ricardo Nelson, que nada tem com qualquer Soares. Afora uma carência de crase.
Que atire a primeira pedra!
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Fundação José Gugu sapeca mais dois editais
A Fundação José Gugu sapecou mais dois editais culturais. Destas vez contempla a área de dança e de quadrinhos.
Esta semana ouvi reclamação de um professores de Dança mais capacitados do Estado, Edeilson Matias, do valor escasso dispensado nos editais. O professor citou R$ 6 mil. Segundo ele, não dá para bancar um grande espetáculo nem uma turnê razoável pelo Estado. Por outro lado, vejo a iniciativa como um incentivo, não como solução. R$ 40 mil é um bom investimento para um único segmento cultural procurar seus caminhos, mostrar seu trabalho. Não me lembro de outro investimento equiparado a este valor na área de quadrinhos. O próprio Moacy pode comentar. Aliás, os homenageados em cada edital foram escolhidos a dedo. E vale ressaltar, as diretrizes de cada edital foram discutidas por comissões formadas por especialistas em cada área. O próprio Edeilson foi chamado e recusou o convite.
Seguem os editais, com prazo de inscrições abertos até 12 de junho:
Prêmio de Dança Roosevelt Pimenta: O Concurso Roosevelt Pimenta é um incentivo para Circulação de Grupos e Companhias de Dança do Rio Grande do Norte e tem como objetivo a seleção de projetos de espetáculos para circulação em duas cidades do Estado, que não a de origem do Grupo/Companhia. Serão selecionados cinco projetos de espetáculos, para receber cada um, o valor bruto de R$ 8.220,00. Totalizando um investimento de R$ 41.100,00.
Prêmio Moacy Cirne de Quadrinhos: Serão escolhidos 10 quadrinistas potiguares que integrarão uma coletânea de quadrinhos. O prêmio tem o objetivo de revelar e premiar o talento dos artistas profissionais ou amadores que militam na arte dos quadrinhos no Rio Grande do Norte, além de impulsionar a produção artística nessa área. Serão concedidos dez prêmios de histórias em quadrinhos, totalizando a soma de R$ 40.000,00, divididos da seguinte forma.
a) Infantil - 1º lugar: R$ 4.250,00 e 2º lugar: R$ 3.250,00
b) Histórico - 1º lugar: R$ 6.000,00 e 2º lugar: R$ 5.000,00
c) Aventura, Humor e Ficção - 1º lugar: R$ 6.000,00 e 2º lugar: R$ 5.000,00
d) Jovens Artistas - 1º lugar: R$ 1.500,00 e 2º lugar: R$ 900,00
e) Tema Livre - 1º lugar: R$ 4.550,00 e 2º lugar: R$ 3.550,00
Esta semana ouvi reclamação de um professores de Dança mais capacitados do Estado, Edeilson Matias, do valor escasso dispensado nos editais. O professor citou R$ 6 mil. Segundo ele, não dá para bancar um grande espetáculo nem uma turnê razoável pelo Estado. Por outro lado, vejo a iniciativa como um incentivo, não como solução. R$ 40 mil é um bom investimento para um único segmento cultural procurar seus caminhos, mostrar seu trabalho. Não me lembro de outro investimento equiparado a este valor na área de quadrinhos. O próprio Moacy pode comentar. Aliás, os homenageados em cada edital foram escolhidos a dedo. E vale ressaltar, as diretrizes de cada edital foram discutidas por comissões formadas por especialistas em cada área. O próprio Edeilson foi chamado e recusou o convite.
Seguem os editais, com prazo de inscrições abertos até 12 de junho:
Prêmio de Dança Roosevelt Pimenta: O Concurso Roosevelt Pimenta é um incentivo para Circulação de Grupos e Companhias de Dança do Rio Grande do Norte e tem como objetivo a seleção de projetos de espetáculos para circulação em duas cidades do Estado, que não a de origem do Grupo/Companhia. Serão selecionados cinco projetos de espetáculos, para receber cada um, o valor bruto de R$ 8.220,00. Totalizando um investimento de R$ 41.100,00.
Prêmio Moacy Cirne de Quadrinhos: Serão escolhidos 10 quadrinistas potiguares que integrarão uma coletânea de quadrinhos. O prêmio tem o objetivo de revelar e premiar o talento dos artistas profissionais ou amadores que militam na arte dos quadrinhos no Rio Grande do Norte, além de impulsionar a produção artística nessa área. Serão concedidos dez prêmios de histórias em quadrinhos, totalizando a soma de R$ 40.000,00, divididos da seguinte forma.
a) Infantil - 1º lugar: R$ 4.250,00 e 2º lugar: R$ 3.250,00
b) Histórico - 1º lugar: R$ 6.000,00 e 2º lugar: R$ 5.000,00
c) Aventura, Humor e Ficção - 1º lugar: R$ 6.000,00 e 2º lugar: R$ 5.000,00
d) Jovens Artistas - 1º lugar: R$ 1.500,00 e 2º lugar: R$ 900,00
e) Tema Livre - 1º lugar: R$ 4.550,00 e 2º lugar: R$ 3.550,00
A Redinha
Saudade de um mar que se faz longe, fugidiu das pressas cotidianas. Ah, minha Redinha do meu Rio Doce e do mar salgado como a pele de Dona Francisca e as mãos hábeis no trato com a ginga. Ah, minha Redinha de estórias figurativas e histórias de lutas marítimas e ilusões adocicadas. Saudades da tua brisa e da cachaça ao luar, em prosa mansa com os pescadores de sonhos impossíveis. Saudade mesmo de uma época de nunca mais: de Navarro, de Veríssimo, de Cascudo e Mário de Andrade estupefatos com as cores do Boi Calemba; as jornadas de Fandango e Chegança. Saudades...
Por Adherbal de França
A Redinha
"(...) A praia da Redinha tem segredos vários de amor. Sua história renova as toadas dos pescadores e caminheiros das praias vizinhas, unidas ao longo da cossta enganadora. Sobre ela estremecem, limpos de culpas, os corações das rendeiras mágicas, desde que os clarões vivos da manhã lançam sobre o oceano um imenso olhar de sangue e o sol poente adormece do trabalho, as agruras da realidade para o sossêgo dos sonhadores humildes".
Por Adherbal de França
A Redinha
"(...) A praia da Redinha tem segredos vários de amor. Sua história renova as toadas dos pescadores e caminheiros das praias vizinhas, unidas ao longo da cossta enganadora. Sobre ela estremecem, limpos de culpas, os corações das rendeiras mágicas, desde que os clarões vivos da manhã lançam sobre o oceano um imenso olhar de sangue e o sol poente adormece do trabalho, as agruras da realidade para o sossêgo dos sonhadores humildes".
Ausência e explicações
Peço desculpa ao amigo leitor pela ausência de ontem. É culpa da tal profissão-repórter. Chego com novidades logo mais.
A despeito de alguns comentários recebidos pelos textos publicados na minha coluna da última terça-feira no Diário de Natal, informo: se detenho algum partidarismo é pela luta justa do dia-a-dia. Simpatizo, sim, com o trabalho realizado pela quase associação Nós do Beco (não a chapa, da qual também não guardo nenhuma antipatia), capitaneada pelo honrado Zizinho.
Na sessão "Assim falou...", a qual finalizo sempre com algum verso ou frase de figuras da nossa cultura, o Ph inicial do nome de Phabião das Queimadas (cujo verso publicado foi elogiado pelo poeta Diógenes da Cunha Lima, via e-mail) foi proposital. Sabia que alguém comentaria (rs). Está escrito assim nos registros antigos deste personagem tão rico do nosso folclore. Coisa de Ariano, realmente, Diógenes! (rs).
Quanto ao mestre Deífilo, merecedor do maior respeito não só como folclorista, mas como poeta e mais ainda como pessoa, retribuo os agradecimentos. Se me disse que iria guardar o texto junto a outros dois escritos sobre ele, como um da poeta Diva Cunha, informo que guardarei também suas palavras e gestos em algum recanto da memória onde estão também os instantes junto ao dotô Oswaldo Lamartine.
Chego já!
A despeito de alguns comentários recebidos pelos textos publicados na minha coluna da última terça-feira no Diário de Natal, informo: se detenho algum partidarismo é pela luta justa do dia-a-dia. Simpatizo, sim, com o trabalho realizado pela quase associação Nós do Beco (não a chapa, da qual também não guardo nenhuma antipatia), capitaneada pelo honrado Zizinho.
Na sessão "Assim falou...", a qual finalizo sempre com algum verso ou frase de figuras da nossa cultura, o Ph inicial do nome de Phabião das Queimadas (cujo verso publicado foi elogiado pelo poeta Diógenes da Cunha Lima, via e-mail) foi proposital. Sabia que alguém comentaria (rs). Está escrito assim nos registros antigos deste personagem tão rico do nosso folclore. Coisa de Ariano, realmente, Diógenes! (rs).
Quanto ao mestre Deífilo, merecedor do maior respeito não só como folclorista, mas como poeta e mais ainda como pessoa, retribuo os agradecimentos. Se me disse que iria guardar o texto junto a outros dois escritos sobre ele, como um da poeta Diva Cunha, informo que guardarei também suas palavras e gestos em algum recanto da memória onde estão também os instantes junto ao dotô Oswaldo Lamartine.
Chego já!
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Ao mestre Deífilo Gurgel
No último domingo este caderno registrou o reencontro das duas maiores figuras vivas do nosso folclore: Dona Militana e Deífilo Gurgel. A matéria quis mostrar a situação da romanceira após delicada cirurgia de angioplastia, aos 84 anos do segundo tempo. E deixou em segundo plano este areia branquense, de rio e de mar; de voz pausada, grave e palavras humoradas e sempre simpáticas. Os 82 anos de Deífilo merecem o respeito da sanfona de 8 baixos de Januário. É hoje o maior folclorista vivo do Brasil, reconhecido por gente do meio a quem tive o cuidado de perguntar e embasado pelas próprias palavras de Deífilo, ao dimensionar a obra de outros grandes folcloristas do país.
Sua paixão pelo folclore e cultura popular recai também nas figuras humanas responsáveis pelo valor cultural em cada manifestação folclórica estudada. Este talvez seja o grande diferencial da obra de Deífilo – muito maior que seus dez livros publicados. Sua essência simples o coloca em pé de igualdade a estas figuras humanas notáveis, geralmente em condições deploráveis de vida. Ouve histórias informais, encaminha a conversa para onde quer de maneira sutil e garimpa o joio raro de quem conhece o assunto em suas profundezas abissais. Esta metodologia se junta aos anos de estudo e pesquisa formadores do alicerce de conhecimento necessário para mirar o alvo com mais precisão.
Dessa maneira, Deífilo Gurgel desbravou este Rio Grande durante duas décadas para documentar as mais diferentes e remotas manifestações da cultura popular. Nessas passagens mais das vezes solitárias, sem apoio algum, descobriu nomes como o coquista Chico Antônio e a citada Dona Militana. Deu vida ao maior mamulengueiro do Brasil, Chico Daniel. Trouxe à baila Manoel Marinheiro. E não fosse a insistência da mídia pela figura de Dona Militana, como ele mesmo reclama, outras riquezas estariam nos noticiários, como os grupos de Chegança e Fandango de Canguaretama; o Cabocolinho de Ceará-Mirim, e outras dezenas de grupos e nomes.
No quesito romanceiro, a notoriedade de Dona Militana tem apagado a importância de nomes como Juvina Monteiro, em Rio do Fogo – das mais importantes do país; a romanceira conhecida como Maria de Aleixo, moradora de Alcaçuz; e Maria de Vítor, residente na Praia de Caraúbas. Talvez seja erro também da mídia a mira voltada ao alvo de Cascudo quando temos Deífilo, que, se tem Cascudo como mestre, conseguiu ir além de antecessores como Veríssimo de Melo, Gumercindo Saraiva, Oswaldo de Souza, Nestor Lima e Jayme Wanderley.
Uma prova dessa grandeza virá no segundo semestre: um livro intitulado Romanceiro Potiguar, com material inédito de romances coletados durante suas andanças litorâneas e sertanejas. Trabalho que o coloca entre os grandes pesquisadores da história do romanceiro no Brasil, condenado a suportar a falta de prestígio às manifestações da cultura popular mais representativas das nossas raízes culturais.
Sua paixão pelo folclore e cultura popular recai também nas figuras humanas responsáveis pelo valor cultural em cada manifestação folclórica estudada. Este talvez seja o grande diferencial da obra de Deífilo – muito maior que seus dez livros publicados. Sua essência simples o coloca em pé de igualdade a estas figuras humanas notáveis, geralmente em condições deploráveis de vida. Ouve histórias informais, encaminha a conversa para onde quer de maneira sutil e garimpa o joio raro de quem conhece o assunto em suas profundezas abissais. Esta metodologia se junta aos anos de estudo e pesquisa formadores do alicerce de conhecimento necessário para mirar o alvo com mais precisão.
Dessa maneira, Deífilo Gurgel desbravou este Rio Grande durante duas décadas para documentar as mais diferentes e remotas manifestações da cultura popular. Nessas passagens mais das vezes solitárias, sem apoio algum, descobriu nomes como o coquista Chico Antônio e a citada Dona Militana. Deu vida ao maior mamulengueiro do Brasil, Chico Daniel. Trouxe à baila Manoel Marinheiro. E não fosse a insistência da mídia pela figura de Dona Militana, como ele mesmo reclama, outras riquezas estariam nos noticiários, como os grupos de Chegança e Fandango de Canguaretama; o Cabocolinho de Ceará-Mirim, e outras dezenas de grupos e nomes.
No quesito romanceiro, a notoriedade de Dona Militana tem apagado a importância de nomes como Juvina Monteiro, em Rio do Fogo – das mais importantes do país; a romanceira conhecida como Maria de Aleixo, moradora de Alcaçuz; e Maria de Vítor, residente na Praia de Caraúbas. Talvez seja erro também da mídia a mira voltada ao alvo de Cascudo quando temos Deífilo, que, se tem Cascudo como mestre, conseguiu ir além de antecessores como Veríssimo de Melo, Gumercindo Saraiva, Oswaldo de Souza, Nestor Lima e Jayme Wanderley.
Uma prova dessa grandeza virá no segundo semestre: um livro intitulado Romanceiro Potiguar, com material inédito de romances coletados durante suas andanças litorâneas e sertanejas. Trabalho que o coloca entre os grandes pesquisadores da história do romanceiro no Brasil, condenado a suportar a falta de prestígio às manifestações da cultura popular mais representativas das nossas raízes culturais.
domingo, 26 de abril de 2009
Propaganda à Fundação José Gugu
Quando o diretor geral da Fundação José Gugu concedeu entrevista a este repórter para uma matéria de duas páginas publicada em O Poti, foi perguntado qual justificativa para uma revista repleta de propaganda de Governo anexada à Preá. A explicação, lembro bem, foi a de que a verba para comunicação do Governo do Estado esteve paralisada durante o ano anterior e faltou mídia para divulgar as ações da Fundação.
Durante duas semanas tentei falar com Crispiniano Neto. Contatei a assessoria de imprensa, liguei para o celular, enviei e-mail. E nada. Expliquei à assessoria – que também insistiu – e no corpo do e-mail enviado que se tratava de uma matéria explicativa da Lei Câmara Cascudo (investimentos, benefícios, mudanças previstas) e também da política de editais, que na opinião deste blogueiro, se configura aos poucos como a melhor ação desta gestão.
O nobre diretor que tanto reclama mídia desprezou matéria de uma página inteira de jornal. Matéria elogiosa, elaborada pela Assessoria de Comunicação do Governo. O blogueiro foi paciente e entendeu as viagens a Brasília e Salvador. Mas duas semanas são mais do que suficientes, penso. Talvez seja mais cômodo gastar do erário público com revistas publicitárias caríssimas.
Para tentar minimizar o gasto com nosso dinheiro e elogiar (quanto verbo no infinitivo!) as ações merecidas, informo da abertura de inscrição para mais dois editais culturais, nas áreas de cinema e outro de cultura popular. São parte do Programa de Desenvolvimento da Cultura do Rio Grande do Norte. Com estes editais, a FJA conta quatro editais abertos para inscrições (os outros dois são na área de teatro).
Eis os quatro editais:
O Prêmio William Cobbet: é um concurso para produção de curtas metragens. A idéia do edital foi fruto das discussões ocorridas durante o ano passado na câmara setorial de audiovisual. As inscrições começam no dia 30 de abril e prosseguem até 15 de junho. O objetivo é selecionar projetos de quatro filmes de curta metragem do gênero documentário e ficção, com duração máxima de 30 minutos. Os projetos devem abordar necessariamente temas característicos do Rio Grande do Norte: um local, logradouro, estabelecimento, evento ou personagem. O valor destinado a cada um dos projetos será de R$ 20 mil.
Prêmio Cornélio Campina de Cultura Popular: inscrições abertas até 8 de junho. Visa a seleção de projetos de grupos tradicionais da cultura popular do Rio Grande do Norte em atividade há pelo menos 5 anos. As manifestações tradicionais compreendem celebrações, rituais, festas e práticas sociais reconhecidas pelas comunidades como parte de seu patrimônio cultural. Serão premiados 25 projetos no valor bruto de R$ 6 mil cada, usados para atividades como aquisição de indumentária, adereços, estandartes e instrumentos musicais; apresentação, circulação e registro da manifestação; transmissão de conhecimentos, criação de acervo e formação de jovens. O total de recursos disponível para a premiação é de R$ 150 mil.
Prêmio Lula Medeiros de Teatro de Rua: O total de recursos disponíveis para premiação é de R$ 120 mil. Serão beneficiados 15 Grupos e/ou Companhias de Teatro de Rua, no valor bruto de R$ 8 mil para cada. Como contrapartida, o edital prevê duas apresentações, uma a ser destinada aos alunos da Rede Pública Estadual, e outra de livre escolha na cidade de origem do grupo.
Prêmio Chico Villa de Circulação Teatral: O concurso visa selecionar 13 projetos de artistas potiguares, com obras de sua própria autoria ou de outros autores potiguares. Está destinado ao prêmio um total de R$ 139 mil divididos da seguinte forma: Módulo 1 - mínimo de 5 projetos de até R$ 15 mil. Módulo 2 - mínimo de 8 projetos de até R$ 8 mil. Como contrapartida serão realizadas obrigatoriamente duas apresentações, em duas cidades distintas do Rio Grande do Norte. Além de oferecer, obrigatoriamente, a realização de uma oficina com carga horária de 8 horas e contemplar no mínimo uma dessas apresentações em algum dos espaços sob a administração da Fundação José Augusto.
As inscrições dos dois prêmios para o teatro prosseguem até o dia 5 de junho. Informações: 3232- 5324 (com atendimento de 8 às 13 horas) ou na página de internet www.fja.rn.gov.br
Durante duas semanas tentei falar com Crispiniano Neto. Contatei a assessoria de imprensa, liguei para o celular, enviei e-mail. E nada. Expliquei à assessoria – que também insistiu – e no corpo do e-mail enviado que se tratava de uma matéria explicativa da Lei Câmara Cascudo (investimentos, benefícios, mudanças previstas) e também da política de editais, que na opinião deste blogueiro, se configura aos poucos como a melhor ação desta gestão.
O nobre diretor que tanto reclama mídia desprezou matéria de uma página inteira de jornal. Matéria elogiosa, elaborada pela Assessoria de Comunicação do Governo. O blogueiro foi paciente e entendeu as viagens a Brasília e Salvador. Mas duas semanas são mais do que suficientes, penso. Talvez seja mais cômodo gastar do erário público com revistas publicitárias caríssimas.
Para tentar minimizar o gasto com nosso dinheiro e elogiar (quanto verbo no infinitivo!) as ações merecidas, informo da abertura de inscrição para mais dois editais culturais, nas áreas de cinema e outro de cultura popular. São parte do Programa de Desenvolvimento da Cultura do Rio Grande do Norte. Com estes editais, a FJA conta quatro editais abertos para inscrições (os outros dois são na área de teatro).
Eis os quatro editais:
O Prêmio William Cobbet: é um concurso para produção de curtas metragens. A idéia do edital foi fruto das discussões ocorridas durante o ano passado na câmara setorial de audiovisual. As inscrições começam no dia 30 de abril e prosseguem até 15 de junho. O objetivo é selecionar projetos de quatro filmes de curta metragem do gênero documentário e ficção, com duração máxima de 30 minutos. Os projetos devem abordar necessariamente temas característicos do Rio Grande do Norte: um local, logradouro, estabelecimento, evento ou personagem. O valor destinado a cada um dos projetos será de R$ 20 mil.
Prêmio Cornélio Campina de Cultura Popular: inscrições abertas até 8 de junho. Visa a seleção de projetos de grupos tradicionais da cultura popular do Rio Grande do Norte em atividade há pelo menos 5 anos. As manifestações tradicionais compreendem celebrações, rituais, festas e práticas sociais reconhecidas pelas comunidades como parte de seu patrimônio cultural. Serão premiados 25 projetos no valor bruto de R$ 6 mil cada, usados para atividades como aquisição de indumentária, adereços, estandartes e instrumentos musicais; apresentação, circulação e registro da manifestação; transmissão de conhecimentos, criação de acervo e formação de jovens. O total de recursos disponível para a premiação é de R$ 150 mil.
Prêmio Lula Medeiros de Teatro de Rua: O total de recursos disponíveis para premiação é de R$ 120 mil. Serão beneficiados 15 Grupos e/ou Companhias de Teatro de Rua, no valor bruto de R$ 8 mil para cada. Como contrapartida, o edital prevê duas apresentações, uma a ser destinada aos alunos da Rede Pública Estadual, e outra de livre escolha na cidade de origem do grupo.
Prêmio Chico Villa de Circulação Teatral: O concurso visa selecionar 13 projetos de artistas potiguares, com obras de sua própria autoria ou de outros autores potiguares. Está destinado ao prêmio um total de R$ 139 mil divididos da seguinte forma: Módulo 1 - mínimo de 5 projetos de até R$ 15 mil. Módulo 2 - mínimo de 8 projetos de até R$ 8 mil. Como contrapartida serão realizadas obrigatoriamente duas apresentações, em duas cidades distintas do Rio Grande do Norte. Além de oferecer, obrigatoriamente, a realização de uma oficina com carga horária de 8 horas e contemplar no mínimo uma dessas apresentações em algum dos espaços sob a administração da Fundação José Augusto.
As inscrições dos dois prêmios para o teatro prosseguem até o dia 5 de junho. Informações: 3232- 5324 (com atendimento de 8 às 13 horas) ou na página de internet www.fja.rn.gov.br
4º MPBeco
O prazo para inscrições de músicas concorrentes à 4ª edição do MPBeco termina neste 30 de Abril (quinta-feira). Os interessados deverão retirar o Regulamento do Festival, bem como sua Ficha de Inscrição nos pontos de inscrição determinados pela Produção do Festival. Em Natal, as inscrições poderão ser realizadas nos seguintes locais:
Disco Fitas – Rua Princesa Isabel, n.º 700 – Cidade Alta;
Natal Groove – Rua Floriano Peixoto, n. º 567 – Petrópolis;
Sebo Balalaika – Rua Vigário Bartolomeu, n. 565 – Cidade Alta.
O Regulamento do Festival, assim como a Ficha de Inscrição, também serão disponibilizados nos 25 municípios detentores de Casa de Cultura Popular, que são administradas pelo Governo do Rio Grande do Norte, através da Fundação José Augusto. Os interessados poderão, também, fazer o download do Regulamento e a Ficha de Inscrição no site do Festival: www.festivalmpbeco.com.br, ou solicitar à produção do Festival sua remessa pelos Correios, ao seguinte endereço: Rua Júlio de Castilho, n.º 85 – Conjunto Vale do Pitimbu – Bairro Pitimbu – Natal/RN – Cep.: 59.069-550.
Disco Fitas – Rua Princesa Isabel, n.º 700 – Cidade Alta;
Natal Groove – Rua Floriano Peixoto, n. º 567 – Petrópolis;
Sebo Balalaika – Rua Vigário Bartolomeu, n. 565 – Cidade Alta.
O Regulamento do Festival, assim como a Ficha de Inscrição, também serão disponibilizados nos 25 municípios detentores de Casa de Cultura Popular, que são administradas pelo Governo do Rio Grande do Norte, através da Fundação José Augusto. Os interessados poderão, também, fazer o download do Regulamento e a Ficha de Inscrição no site do Festival: www.festivalmpbeco.com.br, ou solicitar à produção do Festival sua remessa pelos Correios, ao seguinte endereço: Rua Júlio de Castilho, n.º 85 – Conjunto Vale do Pitimbu – Bairro Pitimbu – Natal/RN – Cep.: 59.069-550.
sábado, 25 de abril de 2009
Reencontro folclórico
Beatles no fim de semana
Para os beatlemaníacos como este blogueiro, o fim de semana está pomposo. Neste sábado Os Grogs do meu amigo e chefe Moisés de Lima interpreta os melhores sucessos dos quatro de Liverpool, no Aprecie Pub, em Ponta Negra. Na mesma noite, a banda Revolver toca Pink Floyd. Tudo a partir das 22h. Estarei lá (pitstop no Bardallos!). No domingo, o grupo vocal Octo Voci apresenta o show Vestindo Beatles, em duas sessões: 18h30 e 20h, na Escola de Música da UFRN. O espetáculo é uma junção inédita de oito cantores e cinco instrumentistas, que produzem arranjos inéditos das músicas dos Beatles. A banda que acompanha o Octo Voci é formada por músicos de grupos reconhecidos pelo público natalense, como Kassava, Seu Zé e VnV.
Casa de Cultura de Campestre
A Casa de Cultura de São José de Campestre é das mais atuantes entre as dezenas inauguradas nesta gestão e na anterior. Já pude comprovar o compromisso dos administradores e, salvo engano, foram contemplados com o Ponto de Cultura para fomentar ainda mais as atividades do espaço. A propósito, foi adiado para esta segunda-feira, o 1° Encontro de Arte Educadores de São José do Campestre. O encontro, que começa às 8 horas, vai contar com a participação de Severino Vicente, Bob Mota, Gutenberg Costa e Ana Tereza – todos membros da Comissão Norte-Riograndense de Folclore. Neste mesmo dia, a partir das 18 horas tem apresentação do Boi de Reis de Mestre Cícero Batata e apresentação do João Redondo de João Viana. Informações: 9954-4177.
Rock e poesia no hospital
A mistura é inusitada. Colocar na mesma sopa, rock e poesia no ambiente hospitalar é meio trash. Logo mais às 15h a banda Ak-47, o projeto Disfunctorium e convidados apresentam a 1ª Mostra Poética Hospitalar, no Espaço Frutos, Ribeira. A entrada custa R$ 3. O Frutos Estúdio será convertido num ambiente estéril e perfumado de éter, onde moléstias do corpo e da mente se manisfestarão em cenas e performances. Tudo isso combinado com os shows de Letto, Frequência Linear e Fullsion.
Detalhe: procedimentos médicos serão realizados no evento. Alerta: pessoas que recebem facilmente as impressões e sensações externas devem ter cautela.
Espaço Frutos: R. Praça Augusto Severo nº 260, 2° Andar, Ribeira. Fone: (84) 3201-6867 e 8829-2718. Contato: Juão (8807-0490) / crazy_juao@hotmail.com
Detalhe: procedimentos médicos serão realizados no evento. Alerta: pessoas que recebem facilmente as impressões e sensações externas devem ter cautela.
Espaço Frutos: R. Praça Augusto Severo nº 260, 2° Andar, Ribeira. Fone: (84) 3201-6867 e 8829-2718. Contato: Juão (8807-0490) / crazy_juao@hotmail.com
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Próximo Seis e Meia
Ouvi pela internet algo do trabalho da próxima atração do Projeto Seis e Meia, Alex Cohen. Pode ser a primeira impressão, mas o cara me pareceu um Leoni piorado. Bom músico, composições razoáveis, vozinha pop demais, afinada, mas sem qualquer diferencial, virtuosismo. Em resumo: é apenas mais um. Não chega aos pés de inúmeros daqui. Sem canja para um projeto amadurecido e prestigiado como o Seis e Meia. E não sou dos que defendem atrações de peso, populares ou da mídia.
Quanto à atração local, a jovem Hild Cavalcanti, ouvi o Cd promocional. São interpretações para antigos hits do pop nacional de Kid Abelha, Renato Russo, mais duas composições autorais de muito bom gosto, bem ao estilo Roupa Nova – aquelas letras mamão-com-açúcar, mas nem por isso ruins. Acredito que falte amadurecimento ao vocal da moça, principalmente se a comparação são algumas divas potiguares como Khrystal, Luciane Antunes, Valéria Oliveira ou até a também jovem Manuela Dac.
Talvez sejam atrações mais baratas para enfrentar a crise que até já afetou o TAM, como publiquei em minha coluna terça-feira. Vamos esperar dias melhores. Minhas ações estão caindo. E o Seis e Meia, também.
Quanto à atração local, a jovem Hild Cavalcanti, ouvi o Cd promocional. São interpretações para antigos hits do pop nacional de Kid Abelha, Renato Russo, mais duas composições autorais de muito bom gosto, bem ao estilo Roupa Nova – aquelas letras mamão-com-açúcar, mas nem por isso ruins. Acredito que falte amadurecimento ao vocal da moça, principalmente se a comparação são algumas divas potiguares como Khrystal, Luciane Antunes, Valéria Oliveira ou até a também jovem Manuela Dac.
Talvez sejam atrações mais baratas para enfrentar a crise que até já afetou o TAM, como publiquei em minha coluna terça-feira. Vamos esperar dias melhores. Minhas ações estão caindo. E o Seis e Meia, também.
Poeta mal pago (?)
Um dos maiores expoentes da contracultura potiguar e integrante do seleto time de poetas fundadores do Poema Processo, Falves Silva, reclama há oito meses o pagamento de uma palestra ministrada por ele dentro da programação inaugural do projeto Acervo em Movimento, promovido pela Fundação José Gugu. A entrega do cachê de apenas R$ 300 tem sido protelada há meses. Segundo o poeta/artista visual a insistência do pagamento junto ao Centro de Documentação Eloy de Souza (Cedoc) – vinculado à Fundação – foram todas seguidas de desculpas.
A outra versão, dada pelo setor financeiro da Fundação José Augusto, diz que o dinheiro foi pago em março a Francisco Silva, o Falves. Exatamente a quantia de R$ 252, descontados a porcentagem de ISS. Difícil saber de quem é a verdade. Falves Silva procurou o jornal indignado, no início do expediente. Disse ainda que recebeu adiantado um cachê de R$ 800 por uma palestra semelhante ministrada em seminário realizado em João Pessoa. Embora a quantia seja quase simbólica para tanto alarde, Falves avisa que o “desrespeito” atinge o artista de forma geral, independente de valores de cachês.
O projeto ao qual Falves Silva participou objetivava a divulgação do patrimônio das artes visuais do Estado nas redes públicas de ensino e o desenvolvimento de material didático cujo conteúdo mobilizaria o acervo da Pinacoteca. Seminários e oficinas foram oferecidos. Falves foi palestrante junto com os também artistas visuais Ítalo Trindade e João Vianei para discutir a arte contemporânea. “Pesquisei, estudei a palestra, queimei pestana para não receber nada. E olhe que é uma mixaria. Mas reclamo em nome da dignidade do artista potiguar de um modo geral”.
Falves Silva reclama da burocracia impregnada na FJA até para darem desculpas. “Tenho que falar com mais de uma pessoa para, ao final, darem a mesma resposta”. Segundo ele, esta mesma burocracia é a responsável pelo entrave no pagamento. “Esse projeto foi patrocinado em convênio com o Ministério da Cultura, a Unesco e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid). Esse dinheiro chega antecipado. Não tem como atrasar”. Falves desconhece se outros artistas participantes do projeto receberam seus cachês.
A outra versão, dada pelo setor financeiro da Fundação José Augusto, diz que o dinheiro foi pago em março a Francisco Silva, o Falves. Exatamente a quantia de R$ 252, descontados a porcentagem de ISS. Difícil saber de quem é a verdade. Falves Silva procurou o jornal indignado, no início do expediente. Disse ainda que recebeu adiantado um cachê de R$ 800 por uma palestra semelhante ministrada em seminário realizado em João Pessoa. Embora a quantia seja quase simbólica para tanto alarde, Falves avisa que o “desrespeito” atinge o artista de forma geral, independente de valores de cachês.
O projeto ao qual Falves Silva participou objetivava a divulgação do patrimônio das artes visuais do Estado nas redes públicas de ensino e o desenvolvimento de material didático cujo conteúdo mobilizaria o acervo da Pinacoteca. Seminários e oficinas foram oferecidos. Falves foi palestrante junto com os também artistas visuais Ítalo Trindade e João Vianei para discutir a arte contemporânea. “Pesquisei, estudei a palestra, queimei pestana para não receber nada. E olhe que é uma mixaria. Mas reclamo em nome da dignidade do artista potiguar de um modo geral”.
Falves Silva reclama da burocracia impregnada na FJA até para darem desculpas. “Tenho que falar com mais de uma pessoa para, ao final, darem a mesma resposta”. Segundo ele, esta mesma burocracia é a responsável pelo entrave no pagamento. “Esse projeto foi patrocinado em convênio com o Ministério da Cultura, a Unesco e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid). Esse dinheiro chega antecipado. Não tem como atrasar”. Falves desconhece se outros artistas participantes do projeto receberam seus cachês.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Poesia cinematográfica musicada
O cinema nunca foi totalmente mudo. Que o diga as trilhas sonoras dos clássicos de Charles Chaplin. E nessa relação entre som e imagem, o cinema produziu uma coleção de músicas, personagens e diretores convencionalmente chamados de a sétima arte. Esta história centenária está embutida no Cd Cineclube. Ou pelo menos o que coube do imaginário poético de Lívio Oliveira e da inspiração melódica de Babal. São 13 poesias musicadas voltadas à história do cinema. O produto de três anos de trabalho será lançado nesta quinta-feira, às 19h, na Capitania das Artes.
O Cd traz a participação de algumas das nossas melhores intérpretes – Valéria Oliveira, Khrystal, Luciane Antunes e Liz Rosa – mais a canja do paraibano Geraldo Azevedo. Em essência, as canções recebem arranjos jazzísticos, sob direção do experiente Joca Costa e amparo de uma quase orquestra sinfônica. É um trabalho ousado. Não só pela mescla de poesia, música e cinema. É também a união entre o exaurido dilema de unir o universal ao local. O próprio Lívio Oliveira explica a intenção em retratar reminiscências das velhas salas de cinema de Natal.
Se cada canção homenageia grandes mestres e divas do cinema, como o espanhol Pedro Almodóvar, Federico Fellini ou Marilyn Monroe, também rende loas aos cineastas potiguares Buca Dantas e Jussara Queiroz, na música Na Sala do Royal Cinema. Nos créditos da contracapa, nomes como Moacy Cirne, Anchieta Fernandes, Willian Cobbett, Valério de Andrade, Djacir Dantas e Edmar Viana (em memória), um dos incentivadores quanto ao patrocínio do projeto, financiado pela Lei Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura, em parceria com a Cosern.
A homenagem de Babal lembra o tio-avô Zé Perninha, dono do Cinema São Sebastião, na alecrinense Avenida 10, quando assistia a filmes e seriados na cabine de projeção, em clara alusão ao clássico Cinema Paradiso. Na canção homônima ao título do Cd, Cineclube, outras citações de obras cinematográficas históricas na letra (ver ao lado). E mais do que títulos de filmes, a voz das intérpretes convidadas rememora as divas do cinema, em combinação com os arranjos em tons clássicos, mesclados à música flamenca (Chinatown), ou à américa espanhola de Almodóvar.
COMPOSIÇÕES
A feitura do Cd foi lenta e minuciosa. Afinal, como o próprio Babal atesta, não é fácil estabelecer parcerias musicais com poetas. “Há poemas musicáveis e outros não. Escrever poesia é impulsão. Não significa que a métrica das estrofes sirva para a música”. E cita o exemplo da poesia portuguesa de Fernando Pessoa, metrificada e rimada, ou as músicas de Chico Buarque como de fácil encaixe em melodias. “São poesias qualificadas à literatura e à musica”. E a harmonia entre música da letra é claramente perceptível nas composições do Cd Cineclube, elaboradas em processos diferentes de composição.
Ora as letras eram enviadas por Lívio ao e-mail de Babal, ora o músico dava um sinal melódico para o poeta encaixar a letra, ora eram construídas juntas. Em comum apenas a idéia de incorporar a temática do cinema nas letras. As participações também foram convidadas sob criteriosa escolha. “Quando comentei do trabalho a Geraldo Azevedo ele sequer procurou saber qual a música e disse: ‘Canto o que quiser’”, lembra Babal. A canção que coube a Geraldo – As Mulheres da Cidade – homenageia Fellini, diretor preferido de Lívio Oliveira, e diz: “Quantas vezes Giulietta?/ Quantas vezes só?/ Quantos trens peguei na vida?/ Nessa doce vida.”.
Em Sem Destino, também são incluídos os ídolos musicais retratos de uma geração, Janis Joplin e Jim Morrisson. “Quis estampar o espírito dos anos 60”, explica Lívio. O título da canção é também de uma adaptação cinematográfica do épico romance do vencedor do Prêmio Nobel da Literatura, Imre Kértész. Em Chinatown, na primorosa interpretação de Luciane Antunes, a própria sonoridade do título remeteu à atmosfera de Natal, em metalingüística bem apropriada. Na última faixa, Epílogo, homenagem inusitada aos diretores que namoraram atrizes dos seus filmes, como Woody Allen, Bergman e Arnaldo Jabor.
LANÇAMENTO
Durante a solenidade de lançamento de Cineclube na Capitania das Artes, será montado palco aberto para apresentação de três ou quatro músicas do álbum, enquanto clipes das músicas interpretadas por Valéria Oliveira (Vamos Pegar Uma Tela), Khrystal (Ruas e Luzes) e Liz Rosa (Perdão) em estúdio serão exibidos. Segundo Babal, devido aos arranjos orquestrados sofisticados empregados nas composições, algumas delas sofrerão adaptações para apresentações ao vivo em seus shows. A solenidade é aberta ao público.
Cineclube
(Lívio Oliveira / Babal)
No tempo das diligências
Eu perdi minha inocência
E passei a te entender
A menina afamada
Que era a menina do lado
A quem quis enternecer
Mas, hoje amor,
Sam já não toca mais
Casablanca está lá atrás
E o sonho é mais brando
E de teu último tango
Já não sou mais o ator.
E a cena lá na tela
Fez a vida bem mais bela
Logo depois do jantar
Quando nós dois no cinema
No amor que era o tema
Que ajudava a acarinhar.
Mas, hoje amor...
O truque mais inocente
No meio de tanta gente
Era eu te bolinar
E a cada teu sorriso
O cinema em Paradiso
E a sessão me inflamar
O Cd traz a participação de algumas das nossas melhores intérpretes – Valéria Oliveira, Khrystal, Luciane Antunes e Liz Rosa – mais a canja do paraibano Geraldo Azevedo. Em essência, as canções recebem arranjos jazzísticos, sob direção do experiente Joca Costa e amparo de uma quase orquestra sinfônica. É um trabalho ousado. Não só pela mescla de poesia, música e cinema. É também a união entre o exaurido dilema de unir o universal ao local. O próprio Lívio Oliveira explica a intenção em retratar reminiscências das velhas salas de cinema de Natal.
Se cada canção homenageia grandes mestres e divas do cinema, como o espanhol Pedro Almodóvar, Federico Fellini ou Marilyn Monroe, também rende loas aos cineastas potiguares Buca Dantas e Jussara Queiroz, na música Na Sala do Royal Cinema. Nos créditos da contracapa, nomes como Moacy Cirne, Anchieta Fernandes, Willian Cobbett, Valério de Andrade, Djacir Dantas e Edmar Viana (em memória), um dos incentivadores quanto ao patrocínio do projeto, financiado pela Lei Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura, em parceria com a Cosern.
A homenagem de Babal lembra o tio-avô Zé Perninha, dono do Cinema São Sebastião, na alecrinense Avenida 10, quando assistia a filmes e seriados na cabine de projeção, em clara alusão ao clássico Cinema Paradiso. Na canção homônima ao título do Cd, Cineclube, outras citações de obras cinematográficas históricas na letra (ver ao lado). E mais do que títulos de filmes, a voz das intérpretes convidadas rememora as divas do cinema, em combinação com os arranjos em tons clássicos, mesclados à música flamenca (Chinatown), ou à américa espanhola de Almodóvar.
COMPOSIÇÕES
A feitura do Cd foi lenta e minuciosa. Afinal, como o próprio Babal atesta, não é fácil estabelecer parcerias musicais com poetas. “Há poemas musicáveis e outros não. Escrever poesia é impulsão. Não significa que a métrica das estrofes sirva para a música”. E cita o exemplo da poesia portuguesa de Fernando Pessoa, metrificada e rimada, ou as músicas de Chico Buarque como de fácil encaixe em melodias. “São poesias qualificadas à literatura e à musica”. E a harmonia entre música da letra é claramente perceptível nas composições do Cd Cineclube, elaboradas em processos diferentes de composição.
Ora as letras eram enviadas por Lívio ao e-mail de Babal, ora o músico dava um sinal melódico para o poeta encaixar a letra, ora eram construídas juntas. Em comum apenas a idéia de incorporar a temática do cinema nas letras. As participações também foram convidadas sob criteriosa escolha. “Quando comentei do trabalho a Geraldo Azevedo ele sequer procurou saber qual a música e disse: ‘Canto o que quiser’”, lembra Babal. A canção que coube a Geraldo – As Mulheres da Cidade – homenageia Fellini, diretor preferido de Lívio Oliveira, e diz: “Quantas vezes Giulietta?/ Quantas vezes só?/ Quantos trens peguei na vida?/ Nessa doce vida.”.
Em Sem Destino, também são incluídos os ídolos musicais retratos de uma geração, Janis Joplin e Jim Morrisson. “Quis estampar o espírito dos anos 60”, explica Lívio. O título da canção é também de uma adaptação cinematográfica do épico romance do vencedor do Prêmio Nobel da Literatura, Imre Kértész. Em Chinatown, na primorosa interpretação de Luciane Antunes, a própria sonoridade do título remeteu à atmosfera de Natal, em metalingüística bem apropriada. Na última faixa, Epílogo, homenagem inusitada aos diretores que namoraram atrizes dos seus filmes, como Woody Allen, Bergman e Arnaldo Jabor.
LANÇAMENTO
Durante a solenidade de lançamento de Cineclube na Capitania das Artes, será montado palco aberto para apresentação de três ou quatro músicas do álbum, enquanto clipes das músicas interpretadas por Valéria Oliveira (Vamos Pegar Uma Tela), Khrystal (Ruas e Luzes) e Liz Rosa (Perdão) em estúdio serão exibidos. Segundo Babal, devido aos arranjos orquestrados sofisticados empregados nas composições, algumas delas sofrerão adaptações para apresentações ao vivo em seus shows. A solenidade é aberta ao público.
Cineclube
(Lívio Oliveira / Babal)
No tempo das diligências
Eu perdi minha inocência
E passei a te entender
A menina afamada
Que era a menina do lado
A quem quis enternecer
Mas, hoje amor,
Sam já não toca mais
Casablanca está lá atrás
E o sonho é mais brando
E de teu último tango
Já não sou mais o ator.
E a cena lá na tela
Fez a vida bem mais bela
Logo depois do jantar
Quando nós dois no cinema
No amor que era o tema
Que ajudava a acarinhar.
Mas, hoje amor...
O truque mais inocente
No meio de tanta gente
Era eu te bolinar
E a cada teu sorriso
O cinema em Paradiso
E a sessão me inflamar
terça-feira, 21 de abril de 2009
TAM mergulha na crise financeira
Antes fosse uma comédia romântica de Skakespeare o retrato atual do Teatro Alberto Maranhão. A crise financeira mundial parece ter abraçado o teatro. As disputadas pautas da principal e única casa hoje apta a receber um grande espetáculo cênico estão sendo canceladas.
O número de desistências verificado nos meses de março e abril obriga a diretora do TAM, Hilneth Correia, a cobrar caução aos produtores como garantia do retorno financeiro acordado. Isso a partir de maio. A reunião para informar esta nova normatização do TAM ocorrerá nesta quinta-feira.
Um exemplo claro de prejuízo para produtores e administração do teatro foi o cancelamento do Projeto Escola – há 15 anos levando alunos das escolas de ensino público ao teatro para discutir o assunto em sala de aula, depois.
Também durante as águas de março foram cancelados quatro espetáculos nacionais. Cada um ao valor de R$ 700, afora os locais, em maior número.
Mas, depois da queda nem sempre vem o coice. Em meio ao turbilhão financeiro, o TAM e a cena teatral da cidade receberam semana passada uma injeção de ânimo com a aprovação do projeto Ribeira das Artes (acontece no átrio do teatro, aos domingos), do inédito projeto Teatro aos Domingos, com envolvimento de música e teatro a R$ 2 o ingresso, e também o Auxílio Montagem.
É a tal política de editais ingressando como a grande marca da Fundação José Gugu.
O número de desistências verificado nos meses de março e abril obriga a diretora do TAM, Hilneth Correia, a cobrar caução aos produtores como garantia do retorno financeiro acordado. Isso a partir de maio. A reunião para informar esta nova normatização do TAM ocorrerá nesta quinta-feira.
Um exemplo claro de prejuízo para produtores e administração do teatro foi o cancelamento do Projeto Escola – há 15 anos levando alunos das escolas de ensino público ao teatro para discutir o assunto em sala de aula, depois.
Também durante as águas de março foram cancelados quatro espetáculos nacionais. Cada um ao valor de R$ 700, afora os locais, em maior número.
Mas, depois da queda nem sempre vem o coice. Em meio ao turbilhão financeiro, o TAM e a cena teatral da cidade receberam semana passada uma injeção de ânimo com a aprovação do projeto Ribeira das Artes (acontece no átrio do teatro, aos domingos), do inédito projeto Teatro aos Domingos, com envolvimento de música e teatro a R$ 2 o ingresso, e também o Auxílio Montagem.
É a tal política de editais ingressando como a grande marca da Fundação José Gugu.
Espaço para música
Natal realmente carece de bons espaços destinados aos grandes espetáculos a céu aberto. E mesmo aos shows mais intimistas ou apresentações de artes cênicas bem produzidas também encontram dificuldades de espaço devido à pauta cheia do Teatro Alberto Maranhão e seus 600 assentos. A resposta dos dois leitores (mais abaixo) quando publiquei aqui os mega shows que virão a Natal nos próximos dois meses atestam isso. Os nomes nacionais do show business quando aportam na terrinha são logo jogados naquele clima pouco convidativo do Boulevard, no improvisado Machadinho ou na playbozada do Vila do Mar. O largo da Rua Chile parece cada vez mais distante, ainda assim, claro, não é casa de show. É uma falta grave para uma cidade carente de novidades.
Cris:
O CD "Inclassificáveis", de Ney Matogrosso, é maravilhoso, e os shows dele são grandes espetáculos (não tive ainda a oportunidade de ver ao vivo; apenas em DVD). Pena que será no Boulevard, um espaço absolutamente indigno para alguém como ele. Não tem acústica, não tem clima. E fica aquele povo comendo e bebendo, como se estivesse num barzinho. Da última vez em que estive lá jurei que só voltaria se o show fosse imperdível (e o de Ney, na minha opinião, é).
Falta em Natal um espaço legal para bons shows, um teatro de respeito.
Anyway, fiquei sabendo que o superbacana Lenine também virá, em 22 de maio, igualmente para o Boulevard.
Carlos Augusto:
Lulu Santos pode ficar em São Paulo que não faz a menor falta. O que faz falta é um local para shows de verdade. Aqui só temos de improviso.
Cris:
O CD "Inclassificáveis", de Ney Matogrosso, é maravilhoso, e os shows dele são grandes espetáculos (não tive ainda a oportunidade de ver ao vivo; apenas em DVD). Pena que será no Boulevard, um espaço absolutamente indigno para alguém como ele. Não tem acústica, não tem clima. E fica aquele povo comendo e bebendo, como se estivesse num barzinho. Da última vez em que estive lá jurei que só voltaria se o show fosse imperdível (e o de Ney, na minha opinião, é).
Falta em Natal um espaço legal para bons shows, um teatro de respeito.
Anyway, fiquei sabendo que o superbacana Lenine também virá, em 22 de maio, igualmente para o Boulevard.
Carlos Augusto:
Lulu Santos pode ficar em São Paulo que não faz a menor falta. O que faz falta é um local para shows de verdade. Aqui só temos de improviso.
Mistério no 6 e Meia
A jornalista Adriana Amorim me repassa este e-mail do documentarista Paulo Laguardia:
Prezados(as),
esse emeio da eleika (que, aliás, nem conheço), refere-se a uma carta minha enviada ao jornal de hoje, denunciando a existência de um "mistério", no TAM, pois, ao tentar comprar ingresso para o xou da joana, semana passada, era sempre informado que os ingressos não haviam chegado. Quando chegaram e fui comprá-los, estavam esgotados. Nesta semana, para o xou do jessier quirino, aconteceu algo semelhante: até às 16h da quarta passada, os ingressos não tinham chegado. Na quinta, às 14hs, quando fui adquirí-los, só existiam ingressos na última fila. Então, perguntei à funcionária da bilheteria: mas se já estão quase esgotados, cadê a procura, cadê a fila? (só estávamos lá, eu e um outro azarado). Será que só procuraram ingressos em nossa ausência? Pois, quando há grande procura, a toda hora que se vai comprar, há fila... Daí que uma funcionária gritou lá de dentro: "..eles chegam comprando de 20,
30 ingressos. E termino a carta, dando a palavra ao TAM e à FJA.
abs.
paulo
Do blogueiro: tapete vermelho estendido às explicações!
Prezados(as),
esse emeio da eleika (que, aliás, nem conheço), refere-se a uma carta minha enviada ao jornal de hoje, denunciando a existência de um "mistério", no TAM, pois, ao tentar comprar ingresso para o xou da joana, semana passada, era sempre informado que os ingressos não haviam chegado. Quando chegaram e fui comprá-los, estavam esgotados. Nesta semana, para o xou do jessier quirino, aconteceu algo semelhante: até às 16h da quarta passada, os ingressos não tinham chegado. Na quinta, às 14hs, quando fui adquirí-los, só existiam ingressos na última fila. Então, perguntei à funcionária da bilheteria: mas se já estão quase esgotados, cadê a procura, cadê a fila? (só estávamos lá, eu e um outro azarado). Será que só procuraram ingressos em nossa ausência? Pois, quando há grande procura, a toda hora que se vai comprar, há fila... Daí que uma funcionária gritou lá de dentro: "..eles chegam comprando de 20,
30 ingressos. E termino a carta, dando a palavra ao TAM e à FJA.
abs.
paulo
Do blogueiro: tapete vermelho estendido às explicações!
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Curta Petrobras esta semana
No período de 24 de abril a 15 de maio, uma nova programação do Curta Petrobras às Seis estará em cartaz no Cinearte Palace (Midway) com exibição diária e gratuita.
Cinefilia é o tema do programa que traz os curtas “Acossada”, de Karen Akerman e Karen Black; “Tarantino’s Mind”, de 300 ml; “Eisenstein”, de Leonardo Lacca, Raul Luna e Tião; “Satori Uso”, de Rodrigo Grota.
O Curta Petrobras às Seis teve início em 1999, em apenas uma sala em São Paulo. Hoje em sua sexta edição, o projeto tem exibições em Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Guarulhos, Juiz de Fora, Natal, Niterói, Porto Alegre, Recife, Campinas, Rio de Janeiro, Salvador, Santos, São Paulo e Vitória.
No primeiro trimestre da sexta edição (dezembro, janeiro e fevereiro), o público total foi de 19.264 espectadores, que assistiram gratuitamente os curtas-metragens brasileiros em cartaz nas diversas salas do projeto, numa iniciativa pioneira, que tem conquistado seu espaço no gosto do cinéfilo.
Cinefilia é o tema do programa que traz os curtas “Acossada”, de Karen Akerman e Karen Black; “Tarantino’s Mind”, de 300 ml; “Eisenstein”, de Leonardo Lacca, Raul Luna e Tião; “Satori Uso”, de Rodrigo Grota.
O Curta Petrobras às Seis teve início em 1999, em apenas uma sala em São Paulo. Hoje em sua sexta edição, o projeto tem exibições em Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Guarulhos, Juiz de Fora, Natal, Niterói, Porto Alegre, Recife, Campinas, Rio de Janeiro, Salvador, Santos, São Paulo e Vitória.
No primeiro trimestre da sexta edição (dezembro, janeiro e fevereiro), o público total foi de 19.264 espectadores, que assistiram gratuitamente os curtas-metragens brasileiros em cartaz nas diversas salas do projeto, numa iniciativa pioneira, que tem conquistado seu espaço no gosto do cinéfilo.
Carpe Diem poético
Assisti a dois filmes esta noite de temáticas semelhantes. Nada pensado. Muito pelo contrário. Queria mesmo eram estilos distintos. Por isso escolhi um clássico de Akira Kurosawa, Viver (1952), e outro de um diretor ainda desconhecido para mim, Julian Schnabel, O escafandro e a borboleta (2007).
Cada qual com seus méritos. São dois excelentes filmes cuja temática, no todo, retratam a importância de viver o hoje, como a manjada sociedade dos poetas. É raro um filme hoje exibir uma mensagem final de alguma originalidade. Melhor roubar velhas fórmulas, mesmo literárias, e aproveitá-las de forma poética ou inteligente.
Foi o que vi nestas duas obras-primas (arrisco a opinião). Filmes que emocionam. Até me veio à mente elaborar uma lista com os dez personagens mais tristes do cinema. De certo colocaria o chefe de sessão, da obra de Kurosawa, mesmo com aquele desfecho.
Acho que seria um exercício bacana enumerar estes dez protagonistas. Seria também desvendar um pouco da alma humana. Citaria também o carinha de Cinema Paradiso, por exemplo, consumido pela nostalgia doída. Ou ainda o músico de Morte em Veneza, corroído pela paixão platônica. Ainda o tetraplégico de Mar Adentro, condenado pela inutilidade do corpo - situação semelhante ao jornalista de O escafandro e a borboleta. São muitos...
Enfim, amanhã começa nova correria. Vou procurar algum carpe diem poético nas paisagens do caos.
Até!
Cada qual com seus méritos. São dois excelentes filmes cuja temática, no todo, retratam a importância de viver o hoje, como a manjada sociedade dos poetas. É raro um filme hoje exibir uma mensagem final de alguma originalidade. Melhor roubar velhas fórmulas, mesmo literárias, e aproveitá-las de forma poética ou inteligente.
Foi o que vi nestas duas obras-primas (arrisco a opinião). Filmes que emocionam. Até me veio à mente elaborar uma lista com os dez personagens mais tristes do cinema. De certo colocaria o chefe de sessão, da obra de Kurosawa, mesmo com aquele desfecho.
Acho que seria um exercício bacana enumerar estes dez protagonistas. Seria também desvendar um pouco da alma humana. Citaria também o carinha de Cinema Paradiso, por exemplo, consumido pela nostalgia doída. Ou ainda o músico de Morte em Veneza, corroído pela paixão platônica. Ainda o tetraplégico de Mar Adentro, condenado pela inutilidade do corpo - situação semelhante ao jornalista de O escafandro e a borboleta. São muitos...
Enfim, amanhã começa nova correria. Vou procurar algum carpe diem poético nas paisagens do caos.
Até!
domingo, 19 de abril de 2009
Natal - meca da música
Esta grande comunidade de muros baixos será a Meca dos mega shows musicais nos próximos dois meses. Nada menos que Caetano Veloso (30 de maio, ainda sem local), Lulu Santos (12 de junho, no Machadinho), Nei Matogrosso (8 de maio, no Boulevard) e Roberto Carlos (4 de junho, no Machadinho), sem falar das próximas atrações meia-boca do Projeto Seis e Meia, mais as do Festival MPBeco, e da vinda do menos badalado George Israel, excelente compositor e saxofonista da banda Kid Abelha (será em 7 de maio, no Aprecie Pub). Haja grana.
sábado, 18 de abril de 2009
De bar em bar
Roteiro etílico primeiríssima elaborado pelo professor João da Mata no blog de Tácito (que está pautando este blogueiro sem tempo, ultimamente). Se o leitor souber de mais algum vamos engordar a lista. Faltaram uns bons no Beco da Lama, o Bar do Ricardo, na Ulisses Caldas. Não sei se o "Gavião" aí é o Pé do Gavião, na Redinha. Segue:
- Bar do Rei - preferido de João da Rua e Tetê
- Negona - uma das melhores cozinhas ( Ponta Negra). Jairo vai adorar
- Cervantes
- PotyBar - sexta tem samba
- Jonnie
- Bino's Bar
- Cobra-choca- O melhor chambaril de natal
- Terraço (antigo Assim-Assado) Bons churrascos e pão de alho
- Farol Bar -Bom Visual
- Espetaria do Bezerra
- Pernambuco no Canto do Mangue
- Confeitaria Atheneu
- Sol e lua
- Bar do Gil
- MPBar - Alecrim
- Gavião
- Mercado da Redinha
- Bar do Gegê (Pça Augusto Leite)
- Bar do Coelho - p/ quem gosta de cantar
- Cervejaria Continental (dos Pobres)
- Seis em Ponto
Recado: Dorian, devo e não nego, pago quando puder (leia-se, quando tiver oportunidade. E terei!).
Até
- Bar do Rei - preferido de João da Rua e Tetê
- Negona - uma das melhores cozinhas ( Ponta Negra). Jairo vai adorar
- Cervantes
- PotyBar - sexta tem samba
- Jonnie
- Bino's Bar
- Cobra-choca- O melhor chambaril de natal
- Terraço (antigo Assim-Assado) Bons churrascos e pão de alho
- Farol Bar -Bom Visual
- Espetaria do Bezerra
- Pernambuco no Canto do Mangue
- Confeitaria Atheneu
- Sol e lua
- Bar do Gil
- MPBar - Alecrim
- Gavião
- Mercado da Redinha
- Bar do Gegê (Pça Augusto Leite)
- Bar do Coelho - p/ quem gosta de cantar
- Cervejaria Continental (dos Pobres)
- Seis em Ponto
Recado: Dorian, devo e não nego, pago quando puder (leia-se, quando tiver oportunidade. E terei!).
Até
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Cineclube de Lívio e Babal
Escutei por cima o Cd produzido em parceria entre Lívio Oliveira e Babal: o Cineclube. A primeira impressão foi boa. As letras escritas por Lívio são excepcionais. A melodia faz jus à maioria. E os arranjos puxam para um jazz que remete mesmo aos clássicos do cinema e seus grandes mestres – temáticas do álbum.
Achei engraçada a canção 12, Quem há de acreditar em você, em homenagem a Almodóvar e Carlos Sutra, pelo fato que parece composição de Babal. Ficou a cara dele. Gostei particularmente de Chinatown (para Jack Nicholson e Faye Dunaway). E não pela minha predileção ao trabalho de Luciane Antunes, que saiu do seu estilo, inclusive.
Perdão é sensacional. A música rende loas ao mestre Nélson Rodrigues e repete a sarcástica ironia do crítico dos idiotas da objetividade. Genial a tirada de Lívio. Enfim, o tempo urge e quero assistir No tempo das diligências ainda hoje. A sensação do Cd é de ouvir/assistir a Cinema Paradiso e dar de cara com a história poética do cinema.
Escrevo mais depois.
Achei engraçada a canção 12, Quem há de acreditar em você, em homenagem a Almodóvar e Carlos Sutra, pelo fato que parece composição de Babal. Ficou a cara dele. Gostei particularmente de Chinatown (para Jack Nicholson e Faye Dunaway). E não pela minha predileção ao trabalho de Luciane Antunes, que saiu do seu estilo, inclusive.
Perdão é sensacional. A música rende loas ao mestre Nélson Rodrigues e repete a sarcástica ironia do crítico dos idiotas da objetividade. Genial a tirada de Lívio. Enfim, o tempo urge e quero assistir No tempo das diligências ainda hoje. A sensação do Cd é de ouvir/assistir a Cinema Paradiso e dar de cara com a história poética do cinema.
Escrevo mais depois.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
De Gullar, Suassuna, poesia e que tais
Essa entrevista foi realizada em março de 2008. No Substantivo Plural de Tácito - olha ele de novo aí! (rs) - tem se travado discussão a respeito da obra do poeta Ferreira Gullar. Lembrei dessa matéria e da opinião desse crítico literário, que o acha medíocre. Segue o papo:
Por Sérgio Vilar
O crítico literário e poeta Frederico Barbosa é meio avesso a poemas alegres. Talvez guarde aquela essência do ofício: a de ser tristíssimo e olhar as cenas da esquina com alguma melancolia. Quem lê sua obra,percebe a descrença do poeta quanto ao caminhar do mundo. Por vezes parecem versos de cronista,daqueles observadores atentos às superficialidades do cotidiano.Mas tudo é muito condensado,embora também use das asas libertárias da poesia moderna.É um poeta de vanguarda. Recebeu dois prêmios Jabuti.Muito de sua obra foi traduzida e publicada em coletâneas de diversos países.
Frederico Barbosa,47,é pernambucano até os seis anos.Mudou-se para São Paulo em seguida. Sua obra tem olhar paulista. É pós-graduado em Literatura Brasileira pela USP.Foi crítico literário do Jornal da Tarde e Folha de São Paulo, redator da revista Help! - Literatura, publicada pelo jornal O Estado de São Paulo. Tem cinco livros de poemas escritos e é radicalmente contra o ‘‘fascismo’’ de Ariano Suassuna ou da poesia ‘‘medíocre’’ de Ferreira Gullar. Atualmente é diretor da Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. É um espaço antagônico à ideologia niilista do poeta.Na Casa das Rosas, respira-se poesia. Não perfumada pela descrença.Mas pela ânsia de mudança de paradigma.
A Casa das Rosas é o único espaço no país dedicado apenas à poesia, segundo o poeta. Foi inaugurada em 2004, sem funcionários.Hoje conta com 16 e uma vida intelectual rica.Está lá todo o acervo da biblioteca de Haroldo de Campos. São 20 mil livros. É também um lugar de resistência contra a realidade caótica do mundo.Está localizada no centro de São Paulo, na Avenida Paulista ainda dominada por Bancos e pelo cheiro do capital financeiro. Para a entrevista, o poeta levou alguns trabalhos realizados na Casas das Rosas.Eram artes visuais inspiradas em alguma obra literária. O repórter comentou do silogismo com o Poema Processo. Frederico respondeu que não era exatamente, já que a formação do Poema Processo é literária. Foi quando a entrevista começou...
O Poti - Além do Poema Processo, o que mais você conhece de poesia ou literatura produzida em Natal?
Frederico Barbosa - A produção de Natal tinha de ser mais conhecida no resto do Brasil. Na minha opinião, Natal tem um dos maiores poetas visuais do mundo: o Avelino Araújo, completamente desconhecido. Talvez seja mais valorizado fora do Brasil. Conheço aquele movimento de vanguarda da década de 60, o pessoal está todo aí, né? Vi umas fotos. Moacir... Fizeram um movimento importante, mas que talvez no resto do Brasil também não se conheça.
A poesia contemporânea é mais contemplativa. Você aborda mais questões sociais...
Sem dúvida. Mas defendo que a poesia, para ser boa, precisa de forma. Dentro disso pode-se ir à vários lados. Para o parnasiano, por exemplo, vira uma coisa contemplativa. Gosto de escrever sobre coisas que importam às pessoas. Minha poesia, sobretudo após a década de 90, procura dialogar com a cultura atual. Gosto de Samuel Becker, mas também de John Lennon ou da cultura pop. Falo dos problemas de hoje sem a coisa panfletária. Aquela coisa ‘‘viva a revolução’’. Como escrever a questão da chuva em São Paulo ou o preconceito que se tem contra o rock in roll.
Quando você foge da ‘‘coisa panfletária’’se torna vanguardista já que a geração atual está cansada de lutar? Sua poesia é também muito cheia de descrença.
Escrever é uma forma de organizar o caos. A vida é tão caótica; seu interior é tão caótico; a linguagem é tão caótica. Se ouvíssemos a mente alheia não entenderíamos nada. A mente é uma confusão. Nos comunicamos através da linguagem. E a poesia é a forma mais interessante de tradução. Pode-se condensar determinados sentimentos e transformar todo o caos em poesia.
É um pensamento meio niilista...
(risos) Totalmente. Minha poesia é e eu sou niilista. Fiz um livro sobre a depressão. Chama-se Louco no oco sem beira - anatomia da depressão. Muita gente leu e sentiu-se bem porque se identificou com os escritos. A pessoa vê que não está só naquela depressão.
Para ser niilista é preciso abandonar ideologias.Mas no abandono se constrói ideologia...
Escrevi um poema chamado Sem crer. As pessoas associam à poesia de Augusto de Campos, intitulado Não. ‘‘Ainda não é poesia...’’ Ele fala isso. E a origem do meu poema tem como origem a canção de John Lennon - God. O refrão diz que ele não acredita em um monte de coisa e no final diz que só acredita nele e em Yoko. No meu eu digo que não acredito nem em mim. Outra descrença minha é na ausência de ideologia. Ela está em tudo. O que podemos falar hoje é dos fracassos de projetos ideologicamente carregados, seja na ala esquerda ou direita.
Qual sua ideologia que deu certo?
O livro que escrevi com Antônio Resério - Brasilbraseiro - tem como fundamento discutir a história, os problemas do Brasil hoje e ficou um livro extremamente pesado. Por outro lado é um livro de poesia que vendeu mais de 18 mil exemplares. Foi um absurdo. É praticamente impossível acontecer isso hoje no Brasil. Embora um livro pessimista, a gente conseguiu pensar num Brasil de arte, de poesia, que vive. E através disso organizar um Brasil mais saudável e interessante.
Como o trabalho realizado na Casa das Rosas?
É uma casa sempre cheia de gente curtindo poesia, saraus. Isso me deixa otimista. Quando comecei a escrever poesia, há quase 30 anos, não se tinha lugar para se apresentar. Há saraus lotados na periferia de São Paulo, e um dos casarões mais bonitos da Avenida Paulista é dedicado à poesia. Acho que essa valorização da arte e da cultura tem ocorrido no Brasil inteiro. Não adianta um país rico se for inculto
Schopenhauer falava que só através da arte se consegue fugir da prisão das vontades...
Exatamente. É engraçado. A Avenida Paulista foi originalmente do poder econômico agrícola. Depois dos industriais; dos Mattarazo e outros. Em seguida, dos Bancos. Não deixou de ser dos Bancos, mas está se transformando na avenida da cultura. Em cada quarteirão há um centro cultural, como a Casa das Rosas.
Qual sua avaliação da poesia produzida hoje no Brasil?
Muita coisa bacana está sendo construída. Editei uma antologia de poesia chamada Na virada do século, em 2002. Está na segunda edição. São 46 poetas. Daria para fazer outra com pelo menos mais 100. Ficaram de fora por desconhecimento ou incompetência minha. É difícil conhecer tudo de poesia num país como o Brasil. Aqui em Natal não conheço. Só os caras da década de 60. Uma das intenções de minha vinda é para conhecer. Numa oficina na Paraíba conheci vários, gente que produz poesias fantásticas.
A internet ajudou nisso?
Antigamente tinha de ter grana pra publicar. Hoje, não. Em São Paulo publiquei um livro de uma menina de Arcoverde, em Pernambuco. Descobri seus poemas na internet. Ela foi uma das finalistas do Portugal Telecom e ganhou certa notoriedade como poeta.
A poesia ainda é o patinho feio das editoras?
Existe o círculo vicioso: não publicam porque não vende. E não vende porque não publicam.
Quais bons nomes da poesia contemporânea?
Assim você me coloca contra a parede. É difícil falar bons nomes, simplesmente. Mas há linhas interessantes. Uma poesia mais minimalista e contida tem uma poeta cearense radicada em São Paulo, uma médica chamada Mirna Teixeira. Uma linha que poderíamos chamar de neobarroca, de menos contenção e mais prolixidade, mas com muito trabalho na linguagem, temos o poeta Cláudio Daniel. Uma linha mais pop, com referências ao rock, o poeta Ademir Assunção. Uma poesia mais semiótica, em mistura com dança, música, tem o mineiro Ricardo Aleixo. E temos os mais velhos, aquele que considero o maior poeta vivo do mundo: Augusto de Campos.
Iria perguntar qual a preferência entre Augusto de Campos e Ferreira Gullar.Os acho meio antagônicos.
Ferreira Gullar é medíocre. Não há nada de interessante em sua obra. Geralmente as pessoas me xingam por isso. Ninguém conseguiu me mostrar porque ele é bom. Tenho uma pilha de livros dele. Se eu gostasse seria mais feliz. Não consigo gostar de um cara conservador e que critica o rock.
Em seguida os nomes seriam entre os pernambucanos Ariano Suassuna e Jomar Muniz de Brito.Mas você respondeu indiretamente.
Jomar Muniz de Brito é um gênio. Ariano Suassuna prefiro nem comentar para evitar palavrão. Ele é um ideólogo do fascismo.
Jomar participou do Encontro Natalense de Escritores e é realmente fantástico.
Como nordestino exilado não entendo como o Nordeste não dá o devido valor a Jomar. É dos maiores gênios que temos. Tem a capacidade de conhecer bem a tradição e mesclar com tudo. Ao contrário da ideologia fascista do Ariano. Não vejo a menor diferença entre a teoria dele e Mussolini. E Mussolini era idolatrado pelos italianos e até por brasileiros. Têm textos do Portinari com afirmação de que o Brasil precisava de Mussolini. Isso porque ele valorizava bastante a arte de sua terra. Só faltava dizer que era armorial. O Ariano é fascinante. Mas as pessoas se deixam levar pelo charme de Ariano e engolem as bobagens que ele fala. Igual ao Mussolini.
Em entrevista que fiz com Ariano perguntei da opinião dele sobre os Beatles, pra provocar.Ele ficou uma fera.
(risos) Você falou, foi? Que legal. Escrevi um poema publicado em revista do Recife, intitulado Rua da Moeda - tapa na cara dos velhacos (a Rua da Moeda, em Recife, é considerada um antro do rock). É um poema que falo do Gullar e do Ariano, da posição deles contra o rock ou daquilo que considero um dos movimentos culturais mais importantes que o Brasil já teve que foi a antropofagia do Oswald de Andrade. O Brasil é antropofagia total. Sempre foi. O Antônio Risério dizia que as duas coisas mais típicas da Bahia são importadas: o coco e o negro. Tudo aqui é importado. Nossa riqueza vem da miscigenação. Não dá pra fugir disso.
Você mistura poesia concreta, recursos de semântica e semiótica em sua obra e ao mesmo tempo é uma poesia contemporânea. Qual o segredo?
A poesia de Augusto e Haroldo de Campos, e do Décio (Pignatari) também são fundamentais na minha formação. Eles tinham de receber o Nobel. Eles foram autores da maior revolução na literatura do mundo. Foi a única vez que o Brasil conseguiu isso. Sempre viemos a reboque, mesmo com o Modernismo do Mário e do Oswald (de Andrade). Muita gente lê minha poesia e classifica como concreta. Não é. Não deixa de apresentar alguns recursos; é uma poesia de palavras discursivas, mas com tendência à concisão e um certo rigor que aprendi com a poesia concreta. Admiro esse rigor, mas também a graça, a espontaneidade, o humor de certos poetas da literatura e poesia marginal. O ideal é unir o rigor da poesia concreta, a inventividade da poesia marginal e a criticidade da poesia engajada. Não precisam ser, necessariamente, separadas.
A poesia de Edgar Alan Poe olhava muito para o interior dele.A de Drummond também é muito autoral.A impressão passada a partir de sua poesia é a de um observador passivo e revoltado com o cotidiano.Sua inspiração parte daí?
Não acredito em inspiração. Uma vez falei isso em sala de aula e uma aluna, inteligente e sarcástica – que, aliás, são sinônimos - me falou: ‘‘É porque você nunca teve’’. Talvez seja isso. Mas eu acredito em trabalho. Poema não sai, poema se faz. O que sai é no banheiro. Inspiração podem ser momentos de condensação de determinadas idéias. Meu processo é lento. Vejo uma coisa, fico imaginando escrever sobre ela. Só que às vezes demoro muito pra escrever. Sou desorganizado ou teria uma obra muito maior. Vou dar um exemplo: quando chove em São Paulo, as ruas entopem de carros. É impressionante. Achei legal essa visão. Fiquei com essa imagem uns 15 anos, até escrever o poema Quando chove.
Tem outra história dessa?
Outra que escrevi foi... Acho que o momento mais depressivo da vida é o domingo à noite. Quando eu me suicidar será nesse horário e dia. Escrevi um poema curtinho: ‘‘Fim de domingo / Ao som da TV / A vida pelo ralo / Desperdício de ser’’. São quatro versos que demorou um tempão pra escrever.
Clarice Lispector dizia que tinha medo de escrever porque era mexer com o desconhecido.E que pra escrever ela se colocava num vazio.
A Clarice mentia muito. Até a própria idade. Eu adoro Clarice. É das maiores escritoras que o mundo teve. Mas na hora que você escreve tem de apresentar muito do que você tem dentro de si. Você citou o Poe. Ele falava muito nisso. Dizia que quem não sabe escrever o que sente, não sabe direito o que sente. O problema é que somos uma massa meio amorfa..
Por Sérgio Vilar
O crítico literário e poeta Frederico Barbosa é meio avesso a poemas alegres. Talvez guarde aquela essência do ofício: a de ser tristíssimo e olhar as cenas da esquina com alguma melancolia. Quem lê sua obra,percebe a descrença do poeta quanto ao caminhar do mundo. Por vezes parecem versos de cronista,daqueles observadores atentos às superficialidades do cotidiano.Mas tudo é muito condensado,embora também use das asas libertárias da poesia moderna.É um poeta de vanguarda. Recebeu dois prêmios Jabuti.Muito de sua obra foi traduzida e publicada em coletâneas de diversos países.
Frederico Barbosa,47,é pernambucano até os seis anos.Mudou-se para São Paulo em seguida. Sua obra tem olhar paulista. É pós-graduado em Literatura Brasileira pela USP.Foi crítico literário do Jornal da Tarde e Folha de São Paulo, redator da revista Help! - Literatura, publicada pelo jornal O Estado de São Paulo. Tem cinco livros de poemas escritos e é radicalmente contra o ‘‘fascismo’’ de Ariano Suassuna ou da poesia ‘‘medíocre’’ de Ferreira Gullar. Atualmente é diretor da Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. É um espaço antagônico à ideologia niilista do poeta.Na Casa das Rosas, respira-se poesia. Não perfumada pela descrença.Mas pela ânsia de mudança de paradigma.
A Casa das Rosas é o único espaço no país dedicado apenas à poesia, segundo o poeta. Foi inaugurada em 2004, sem funcionários.Hoje conta com 16 e uma vida intelectual rica.Está lá todo o acervo da biblioteca de Haroldo de Campos. São 20 mil livros. É também um lugar de resistência contra a realidade caótica do mundo.Está localizada no centro de São Paulo, na Avenida Paulista ainda dominada por Bancos e pelo cheiro do capital financeiro. Para a entrevista, o poeta levou alguns trabalhos realizados na Casas das Rosas.Eram artes visuais inspiradas em alguma obra literária. O repórter comentou do silogismo com o Poema Processo. Frederico respondeu que não era exatamente, já que a formação do Poema Processo é literária. Foi quando a entrevista começou...
O Poti - Além do Poema Processo, o que mais você conhece de poesia ou literatura produzida em Natal?
Frederico Barbosa - A produção de Natal tinha de ser mais conhecida no resto do Brasil. Na minha opinião, Natal tem um dos maiores poetas visuais do mundo: o Avelino Araújo, completamente desconhecido. Talvez seja mais valorizado fora do Brasil. Conheço aquele movimento de vanguarda da década de 60, o pessoal está todo aí, né? Vi umas fotos. Moacir... Fizeram um movimento importante, mas que talvez no resto do Brasil também não se conheça.
A poesia contemporânea é mais contemplativa. Você aborda mais questões sociais...
Sem dúvida. Mas defendo que a poesia, para ser boa, precisa de forma. Dentro disso pode-se ir à vários lados. Para o parnasiano, por exemplo, vira uma coisa contemplativa. Gosto de escrever sobre coisas que importam às pessoas. Minha poesia, sobretudo após a década de 90, procura dialogar com a cultura atual. Gosto de Samuel Becker, mas também de John Lennon ou da cultura pop. Falo dos problemas de hoje sem a coisa panfletária. Aquela coisa ‘‘viva a revolução’’. Como escrever a questão da chuva em São Paulo ou o preconceito que se tem contra o rock in roll.
Quando você foge da ‘‘coisa panfletária’’se torna vanguardista já que a geração atual está cansada de lutar? Sua poesia é também muito cheia de descrença.
Escrever é uma forma de organizar o caos. A vida é tão caótica; seu interior é tão caótico; a linguagem é tão caótica. Se ouvíssemos a mente alheia não entenderíamos nada. A mente é uma confusão. Nos comunicamos através da linguagem. E a poesia é a forma mais interessante de tradução. Pode-se condensar determinados sentimentos e transformar todo o caos em poesia.
É um pensamento meio niilista...
(risos) Totalmente. Minha poesia é e eu sou niilista. Fiz um livro sobre a depressão. Chama-se Louco no oco sem beira - anatomia da depressão. Muita gente leu e sentiu-se bem porque se identificou com os escritos. A pessoa vê que não está só naquela depressão.
Para ser niilista é preciso abandonar ideologias.Mas no abandono se constrói ideologia...
Escrevi um poema chamado Sem crer. As pessoas associam à poesia de Augusto de Campos, intitulado Não. ‘‘Ainda não é poesia...’’ Ele fala isso. E a origem do meu poema tem como origem a canção de John Lennon - God. O refrão diz que ele não acredita em um monte de coisa e no final diz que só acredita nele e em Yoko. No meu eu digo que não acredito nem em mim. Outra descrença minha é na ausência de ideologia. Ela está em tudo. O que podemos falar hoje é dos fracassos de projetos ideologicamente carregados, seja na ala esquerda ou direita.
Qual sua ideologia que deu certo?
O livro que escrevi com Antônio Resério - Brasilbraseiro - tem como fundamento discutir a história, os problemas do Brasil hoje e ficou um livro extremamente pesado. Por outro lado é um livro de poesia que vendeu mais de 18 mil exemplares. Foi um absurdo. É praticamente impossível acontecer isso hoje no Brasil. Embora um livro pessimista, a gente conseguiu pensar num Brasil de arte, de poesia, que vive. E através disso organizar um Brasil mais saudável e interessante.
Como o trabalho realizado na Casa das Rosas?
É uma casa sempre cheia de gente curtindo poesia, saraus. Isso me deixa otimista. Quando comecei a escrever poesia, há quase 30 anos, não se tinha lugar para se apresentar. Há saraus lotados na periferia de São Paulo, e um dos casarões mais bonitos da Avenida Paulista é dedicado à poesia. Acho que essa valorização da arte e da cultura tem ocorrido no Brasil inteiro. Não adianta um país rico se for inculto
Schopenhauer falava que só através da arte se consegue fugir da prisão das vontades...
Exatamente. É engraçado. A Avenida Paulista foi originalmente do poder econômico agrícola. Depois dos industriais; dos Mattarazo e outros. Em seguida, dos Bancos. Não deixou de ser dos Bancos, mas está se transformando na avenida da cultura. Em cada quarteirão há um centro cultural, como a Casa das Rosas.
Qual sua avaliação da poesia produzida hoje no Brasil?
Muita coisa bacana está sendo construída. Editei uma antologia de poesia chamada Na virada do século, em 2002. Está na segunda edição. São 46 poetas. Daria para fazer outra com pelo menos mais 100. Ficaram de fora por desconhecimento ou incompetência minha. É difícil conhecer tudo de poesia num país como o Brasil. Aqui em Natal não conheço. Só os caras da década de 60. Uma das intenções de minha vinda é para conhecer. Numa oficina na Paraíba conheci vários, gente que produz poesias fantásticas.
A internet ajudou nisso?
Antigamente tinha de ter grana pra publicar. Hoje, não. Em São Paulo publiquei um livro de uma menina de Arcoverde, em Pernambuco. Descobri seus poemas na internet. Ela foi uma das finalistas do Portugal Telecom e ganhou certa notoriedade como poeta.
A poesia ainda é o patinho feio das editoras?
Existe o círculo vicioso: não publicam porque não vende. E não vende porque não publicam.
Quais bons nomes da poesia contemporânea?
Assim você me coloca contra a parede. É difícil falar bons nomes, simplesmente. Mas há linhas interessantes. Uma poesia mais minimalista e contida tem uma poeta cearense radicada em São Paulo, uma médica chamada Mirna Teixeira. Uma linha que poderíamos chamar de neobarroca, de menos contenção e mais prolixidade, mas com muito trabalho na linguagem, temos o poeta Cláudio Daniel. Uma linha mais pop, com referências ao rock, o poeta Ademir Assunção. Uma poesia mais semiótica, em mistura com dança, música, tem o mineiro Ricardo Aleixo. E temos os mais velhos, aquele que considero o maior poeta vivo do mundo: Augusto de Campos.
Iria perguntar qual a preferência entre Augusto de Campos e Ferreira Gullar.Os acho meio antagônicos.
Ferreira Gullar é medíocre. Não há nada de interessante em sua obra. Geralmente as pessoas me xingam por isso. Ninguém conseguiu me mostrar porque ele é bom. Tenho uma pilha de livros dele. Se eu gostasse seria mais feliz. Não consigo gostar de um cara conservador e que critica o rock.
Em seguida os nomes seriam entre os pernambucanos Ariano Suassuna e Jomar Muniz de Brito.Mas você respondeu indiretamente.
Jomar Muniz de Brito é um gênio. Ariano Suassuna prefiro nem comentar para evitar palavrão. Ele é um ideólogo do fascismo.
Jomar participou do Encontro Natalense de Escritores e é realmente fantástico.
Como nordestino exilado não entendo como o Nordeste não dá o devido valor a Jomar. É dos maiores gênios que temos. Tem a capacidade de conhecer bem a tradição e mesclar com tudo. Ao contrário da ideologia fascista do Ariano. Não vejo a menor diferença entre a teoria dele e Mussolini. E Mussolini era idolatrado pelos italianos e até por brasileiros. Têm textos do Portinari com afirmação de que o Brasil precisava de Mussolini. Isso porque ele valorizava bastante a arte de sua terra. Só faltava dizer que era armorial. O Ariano é fascinante. Mas as pessoas se deixam levar pelo charme de Ariano e engolem as bobagens que ele fala. Igual ao Mussolini.
Em entrevista que fiz com Ariano perguntei da opinião dele sobre os Beatles, pra provocar.Ele ficou uma fera.
(risos) Você falou, foi? Que legal. Escrevi um poema publicado em revista do Recife, intitulado Rua da Moeda - tapa na cara dos velhacos (a Rua da Moeda, em Recife, é considerada um antro do rock). É um poema que falo do Gullar e do Ariano, da posição deles contra o rock ou daquilo que considero um dos movimentos culturais mais importantes que o Brasil já teve que foi a antropofagia do Oswald de Andrade. O Brasil é antropofagia total. Sempre foi. O Antônio Risério dizia que as duas coisas mais típicas da Bahia são importadas: o coco e o negro. Tudo aqui é importado. Nossa riqueza vem da miscigenação. Não dá pra fugir disso.
Você mistura poesia concreta, recursos de semântica e semiótica em sua obra e ao mesmo tempo é uma poesia contemporânea. Qual o segredo?
A poesia de Augusto e Haroldo de Campos, e do Décio (Pignatari) também são fundamentais na minha formação. Eles tinham de receber o Nobel. Eles foram autores da maior revolução na literatura do mundo. Foi a única vez que o Brasil conseguiu isso. Sempre viemos a reboque, mesmo com o Modernismo do Mário e do Oswald (de Andrade). Muita gente lê minha poesia e classifica como concreta. Não é. Não deixa de apresentar alguns recursos; é uma poesia de palavras discursivas, mas com tendência à concisão e um certo rigor que aprendi com a poesia concreta. Admiro esse rigor, mas também a graça, a espontaneidade, o humor de certos poetas da literatura e poesia marginal. O ideal é unir o rigor da poesia concreta, a inventividade da poesia marginal e a criticidade da poesia engajada. Não precisam ser, necessariamente, separadas.
A poesia de Edgar Alan Poe olhava muito para o interior dele.A de Drummond também é muito autoral.A impressão passada a partir de sua poesia é a de um observador passivo e revoltado com o cotidiano.Sua inspiração parte daí?
Não acredito em inspiração. Uma vez falei isso em sala de aula e uma aluna, inteligente e sarcástica – que, aliás, são sinônimos - me falou: ‘‘É porque você nunca teve’’. Talvez seja isso. Mas eu acredito em trabalho. Poema não sai, poema se faz. O que sai é no banheiro. Inspiração podem ser momentos de condensação de determinadas idéias. Meu processo é lento. Vejo uma coisa, fico imaginando escrever sobre ela. Só que às vezes demoro muito pra escrever. Sou desorganizado ou teria uma obra muito maior. Vou dar um exemplo: quando chove em São Paulo, as ruas entopem de carros. É impressionante. Achei legal essa visão. Fiquei com essa imagem uns 15 anos, até escrever o poema Quando chove.
Tem outra história dessa?
Outra que escrevi foi... Acho que o momento mais depressivo da vida é o domingo à noite. Quando eu me suicidar será nesse horário e dia. Escrevi um poema curtinho: ‘‘Fim de domingo / Ao som da TV / A vida pelo ralo / Desperdício de ser’’. São quatro versos que demorou um tempão pra escrever.
Clarice Lispector dizia que tinha medo de escrever porque era mexer com o desconhecido.E que pra escrever ela se colocava num vazio.
A Clarice mentia muito. Até a própria idade. Eu adoro Clarice. É das maiores escritoras que o mundo teve. Mas na hora que você escreve tem de apresentar muito do que você tem dentro de si. Você citou o Poe. Ele falava muito nisso. Dizia que quem não sabe escrever o que sente, não sabe direito o que sente. O problema é que somos uma massa meio amorfa..
Cinema brasileiro
Não tive disposição para assistir ao resultado divulgado ontem à noite do Grande Prêmio Brasil, uma espécie de Oscar do cinema brasileiro. Li agora no Subtantivo Plural, de Tácito. Achei que Linha de Passe, de Walter Salles merecia pelo menos uma das oito indicações. Concordo com Tácito de que Vicky Cristina Barcelona estava aquém de uma premiação de melhor filme estrangeiro, apesar de ter sido o melhor dos quatro filmes de Woody Allen que assisti. Infelizmente não vi Estômago, do diretor Marcos Jorge. Foi ele o grande vencedor do dia, com melhor filme, direção, roteiro original, ator coadjuvante e escolha popular. Fiquei mais curioso. Mas achei excelente o filme Ensaio Sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles e achei muito pouco os prêmios menores de maquiagem, direção de arte, fotografia e efeitos visuais.
terça-feira, 14 de abril de 2009
De jornais populares, impressos e internet
O programa televisivo Observatório da Imprensa trava agora (23h15) discussão muito bacana acerca da proliferação dos jornais populares no Brasil. Os argumentos usados por editores e diretores de redação dos principais expoentes deste estilo de jornal me parecem bastante convincentes e provocam reflexões a respeito de como o jornalismo produzido pelos grandes conglomerados midiáticos tem sido jogado no mercado.
Embora não tenham chegado a este ponto ainda, é fácil vislumbrar as razões para este crescimento: preços baixos das edições, notícias populares como futebol, polícia e celebridades predominantes e linguagem mais acessível. A priori o pensamento é o estigma do sensacionalismo, sempre embutido neste tipo do fazer jornalismo. E se pergunta: onde estão as notícias de economia, e política, e as matérias mais trabalhadas?
Diferentemente do pensamento comum, estes jornais já se desvencilharam do sensacionalismo e produzem hoje o jornalismo cidadão. Abordam assuntos de interesse geral, principalmente das classes C e D. Alie-se a isso a formação de novos leitores. E como frisou o diretor do sexagenário jornal O Dia, quando se denuncia o problema de buracos nas ruas e isto se torna tema de audiência pública na Câmara isso não é notícia política?
Infelizmente a notícia política vinculada ao dever do jornalismo em prestar serviço ao cidadão vista hoje nos grandes jornais é especular sobre quem a borboleta Micarla pretende votar para o senado. Ou quem serão os candidatos a governador para 2010. As matérias de economia se resumem a sete ou oito fontes.
Claro, os jornais populares parecem o foco resistente na luta contra a migração massiva de leitores à internet. E esse ponto para mim é fundamental na discussão. Defendo piamente a permanência da fidelidade ao jornal impresso. A internet tem seu público. O jornal popular, idem. E eles se complementam. As notícias exibidas pela internet e jornais populares carecem de aprofundamento, em maioria. E isso leva ao nivelamento baixo do fazer jornalístico.
Entrevistei hoje uma figura conhecida na cidade entre intelectuais e ele me disse que os jovens até buscam notícias na internet, mas depois de cinco minutos procuram pornografia; que os livros encontrados na internet cansam mais o que já é cansativo para muitos. Ou seja: essa migração é perigosa, nociva. A internet deve funcionar como meio democrático de contestação e entretenimento. O jornal popular, como serviço ao cidadão, principalmente das classes mais baixas. E o jornalismo impresso carece de moralização.
Sem querer defender meu peixe, mas o Diário de Natal tem passado por uma reformulação visível de conteúdo nas últimas semanas. As manchetes são claramente de apelo popular. Isso porque o jornal aboliu matérias pagas de governo ou coberturas daninhas, digamos, de políticagens de resultados futuros ou inexistentes. O jornal optou por histórias populares, problemas e soluções de interesse geral. Isso sem cair no popularesco ou mesmo no popular, posto que as coberturas culturais, econômicas e o preço do jornal permanecem.
Torço mesmo para o bem do jornalismo impresso e pelo diálogo intelegente, moralizador e democrático entre as mídias. E acho ainda que já perdi o resto do programa.
Embora não tenham chegado a este ponto ainda, é fácil vislumbrar as razões para este crescimento: preços baixos das edições, notícias populares como futebol, polícia e celebridades predominantes e linguagem mais acessível. A priori o pensamento é o estigma do sensacionalismo, sempre embutido neste tipo do fazer jornalismo. E se pergunta: onde estão as notícias de economia, e política, e as matérias mais trabalhadas?
Diferentemente do pensamento comum, estes jornais já se desvencilharam do sensacionalismo e produzem hoje o jornalismo cidadão. Abordam assuntos de interesse geral, principalmente das classes C e D. Alie-se a isso a formação de novos leitores. E como frisou o diretor do sexagenário jornal O Dia, quando se denuncia o problema de buracos nas ruas e isto se torna tema de audiência pública na Câmara isso não é notícia política?
Infelizmente a notícia política vinculada ao dever do jornalismo em prestar serviço ao cidadão vista hoje nos grandes jornais é especular sobre quem a borboleta Micarla pretende votar para o senado. Ou quem serão os candidatos a governador para 2010. As matérias de economia se resumem a sete ou oito fontes.
Claro, os jornais populares parecem o foco resistente na luta contra a migração massiva de leitores à internet. E esse ponto para mim é fundamental na discussão. Defendo piamente a permanência da fidelidade ao jornal impresso. A internet tem seu público. O jornal popular, idem. E eles se complementam. As notícias exibidas pela internet e jornais populares carecem de aprofundamento, em maioria. E isso leva ao nivelamento baixo do fazer jornalístico.
Entrevistei hoje uma figura conhecida na cidade entre intelectuais e ele me disse que os jovens até buscam notícias na internet, mas depois de cinco minutos procuram pornografia; que os livros encontrados na internet cansam mais o que já é cansativo para muitos. Ou seja: essa migração é perigosa, nociva. A internet deve funcionar como meio democrático de contestação e entretenimento. O jornal popular, como serviço ao cidadão, principalmente das classes mais baixas. E o jornalismo impresso carece de moralização.
Sem querer defender meu peixe, mas o Diário de Natal tem passado por uma reformulação visível de conteúdo nas últimas semanas. As manchetes são claramente de apelo popular. Isso porque o jornal aboliu matérias pagas de governo ou coberturas daninhas, digamos, de políticagens de resultados futuros ou inexistentes. O jornal optou por histórias populares, problemas e soluções de interesse geral. Isso sem cair no popularesco ou mesmo no popular, posto que as coberturas culturais, econômicas e o preço do jornal permanecem.
Torço mesmo para o bem do jornalismo impresso e pelo diálogo intelegente, moralizador e democrático entre as mídias. E acho ainda que já perdi o resto do programa.
Carne de segunda
Sem tempo nem dinheiro sequer para comprar poemas de Helmut escritos em guardanapos, deixo o leitor com este texto produzido para figurar na então coluna que havia herdado no Poti, quando substituiria o grande Osair. Extinto o espaço, estas mal escritas ficaram boiando aqui no computador. Volto mais tarde com novidades.
Tem texto pronto? Escuto esta pergunta há dez anos. A resposta afirmativa ensejava um escrito banal publicado neste mesmo espaço. O diferencial confortava minha timidez: apenas meu e-mail. Agora, olho para o “amigo leitor”. Olhar cansado; cabelo mal definido mesmo sob photoshop. Pior: nome destacado na abertura para substituir dos maiores da ralada profissão. Não bastasse, a página requer talento literário. Mesmo a crônica confiada às migalhas de tudo; um resto de banquete literário, como escreveu Rubem Braga. É dele a metáfora perfeita do cronista, em texto intitulado O padeiro.
O padeiro deixava o pão diariamente na residência de Rubem Braga. E gritava ao bater à porta: “Não é ninguém, é o padeiro!”. Aprendera de ouvido, quando alguém de dentro da casa perguntava quem era e a empregada ou outro qualquer respondia: “Ninguém, é o padeiro”. O cronista aproveitou o fato e metaforizou a figura do pão quentinho com o jornal, deixados cedinho na porta de cada lar – produtos feitos por... ninguém.
O cronista e o padeiro são mesmo uns ninguéns. Em breve esta página estará jogada no chão, no lixo ou protegendo a parede pro pintor. Ora, o pão e a crônica são retratos puros da banalidade cotidiana. Podem ser consumidos acompanhados do cafezinho, deitado à rede, no escritório... Em qualquer canto e hora. Mas reparem bem: o pão é pouco saboreado tamanho o costume do dia-a-dia. É assim com a crônica. Se o cafezinho está amargo ou a rotina pede pressa, logo o pãozinho é renegado; o jornal é posto de lado.
Outro papa da crônica, Luís Fernando Veríssimo diz que o cronista é como galinha: bota seu ovo regularmente. E talvez o cronista seja mesmo um galinha. Não por sair por aí pegando qualquer fato de esquina para jogar no jornal e chamar de seu. Definitivamente, não. O cronista é mesmo esta galinha descrita por Veríssimo, que põe seus textos na obrigação regular de preencher espaços de jornal – velho ofício egoísta do monólogo do eu afirmo e ninguém contesta.
Digo mais: cronista de província é mero repasse de causos da esquina, dos papos de boteco. Se o osso do ofício manda se ater às atualidades sem extinguir o saudosismo do passado, o provinciano metido a escrivinhador há de se prender às fofocas da janela; ao caminhar apressado do rapaz na calçada, com os pés apontando dez pras duas; ou à solidão das mulheres divorciadas. Se tudo cabe na poesia, a crônica consegue abocanhar, também, o universo poético. Daí tamanha generalidade. Por isso os assuntos sempre leves. E o registro fulgural dos fatos banais.
E esta talvez sejam as razões de seus autores serem sempre meros escritores de jornal, fadados à redoma da província e ao reconhecimento de dois ou três leitores da mesma rua de acontecências. É que a crônica é o filho pobre; o samba da literatura. Mora no barraco e assiste debaixo a rotina dos nobres literatos em suas coberturas de luxo. E o cronista é esta carne de açougue de vísceras cotidianas expostas, aberta ao consumo alheio. E há os que, sem melhor alternativa, ainda prefira, para um bom cozido de banalidades, a carne de segunda.
Tem texto pronto? Escuto esta pergunta há dez anos. A resposta afirmativa ensejava um escrito banal publicado neste mesmo espaço. O diferencial confortava minha timidez: apenas meu e-mail. Agora, olho para o “amigo leitor”. Olhar cansado; cabelo mal definido mesmo sob photoshop. Pior: nome destacado na abertura para substituir dos maiores da ralada profissão. Não bastasse, a página requer talento literário. Mesmo a crônica confiada às migalhas de tudo; um resto de banquete literário, como escreveu Rubem Braga. É dele a metáfora perfeita do cronista, em texto intitulado O padeiro.
O padeiro deixava o pão diariamente na residência de Rubem Braga. E gritava ao bater à porta: “Não é ninguém, é o padeiro!”. Aprendera de ouvido, quando alguém de dentro da casa perguntava quem era e a empregada ou outro qualquer respondia: “Ninguém, é o padeiro”. O cronista aproveitou o fato e metaforizou a figura do pão quentinho com o jornal, deixados cedinho na porta de cada lar – produtos feitos por... ninguém.
O cronista e o padeiro são mesmo uns ninguéns. Em breve esta página estará jogada no chão, no lixo ou protegendo a parede pro pintor. Ora, o pão e a crônica são retratos puros da banalidade cotidiana. Podem ser consumidos acompanhados do cafezinho, deitado à rede, no escritório... Em qualquer canto e hora. Mas reparem bem: o pão é pouco saboreado tamanho o costume do dia-a-dia. É assim com a crônica. Se o cafezinho está amargo ou a rotina pede pressa, logo o pãozinho é renegado; o jornal é posto de lado.
Outro papa da crônica, Luís Fernando Veríssimo diz que o cronista é como galinha: bota seu ovo regularmente. E talvez o cronista seja mesmo um galinha. Não por sair por aí pegando qualquer fato de esquina para jogar no jornal e chamar de seu. Definitivamente, não. O cronista é mesmo esta galinha descrita por Veríssimo, que põe seus textos na obrigação regular de preencher espaços de jornal – velho ofício egoísta do monólogo do eu afirmo e ninguém contesta.
Digo mais: cronista de província é mero repasse de causos da esquina, dos papos de boteco. Se o osso do ofício manda se ater às atualidades sem extinguir o saudosismo do passado, o provinciano metido a escrivinhador há de se prender às fofocas da janela; ao caminhar apressado do rapaz na calçada, com os pés apontando dez pras duas; ou à solidão das mulheres divorciadas. Se tudo cabe na poesia, a crônica consegue abocanhar, também, o universo poético. Daí tamanha generalidade. Por isso os assuntos sempre leves. E o registro fulgural dos fatos banais.
E esta talvez sejam as razões de seus autores serem sempre meros escritores de jornal, fadados à redoma da província e ao reconhecimento de dois ou três leitores da mesma rua de acontecências. É que a crônica é o filho pobre; o samba da literatura. Mora no barraco e assiste debaixo a rotina dos nobres literatos em suas coberturas de luxo. E o cronista é esta carne de açougue de vísceras cotidianas expostas, aberta ao consumo alheio. E há os que, sem melhor alternativa, ainda prefira, para um bom cozido de banalidades, a carne de segunda.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Renúncia fiscal aos artistas
A renúncia fiscal à lei de incentivo à cultura Câmara Cascudo, anunciada semana passada pela governadora Wilma de Faria pareceu aquela espera pela divulgação do novo reajuste na taxa de juros pelo Banco Central. Vieram os mesmos R$ 4 milhões dos últimos sete anos. À época, início da lei, produtores desconheciam o conteúdo legislativo, empresas desconfiavam do benefício e artistas permaneciam desamparados. Resumo: o dinheiro sobrava. O tempo passa e a poupança Bamerindus da Fundação José Gugu continua com o mesmo valor e teor, claramente ultrapassados.
Talvez o maior beneficiado nestes quase dez anos de implantação da lei, o produtor Jomardo Jomas – idealizador do Mada – estima que o valor ideal da renúncia fiscal hoje seria de R$ 8 milhões, desde que acompanhasse mudanças na lei, como criação de novas taxas de desconto de ICMS conforme o tamanho da empresa. Seria uma forma de incentivo às empresas de pequeno e médio porte participarem da cultura potiguar. Da forma como está, quem se “atreve” a patrocinar a cultura são as grandes empresas cujos 2% de desconto do ICMS significam recursos vultosos e compensatórios ao patrocínio.
O que tem ocorrido nos últimos anos é a concentração de 80% dos R$ 4 milhões para cinco ou seis projetos. Só o Mada e o Circo da Luz abocanham juntos quase R$ 1 milhão. Isso porque são projetos grandes, de forte apelo midiático e retorno publicitário – exatamente o que as empresas querem. Ou qual a vantagem para uma empresa como a Cosern patrocinar a reedição de um grande livro? Com isso, projetos menores e de importância cultural e social imprescindíveis ficam sequer com a cereja do bolo. Alguns recebem o pirulito por alguns anos e, quando menos espera, o garoto malvado toma o doce da criança porque ela, em tenra idade, já deveria ter aprendido a fazer seu próprio pirulito.
Esse semestre a Lei CC segue para a Assembléia Legislativa para discutir mudanças. É a vez dos diletos edis terem a humildade de ouvir a única voz capaz de discernir sobre o assunto naquela casa: Fernando Mineiro. Suas novas propostas, inclusive, estão no site pessoal, como também as modificações pertinentes à Lei Rouanet (federal), que bem poderiam ter efeito cascata por aqui. Seria uma solução para diminuir a dependência dos artistas à iniciativa privada e democratizar mais a distribuição dos recursos. E como seria isso? Por meio do que já se tem cobrado há muito: um fundo de cultura, que tanto no âmbito municipal quanto estadual sequer saíram do ovo. Talvez, só para a próxima páscoa.
Talvez o maior beneficiado nestes quase dez anos de implantação da lei, o produtor Jomardo Jomas – idealizador do Mada – estima que o valor ideal da renúncia fiscal hoje seria de R$ 8 milhões, desde que acompanhasse mudanças na lei, como criação de novas taxas de desconto de ICMS conforme o tamanho da empresa. Seria uma forma de incentivo às empresas de pequeno e médio porte participarem da cultura potiguar. Da forma como está, quem se “atreve” a patrocinar a cultura são as grandes empresas cujos 2% de desconto do ICMS significam recursos vultosos e compensatórios ao patrocínio.
O que tem ocorrido nos últimos anos é a concentração de 80% dos R$ 4 milhões para cinco ou seis projetos. Só o Mada e o Circo da Luz abocanham juntos quase R$ 1 milhão. Isso porque são projetos grandes, de forte apelo midiático e retorno publicitário – exatamente o que as empresas querem. Ou qual a vantagem para uma empresa como a Cosern patrocinar a reedição de um grande livro? Com isso, projetos menores e de importância cultural e social imprescindíveis ficam sequer com a cereja do bolo. Alguns recebem o pirulito por alguns anos e, quando menos espera, o garoto malvado toma o doce da criança porque ela, em tenra idade, já deveria ter aprendido a fazer seu próprio pirulito.
Esse semestre a Lei CC segue para a Assembléia Legislativa para discutir mudanças. É a vez dos diletos edis terem a humildade de ouvir a única voz capaz de discernir sobre o assunto naquela casa: Fernando Mineiro. Suas novas propostas, inclusive, estão no site pessoal, como também as modificações pertinentes à Lei Rouanet (federal), que bem poderiam ter efeito cascata por aqui. Seria uma solução para diminuir a dependência dos artistas à iniciativa privada e democratizar mais a distribuição dos recursos. E como seria isso? Por meio do que já se tem cobrado há muito: um fundo de cultura, que tanto no âmbito municipal quanto estadual sequer saíram do ovo. Talvez, só para a próxima páscoa.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Renúncia municipal sai este mês com R$ 3 mi
Segundo a Funcarte, a renúncia fiscal concedida pela prefeitura de Natal por meio da Lei municipal de incentivo à cultura Djalma Maranhão sai ainda este mês com leve aumento de R$ 2,9 milhões do ano passado para pouco mais de R$ 3 milhões este ano. A responsável pelos projetos da Lei, Scila Gabel, explicou que a demora se deve à adequação da Lei à Lei de Responsabilidade Fiscal e consequente análise a aprovação pela Câmara Municipal de Natal. Ou seja: acredito que as coisas caminhem mais rápidas, agora que as duas leis - ainda carentes de aperfeiçoamentos - foram ou serão decretadas.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
R$ 4 mi para a cultura do RN
A governadora Wilma de Faria assinou faz alguns minutos o decreto que estabelece teto de R$ 4 milhões ao ano de renúncia fiscal à Lei Câmara Cascudo de incentivo à cultura local. A medida será publicada amanhã 9) no Diário Oficial do Estado (DOE). É desnecessário ressaltar a importância e generosidade do valor e da assinatura, tampouco o que o Governo do Estado tem procurado fazer pela cultura local e não tem conseguido. Motivos? Vejam a foto mais abaixo, tirada durante a mesma reunião de alguns minutos. Talvez seja fadiga.
Enfim, para quem desconhece, a Lei Câmara Cascudo de incentivo à cultura é uma lei estadual que, através da renúncia de ICMS, busca estimular a cultura local. Nos últimos seis anos (2003-2008), o Governo do Estado financiou projetos culturais – através da Lei – que somam investimentos de mais de R$ 27,2 milhões. Do total destes recursos, R$ 21,9 milhões foram de renúncia fiscal (recursos do Governo) e o restante (R$ 5.2 milhões) das empresas privadas capitalizadas pelos projetos culturais.
Nesses seis anos, foram beneficiados 411 projetos culturais nas mais diversas manifestações. Os projetos são selecionados por uma comissão responsável pela análise de cada uma das propostas apresentadas, como a IV Feira do Livro de Mossoró, o projeto Artes da Vila, o Festival de Música do Beco da Lama (MPBeco), o Circo da Luz, entre outros. Somente em 2008, o Governo do Estado financiou quase R$ 1 milhão em projetos, por intermédio da Lei. Somente o Mada papou redondos R$ 100 mil do Governo. Mas não vamos discutir isso agora para não fazer barulho. Zzzzzz
Enfim, para quem desconhece, a Lei Câmara Cascudo de incentivo à cultura é uma lei estadual que, através da renúncia de ICMS, busca estimular a cultura local. Nos últimos seis anos (2003-2008), o Governo do Estado financiou projetos culturais – através da Lei – que somam investimentos de mais de R$ 27,2 milhões. Do total destes recursos, R$ 21,9 milhões foram de renúncia fiscal (recursos do Governo) e o restante (R$ 5.2 milhões) das empresas privadas capitalizadas pelos projetos culturais.
Nesses seis anos, foram beneficiados 411 projetos culturais nas mais diversas manifestações. Os projetos são selecionados por uma comissão responsável pela análise de cada uma das propostas apresentadas, como a IV Feira do Livro de Mossoró, o projeto Artes da Vila, o Festival de Música do Beco da Lama (MPBeco), o Circo da Luz, entre outros. Somente em 2008, o Governo do Estado financiou quase R$ 1 milhão em projetos, por intermédio da Lei. Somente o Mada papou redondos R$ 100 mil do Governo. Mas não vamos discutir isso agora para não fazer barulho. Zzzzzz
Um pilão potiguar
Quem escuta a música de Dudé Viana identifica a nordestinidade impregnada em cada melodia tocada. Não pelas parcerias musicais com o folclorista Deífilo Gurgel ou a poeta Zila Mamede. Dudé carrega mesmo é a voz do interior potiguar, misturada ao violão tocado com simplicidade e acompanhado de causos de vida sofrida quando precisou pedir esmola no Rio de Janeiro e dormir várias noites no aeroporto de Salvador até gravar suas primeiras músicas. Depois de quase 40 anos na batalha vieram cinco Cds e o reconhecimento prestado hoje pelo projeto Poticanto – um canto 100% potiguar, quando o violonista e também compositor, Zeca Brasil, interpretará os sucessos de Dudé Viana no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel.
Dudé tem viajado diversas capitais com seu Papo Show – Isso só Acontece Comigo! O título é auto-explicativo. A apresentação é uma mescla de contação de histórias tragicômicas e músicas – muitas inspiradas nas próprias acontecências da vida deste caraubense nascido em sítio, na localidade de Poço Redondo. Como o engano policial que o prendeu por dois anos na penitenciária João Chaves, quando o culpado verdadeiro por um dos assaltos mais populares da história do Rio Grande, Dedé (e não Dudé), também da família Carneiro, foi morto em tiroteio com a polícia. No show, Dudé conta e canta essas histórias como se tomasse café na sala junto aos amigos. O conceito da apresentação surgiu após apresentação do cantor em Brasília, a pedido de jornalistas.
Algumas histórias passam batido no show sempre intimista pela própria suavidade de voz de Dudé, como o primeiro instrumento do futuro compositor. As influências musicais não vieram do pai vaqueiro ou da mãe dona-de-casa. Foi o avô João Francisco Viana, cantador e repentista, quem incentivou Dudé a construir seu primeiro violão, feito com tiras de camas de ar, presas a uma ripa pregada a uma lata de goiabada. Aos dez anos, o menino Dudé iniciava seus primeiros acordes musicais em uma gaita. Da melodia de Luís Gonzaga saíram as primeiras entoadas e as primeiras histórias contadas no show, quando se aproveitava de gaiteiro para conquistar a primeira namorada, os “amassos” por trás do cemitério, deitados por sob os estrumes da vaga...
Dudé deixa o sertão potiguar em 1969, aos 19 anos, para tentar carreira musical na capital. Em 1972 já principiava o que viria a ser o show de amanhã, quando se apresentava no programa infanto-juvenil Bom Dia Natal, transmitido ao vivo e aos domingos pela antiga Rádio Trairi (hoje CBN). Durante oito meses Dudé apresentou música e humor no programa cujo âncora era Doscagíbio dos Santos. Em 1974, se muda de vez para o Rio de Janeiro, após tentativas frustradas. Funda o grupo Galho Seco, em 1978 para apresentações na capital carioca e adjacências até 1982. Nesse intere, lança seu primeiro disco: Seca no Sertão, em 1980. Hoje, o compositor se divide artisticamente entre o Rio Grande do Norte, São Paulo e Rio de Janeiro.
O show de hoje resgata histórias antigas, de quando Dudé abrigava em atenção e apoio o amigo Zeca Brasil no Rio de Janeiro. Tempos difíceis que fez criar uma admiração mútua. Em 1997, Zeca gravava Olhos de Cristal, de Dudé, em seu primeiro Cd, intitulado Identidade. “Tenho todos os Cds de Dudé em casa. Gosto da simplicidade, do som de sua música. Foi essa afinidade que me ajudou a escolher Dudé para ser homenageado”, afirma o amigo Zeca Brasil, também já homenageado pelo Poticanto na voz de Lene Macedo e dono de vasto repertório de excelentes canções.
Papo e música ao vivo
No dia do show, Dudé Viana também vai vender seu 5º trabalho musical: Papo Show, Isso só Acontece Comigo!, gravado ao vivo em várias cidades brasileiras. O Cd também leva algumas das histórias contadas por Dudé nos shows. Mais do que isso: apresenta poesia de Deífilo Gurgel (O Pilão Sertanejo) e Zila Mamede (A Ponte) musicadas. A parceria com Aucides Sales na canção Cantófa e Jandi rende história potiguar de índios tapuias, o personagem João do Pega e dos dois protagonistas homônimos à composição – é uma história de fé comovente; quase a história de um mártir.
O Cd conta com a participação do grupo de forró pé-de-serra potiguar Meirinhos do Forró, na música Felicidade Aqui Tem Nome. E nada como um forró rasteiro na voz meio tímida, matuta de Dudé junto à sanfona dos Meirinhos. A composição – parceria com Gilvana Benevides – traz ainda a voz sempre bem posta, grave de Cláudio Freire, e canta costumes do sertão tão conhecido por Dudé. A experiente sanfona do parente Caçula Benevides, reconhecido no Oeste potiguar, também integra o Cd, na música Festa na Casa dos Carneiro.
Em As Rédeas Do Vaqueiro, Dudé e Tião Maia traçam um perfil de indumentárias, costumes e hábitos desta figura tão presente no sertão setentrional nordestino. Cascudo é sempre inspiração e serviu de luz para a composição Outdoor de Cultura Popular. Quando Dudé canta Olhe Pra Mim, entre agudos contidos pela voz tímida, meio fanha e nordestina, provoca a platéia a olhar para ele e para a própria alma. Em Ah! Se eu Fosse Um Poeta, homenagem à Sociedade dos Poetas Vivos e Afins e também o desabafo frustrado de quem já desejou mesmo participar do fazer poético.
O show termina com música de Roberto Homem, dedicada a Dudé quando esteve preso por engano, emendada com Canto de Liberdade, de mesma temática triste e emocionante, cuja última frase sintetiza a vida do cantor: “Depois do bem da vida, o bem maior é a liberdade”.
Zeca Brasil: cidadão potiguar
Apesar do sobrenome artístico, Zeca é potiguar. Nem que seja de coração. Perguntado se é maranhense, responde enfático: “Era! Até ganhei cidadania potiguar ao ser homenageado no Poticanto por Lene Macedo”. De fato Zeca Brasil nasceu no Maranhão e adotou Natal há 25 anos. Veio de família de pescadores, superou as adversidades de quem desenhava as cordas do violão no próprio braço para praticar seus primeiros acordes. Zeca é dono de estilo particular, embora carregue aquele ecletismo dos cantores da noite. São temas instrumentais, baladas, reggaes, blues, bossas e baiões que revelam a aptidão natural e facilidade em cantar e tocar.
Zeca também tem seu forte na composição. Com a canção Caminhos do Prazer, na voz da forrozeira Eliane, ganhou o Brasil. E na voz de Zeca recebe tons mais nobres. Com Lene Cardoso, a composição Nordestinamente venceu o disputado concurso Forraço, em 2007. A participação em festivais e projetos musicais foi a tônica melódica da carreira musical de Zeca. Só de Seis e Meia foram quatro apresentações, sendo o último abrindo o show da dupla de gaúchos Kleiton e Kledir. Já são três Cds gravados e o próximo – Pra Não Dizer que Não Falei do Verso – será lançado nos próximos meses. O repertório recheado de canções finalistas de festivais e algumas de repercussão nacional fazem de Zeca Brasil dos grande compositores da música popular potiguar.
Poticanto – um canto 100% melhor
Um dos projetos mais originais em voga no Estado - o Poticanto - deve receber nos próximos dias o patrocínio de uma mega estatal brasileira, dentro dos benefícios da lei de incentivo Câmara Cascudo. Com isso, o produtor Nelson Rebouças disse que o projeto poderá concretizar o sonho de gravar em Cd e Dvd o maior acervo de música autoral local deste Rio Grande - um verdadeiro registro da música potiguar digno de elogio de Leide Câmara.
Mesmo para produtores musicais, o Poticanto: um canto 100% potiguar pareceu um projeto fadado ao fracasso, segundo afirma Nelson. Ora, sustentar durante anos edições quinzenais apenas com artistas da terra que possuam trabalho autoral considerável é algo quase inimaginável. Nelson Rebouças apostou na idéia e no talento potiguar e, após seis anos de trabalho, continua com bom número de pessoas no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel. Na última edição, cerca de 120 pessoas compareceram para ver Romildo Soares interpretando Geraldo Carvalho.
E para quem pensa que as opções estão se esgotando, Nelson afirma que já tem pelo menos 52 compositores potiguares ainda na fila para serem homenageados e doze parelhas já agendadas para os próximos meses. O projeto oferece uma homenagem inédita e uma reedição a cada mês. Neste fim de abril, Amab interpreta Bartô Galeno na reedição do mês.
Para maio, Rodrigo Cruz homenageia a banda bluzeira Mad Dogs e a reedição traz de volta Valéria Oliveira – de regresso dos Esteites – para cantar Romildo Soares. Em junho, já agendada a homenagem de Lele Alves ao compositor Enock Domingos e a reedição com William Guedes interpretando a música de Franklin Mário.
Dudé tem viajado diversas capitais com seu Papo Show – Isso só Acontece Comigo! O título é auto-explicativo. A apresentação é uma mescla de contação de histórias tragicômicas e músicas – muitas inspiradas nas próprias acontecências da vida deste caraubense nascido em sítio, na localidade de Poço Redondo. Como o engano policial que o prendeu por dois anos na penitenciária João Chaves, quando o culpado verdadeiro por um dos assaltos mais populares da história do Rio Grande, Dedé (e não Dudé), também da família Carneiro, foi morto em tiroteio com a polícia. No show, Dudé conta e canta essas histórias como se tomasse café na sala junto aos amigos. O conceito da apresentação surgiu após apresentação do cantor em Brasília, a pedido de jornalistas.
Algumas histórias passam batido no show sempre intimista pela própria suavidade de voz de Dudé, como o primeiro instrumento do futuro compositor. As influências musicais não vieram do pai vaqueiro ou da mãe dona-de-casa. Foi o avô João Francisco Viana, cantador e repentista, quem incentivou Dudé a construir seu primeiro violão, feito com tiras de camas de ar, presas a uma ripa pregada a uma lata de goiabada. Aos dez anos, o menino Dudé iniciava seus primeiros acordes musicais em uma gaita. Da melodia de Luís Gonzaga saíram as primeiras entoadas e as primeiras histórias contadas no show, quando se aproveitava de gaiteiro para conquistar a primeira namorada, os “amassos” por trás do cemitério, deitados por sob os estrumes da vaga...
Dudé deixa o sertão potiguar em 1969, aos 19 anos, para tentar carreira musical na capital. Em 1972 já principiava o que viria a ser o show de amanhã, quando se apresentava no programa infanto-juvenil Bom Dia Natal, transmitido ao vivo e aos domingos pela antiga Rádio Trairi (hoje CBN). Durante oito meses Dudé apresentou música e humor no programa cujo âncora era Doscagíbio dos Santos. Em 1974, se muda de vez para o Rio de Janeiro, após tentativas frustradas. Funda o grupo Galho Seco, em 1978 para apresentações na capital carioca e adjacências até 1982. Nesse intere, lança seu primeiro disco: Seca no Sertão, em 1980. Hoje, o compositor se divide artisticamente entre o Rio Grande do Norte, São Paulo e Rio de Janeiro.
O show de hoje resgata histórias antigas, de quando Dudé abrigava em atenção e apoio o amigo Zeca Brasil no Rio de Janeiro. Tempos difíceis que fez criar uma admiração mútua. Em 1997, Zeca gravava Olhos de Cristal, de Dudé, em seu primeiro Cd, intitulado Identidade. “Tenho todos os Cds de Dudé em casa. Gosto da simplicidade, do som de sua música. Foi essa afinidade que me ajudou a escolher Dudé para ser homenageado”, afirma o amigo Zeca Brasil, também já homenageado pelo Poticanto na voz de Lene Macedo e dono de vasto repertório de excelentes canções.
Papo e música ao vivo
No dia do show, Dudé Viana também vai vender seu 5º trabalho musical: Papo Show, Isso só Acontece Comigo!, gravado ao vivo em várias cidades brasileiras. O Cd também leva algumas das histórias contadas por Dudé nos shows. Mais do que isso: apresenta poesia de Deífilo Gurgel (O Pilão Sertanejo) e Zila Mamede (A Ponte) musicadas. A parceria com Aucides Sales na canção Cantófa e Jandi rende história potiguar de índios tapuias, o personagem João do Pega e dos dois protagonistas homônimos à composição – é uma história de fé comovente; quase a história de um mártir.
O Cd conta com a participação do grupo de forró pé-de-serra potiguar Meirinhos do Forró, na música Felicidade Aqui Tem Nome. E nada como um forró rasteiro na voz meio tímida, matuta de Dudé junto à sanfona dos Meirinhos. A composição – parceria com Gilvana Benevides – traz ainda a voz sempre bem posta, grave de Cláudio Freire, e canta costumes do sertão tão conhecido por Dudé. A experiente sanfona do parente Caçula Benevides, reconhecido no Oeste potiguar, também integra o Cd, na música Festa na Casa dos Carneiro.
Em As Rédeas Do Vaqueiro, Dudé e Tião Maia traçam um perfil de indumentárias, costumes e hábitos desta figura tão presente no sertão setentrional nordestino. Cascudo é sempre inspiração e serviu de luz para a composição Outdoor de Cultura Popular. Quando Dudé canta Olhe Pra Mim, entre agudos contidos pela voz tímida, meio fanha e nordestina, provoca a platéia a olhar para ele e para a própria alma. Em Ah! Se eu Fosse Um Poeta, homenagem à Sociedade dos Poetas Vivos e Afins e também o desabafo frustrado de quem já desejou mesmo participar do fazer poético.
O show termina com música de Roberto Homem, dedicada a Dudé quando esteve preso por engano, emendada com Canto de Liberdade, de mesma temática triste e emocionante, cuja última frase sintetiza a vida do cantor: “Depois do bem da vida, o bem maior é a liberdade”.
Zeca Brasil: cidadão potiguar
Apesar do sobrenome artístico, Zeca é potiguar. Nem que seja de coração. Perguntado se é maranhense, responde enfático: “Era! Até ganhei cidadania potiguar ao ser homenageado no Poticanto por Lene Macedo”. De fato Zeca Brasil nasceu no Maranhão e adotou Natal há 25 anos. Veio de família de pescadores, superou as adversidades de quem desenhava as cordas do violão no próprio braço para praticar seus primeiros acordes. Zeca é dono de estilo particular, embora carregue aquele ecletismo dos cantores da noite. São temas instrumentais, baladas, reggaes, blues, bossas e baiões que revelam a aptidão natural e facilidade em cantar e tocar.
Zeca também tem seu forte na composição. Com a canção Caminhos do Prazer, na voz da forrozeira Eliane, ganhou o Brasil. E na voz de Zeca recebe tons mais nobres. Com Lene Cardoso, a composição Nordestinamente venceu o disputado concurso Forraço, em 2007. A participação em festivais e projetos musicais foi a tônica melódica da carreira musical de Zeca. Só de Seis e Meia foram quatro apresentações, sendo o último abrindo o show da dupla de gaúchos Kleiton e Kledir. Já são três Cds gravados e o próximo – Pra Não Dizer que Não Falei do Verso – será lançado nos próximos meses. O repertório recheado de canções finalistas de festivais e algumas de repercussão nacional fazem de Zeca Brasil dos grande compositores da música popular potiguar.
Poticanto – um canto 100% melhor
Um dos projetos mais originais em voga no Estado - o Poticanto - deve receber nos próximos dias o patrocínio de uma mega estatal brasileira, dentro dos benefícios da lei de incentivo Câmara Cascudo. Com isso, o produtor Nelson Rebouças disse que o projeto poderá concretizar o sonho de gravar em Cd e Dvd o maior acervo de música autoral local deste Rio Grande - um verdadeiro registro da música potiguar digno de elogio de Leide Câmara.
Mesmo para produtores musicais, o Poticanto: um canto 100% potiguar pareceu um projeto fadado ao fracasso, segundo afirma Nelson. Ora, sustentar durante anos edições quinzenais apenas com artistas da terra que possuam trabalho autoral considerável é algo quase inimaginável. Nelson Rebouças apostou na idéia e no talento potiguar e, após seis anos de trabalho, continua com bom número de pessoas no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel. Na última edição, cerca de 120 pessoas compareceram para ver Romildo Soares interpretando Geraldo Carvalho.
E para quem pensa que as opções estão se esgotando, Nelson afirma que já tem pelo menos 52 compositores potiguares ainda na fila para serem homenageados e doze parelhas já agendadas para os próximos meses. O projeto oferece uma homenagem inédita e uma reedição a cada mês. Neste fim de abril, Amab interpreta Bartô Galeno na reedição do mês.
Para maio, Rodrigo Cruz homenageia a banda bluzeira Mad Dogs e a reedição traz de volta Valéria Oliveira – de regresso dos Esteites – para cantar Romildo Soares. Em junho, já agendada a homenagem de Lele Alves ao compositor Enock Domingos e a reedição com William Guedes interpretando a música de Franklin Mário.
terça-feira, 7 de abril de 2009
De Mário de Andrade e Chico Antônio
O encontro que marcou a história cultural potiguar poderia ser lembrado além destas mal traçadas linhas. Quando o pai da Semana de Arte Moderna pulou a muralha deste Rio Grande para documentar fatos e pessoas do Nordeste, ficou maravilhado com um embolador de cocos, morador do Engenho Bom Jardim, em Goianinha. As palavras de Mário Andrade, publicadas em revistas e jornais do país, para descrever Chico Antônio foram as seguintes: “Estou divinizado por uma das comoções mais formidáveis da minha vida”.
O local desse encontro inusitado, promovido pelo crítico de arte moderna Antônio Bento, permanece. O Engenho Bom Jardim é hoje herança do sobrinho-neto Amaro Lima. Funciona como sede do Instituto Cultural Antônio Bento, sem fins lucrativos e voltado à pesquisa da cultura popular potiguar. Há dez anos Amaro afirma tentar, junto ao poder público, fundar ali um memorial para preservar acervos de Antônio Bento, Mário de Andrade e Chico Antônio, hoje espalhados entre membros de família, historiadores e museus outros.
A Casa Grande do Engenho, que hospedou Mário de Andrade em 1928, é um conjunto arquitetônico raro, reconhecido por técnicos do Ministério da Cultura. Já é monumento tombado pelo Patrimônio Arquitetônico Estadual. Está hoje coberto por uma lona colocada pela Fundação José Gugu para a sonhada revitalização. Amaro ainda luta para viabilizar o projeto do memorial, e também de um teatro de arena onde um dia funcionaram os currais do Engenho, destinado à apresentação de grupos folclóricos.
Segundo Amaro, a deputada federal Fátima Bezerra já levou o projeto a Brasília, para inclusão de emenda como novo ponto turístico da região. Se aprovado, as obras no Engenho – com área de 2,5 mil hectares – começarão no segundo semestre deste ano. À espera de alguma resposta da capital federal, Amaro ainda não levou o projeto à apreciação da Lei de Incentivo Câmara Cascudo. “É difícil sensibilizar as autoridades para o fato”, reconhece.
Segundo Amaro, a idéia do projeto é conservar a arquitetura do Casarão – engenho, destinaria, casa onde morou seus pais, - e propor a instalação de memorial para abrigar acervos literários, correspondências raras e acervo fotográfico, sobretudo da estadia de Mário de Andrade na Casa, hoje de posse de primos que já se dispuseram à doação, e pertences de Chico Antônio, que morou na Fazenda antes de ganhar as estradas de Pedro Velho. “O Casarão receberia o nome de Antonio Bento; a arena se chamaria Chico Antônio; e faríamos ainda o Memorial de Arte Popular Mário de Andrade”, idealiza Amaro.
E só para lembrar, este ano marca 80 anos da estadia de Mário de Andrade neste Rio Grande. Seria uma boa oportunidade para homenagear não só o poeta modernista, mas também nosso embolador de cocos Chico Antônio, já que sequer a grafia do Word reconheça o que seja um embolador.
O local desse encontro inusitado, promovido pelo crítico de arte moderna Antônio Bento, permanece. O Engenho Bom Jardim é hoje herança do sobrinho-neto Amaro Lima. Funciona como sede do Instituto Cultural Antônio Bento, sem fins lucrativos e voltado à pesquisa da cultura popular potiguar. Há dez anos Amaro afirma tentar, junto ao poder público, fundar ali um memorial para preservar acervos de Antônio Bento, Mário de Andrade e Chico Antônio, hoje espalhados entre membros de família, historiadores e museus outros.
A Casa Grande do Engenho, que hospedou Mário de Andrade em 1928, é um conjunto arquitetônico raro, reconhecido por técnicos do Ministério da Cultura. Já é monumento tombado pelo Patrimônio Arquitetônico Estadual. Está hoje coberto por uma lona colocada pela Fundação José Gugu para a sonhada revitalização. Amaro ainda luta para viabilizar o projeto do memorial, e também de um teatro de arena onde um dia funcionaram os currais do Engenho, destinado à apresentação de grupos folclóricos.
Segundo Amaro, a deputada federal Fátima Bezerra já levou o projeto a Brasília, para inclusão de emenda como novo ponto turístico da região. Se aprovado, as obras no Engenho – com área de 2,5 mil hectares – começarão no segundo semestre deste ano. À espera de alguma resposta da capital federal, Amaro ainda não levou o projeto à apreciação da Lei de Incentivo Câmara Cascudo. “É difícil sensibilizar as autoridades para o fato”, reconhece.
Segundo Amaro, a idéia do projeto é conservar a arquitetura do Casarão – engenho, destinaria, casa onde morou seus pais, - e propor a instalação de memorial para abrigar acervos literários, correspondências raras e acervo fotográfico, sobretudo da estadia de Mário de Andrade na Casa, hoje de posse de primos que já se dispuseram à doação, e pertences de Chico Antônio, que morou na Fazenda antes de ganhar as estradas de Pedro Velho. “O Casarão receberia o nome de Antonio Bento; a arena se chamaria Chico Antônio; e faríamos ainda o Memorial de Arte Popular Mário de Andrade”, idealiza Amaro.
E só para lembrar, este ano marca 80 anos da estadia de Mário de Andrade neste Rio Grande. Seria uma boa oportunidade para homenagear não só o poeta modernista, mas também nosso embolador de cocos Chico Antônio, já que sequer a grafia do Word reconheça o que seja um embolador.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Dois pesos, duas medidas
Pergunta: porque o Idema e não a Fundação José Gugu é a responsável pelo patrocínio e coordenação do excelente projeto cultural Som da Mata? Só porque ocorre no Parque das Dunas? E porque precisou a Sethas intervir para acontecer a revitalização do Presépio de Natal? Só porque a secretaria propõe os incentivos fiscais e promove os programais sociais aos artesãos?
Agora, há que se louvar o esforço da FJ(g) na captação de recursos pela lei de incentivo Câmara Cascudo para o projeto Poticanto. Realmente é uma aposta do produtor Nelson Rebouças que a insitituição encampou e deu certo. E a gestão petista, não da FJ(g), mas do deputado Fernando Mineiro, tem lutado para por em voga ainda este semestre a Lei do Patrimônio Vivo.
Agora, há que se louvar o esforço da FJ(g) na captação de recursos pela lei de incentivo Câmara Cascudo para o projeto Poticanto. Realmente é uma aposta do produtor Nelson Rebouças que a insitituição encampou e deu certo. E a gestão petista, não da FJ(g), mas do deputado Fernando Mineiro, tem lutado para por em voga ainda este semestre a Lei do Patrimônio Vivo.
domingo, 5 de abril de 2009
Memórias do MPBeco 2008
Vagando à deriva pela net encontrei esse texto que fiz ano passado pósMPBeco, que está de inscrições abertas até 30 deste mês e previsão de festival para maio. Já conversei com pelos menos três fortes concorrentes, todos com apostas seguras de suas músicas. A disputa vai ser boa. Os interessados deverão retirar o Regulamento do Festival, bem como sua Ficha de Inscrição nos pontos de inscrição determinados pela Produção do Festival. Em Natal, as inscrições poderão ser realizadas nos seguintes locais:
Disco Fitas – Rua Princesa Isabel, n. 700 – Cidade Alta;
Natal Groove – Rua Floriano Peixoto, n. 567 – Petrópolis;
Sebo Balalaika – Rua Vigário Bartolomeu, n. 565 – Cidade Alta.
Disco Fitas – Rua Princesa Isabel, n. 700 – Cidade Alta;
Natal Groove – Rua Floriano Peixoto, n. 567 – Petrópolis;
Sebo Balalaika – Rua Vigário Bartolomeu, n. 565 – Cidade Alta.
"Cai a tarde e a solidão. A Cidade Alta é mais centro: é movimento. O arrebol abocanha o Potengi e transpira o início da festa. A praça já é do povo. Quase hippies. Natal é refundada em música, sob o manto de Cascudo e do índio Poti. A Natal de um deus mar que vive para o sol é também canibal. Tem fome de roque. A MPB marginal, regional encontra ecos no beco. Suga o elixir das tribos de intelectuais, músicos, jornalistas e da gente livre. E espalha o perfume pronto à alma dedicada à música.
Mirabeaux é mais Mirabô do que nunca. Um potiguar de mote diferente, de tropicália jerimum. De alma branca. Das cores dos mares daqui. Amacia o palco e a populaça. O antro é libertário. Estão presos ali a diversidade e a voz coletiva. A criança brinca na escada da pinacoteca. O rapaz de juba amarrada paquera a moça tatuada. Próximo à fila para a cerveja, Carlão grava as cenas com o olhar apurado. Romildo toma uma cerveja. Abimael ingere várias. Moisés de Lima passeia nervoso entre canibais. Petistas reunidos. Alexandro Gurgel registra tudo pelas lentes do beco.
-
Na sopa do palco, o frevo come o hip hop. O carimbó janta o frevo. A MPB morde o carimbó. O regionalismo devora a MPB. E o rock natalense, meio grogs, lambe com ironia o regionalismo engasgado. Vencidos, vencedores. Todos saíram vitoriosos. Músicos e platéia, donos da palavra e da cicuta. São os votantes da democracia alheia. Os donos da praça, de coroa na mão. Por algumas noites foram felizes. Natal em festa, em festival. A música homenageada. A cultura aplaudida pela contra-cultura.
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Orquestra Boca Seca já é entoada seca. É o fim dos sábados no Centro de histórias. A dispersão encontra ruelas e serpenteia becos a procura das heranças de Cascudo. O palco cuspiu toda a poesia, que encontrou o lodo e caiu na vala. A música sepulcral do Potengi já se escuta. Começo, meio e fim da MBP do Beco Natal. A noite sem memórias há de esquecer estes dias. E Dessa Casa quero Lembranças. Do Caos. Dos Insanos. E a praça... A praça abraça o tédio e a loucura dos indigentes. Guarda no sótão da memória dias de euforia e dorme de novo o silêncio pacato dos dias comuns."
Dias modernos
Muito tempo sem leitura me deixa desnorteado; sem rumo. Os dias parecem mais confusos. Me falta alguém - os livros! - para me explicar alguns porquês. A necessidade do "ganha-pão" nos empurra contra o ócio necessário ao saber; à contemplação. Filmes hollywoodianos, Paulo Coelho e demais teorias de auto-ajuda trazem fórmulas fáceis de sucesso. Prefiro o realismo do cinema italiano ou das obras de Hemingway. Se O Velho e o Mar fosse filme americano, o sofrido Santiago havia de achar um tesouro escondido no mar. Prefiro a dureza da realidade, embora alimente também a ilusão necessária à vida. Por hora, 15 horas do dia completamente preenchidos de trabalho. É a necessidade, sem escapatória para "correr atrás do seu sonho". E meu sonho seria apenas mais tempo para leitura diária; para os livros empilhados na estante ainda virgens. Futuros amigos autores, talvez. Ora, somos solitários. Solicitei explicação para o conteúdo de um livro de Fitzgerald, e o escritor Fernando Monteiro foi certeiro em um pormenor: "Nascemos e morremos sós - essa é a verdade". Que seja na companhia do saber, então.
sábado, 4 de abril de 2009
Um Poticanto 100% melhor
Notícia boa: talvez o projeto cultural mais bacana em voga no Estado - o Poticanto - deve receber nos próximos dias o patrocínio de uma mega estatal brasileira, dentro dos benefícios da lei de incentivo Câmara Cascudo. Com isso, o produtor Nelson Rebouças disse que o projeto poderá concretizar o sonho de gravar em Cd e Dvd o maior acervo de música autoral local deste Rio Grande - um verdadeiro registro da música potiguar digno de elogio de Leide Câmara.
Para a próxima edição - faço questão de noticiar - o projeto apresenta dois artistas locais de talento ímpar: o exímio violonista Zeca Brasil, dono de uma voz suave, seresteira, homenageia nosso carnaubense Dudé Viana e sua simplicidade. Assisti show de Dudé no TCP. Ele conta histórias curiosíssimas de cada música, da sua vida de batalhas, sofrimentos (foi preso por engano durante três anos) e causos dignos de anedotário. Escutei o Cd de Dudé, também. Há música de poemas de Deífilo Gurgel, Zila Mamede e Cascudo, e outras músicas interessantes. Vale a pena.
Mesmo para produtores musicais, o Poticanto: um canto 100% potiguar pareceu um projeto fadado ao fracasso. Ora, sustentar durante anos edições quinzenais apenas com artistas da terra que possuam trabalho autoral considerável é algo quase inimaginável. Nelson Rebouças apostou na idéia e no talento potiguar e, após seis anos de trabalho, continua com bom número de pessoas no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel. Na última edição, cerca de 120 pessoas compareceram para ver Romildo Soares interpretando Geraldo Carvalho.
E para quem pensa que as opções estão se esgotando, Nelson afirma que já tem pelo menos 52 compositores potiguares ainda na fila para serem homenageados e doze parelhas já agendadas para os próximos meses. Uma delas eu achei interessantíssima: Rodrigo Cruz interpretando Carlos Alexandre. E há que se registrar o esforço da Fundação José Gugu em captar os recursos para este projeto. É realmente uma aposta que deu e tem dado certo.
Para a próxima edição - faço questão de noticiar - o projeto apresenta dois artistas locais de talento ímpar: o exímio violonista Zeca Brasil, dono de uma voz suave, seresteira, homenageia nosso carnaubense Dudé Viana e sua simplicidade. Assisti show de Dudé no TCP. Ele conta histórias curiosíssimas de cada música, da sua vida de batalhas, sofrimentos (foi preso por engano durante três anos) e causos dignos de anedotário. Escutei o Cd de Dudé, também. Há música de poemas de Deífilo Gurgel, Zila Mamede e Cascudo, e outras músicas interessantes. Vale a pena.
Mesmo para produtores musicais, o Poticanto: um canto 100% potiguar pareceu um projeto fadado ao fracasso. Ora, sustentar durante anos edições quinzenais apenas com artistas da terra que possuam trabalho autoral considerável é algo quase inimaginável. Nelson Rebouças apostou na idéia e no talento potiguar e, após seis anos de trabalho, continua com bom número de pessoas no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel. Na última edição, cerca de 120 pessoas compareceram para ver Romildo Soares interpretando Geraldo Carvalho.
E para quem pensa que as opções estão se esgotando, Nelson afirma que já tem pelo menos 52 compositores potiguares ainda na fila para serem homenageados e doze parelhas já agendadas para os próximos meses. Uma delas eu achei interessantíssima: Rodrigo Cruz interpretando Carlos Alexandre. E há que se registrar o esforço da Fundação José Gugu em captar os recursos para este projeto. É realmente uma aposta que deu e tem dado certo.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
De BBB e jornalismo cultural
Publico abaixo a matéria que fiz com o ex-BBB Alexandre, capa da edição do Muito de 2 de abril. A exposição do cara nos cadernos culturais de Natal foi criticada pelo jornalista Tácito Costa, em seu Substantivo Plural e gerou pequena discussão acerca dos cadernos de cultura da cidade – coisa que pleiteio faz tempo, cansei de ouvir as mesmas opiniões de quem nunca passou por Redação e já não me atenho mais ao assunto em outras plagas que não aqui, neste espaço. De antemão afirmo ao leitor deste blog que concordo – e não há como discordar – da opinião de Tácito.
Esse mero administrador de empresa partícipe de programa desvinculado de qualquer conteúdo cultural relevante nunca havia de merecer espaço em caderno de cultura. Claro, há numeroso público leitor para tal matéria e penso que um registro de que o cara promoveu coletiva de imprensa; que está em Natal e coisas do tipo, valem até pelo conceito mercadológico do jornal-empresa e interesse do assinante. A questão é o espaço da matéria. Na minha opinião, não é a editoria cultura.
Pautado para tal, procurei dar um tom diferente ao assunto; aproximar da cultura que queremos ler: matérias críticas, analíticas, de conteúdo, mesmo de assunto vazio. Esse ponto não foi colocado na discussão. Tampouco a melhoria estética e de conteúdo do jornal, cada vez menos avesso aos releases e agora com projeto gráfico mais interessante. As criticadas colunas sociais foram embora e nada disseram. Preferiam as críticas enquanto existiam. Fizemos excelentes matérias nos últimos meses, fora do tal agendão. Ninguém deu um pio.
Falo de uma maneira geral, não só de Tácito, sempre atento e combatente com nosso jornalismo cultural, graças a Deus. As críticas são válidas e oportunas. Já instiguei a discussão pro assunto, que julgo mais interessante do que listas de livros e escritores, também bacana (listas são sempre prazerosas!). O jornalismo cultural brasileiro está em decadência faz tempo. E o do nosso RN carece ainda de estrutura. É quase inimaginável um ou dois repórteres de cultura por jornal, quando em jornais de estados vizinhos são mais de oito.
Semana passada ligaram de Recife pra Redação. Atendi e perguntaram qual repórter cobria música, como se houvesse, como há lá, um repórter para cada segmento cultural: especialistas em literatura, música, artes visuais, dança... Aqui sou apenas eu. Aliás, sem as colunas sociais, ganhamos mais um repórter, mas a carga de trabalho permaneceu ou até aumentou com mais páginas para preencher. Na Tribuna é a mesma coisa. E no JH o repórter até divide trabalho com a editoria de Cidades.
Cito até outro exemplo da dificuldade diária que passamos. Meu editor (vai ficar puto que tou escrevendo isso..rs) pediu para reescrever release da banda Tihuana, que toca amanhã em Natal. Argumentei que valia apenas uma nota no roteiro de fim de semana. Ele concordou e perguntou: “O que eu ponho no lugar?”. Fiquei sem ação, sem sugestão. As que tinha já havia sugerido e escrito. Analisem: o editor precisa pensar em quatro, cinco pautas por dia. E pior: o repórter tem que escrevê-las.
Não dá tempo, minha gente! Não há como escapar do agendão, que, concordemos, também vale como matéria. Praticamente todos os dias, sem almoçar, chego atrasado no meu outro trabalho, no expediente da tarde. Enfim... Feito meu desabafo, segue abaixo meu texto sobre o tal Alexandre, que propositalmente preferi sequer botar seu sobrenome. Foi o que deu pra fazer:
“Um dos integrantes da casa mais vigiada do Brasil está em Natal. Calma, nada da presença de José Sarney, Renan Calheiros ou Fernando Collor na aldeia de Poti. A mão boba no Planalto continua à solta. Os olhos atentos da grande massa de eleitores miram outras celebridades: as do Big Brother. E quem voltou a Natal sempre escancarada às novidades foi o administrador-brother-recifense Alexandre, 35 anos. Cercado por holofotes, pela falta de assunto e pelas carnes do restaurante Sal e Brasa, o big brother concedeu coletiva à imprensa no início da tarde de ontem.
Segundo informa o google, Alexandre mora em Parnamirim e trabalha em agência bancária em Natal. Ao ser indicado por três integrantes foi eliminado do programa com 49% dos votos no terceiro paredão. Foi o mais votado entre os anônimos/celebridades Maximiliano e Priscila. É classificado como sortudo em vários sites preocupados com biografias de celebridades por ter entrado no lugar de outro participante, poupado por problemas de saúde. Ainda segundo o repórter google, Alexandre ficou no ‘‘lado A’’, porém gerou conflitos com alguns participantes de seu grupo e foi indicado ao paredão.
Alexandre foi ‘‘eliminado’’ do show da vida global após três semanas de programa. Durante o período participou da casa vidraçada e expôs sua intimidade ao Brasil. Seguiu a moda do tempo-hoje. O sucesso do ‘‘reality show’’ (show da realidade?) é explicado também pelo advento da internet. Ferramentas como webcam, blogs e fotologs, youtube e orkut expõem o festival da vida privada a quem deseja fuçar. Anônimos em busca de comentários, visibilidade. Diferente dos diários íntimos de outrora, dos escritos secretos, introspectivos. A mania da exposição hoje já excede a mídia televisiva ou a internet e tem ganhado as telas do cinema e o mercado editorial, com a enxurrada de biografias em exibição ou publicadas.
Na coletiva a qual reuniu os principais veículos da mídia potiguar, o brother Alexandre respondeu a todas as perguntas dos repórteres. Negou apenas o verdadeiro enigma da Esfinge da tragédia grega: para quem ele torce contra no Big Brother. Preferiu apenas afirmar seu voto de confiança, para a Ana Carolina, porque ‘‘ela está sendo ela mesma’’ no show da realidade televisiva. Alexandre falou ainda de combinações clandestinas de votos, que não estava preparado para participar do programa no ano passado e só este ano se inscreveu e do processo de seleção de 600 candidatos, a qual respondeu 20 questões, participou de quatro entrevistas eliminatórias, testes...
A coletiva ultrapassou os 15 minutos de fama para cada cidadão do futuro, vislumbrados na década de 60 pelo papa da pop art, Andy Warhol. O profeta beatnik foi preciso quando sequer excistiam photoshop, google earth ou câmeras de segurança. E riria hoje da própria previsão ao escutar do brother Alexandre: ‘Aqui fora sou mais reconhecido do que lá dentro’”.
PAPO CURTO
Diário de Natal - Quais motivos para tanto sucesso do Big Brother?
Alexandre - Aquilo é um jogo de conflitos e o ser humano é muito observador, preocupado com o que acontece com a vida dos outros. Acredito que assistem com esse interesse.
Qual experiência você tirou de lá?
Aprendi mais a respeitar o ser humano e a tentar entender a individualidade e os objetivos de cada pessoa.
Você assistiu ao filme O Show de Truman (1998)?
Não; acho que não.
No filme o protagonista nasce, cresce e vive sob uma redoma gigantesca de vidros a qual reproduz o seu mundo e está cercada de câmeras. Ele nem desconfia que está sendo filmado e visto por milhões de pessoas; que todos os seus amigos, trabalho e rotina é roiteirizado por um diretor de TV. Quando ele descobre, fica contrariado e procura fugir da redoma. Porque hoje, apenas dez anos depois, a conotação é outra e as pessoas procuram aparecer?
Pelo menos eu nunca pensei em fama ou em ser celebridade. Me inscrevi no BBB por causa do dinheiro, em ganhar o milhão. Até porque minha formação é outra. Não ganhei um milhão, mas ganhei outra coisa: hoje sou reconhecido. Não há lugar que eu vá que não me reconheçam. E também me apareceram muitas oportunidades; muitos projetos. Já fiz curso de teatro e estou agora estudando as melhores propostas; as que se enquadram melhor no meu perfil.
Esse mero administrador de empresa partícipe de programa desvinculado de qualquer conteúdo cultural relevante nunca havia de merecer espaço em caderno de cultura. Claro, há numeroso público leitor para tal matéria e penso que um registro de que o cara promoveu coletiva de imprensa; que está em Natal e coisas do tipo, valem até pelo conceito mercadológico do jornal-empresa e interesse do assinante. A questão é o espaço da matéria. Na minha opinião, não é a editoria cultura.
Pautado para tal, procurei dar um tom diferente ao assunto; aproximar da cultura que queremos ler: matérias críticas, analíticas, de conteúdo, mesmo de assunto vazio. Esse ponto não foi colocado na discussão. Tampouco a melhoria estética e de conteúdo do jornal, cada vez menos avesso aos releases e agora com projeto gráfico mais interessante. As criticadas colunas sociais foram embora e nada disseram. Preferiam as críticas enquanto existiam. Fizemos excelentes matérias nos últimos meses, fora do tal agendão. Ninguém deu um pio.
Falo de uma maneira geral, não só de Tácito, sempre atento e combatente com nosso jornalismo cultural, graças a Deus. As críticas são válidas e oportunas. Já instiguei a discussão pro assunto, que julgo mais interessante do que listas de livros e escritores, também bacana (listas são sempre prazerosas!). O jornalismo cultural brasileiro está em decadência faz tempo. E o do nosso RN carece ainda de estrutura. É quase inimaginável um ou dois repórteres de cultura por jornal, quando em jornais de estados vizinhos são mais de oito.
Semana passada ligaram de Recife pra Redação. Atendi e perguntaram qual repórter cobria música, como se houvesse, como há lá, um repórter para cada segmento cultural: especialistas em literatura, música, artes visuais, dança... Aqui sou apenas eu. Aliás, sem as colunas sociais, ganhamos mais um repórter, mas a carga de trabalho permaneceu ou até aumentou com mais páginas para preencher. Na Tribuna é a mesma coisa. E no JH o repórter até divide trabalho com a editoria de Cidades.
Cito até outro exemplo da dificuldade diária que passamos. Meu editor (vai ficar puto que tou escrevendo isso..rs) pediu para reescrever release da banda Tihuana, que toca amanhã em Natal. Argumentei que valia apenas uma nota no roteiro de fim de semana. Ele concordou e perguntou: “O que eu ponho no lugar?”. Fiquei sem ação, sem sugestão. As que tinha já havia sugerido e escrito. Analisem: o editor precisa pensar em quatro, cinco pautas por dia. E pior: o repórter tem que escrevê-las.
Não dá tempo, minha gente! Não há como escapar do agendão, que, concordemos, também vale como matéria. Praticamente todos os dias, sem almoçar, chego atrasado no meu outro trabalho, no expediente da tarde. Enfim... Feito meu desabafo, segue abaixo meu texto sobre o tal Alexandre, que propositalmente preferi sequer botar seu sobrenome. Foi o que deu pra fazer:
“Um dos integrantes da casa mais vigiada do Brasil está em Natal. Calma, nada da presença de José Sarney, Renan Calheiros ou Fernando Collor na aldeia de Poti. A mão boba no Planalto continua à solta. Os olhos atentos da grande massa de eleitores miram outras celebridades: as do Big Brother. E quem voltou a Natal sempre escancarada às novidades foi o administrador-brother-recifense Alexandre, 35 anos. Cercado por holofotes, pela falta de assunto e pelas carnes do restaurante Sal e Brasa, o big brother concedeu coletiva à imprensa no início da tarde de ontem.
Segundo informa o google, Alexandre mora em Parnamirim e trabalha em agência bancária em Natal. Ao ser indicado por três integrantes foi eliminado do programa com 49% dos votos no terceiro paredão. Foi o mais votado entre os anônimos/celebridades Maximiliano e Priscila. É classificado como sortudo em vários sites preocupados com biografias de celebridades por ter entrado no lugar de outro participante, poupado por problemas de saúde. Ainda segundo o repórter google, Alexandre ficou no ‘‘lado A’’, porém gerou conflitos com alguns participantes de seu grupo e foi indicado ao paredão.
Alexandre foi ‘‘eliminado’’ do show da vida global após três semanas de programa. Durante o período participou da casa vidraçada e expôs sua intimidade ao Brasil. Seguiu a moda do tempo-hoje. O sucesso do ‘‘reality show’’ (show da realidade?) é explicado também pelo advento da internet. Ferramentas como webcam, blogs e fotologs, youtube e orkut expõem o festival da vida privada a quem deseja fuçar. Anônimos em busca de comentários, visibilidade. Diferente dos diários íntimos de outrora, dos escritos secretos, introspectivos. A mania da exposição hoje já excede a mídia televisiva ou a internet e tem ganhado as telas do cinema e o mercado editorial, com a enxurrada de biografias em exibição ou publicadas.
Na coletiva a qual reuniu os principais veículos da mídia potiguar, o brother Alexandre respondeu a todas as perguntas dos repórteres. Negou apenas o verdadeiro enigma da Esfinge da tragédia grega: para quem ele torce contra no Big Brother. Preferiu apenas afirmar seu voto de confiança, para a Ana Carolina, porque ‘‘ela está sendo ela mesma’’ no show da realidade televisiva. Alexandre falou ainda de combinações clandestinas de votos, que não estava preparado para participar do programa no ano passado e só este ano se inscreveu e do processo de seleção de 600 candidatos, a qual respondeu 20 questões, participou de quatro entrevistas eliminatórias, testes...
A coletiva ultrapassou os 15 minutos de fama para cada cidadão do futuro, vislumbrados na década de 60 pelo papa da pop art, Andy Warhol. O profeta beatnik foi preciso quando sequer excistiam photoshop, google earth ou câmeras de segurança. E riria hoje da própria previsão ao escutar do brother Alexandre: ‘Aqui fora sou mais reconhecido do que lá dentro’”.
PAPO CURTO
Diário de Natal - Quais motivos para tanto sucesso do Big Brother?
Alexandre - Aquilo é um jogo de conflitos e o ser humano é muito observador, preocupado com o que acontece com a vida dos outros. Acredito que assistem com esse interesse.
Qual experiência você tirou de lá?
Aprendi mais a respeitar o ser humano e a tentar entender a individualidade e os objetivos de cada pessoa.
Você assistiu ao filme O Show de Truman (1998)?
Não; acho que não.
No filme o protagonista nasce, cresce e vive sob uma redoma gigantesca de vidros a qual reproduz o seu mundo e está cercada de câmeras. Ele nem desconfia que está sendo filmado e visto por milhões de pessoas; que todos os seus amigos, trabalho e rotina é roiteirizado por um diretor de TV. Quando ele descobre, fica contrariado e procura fugir da redoma. Porque hoje, apenas dez anos depois, a conotação é outra e as pessoas procuram aparecer?
Pelo menos eu nunca pensei em fama ou em ser celebridade. Me inscrevi no BBB por causa do dinheiro, em ganhar o milhão. Até porque minha formação é outra. Não ganhei um milhão, mas ganhei outra coisa: hoje sou reconhecido. Não há lugar que eu vá que não me reconheçam. E também me apareceram muitas oportunidades; muitos projetos. Já fiz curso de teatro e estou agora estudando as melhores propostas; as que se enquadram melhor no meu perfil.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Domingo na Praça mais próximo
O Domingo na Praça está mais próximo de voltar aos braços da populaça. A produtora do evento, Cida Campello, apresentou o projeto à Funcarte hoje e, segundo ela, foi muito bem recebido e elogiado. Os trâmites agora serão entre as insituições parceiras - Funcarte e UFRN - até o projeto ser entregue à borboletada prefeita. Populista como é, deve aceitar o projeto já aclamado pelo povo. Cida me disse que acredita numa resposta, afirmativa ou negativa da Funcarte na próxima semana. Vamos esperar.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Radiohead, por Rodrigo Levino
Mário Ivo há de me perdoar. Roubo-lhe o texto publicado em seu blog Embrulhando Peixe, do escritor-cronista Rodrigo Levino a respeito do show, ao que parece, antológico do Radiohead, no Just Fest. As palavras de Levino são primorosas. Crítica de quem sabe o que diz e o que viu. Texto enxuto, para poucos. Do mesmo show li texto publicado na Tribuna, de Issac, também muito bom. O "infiliz" de Alex de Souza é que incitou a inveja alheia (rs) e quase nada escreveu a respeito. No site Digestivo Cultural encontrei algumas palavras pobres do jornalista Julio Daio Borges, sobre o tema.
Melho o de Levino:
RADIOHEAD; ZEITGEIST
Antes de mais nada: se algo dentro da cultura pop deste início de século tiver de ser escolhido para representar o zeitgeist, ou coisa que resuma em si o espírito do nosso tempo, não há nada que o faça melhor do que o Radiohead. A claustrofobia da modernidade, a vertigem, a depressão e tudo que o existencialismo tentou traduzir em teses e simpósios, a banda inglesa foi capaz de emular de maneira não exatamente acessível, mas usando certamente um instrumento de diluição mais palatável, no caso a música. E diga-se, com louvor.
A espera de quinze anos, sete discos, um show do Los Hermanos e outro do Kraftwerk na abertura, por si só justificaria a ansiedade visível das trinta mil pessoas que se acotovelaram para assistir o concerto da banda em São Paulo. Mas , o Radiohead é maior do que isso. Primeiro por não se tratar de um simples concerto, e sim um combo de soluções estéticas, tanto do ponto de vista cenográfico quanto musical, capaz de transformar a apresentação numa experiência sensorial.
A tal experiência, no entanto, era uma mera suspeita até que duas horas e meia e 26 músicas depois, a certeza de que se estava diante da maior e mais importante banda pop em atividade tornou-se límpida e sem atropelos, como a voz de Thom Yorke, mesmo enquanto se debate na sua dança frenética.
O Radiohead é sui generis. O caminho traçado pela banda, até hoje, difere do rock de arena do U2, discorda da melodia fácil dos Smiths, aprofunda a reflexão que apesar de sincera era superficial no Nirvana, recria alicerçado no rock progressivo do Pink Floyd, renova o pioneirismo dos alemães do Kraftwerk e assume influências de composições eruditas para restar numa moldura de autenticidade, peso, perfeita execução, empatia e lufadas de genialidade recaindo particularmente sobre o guitarrista Johnny Greenwood.
O que a banda fez, desde o histórico disco OK Computer, foi arriscar-se num universo onde não existem melodias fáceis nem refrões radiofônicos, mas o faz de maneira tão competente que ao iniciar o espetáculo com a sequência devastadora de “15 steps”, “There there” e “The national anthem”, dos respectivos discos In Rainbows, Hail to the Thief e Kid A, tinha a platéia diante de si ganha, imersa na profusão de harmonias quebradas, letras desesperadas e efeitos sonoros hipnotizantes.
Sabendo dos limites que podia atingir, sem ser cobrado pelo público das tais coisas fáceis de serem ouvidas, a banda pontuou o repertório depois de “Karma Police” e “Paranoid Android” - entoada pela platéia em peso, mesmo quando se havia encerrado a execução, forçando os músicos a continuarem tocando - por escolhas lentas e esmeradas, que foram de “The Gloaming”, do Hail to the Thief ao b-side “Talk show host”, passando por “Faust Arp” e “Exit music”, dos discos Hail to the Thief e OK Computer.
A partir daí a relação público-banda estendeu-se a uma cumplicidade tal que fez o grupo retornar por impressionantes três vezes ao palco, para destilar os ecos do passado melódico do disco The Bends, com “Fake plastic tree”, o experimentalismo do Amnesiac, com “You and whose army”, deixar no ar uma saída definitiva com “Everything in its right place”, para arrebatar corações e mentes com a música que os revelou ao grande público, “Creep”, do disco Pablo Honey. Era, então, um final apoteótico que resumia com um set list coeso e poderoso, a agonia e o êxtase do mundo tal qual o conhecemos, na melhor representação que a cultura pop atual é capaz de executar.
Los Hermanos
É muito provável que o show do grupo carioca, que abriu o festival, tenha sido mesmo o último da carreira, depois de dois anos de hiato. A falta de empatia entre os líderes Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante era tão visível que dava a impressão de os 200 mil reais que ganharam pelos dois shows, no RJ e em SP, não valiam a pena para se aturarem novamente.
Kraftwerk
Os pais da música eletrônica fizeram um show burocrático, com repertório previsível que foi de “Man machine” a “Autoban”, passando por “Tour de France”. Ficou, apesar da respeitabilidade e dos recursos visuais, a impressão de não ser uma banda para shows abertos.
País Tropical
Na seleta lista de convidados especiais do Radiohead, e que a organização do show escondeu a sete chaves, figurava o mais assediado pela banda: Jorge Ben Jor. Ed O’brian, guitarrista, é reconhecidamente fanático pelo cantor e compositor brasileiro.
Caos
Uma coisa precisa ser separada da outra: se o show do Radiohead foi algo antológico, a organização do festival Just a Fest, a cargo da PlanMusic, foi de um amadorismo atroz. O local do show além de distante, lembrava a estrutura da Arena do Imirá. Ou seja, um buraco puro e simples, não fossem as árvores e resquícios de grama.
Caos II
Ao menos sinal de chuva, a tal Chácara do Jockey Club ameaçava se transformar num lamaçal. Não bastasse o acesso dificultado, o estacionamento do evento cobrou extorsivos 35 reais, que não foram capazes de deixar nenhum veículo em segurança. 70 foram arrombados.
Caos III
Ao fim do show, já segunda-feira, quase uma da manhã, a saída das trinta mil pessoas foi penosa. Por um só caminho, estreito e acidentado, dezenas delas passaram mal e demoraram quase meia hora para deixar o local do show. Um horror.
Caos IV
Taxistas, aproveitando-se da distância e da falta de ônibus, chegavam a cobrar 150 reais por uma corrida que em condições normais não passaria de trinta mangos. Nesse ponto os profissionais paulistanos se igualaram aos cariocas, reconhecidos pela habitual “malandragem”.
Melho o de Levino:
RADIOHEAD; ZEITGEIST
Antes de mais nada: se algo dentro da cultura pop deste início de século tiver de ser escolhido para representar o zeitgeist, ou coisa que resuma em si o espírito do nosso tempo, não há nada que o faça melhor do que o Radiohead. A claustrofobia da modernidade, a vertigem, a depressão e tudo que o existencialismo tentou traduzir em teses e simpósios, a banda inglesa foi capaz de emular de maneira não exatamente acessível, mas usando certamente um instrumento de diluição mais palatável, no caso a música. E diga-se, com louvor.
A espera de quinze anos, sete discos, um show do Los Hermanos e outro do Kraftwerk na abertura, por si só justificaria a ansiedade visível das trinta mil pessoas que se acotovelaram para assistir o concerto da banda em São Paulo. Mas , o Radiohead é maior do que isso. Primeiro por não se tratar de um simples concerto, e sim um combo de soluções estéticas, tanto do ponto de vista cenográfico quanto musical, capaz de transformar a apresentação numa experiência sensorial.
A tal experiência, no entanto, era uma mera suspeita até que duas horas e meia e 26 músicas depois, a certeza de que se estava diante da maior e mais importante banda pop em atividade tornou-se límpida e sem atropelos, como a voz de Thom Yorke, mesmo enquanto se debate na sua dança frenética.
O Radiohead é sui generis. O caminho traçado pela banda, até hoje, difere do rock de arena do U2, discorda da melodia fácil dos Smiths, aprofunda a reflexão que apesar de sincera era superficial no Nirvana, recria alicerçado no rock progressivo do Pink Floyd, renova o pioneirismo dos alemães do Kraftwerk e assume influências de composições eruditas para restar numa moldura de autenticidade, peso, perfeita execução, empatia e lufadas de genialidade recaindo particularmente sobre o guitarrista Johnny Greenwood.
O que a banda fez, desde o histórico disco OK Computer, foi arriscar-se num universo onde não existem melodias fáceis nem refrões radiofônicos, mas o faz de maneira tão competente que ao iniciar o espetáculo com a sequência devastadora de “15 steps”, “There there” e “The national anthem”, dos respectivos discos In Rainbows, Hail to the Thief e Kid A, tinha a platéia diante de si ganha, imersa na profusão de harmonias quebradas, letras desesperadas e efeitos sonoros hipnotizantes.
Sabendo dos limites que podia atingir, sem ser cobrado pelo público das tais coisas fáceis de serem ouvidas, a banda pontuou o repertório depois de “Karma Police” e “Paranoid Android” - entoada pela platéia em peso, mesmo quando se havia encerrado a execução, forçando os músicos a continuarem tocando - por escolhas lentas e esmeradas, que foram de “The Gloaming”, do Hail to the Thief ao b-side “Talk show host”, passando por “Faust Arp” e “Exit music”, dos discos Hail to the Thief e OK Computer.
A partir daí a relação público-banda estendeu-se a uma cumplicidade tal que fez o grupo retornar por impressionantes três vezes ao palco, para destilar os ecos do passado melódico do disco The Bends, com “Fake plastic tree”, o experimentalismo do Amnesiac, com “You and whose army”, deixar no ar uma saída definitiva com “Everything in its right place”, para arrebatar corações e mentes com a música que os revelou ao grande público, “Creep”, do disco Pablo Honey. Era, então, um final apoteótico que resumia com um set list coeso e poderoso, a agonia e o êxtase do mundo tal qual o conhecemos, na melhor representação que a cultura pop atual é capaz de executar.
Los Hermanos
É muito provável que o show do grupo carioca, que abriu o festival, tenha sido mesmo o último da carreira, depois de dois anos de hiato. A falta de empatia entre os líderes Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante era tão visível que dava a impressão de os 200 mil reais que ganharam pelos dois shows, no RJ e em SP, não valiam a pena para se aturarem novamente.
Kraftwerk
Os pais da música eletrônica fizeram um show burocrático, com repertório previsível que foi de “Man machine” a “Autoban”, passando por “Tour de France”. Ficou, apesar da respeitabilidade e dos recursos visuais, a impressão de não ser uma banda para shows abertos.
País Tropical
Na seleta lista de convidados especiais do Radiohead, e que a organização do show escondeu a sete chaves, figurava o mais assediado pela banda: Jorge Ben Jor. Ed O’brian, guitarrista, é reconhecidamente fanático pelo cantor e compositor brasileiro.
Caos
Uma coisa precisa ser separada da outra: se o show do Radiohead foi algo antológico, a organização do festival Just a Fest, a cargo da PlanMusic, foi de um amadorismo atroz. O local do show além de distante, lembrava a estrutura da Arena do Imirá. Ou seja, um buraco puro e simples, não fossem as árvores e resquícios de grama.
Caos II
Ao menos sinal de chuva, a tal Chácara do Jockey Club ameaçava se transformar num lamaçal. Não bastasse o acesso dificultado, o estacionamento do evento cobrou extorsivos 35 reais, que não foram capazes de deixar nenhum veículo em segurança. 70 foram arrombados.
Caos III
Ao fim do show, já segunda-feira, quase uma da manhã, a saída das trinta mil pessoas foi penosa. Por um só caminho, estreito e acidentado, dezenas delas passaram mal e demoraram quase meia hora para deixar o local do show. Um horror.
Caos IV
Taxistas, aproveitando-se da distância e da falta de ônibus, chegavam a cobrar 150 reais por uma corrida que em condições normais não passaria de trinta mangos. Nesse ponto os profissionais paulistanos se igualaram aos cariocas, reconhecidos pela habitual “malandragem”.