“Escrevi um auto e me devolveram um espetáculo da Broadway”, disse o dramaturgo Paulo de Tarso Correia de Melo minutos após o encerramento do primeiro dia de encenação do Auto de Natal. O autor do texto da quarta edição do evento – este ano promovido no Machadão pela prefeitura do Natal – presenciou um Estádio lotado para assistir, também, o show do cearense Fagner (a atração de hoje, último dia, é Ney Matogrosso). Mas quem roubou a cena do dia foi o músico e compositor Carlos Zens, responsável pela trilha sonora do Auto e que ditou o compasso e o roteiro do espetáculo.
Após o evento receber textos de grandes nomes da literatura potiguar, como Tarcísio Gurgel, Nei Leandro de Castro e Moacyr Cirne, Paulo de Tarso comentou que pensou em incluir uma dimensão educativa e apregoar alguns bons propósitos. “Sei que são fatores que não fazem boa literatura, mas não consegui escapar disso. Depois de tanta gente boa ter escrito para este evento, eu precisava ser original”. E conseguiu. Pelo menos o nascimento do Menino Jesus foi uma grande festa no palco e escapou da praxe das cenas comoventes vistas nas edições anteriores.
O Auto de Natal este ano conseguiu ser ainda mais regional. Se o elemento teatral foi menos explorado que em anos anteriores, cedendo lugar à dança e aos folguedos, os diálogos travados foram em maioria providos da linguagem de cordel ou versos de feição popular. O autor conseguiu ainda encaixar na saga do nascimento de Jesus na terra de Poti, folguedos como o Pastoril, Dança do Espontão, Congos, Baião Cocado, entre outros. Este ano nada de hip-hop ou tecno. Se alguma música soou estranha aos potiguares mais enraizados, foram batidas de tambor, a lembrar rituais de Umbanda.
Jesus já nasceu nos quatro cantos de Natal e até em Parnamirim, com a segunda edição do auto da cidade-vizinha. Faltava o interior, como o Sertão setentrional das bandas do Apodi. E foi sob as paredes do Lajedo Soledade o nascimento do Menino-Deus este ano. “A sobrevivência do primitivo sempre me impressionou, desde o meu primeiro livro – O Talhe Rupestre. Foi o que determinou a escolha do lugar”, disse Paulo de Tarso.
O dramaturgo homenageou ainda o poeta Othoniel Menezes, com o quadro “O Caminho da Praieira”, e o decano dos poetas vivos potiguares, Deífilo Gurgel, influência fundamental para um livro do autor: Os Romances de Alcaçus. E ainda no texto, um soneto de Auta de Souza que expressa de algum modo, segundo Paulo de Tarso, a angústia de caminhada de Maria e José em busca da estalagem de Belém. “Agradeço ao prefeito Carlos Eduardo Alves, ao presidente da Funcarte, Dácio Galvão e ao diretor do Auto, Véscio Lisboa, pela inclusão de portadores de necessidades especiais no elenco e pela edição do Auto no sistema Braille. Afinal, o nascimento de Jesus é de todos os que participam da condição humana”, concluiu Paulo de Tarso.
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