O bairrismo que defendo difere do sentimento egoísta ou egocêntrico do só eu ou do sou eu. É um bairrismo voltado à admiração dos seus redores; da sua história. É a valoração da sua cultura. E nisso está incluso o prestígio. Escrevo estes pormenores porque desconhecia o tamanho descaso com a obra do nosso maior intelectual e dos mais entusiastas brasileiros da terra de Poti. Enquanto o pernambucano Gilberto Freire tem sua obra literária e etnográfica estudada, comentada e recomendada em sua terra, nosso Cascudo goza de menos de 20% das suas actas diurnas publicadas. Estão todas a mercê do tempo inclemente, empilhadas em coleções de jornais velhos e em processo de desgaste. Sem a digitalização necessária podem se perder com qualquer acidente ou mesmo pela deterioração natural da umidade.
As actas diurnas escritas por Cascudo nos jornais A República e o Diário de Natal ao longo de 50 anos são o panorama de Natal e sua história lírica, etnográfica, geográfica, genealógica, folclórica, antropológica ou outra seara a mais incluída no vasto conhecimento do mestre. São quase 3 mil escritos preciosos sobre causos cotidianos ou causas as mais nobres, dos quais menos de 600 estão compilados em livros editados pelo Instituto Histórico e Geográfico do RN. São dez volumes do O Livro das Velhas Figuras. O último será lançado esta quinta-feira (5), no próprio IHG. Li de passagem e posso opinar com a propriedade de quem ouviu relatos semelhantes como os de Vicente Serejo, Sanderson Negreiros e Diógenes da Cunha Lima: são edições mal cuidadas e sem critério algum de edição.
Há 15 anos foi publicado o primeiro volume e desde então as edições se sucedem em publicações desleixadas, sem índice remissivo, cronologia, introdução valiosa ou divisão temática. O Livro das Velhas Figuras, na verdade é um livro de variados temas, quando deveriam englobar apenas perfis de personagens e figuras humanas estudadas e lembradas por Cascudo. Mas não. Somente neste volume há uma penca de assuntos outros, como a pesquisa do mestre a respeito do gesto de sentar no chão. Como lembrou os mesmos intelectuais ouvidos, há que se valorizar a iniciativa do Instituto Histórico em tentar recuperar este tesouro - uma instituição resistente, sem orçamento ou apoio do poder público, que aliás, são os responsáveis diretos pelo descaso. Sem mais delongas, o amigo leitor pode saber mais um pouco sobre o assunto na edição de amanhã do Diário de Natal. Estou por lá.
[image: Quando usamos a palavra em cima?]
Quando usamos a expressão "em cima"? Fique por dentro do significado e das
diferentes situações em que esta pal...
Há 6 horas
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