quarta-feira, 27 de maio de 2009

Verbo Solto

Antes pudesse ler com a mesma voracidade com que me chegam livros. O jeito é empilhar na estante, presentear ou folhear por cima.

Um desses livros esquecidos é o do poeta Ronne Grey, chamado Verbo Solto, lançado de forma independente. Lembro que no Dia da Poesia esse livro me foi entregue. Na correria do dia, não pude publicar nada a respeito.

Agora está aqui, estendido. E se poesia boa é aquela que desperta algum tipo de sentimento em você, o Verbo Solto do cara é pouco convencional e de boa qualidade. Poesia mal comportada, como classificou o poeta Cefas Carvalho na orelha. Foge do agrado das poesias românticas. É coisa escrachada, como nas palavras abaixo:

Ejaculação

Sob que máscara
Aparecerá esse palhaço?

Em riso, engoliu o próprio
Vômito.
Sufocando, gritou:
Poeta que pariu!

Versos ejaculam.
O óbvio não.
Poesia delira, delira...


No desfecho do livro, alguns poetas convidados. Entre eles, João Gualberto:

Gorjeios

Só o sábio sabiá compreende
Os meus gorjeios, "oh, amor, me aqueça".
Venho ao solar do amor, você acende
A luz de uma ilusão em nossas cabeças.

Você acena, mechama, apareça.
Apareço, sua ausência surpreende.
Dedilho o chorinho "Não me esqueça".
Quem esquece o amor, o amor ofende.

Ai, breves ollhares você me lança
Ai, corpóreos pudores da nudez
Ai, as lágrimas da desesperança.

Palavra e poesia, envellhecidas,
A colher versos e a salvar de vez
O sonho de amor em nossas vidas.

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