Demolição do Machadinho em função da Copa 2014 deixa Natal órfã de espaço para grandes shows
Exercite a memória e lembre onde ocorreram os históricos shows musicais em Natal. Você vai enxergar o Legião Urbana no Papódromo. O Paralamas na volta de Herbert Viana aos palcos pós-acidente, no espaço onde hoje funciona o Atacadão. Chico Science no Centro de Turismo. Edições memoráveis do Mada no Imirá, no Largo da Rua Chile. Uma dezena de shows de Roberto Carlos no Machadinho... Agora, se pergunte: qual desses lugares é exclusivo aos shows musicais? Nenhum. São locais improvisados. Natal é a única capital do Nordeste sem Casa de Show específica para receber grandes artistas nacionais. E este ano perderá um desses principais palcos improvisados da cidade: o Machadinho, a ser demolido no último trimestre deste ano como preparação de Natal à Copa de 2014.
A acústica do Machadinho é péssima. Os ventos nos shows do Imirá incomodam. O pé-direito do pavilhão do Centro de Convenções é baixo. A insegurança na Rua Chile intimida. Falta espaço no Boulevard, no Teatro Alberto Maranhão. E assim, todos os espaços onde são promovidos shows musicais em Natal apresentam seus imbróglios sem qualquer relação com o show business. Natal perde e já perdeu grandes apresentações pela falta de espaços adequados a receber cenários de turnês mais produzidas ou com acústica apropriada a shows musicais. Chico Buarque nunca veio aqui por esses motivos. Quem confirma é o produtor Alexandre Maia, da Agenda Propaganda.
Alexandre trouxe alguns dos maiores shows que a cidade já viu. E a reclamação da falta de espaços voltados à música é antiga. “Sempre promovemos shows em espaços alternativos. Em João Pessoa levo shows para o Espaço Cultural com capacidade para 20 mil pessoas, dotado de anfiteatro e toda a infraestrutura necessária. Em Recife, há o Teatro Guarapes, o Chevrolet Hall e mais uma infinidade de boas Casas para grandes shows. Isso para citar capitais vizinhas. Aqui, nunca tivemos”. O produtor disse conseguir trazer bons nomes em razão de excursões pelo Nordeste. “Aproveitam e fazem escala em Natal para divulgarem a turnê. Ainda assim, muitos rejeitam. A última foi Maria Bethânia”.
Outra crítica de Alexandre Maia é a construção de espaços novos na cidade sem a consultoria de produtores culturais. “Construíram o novo Centro de Convenções sem pedir opinião de nenhum produtor. Caso tivessem, o pé-direito de cinco metros teria sido de nove. O espaço estaria apto a receber shows bem produzidos sem acréscimos substanciosos à obra”. Alexandre cita ainda a construção da sede da Capitania das Artes à época da gestão municipal de Wilma de Faria. “Coube tudo ali, menos um espaço apropriado para shows. Naquela área do estacionamento caberia uma concha acústica com vista para o Potengi. Seria fantástico. Mas ninguém consultou nenhum produtor”, reclama.
Um terreno baldio próximo ao cruzamento das avenidas Miguel Castro e Prudente de Morais, prometido no fim da primeira gestão Wilma de Faria como um novo teatro com capacidade para mais de duas mil pessoas, ainda espera o início da obra. “Seria uma solução e uma marca significativa da cultura deste governo”, alimenta a esperança. Um ginásio construído na Zona Norte durante a gestão do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves também é um espaço inutilizado para qualquer tipo de apresentação musical, embora seja mais um sem a acústica e a infraestrutura necessária aos grandes shows musicais.
O produtor cultural Anderson Foca, tem utilizado com freqüência pequenos espaços como a Casa da Ribeira e o palco do Centro Cultural DoSol, de sua propriedade, além da Rua Chile para eventos maiores. “Particularmente acho horrível o machadinho como lugar de shows de música. É inadequedo, desconfortável e o teto sem tratamento acústico deixa o som horrível. Falta um espaço para shows médios. De pequeno porte temos os teatros, o DoSol, o Galpão 29, e por aí vai”. Foca culpa a iniciativa privada. “Não vejo nenhum papel do Estado em suprir essa carência. Eu não faria esse investimento. Tem o teatro do Midway vindo aí, talvez cumpra um pouco a função que era do Machadinho”, estima.
“Falta público para grandes shows”
Com o currículo da produção de eventos musicais de sucesso em Natal, como o Seis & Meia e, mais recentemente, o Praia Shopping Musical, o produtor Zé Dias traz nova questão ao tema: “Só temos a opção do Machadinho. Fará falta. Mas, falta público para grandes casas de show. Trazer artista nacional hoje é caro, e com a meia-entrada sem controle tudo cai por água abaixo. Veja o público que compareceu ao show de Caetano Veloso no Machadinho e, mais recentemente, ao Titãs”.
Zé Dias exemplifica valores a partir da última vinda de Roberta Sá a Natal. Cachê médio da artista: R$ 35 mil. Passagem de avião para 14 pessoas: R$ 14 mil. Hotel: R$ 6 mil (dez apartamentos na Via Costeira por dois dias). Traslado local: R$ 1,5 mil (carro de luxo à cantora, van para músicos e kombi para material). Diária de alimentação: R$ 2 mil. Sonorização e luz: R$ 6,5 mil (som básico, aquém das exigências do mercado). Mídia: R$ 15 mil. Total: R$ 80 mil. “Acrescente aí 10% do Ecad e 5% de ISS. Leve em conta um ingresso a R$ 50 e R$ 25 (meia) e capacidade do local para 3 mil pessoas. Se lotar, teremos bilheteria em torno de R$ 100 mil, tendo ainda que pagar aluguel do Teatro e despesas diversas de panfletagem, pessoal de apoio, etc”.
Zé Dias continua: “Acrescente ainda 500 kg de excesso de bagagem ida e volta, exigidos pelos artistas, ao custo médio de R$ 10 mil. Quanto sobra? É brincadeira, né?”. E conclui: “Uma Casa de show em Natal só dará certo se todos os artistas vierem em turnê pelo Nordeste (rachando as passagens) e fazendo bilheteria. Bilheteria sempre dá problema. E aqui é pior”.
* Matéria públicada domingo no Diário de Natal
Do blogueiro: Escrevi essa matéria na quinta-feira. Na sexta, acompanhei a governadora Wilma de Faria em reunião na ZN, onde foram explicados os benefícios da Copa 2014. Entre eles, a Arena das Dunas. E lá, uma área destinada aos grandes espetáculos. Assim foi prometido, o que solucionaria, a princípio, a carência de uma grande Casa de shows.
[image: Quando usamos a palavra em cima?]
Quando usamos a expressão "em cima"? Fique por dentro do significado e das
diferentes situações em que esta pal...
Há 5 horas
Falta público para grandes shows?? É brincadeira né??
ResponderExcluirFalta sim um espaço descente para grandes shows, o cara que disse isso só pode ser um total desinformado para fazer uma afirmação idiota dessas.
Com a entrada do Midway Hall poderá ser que tenhamos mais peças de teatro, mas ainda falta o espaço para shows de verdade e não essas porcarias de casas que tocam forró e outros barulhos do tipo.