segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cinema Aspirinas e Urubus


E lá vem este blogueiro opinando cinema de novo. É o que tenho feito mais nas minhas férias, afora a leitura do livro Lula do Brasil - A História Real, do Nordeste ao Planaldo, do jornalista inglês Richard Bourne. É um compêndio interessante, com quase 400 páginas e editado pela Geração Editorial.

Mas queria mesmo comentar a respeito de Cinema Aspirinas e Urubus. O filme é de Marcelo Gomes. Nunca ouvi falar desse autor, já são mais de 2h e estou com preguiça de procurar no papai-google. Sei que gostei do filme, embora sinta dificuldade em apontar uma mensagem final, uma essência que seja. Parece retalhos poéticos bem encaixados em um sertão sempre múltiplo.

E um sertão sem a exploração do sol, da terra rachada. Mas há, ainda assim, a caricatura da miséria do sertanejo. É o que me incomoda. O filme é de 2005. Nos últimos anos a tônica do cinema brasileiro é a exploração da miséria, seja ela nas favelas do Rio de Janeiro ou no sertão nordestino. Ou são os besteirois da Globo Filmes. Ou os filmes populares-regionalistas de Guel Arraes.

Talvez o estouro de bilheteria com este longa de Chico Xavier e a perspectiva de investimento altíssimo neste gênero de filme (já disse aqui que estão previstos orçamentos fora da realidade do país, acima dos R$ 20 milhões, para produções baseadas em livros psicografados pelo líder espírita) mude o panorama. Nem sei se para melhor.

Outro aspecto talvez mereça destaque. São as excelentes atuações do ator José Miguel, ainda pouco explorado pela mídia. Não sei se devido à coincidência de eu ter assistido a três filmes seguidos com ele - também Estômago e O Céu de Suely - sempre interpretando personagens populares, nordestinos, o considere uma espécie de novo José Dumont do cinema brasileiro.

Em Cinema Aspirinas e Urubus o cara tá muito bom. Mesmo um filme de poucos diálogos. Alguém até pode reclamar da monotonia. Mas há marcações de imagens bem postadas. Lembrei de Eu, Tu, Eles. A direção de arte consegue explorar as agruras sertanejas fugindo do comum. Imagens por vezes parecem estouro de luz, quando filmado o sol diretamente. Um incômodo bonito. Mas um incômodo já desgastado do cinema brazuca.

Um comentário:

  1. Ótimo filme, infelizmente pouco visto. Vale a pena recomendarmos e falarmos sobre ele. Abraço.

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