Por Belchior Vasconcelos Leiteem
Diário do ImprovisoNoite fria adentrando a madrugada. Vestia calça e blusão jeans desbotados.
Às mãos, tinta spray, cartazes e cola. Tinha todos os sonhos do mundo. Um deles: Terra, Trabalho e Liberdade. Como um Quixote, divulgava a utopia de um mundo justo e fraterno. Pichando muros, colando cartazes com palavras de ordem. Querendo dizer: "Faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar”.
Quem é esse?
Passos apressados, jornais dobrados debaixo do braço, bem informado sobre a conjuntura política do País, a desigualdade social e a saúde do trabalhador.
Quem é esse? Que despido de vaidade deixava o conforto de seu consultório, o convívio com seus alunos, na UFRN, para atender os deserdados da sorte num posto de saúde da periferia, quando podia ter sua clínica particular em reabilitação motora? Foi um dos primeiros médicos a chegar á Natal com especialidade na área, com curso realizado na Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro.
Quem é esse? Cuja peculiaridade marcante é o exercício da generosidade. Sempre receptivo, mãos estendidas para acolher quem lhe procura para curar uma dor e não pode esperar que seja agendada uma consulta num posto de saúde. Sua casa sempre está aberta, como o seu coração.
Quem é esse, que acreditando numa proposta, vai ao sacrifício pessoal até a sua concretização, como na construção do PT, cedendo seu fusca com alto falante para fazer a propaganda do partido, a casa de seu pai como sede, alugando com recursos próprios um imóvel para abrigar a CUT.
Quem é esse? Que sempre apóia a cultura, procurando preservar monumentos históricos, buscando sua revitalização,incentivando artistas.
Quem é esse? Que não é um militonto, nem rebelde sem causa, sabendo o que é melhor para o País, não se deixando levar por interesses mesquinhos de grupelhos. Por isso não aceitar que os meios justifiquem os fins. Daí ter abandonado o PT, que foi um de seus fundadores.
Quem é esse? Que não é uma unanimidade, mas é tido por muitos como uma pessoa agregadora; cujo exemplo maior é procurar congregar os filhos - que são tantos - mesmo sendo uma pessoa fechada que não exterioriza suas dificuldades, mas consegue ter tantos amigos.
Esse é Zizinho, que me orgulho de ter como amigo: pela sua simplicidade, coerência, chegando na adolescência da velhice, sem abrir mão de seu modus vivendi, existencialista que se define pela ação, não pelo discurso.
Nada melhor para definir o meu amigo nos seus sessenta anos, do que a música de Paulinho da Viola, e prestar minha homenagem nessa noite:
“Eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim
Meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim,
eu sou assim, assim morrerei um dia,
não levarei arrependimentos, nem o peso da hipocrisia.
Tenho pena daqueles que se agacham até o chão,
Enganando a si mesmos por dinheiro ou posição..."
Do blogueiro: Aos que desconhem Zizinho, o cara é uma grande figura, irmão do jornalista Moisés de Lima, autor do blog Diário do Improviso
Amigos e amigas:
ResponderExcluirEsse texto é muito tocante, quer pelo tema geral, quer pela linguagem comovida. Destaco a menção final à magistral canção "Eu sou assim", de Wilson Batista, com muitas gravações, destacando-se a de Paulinho da Viola em seu maior disco - "Dança da solidão".
Abraços a todos e todas:
Marcos Silva
Olá, Sérgio! Googleando por aí encontrei seu blog e gostei bastante. Parabéns!
ResponderExcluirMas a música que você citou não é do Paulinho da Viola, ele é apenas um intérprete. Seu autor foi na verdade o sambista Wilson Batista, contemporâneo de Noel Rosa, tão ou mais genial quanto ele, porém não tanto conhecido.
E parabéns também ao seu amigo Zizinho, por tudo que você descreveu, um "imprescindível" como no poema de Brecht.
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