Por Rodrigo Cruzno Rock Potiguar
O Música Alimento da Alma - depois designado de MADA - foi o primeiro grande festival roqueiro destas paragens, mudando discursos e quebrando paradigmas na terra papa-jerimum. Acontecia no Largo da Rua Chile, no bairro da Ribeira. Cresceu, precisou de um local maior e mudou-se para a Arena do Imirá, na Via Costeira. Na edição do ano passado, recebeu um público médio de 7 mil pessoas por dia, ratificando a posição de um dos maiores festivais musicais do Nordeste.
Apresentação feita (até de certa forma dispensável), vamos aos verdadeiros fatos, sem passar a mão na cabeça de ninguém, utilizando apenas de fatos que eu, como produtor cultural, noto e sofro no dia-a-dia.
Dez anos se passaram e hoje temos outros grandes festivais, como o gigante Dosol, e outros que se formam como importantes festivais em crescimento, como o ZN Rock, RockPotiguar Festival, CaosNatal e Bozo Fest. Tudo isso, diga-se de passagem, depois das portas que o Mada abriu. A grande surpresa é que esse mesmo festival-abre-portas não irá acontecer nesse ano. O Conselho Estadual de Cultura vetou o patrocínio que o festival tinha através da Lei de Incentivo à Cultura Câmara Cascudo, com o discurso que o Mada é lucrativo e que não precisa do subsídio cultural do governo. Isso deixa claro o pensamento desse conselho e do atual governo em que nos encontramos: PRODUTOR CULTURAL NÃO PODE GANHAR DINHEIRO. É isso mesmo, caros aspirantes a colegas, estudantes de produção cultural e demais profissionais. Na nossa sociedade local, produtor cultural tem que ser fudido, não pode ter um carro, uma casa, nem viver dignamente. Produtor cultural tem que andar de carona, de ônibus, morar de aluguel, e só pode viajar se for a trabalho. Isso é um belo de um incentivo para envolvidos com a cultura não consiga viver de seu trabalho cultural, de sua arte.
Eu até viajo de como deve ser o diálogo de quem aprova os projetos culturais:
- Porra, bicho, o Jomardo tá cheio da grana, hein?
- Pois é boy, o cabra é galado. Fez um festival que deu certo e tá montado agora.
- Mermão, doido, vamo aprovar esse ano não. Vamo deixar o cara conseguir viver de um evento, só por que ajuda a fomentar a cena musical do RN?
- Pois é, vamos reprovar aqui então. O festival já é conhecido o suficiente e ele pode pagar todos os custos só com pequenos patrocinadores diretos e venda de ingressos. Num tem pra quê ganhar dinheiro com show.
- Pode crê.
É isso aí que acontece. Produtor bom é aquele que paga pra trabalhar, que tem que trabalhar em outra área e nas horas vagas fazer um show pra as bandas tocarem. Até as próprias bandas, muitas vezes, reclamam se o cara tirar uma grana num evento, dizendo "Tu tá sabendo que Rodrigo ganhou grana em cima da gente naquele show, né? Deve ter lucrado uns R$200,00, pow. Deveria ter rateado entre as oito bandas que tocaram!". Tá bom, isso é o de menos, e a gente acaba sabendo quem são os verdadeiros interessados. Mas, quando essa decisão vem do governo, aí dói e fede. Principalmente um governo que patrocina de forma direta um tal de Carnatal, fábrica de roubos, brigas, estupros e comas alcoólicos, fortalecendo apenas o "turismo de migalhas" que impera por aqui.
O que vai acontecer ano que vem se a gente não fizer nada a respeito? O Mada vai acabar, ou ser reduzido a ponto de virar um show de boate. O Festival Dosol, hoje um dos mais completos do Brasil, acabará não sendo aprovado pela lei em breve, podendo também sumir do mapa. E os demais festivais em desenvolvimento não vão ter continuidade por que nem aprovados serão. Por que "festival bom é festival que empata. Lucro não pode".
Só vejo três opções, produtores. Vamos nos unir e fazer nossa parte para mudar isso. Poderemos também mudar de cidade, indo morar em Recife, em Belo Horizonte, em São Paulo ou em Porto Alegre (adiantará?). Ou simplesmente poderemos mudar de profissão e deixar o povo sem arte e sem cultura.
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rodrigo cruz o texto naum é de wlamir.
ResponderExcluir....aqui em sampa tá cheio...situação igual...melhor deixar o povo sem cultura....argh
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