Hoje é uma tarde de terça-feira. Tenho vontade de morrer. Fiz tudo o que o amor pedia e nada recebi em troca. Culpa minha? Dostoievski explica para vocês. Estou farto da filosofia. E não é tristeza ou decepção com a vida. É tédio. Antes fosse decorrente do ócio. Mas é do exagero: trabalho demais; pressa demais; carro demais... A tarde não é chuvosa e há muito não ouço The Veils. Nem carrego a melancolia de Cronenberg ou Truffaut. É tédio de tantos risos falsos e angústias realistas. Do medo em deixar o filho com o vizinho. Ou de enfrentar um cotidiano guiado pela mentira universal. Quero morrer e pronto. Encher a cara e morrer. Já larguei meu casaco de General cheio de anéis. Eu e o Jards. A esperança é a única que morre e leva consigo a crença, o estímulo à descoberta dos buracos negros da existência. Resta-me a vil credulidade numa vida mais amena e verdadeira. Descarto o argumento da covardia, da fraqueza. Não me escondo por trás da moral ou da religião. Presto contas à minha consciência. E quero apenas acelerar o óbvio. Sem desespero ou cartas. Ora, estou são. “Aquele que galga as mais altas montanhas ri de todas as tragédias lúdicas e de todas as tragédias sérias”. Isso é glorificar a vida. Assim falou Zaratustra. Assim falou Nietzsche aos meus ouvidos. E então vislumbrei o super homem, para além do bem e do mal. Procurei, então, minha crença nos bons; a ética do mundo; e achei minha vergonha. Achei no fundo da alma apenas resquício de inocências mentirosas. Basta. Nada mais vive, que eu ame. Como haveria de amar a mim próprio se o ar mundano me ultrapassa os póros? Perdi meu lar há tempos. Morro a cada segundo. Não há mais vitórias senão do jogo sujo e falso da disputa hipócrita. Somos derrotados em cada esquina. As ruas são prisões. Vivemos no cárcere da obrigação com Deus. Mas minha liberdade segue o instinto. Por isso devo morrer nos próximos minutos. Sinto crescer a busca pela nova verdade. Nela talvez eu enterre Hegel e encontre a possibilidade do ser ilimitado; a ética final. Para isso é preciso ação. Na história não há destino. Apenas covardes nutrem esperanças e acreditam na verdade do homem amparado pelo eixo da moralidade. Assumo perante o espelho: fui um idiota. O super homem nunca existiu. Como pude acreditar? A verdade é uma mentira. Agora vejo em mim a melancolia derramada em realidade. E se nada é verdadeiro, tudo é permitido. Nada é pecado. Vou a busca de Deus. Vou morrer. E é agora!
Meu caro, nos anos 60 eu costumava dizer que Natal era a capital do tédio...
ResponderExcluirPior agora com esse trânsito e mal-educação do povo.
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