Existe um limite nas sugestões que uma pessoa de fora pode dar a Paul McCartney sobre escrever uma música. Kirk Jones, diretor do filme novo de Robert DeNiro, "Everybody's Fine", encontrou esse limite.
McCartney, que escreveu poucas canções especialmente para filmes até hoje, decidiu contribuir com a balada "(I Want to) Come Home" para o filme sobre um viúvo com filhos crescidos após assistir a uma versão preliminar do longa.
Quando Jones tinha algumas sugestões, McCartney ouvia. Ele incluiu uma introdução instrumental na canção e trocou o primeiro e terceiro versos, alteração que já vinha considerando fazer. Então Jones sugeriu uma mudança na letra.
"Eu me lembro de estar no táxi (para encontrar McCartney) e pensando que a única maneira de fazer justiça a ele e ao filme seria sendo honesto", disse Jones. McCartney e DeNiro vivem rodeados de pessoas que dizem o que eles querem ouvir, e o diretor achou que os astros iriam apreciar alguém que fosse direto e honesto.
Com McCartney, acertou duas de três.
"Eu não quero estar acima do processo", disse McCartney. "Não quero ser uma dessas pessoas que dizem 'como você se atreve a mexer em minha música! Minha música é sagrada!' Eu escrevi para um filme, devo ouvir o que o diretor tem a falar. Mas então quando ele foi longe demais nos comentários, eu fechei a porta."
Jones quase havia perdido McCartney antes. Quando o ex-Beatle sentou na sala de projeção e o filme atingiu o ápice emocional, no qual ele sabia que qualquer música que escrevesse entraria ali, ele ouviu a canção que Jones também cogitou: a versão de Aretha Franklyn para "Let it Be", dos Beatles.
Sem nenhuma pressão.
"Eu disse 'não posso fazer isso!", afirmou McCartney. "Você está brincando comigo? Não posso fazer.' Minha reação inicial foi 'sem chance, amigo.'"
Mas após assistir ao filme, ele teve uma ideia na noite seguinte.
"Eu pensei 'gostei tanto do filme, vou ver se funciona'", lembrou Paul McCartney. "Gradualmente, a partir daí, eu procurei usar ('Let it Be') como inspiração para outro tipo de canção, mas com a mesma carga emocional."
Jones disse que ama como a música nova funciona no filme.
"Gosto dela ter sido composta e ser cantada por um homem que viveu uma vida e passou por experiências que se relacionam com o longa", disse o diretor. "Acho que foi interpretada com o coração, paixão e honestidade."
McCartney, 67, reconheceu que algumas lágrimas caíram quando viu o filme e se identificou com o personagem de DeNiro. O músico e sua mulher Linda, que morreu em 1998, tiverem três filhos, e ele adotou a filha de um casamento anterior da mulher. O cantor também é pai de uma menina de 6 anos, fruto do casamento com a ex-mulher Heather Mills.
"O fato dele ter perdido sua mulher com filhos crescidos com seus próprios problemas e tentar manter todos unidos --eu pude me relacionar com isso facilmente", disse McCartney.
A música nova entra para um relativamente pequeno universo de composições do ex-Beatle para o cinema, exceto seus próprios filmes. O tema de James Bond "Live and Let Die" é sua canção mais conhecida para o cinema, provavelmente seguida por "Vanilla Sky", para o filme de Cameron Crowe. O cantor também compôs para o filme dos anos 80 "Spies Like Us" --embora saiba que não foi uma contribuíção memorável-- e "Family Way", dos anos 60.
O filme "Everyone's Fine" estreia nos Estados Unidos nesta sexta-feira.
Por David Bauder
Da Associated Press, em Nova York
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