Morreu hoje Paulo Gilvan Duarte Bezerril, único potiguar remanescente da formação original do Trio Irakitan. Paulo contava 81 anos. Completaria 82 na próxima quarta-feira. Estava internado há oito dias no Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape), área central do Recife. Paulo morreu em decorrência de problemas cardíacos por conta de um infarto.
Publico abaixo entrevista publicada na edição de O Poti, em 14 de maio de 2006. Paulo se mostrou uma figura simpatissíssima, aliás, como todo o Trio Irakitan, nas duas oportunidades em que pude estrevistá-los. Segue a entrevista e a matéria, mais abaixo.Entrevista - Paulo Gilvan Duarte BezerrilNem só de baião, forró e xaxado vive a música nordestina. Um trio de origem potiguar dribla a força inexorável do tempo e resiste há quase 60 anos na estrada da música popular brasileira. Os boleros são a marca inconfundível do Trio Irakitan. Mas seu diferencial está na suavidade dos arranjos vocais, sutis, a transportar os que ouvem à cenários de luar, boemia e romantismo. E quem nunca velejou em A barca, antes que ela partisse para uma praia vestida de amargura? Ou mergulhou ‘‘naqueles olhos verdes, que inspiram tanta calma’’? É o amor cantado de forma pura, com alguma inocência, como nas serenatas de outrora.
O Trio Irakitan - nome sugerido pelo professor Câmara Cascudo e que significa verde mel ou doce esperança, em tupi guarani – também experimentou estilos variados ao longo da carreira. E talvez more aí o segredo da longevidade do grupo. Afinal, como resistir à passagem da Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicália, ou às músicas comerciais do tempo-hoje? A explicação pode estar nas assinaturas de alguns sambas que ganharam voz no coro afinado do Trio: Noel Rosa, Dorival Caymmi, Ary Barroso e... Nat King Cole. Isso mesmo. E quando o mito americano vivia seu auge, nos idos da década de 50.
O único remanescente da formação original do grupo, Paulo Gilvan Duarte, 76, conta, em entrevista exclusiva ao Poti, o episódio da vinda de Nat King Cole ao Brasil para conhecer o Trio, os ensaios do grupo na casa de Câmara Cascudo, o início da carreira, as primeiras apresentações na Rádio Poti e os cenários da Natal antiga, segundo o músico, ainda uma cidade romântica. A entrevista foi concecida após a apresentação que o Trio fez no TAM, dentro do Projeto Seis e Meia. Foram quase duas horas de show. Gilvan, como é chamado, ainda atendeu os fãs e o entusiasmo de sua família potiguar em seu camarim, com a mesma disposição de sua performance no palco.
O Trio é formado há 14 anos por Gilvan e os irmãos sergipanos Edildécio (Edil), no violão, e Edilson Andrade, no tantã. O percussionista Carlos Raposo marca o compasso da banda há 18 anos. E dá um toque caribenho à música. A percussão e o coro das três vozes de pouco mudou. A morte do potiguar Edson Reis de França (Edinho), em 1965, coincidiu com uma caída de produção do Trio. Nada que comprometesse a fidelidade dos fãs ou a qualidade da música. Em 1990, o outro integrante potiguar, João Manoel de Araújo Costa Netto (Joãozinho) também viria a falecer. Gilvan dedicou o show realizado na última terça-feira a eles dois. E é como se ambos continuassem no palco e o Trio Irakitan ainda fosse aquele das décadas de 50 e 60, com a mesma vitalidade vocal. E com o público não é diferente. Talvez o que falte seja um sobrado, uma janela receptiva de uma casa qualquer ou uma flor na lapela. Nada demais.
Sérgio Vilar: Como o grupo foi formado?Gilvan: Éramos estudantes do Ateneu. Eu tinha vindo de Recife. Sou de lá. Juntamos 15 estudantes e saímos cantando em 20 e tantas cidades do interior. Quando chegamos em Areia Branca, foi quando o Trio deu seu primeiro acorde musical. Com o trio, em vez de irmos ao sul, fomos para o resto do Nordeste, depois pelo Norte do Brasil. Depois saímos pelas guianas, Trinidad, Venezuela... Passamos quatro anos fora do Brasil.
Como era Natal no início de 1950?O que tocava naquela época?Música romântica. Nós tínhamos programa na rádio Poti só de estudantes. Cantávamos de tudo; contávamos até anedotas. Mas o que agradava mesmo era a música romântica. Me parece que o Rio Grande do Norte tem uma força tremenda com a música romântica. Você viu o povo cantando conosco, todo afinadinho? Uma beleza!
Os cenários de Natal ainda influenciam a música do Trio Irakitan?Claro. A gente fica chateado quando não vem aqui. Viajamos 36 países, em três continentes, sempre levando o nome do Rio Grande do Norte.
O senhor também é artista plástico; pinta em naif. Também na pintura, há influência potiguar?Também. Pinto as coisas do Nordeste.
Qual o segredo da longevidade?Sobrevivemos a tudo. E o Trio Irakitan não tem mídia em nenhum parte do Brasil. Nossa mídia foi o cinema, em décadas passadas.
Mas qual o segredo?Francamente não sei. Talvez seja a maneira de cantar e escolher as músicas. O Brasil é muito romântico. Conheço jovens no Rio de Janeiro da faixa de 12 anos que são fãs do Trio Irakitan. É impressionante.
As músicas que compõem e interpretam remetem muito a uma cidade ainda romântica, à época das serenatas... Ainda cabe esse tipo de música em uma Natal tão cheia de muros?Cabe. A música não tem idade. No Nordeste, a cidade mais musical que conheço é Natal. Tudo em Natal é muito romântico.
Como foi a escolha do nome do Trio Irakitan por Câmara Cascudo?Estávamos procurando um nome musical para o Trio. Inicialmente queríamos colocar Trio Trairi, trio... nomes de rios do Rio Grande do Norte. Aí ele descobriu a palavra Muirakitan. Mas como já havia um trio de moças, em Recife, com esse nome, tiramos o ‘‘mu’’.
Como foi o contato com Cascudo? Explique melhor essa história.Ele era amigo nosso. O filho dele estava em nossa primeira excursão pelos interiores. Conhecíamos a família toda de Cascudo. Ensaiávamos na casa dele. Era ali na Junqueira... Deixa eu ver. Junqueira Alves? – Junqueira Aires. Isso! Cascudo tinha uma sensibilidade musical como poucos. E era uma sensibilidade bem brasileira. Cascudo foi a pessoa mais brasileira que conheci; uma figura impressionante.
Qual o maior orgulho em 60 anos de carreira?Conhecer artistas como Nat King Cole, Gregório Barros... Vários artistas estrangeiros, que tivemos a oportunidade de gravar com eles.
Como foi essa história de Nat King Cole vir ao Brasil conhecer vocês?Ele já veio com os discos debaixo do braço. Chegou na fábrica que gravávamos, que era a mesma dele. E disse: ‘‘Eu quero gravar com esse trio’’. E era pra gravar uma música só: Andorinha Preta, uma música bem regional. Terminamos gravando cinco músicas com ele, em espanhol, português...
O Trio Irakitan tem muito da influência dos mariachis mexicanos?Não. Temos influência dos trios mexicanos. Quando saímos daqui (do Brasil) éramos considerados os magos do folclore brasileiro. No México, cantamos com vários trios e ficamos amigos de todos. Quando voltamos ao Brasil a gravadora pediu que gravássemos só em espanhol. Mas gravamos de tudo. O Trio Irakitan é muito eclético. Sendo bom, nós cantamos.
O senhor ainda demonstra gosto pela música.Esse entusiasmo vai até quando?O senhor não. É a segunda vez que me chama de senhor. Me chame de você, rapaz (risos). Bom, até quando puder estarei cantando; até quando Deus quiser. Mas a música não pára; a música é eterna!
HOMENAGEM A PAULO GILVAN (2ª PARTE)Esta matéria foi publicada em setembro de 2007, também no DN/O Poti. Lembro como se fosse hoje. Até conceituei como o melhor show daquele ano. No texto, a informação de que Edil foi homenageado pela Assembleia Legislativa como cidadão norte-rio-grandense, juntamente com seu irmão, ambos sergipanos. Mostra ainda os bastidores do show no TAM e curiosidades quase históricas, diria, como a participação de Chico Elion no palco. Uma noite divina.
Praieira de amores e homenagensUma noite seresteira de homenagens mútuas. Quem visitou o Teatro Alberto Maranhão segunda-feira sentiu até a presença de uma lua gorda imprescindível no cenário romântico de uma época mais lírica e provinciana. O Trio Irakitan cantou a Natal de boleros, de pega-rapaz nos cabelos, sutiã de bordas duras e casacos de veludo. O Ranchinho de Paia, de Chico Elion também se viu. E naquela aura de memórias recontadas, sentia-se um calafrio causado por um vento amigo e mensageiro; um vento que recebe preces e chega com notícias sobre a amada escondida. Parecia critério uma flor na lapela, seja uma flor-de-liz, um cravo ou uma imensa begônia. Os presentes no TAM vestiram-se como para uma noite romântica, de marcas de giz reescritas. Se jovens também estavam era para acompanhar os avós, já com dificuldades no caminhar.
E o teatro lotou para o lançamento do CD Praieira - um presente para a Natal de ontem e de hoje e uma homenagem ao Trio Irakitan, idealizado pela pesquisadora Leide Câmara. Com 57 anos de carreira, este é o primeiro CD do Trio - de raízes potiguares - gravado em Natal. Foram oito meses de ensaios e seleção de músicas para escolher as 13 faixas do CD. Leide Câmara disse que havia 150 músicas no repertório pesquisado por ela ou sugeridos pelo Trio. Entre elas, Linda Baby, de Pedrinho Mendes. ‘‘Queria muito que estivesse no CD. Mas o Trio gravou de todo jeito a música e não ficou bonita como ela é. Teve que ficar de fora. Falei com Pedrinho (Mendes) e ele entendeu’’, disse a pesquisadora. Edil, vocalista e violonista do trio, conta que gostaria de Anos Dourados, de Chico Buarque e uma música inédita de Evaldo Gouveia (famoso intérprete de sucessos de Altemar Dutra), no CD.
Edil e seu irmão, Edílson, foram homenageados ontem, às 10h, na Assembléia Legislativa com o título honorífico de Cidadão Riograndense, proposição do deputado Leonardo Nogueira. ‘‘Eu já me sentia potiguar. E agora fico sem palavras para agradecer esse gesto. Nunca vou esquecer essa homenagem’’, disse o sergipano Edil, com uma taça de vinho do porto na mão, durante a passagem de som antes do show. Os três estavam tranqüilos; pareciam em casa. O potiguar Paulo Gilvan Duarte Bezerril, único remanescente da formação original contou que, mesmo aos 77 anos e 57 de trio, ainda sente o mesmo prazer em cantar. ‘‘Até onde o povo agüentar vou cantar’’.
Gilvan confidenciou que há um projeto para gravação de um DVD ao vivo em Natal. A idéia é repetir mais ou menos o mesmo repertório do CD Praieira, com duas ou três músicas inéditas. Por enquanto, definido só a idéia da gravação. A fase é a da busca por patrocínios. E não deve ser difícil conseguir. O DVD será mais um presente para Natal, como frisa Leide Câmara. Ela lembra que o Trio já gravou no México, Inglaterra, Holanda e participou de 17 filmes, totalizando mais de mil gravações, espalhadas em 79 LPs entre discos de carreira e participações, 25 compactos, 32 CDs, entre discos próprios e participações, e mais 32 discos em gravação 78 rpm.
A emoção tomou conta do palcoNos ensaios, a passagem de vozes com Luna Lunera, imortalizada na voz de Ângela Maria, antecipava o que viria no abrir das cortinas do teatro. O show começou com atraso de 40 minutos, às 19h40. Mas o público deliciava-se em conversas de lembranças e histórias passadas. O teatro parecia uma grande confraria. Ainda de cortinas fechadas, o coro em uníssono de três vozes e os aplausos. Uma senhora seguramente com mais de 70 anos dirigiu-se com dificuldade à frente do palco e por lá ficou durante quase todo o show. Ela dançava solitária, por vezes de olhos fechados. Animava-se mais aos boleros. No intervalo entre uma música e outra, não se conteve e debruçou-se sobre o palco para pedir um autógrafo do CD que acabara de comprar. ‘‘A senhora será a primeira da fila quando acabarmos o show’’, prometeu Edil.
Nas cadeiras laterais do teatro, algumas senhoras também ensaiavam danças. Algumas até traziam a tona expressões moderninhas e gritavam ‘‘gostoso’’, ao final das músicas. Quando da música Moinho D’Água, composta pelo açuense Chico Elion e Edson França, da formação original do Trio, o potiguar, de macacão e chapéu, foi convidado a subir ao palco. Chico cantou sua música, gravada pelo Trio na Inglaterra. Antes de cantar e após paparicar os integrantes, disse: ‘‘Não fosse esses 100 mil anos do trio - porque eu os escutava quando era pequeno - não teria coragem de beijar estas pétalas de rosa numa madrugada tão cheia de cores’’. Ao final do show, Chico revelou: ‘‘Me lasquei todinho hoje. Com dor na garganta (mostra o remédio no bolso) e cantando no tom do outro ficou difícil pra mim’’, disse Chico, segundo ele, aos 77 anos e com mais de 400 composições escritas. Além de Moinho D’água, Chico Elion também emprestou Ranchinho de Paia para o CD do Trio.
Outra surpresa foi a participação da diva, ainda com uma voz potente e segura. A platéia a recebeu em pé e sob fortes aplausos. Glorinha cantou Caminhem, e reviveu a aura da magia do rádio potiguar na década de 50. “Faz de conta que o tempo passou...’’
PRAIEIRA
Cazuza sequer estava vivo para cantar que ‘‘o tempo não pára’’ quando Praieira foi composta quase que às pressas por Othoniel Menezes, para ser recitada por pescadores. E a letra é extensa. Muitos a conhecem apenas por trechos. Edil comentou no palco a dificuldade de memorizá-la e até pediu desculpas por alguns erros após a interpretação. E o Trio Irakitan reviveu um momento histórico no TAM - palco para a primeira interpretação da canção, na voz de Deolindo Lima, em dezembro de 1923. Após 84 anos e como se o tempo não parasse, a música era cantada novamente para um público que viveu a época das serenatas à luz da lua.
Depois de Praieira, Gilvan rendeu-se para homenagear uma amiga, carinhosamente chamada por ele de ‘‘Ane’’. É Ana Maria Cascudo – personagem presente desde o início do Trio. Gilvan contou no palco que os primeiros ensaios do Trio eram na casa de Câmara Cascudo, na Junqueira Aires. ‘‘Fernando (irmão de Ana Maria) proibia ela de assistir porque dizíamos muitos palavrões no ensaio’’. Gilvan, já emocionado, ofereceu Prece ao Vento, para a amiga Ane, música de Fernando Luís da Câmara Cascudo e parceiros. Um texto de Ana Maria Cascudo foi lido antes da entrada do Trio no palco. Ela contou a origem do nome Irakitan, dado por Cascudo e corroborado por Gilvan, e fez referência também ao livro de Heider Furtado, que se diz autor do nome.
O show foi mesclado com músicas do novo CD e do repertório clássico do Trio. A banda, formada pelo produtor e instrumentista Eduardo Taufic, e os músicos Jubileu Filho, Fernando Oliveira, Wagner Tse, Fábio Isaac, Alexandre Johnson, Zé Hilton e Faisal Hussein, por vezes deu lugar ao percussionista Carlos Raposo, um quarto integrante que acompanha o Trio há 19 anos. Raposo participou dos momentos mais intimistas do show; um show de memórias, homenagens e romantismo, para ficar na história da música potiguar.
O Rio Grande do Norte vale por essa gente. Grande trio Iraktan. Na política, Deus nos livre. Tu visse as declarações do senador de um milhão de votos? Pois é. Garibaldi disse que só abre da presidência do senado se Henrique for o presidente da Câmara. Disse mais que tem agora dois votos certos no senado, "pois vou levar papai comigo". parou aí? Não. Disse que o povo já tá cansando da sua geração, que precisa renovar. Com quem? Com seu filhinho Waltinho, para a prefeitura de Natal. Alguém aí sabe os nomes dos netos dessa gente? É bom saber, pois serão os governadores do futuro. ô futuro sem futuro... Abelardo Gomes de Lima.
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