terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Os 10 mais do Uol Cinema


Esta é a segunda edição da lista dos dez melhores filmes do ano segundo o UOL Cinema. São, na nossa modesta opinião, os melhores títulos lançados em São Paulo no ano passado. Foi o único critério utilizado, sem divisões geográficas, nem por gênero. Este ano, foi difícil compilar a lista sem cometer injustiças, como por exemplo deixar de fora "Amantes", "Inimigos Públicos" ou até "Arraste-me Para o Inferno" - todos dignos de figurar entre os escolhidos. Por alguma razão, no entanto, a lista abaixo se impôs. Mais uma vez, convidamos você a fazer a sua, com justificativa ou não, para que possamos compará-las. Afinal, os filmes servem para isso mesmo, estimular a nossa percepção do mundo, embarcar na imaginação e especialmente discutir sobre eles.


1 Bastardos Inglórios
Releitura de "Assalto ao Trem Blindado" (1974), de Enzo Castellari, o filme de Quentin Tarantino faz uma homenagem ao cinema, ataca o recurso da guerra e fala também sobre a interminável espiral da vingança - um tema tão perene quanto atual. Alvo de críticas por parte de grupos politicamente corretos, o cineasta mostrou estar com a criatividade inabalável e o olhar muito aguçado.

2 UP - Altas Aventuras
O viúvo Carl Friedriksen, dublado no Brasil por Chico Anysio, está entre os personagens mais carismáticos e bem acabados do cinema mundial. Aos 80 anos e sem a companheira de uma vida inteira, Carl decide empreender a viagem que sempre sonhou quando um incidente quase o afasta de sua casa. Ao lado de um solitário escoteiro, ele atravessa o continente para viver a grande aventura de sua vida. Ao transformar um velho rabugento em protagonista de uma animação, ao expor os problemas da vida sem meias cores e ao transformar uma dupla improvável em grandes heróis, a Pixar demonstrou que tudo é possível quando a imaginação não é pequena e não está atrelada a regras e padrões.

3 Avatar
James Cameron demorou mais de uma década para desengavetar um velho projeto de ficção cientítica que dependia de aperfeiçoamentos na tecnologia do cinema em terceira dimensão para ser realizado. Passou esse tempo pesquisando e desenvolvendo novos equipamentos, até que se sentiu seguro para investir nessa empreitada. A espera foi recompensadora e pode mudar o rumo de toda uma indústria, organizada para abastecer os espectadores com outro tipo de espetáculo visual. Além do prodígio técnico, é bom lembrar que, com este filme, Cameron não perdeu de vista a essência do cinema, nem suas principais e tradicionais referências.

4 Gran Torino
Pequeno, barato e de produção rápida, este filme só não seria de Clint Eastwood se sua história, poderosíssima, não tivesse a força que tem. O próprio Eastwood faz o papel principal, de Walt Kowalski, ex-combatente da Guerra da Coréia e operário aposentado da Ford que passa por cima dos próprios preconceitos para ajudar uma família de imigrantes que vive na casa ao lado da sua. O ator e diretor discute não só o conceito de ética, mas também o esvaziamento dos princípios pelos quais alguém vive. Curiosamente, o filme passou batido nas premiações americanas em 2008, ano em que foi lançado nos EUA, sem nenhuma indicação ao Oscar. Só foi lembrado pelo National Board of Review, que entregou a Eastwood o prêmio de melhor ator e ao novato Nick Schenk o de melhor roteiro original.

5 Cidadão Boilesen
Dirigido ao longo de 15 anos por Chaim Litewski, o documentário sobre o famigerado empresário dinamarquês radicado no Brasil, que ajudou a financiar a Operação Bandeirantes e foi morto por guerrilheiros nos anos 70, é uma das principais surpresas do ano no cinema brasileiro. Vencedor do Festival Internacional de Documentários - É Tudo Verdade, que se encarregou de chamar a atenção do público e criou condições para que Litewski pudesse terminá-lo, o filme abre mão da reverência ou da gravidade no trato do tema para abordá-lo de maneira leve, sem ser leviano, e moderna, sem ser vazio. Uma lição de cinema e de História para as novas gerações.

6 Entre os Muros da Escola
Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2008, o filme de Laurent Cantet sobre o sistema de ensino público francês parte de uma experiência real para reproduzi-la na tela como ficção, tendo não atores como protagonistas de suas próprias histórias. Cantet se inspirou no livro autobiográfico do professor François Bégaudeau, que conta sua experiência como professor em uma escola pública. O próprio Bégaudeau interpreta a si mesmo, assim como parte dos alunos em sua sala de aula. Um filme duro e difícil, mas diferente de tudo o que se fez antes sobre o mesmo tema.

7 Distrito 9
Estreia na direção de longas metragens do sul-africano Neil Blomkamp, esta ficção científica moderna, com cara de falso documentário, tem inspiração em um curta do próprio diretor, "Alive in Joburg". O filme nasceu de um desagravo do produtor Peter Jackson, com quem Blomkamp estava trabalhando na adaptação do game "Halo" para o cinema. Frustrado com a negativa do estúdio em seguir em frente, Jackson decidiu levantar dinheiro e financiar ele mesmo um projeto do jovem estreante. O investimento se pagou: o filme reflete sobre preconceito e ensina a apurar o olhar, além de ser uma aventura originalíssima.

8 Horas de Verão
O filme de Olivier Assayas faz parte de um projeto promovido pelo Museu D'Orsay para comemorar o aniversário de 20 anos da instituição. Em vez de fazer um filme para falar do museu, Assayas preferiu discutir com naturalidade o peso e a importância do legado artístico deixado por uma família. A história em torno desses personagens é simples, sem grandes discussões ou catarses. Os dramas pessoais são revelados aos poucos nos diálogos. E o que mais interessa ao diretor e roteirista é a percepção da dinâmica familiar, o peso da memória e a importância de se preservá-la, seja através da arte, como da pesquisa histórica ou da manutenção de arquivos.

9 Abraços Partidos
Quando Pedro Almodóvar faz filmes medianos, ainda está muito acima da média. É o caso deste conto sobre um cineasta que se apaixona pela atriz do filme que está fazendo, e também mulher do produtor, um poderoso empresário. Já cego após um acidente, ele tenta reconstituir o trabalho, a partir da ajuda de uma colaboradora e seu filho. Como em seus melhores trabalhos, "Carne Tremula", "Tudo Sobre Minha Mãe" e "Fale Com Ela", o protagonista vai em busca de algo que se perdeu pelo caminho para tentar recuperá-lo ou reconstituí-lo à sua maneira. Neste caso, a particularidade está no olhar do diretor cego, que não existe mais, mas não o impede de refazer, como concebera originalmente, o filme dilacerado pelo antigo produtor.

10 Aquele Querido Mês de Agosto
Revelada pela Mostra Intermnacional de Cinema em São Paulo, esta pequena comédia portuguesa é uma preciosidade, uma pedra bruta a ser lapidada com o olhar. Em uma cidadezinha do interior português, a produção de um filme atrai para si todas as atenções, especialmente dos jovens. O filme conta a história desses jovens, das tradições locais e da produção do próprio filme. O diretor Miguel Gomes, que está no filme como um de seus protagonistas, resolve a questão da metalinguagem de forma simples e inteligente, algo que as grandes estruturas e todos os recursos jamais proporcionariam.

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