Entrevista de Pedrinho Mendes a Edson BenignoNo suplemento Nós do RN
Do blogueiro: Antes de ler esses trechos da entrevista de três páginas que fiz questão de transcrever aqui, peço perdão a Pedrinho, mas o relato dele traduz uma condição miserável ao artista potiguar. Pedrinho é o nome mais representativo da nossa música atual. Só mesmo em uma terra de cosmopolitas matutos pra deixar um cara chegar a esse ponto. Pedrinho é vítima do que cantou. Natal é ingrata; não é lá essa Linda Baby. A quem conseguiu míseros espaços fora daqui, não siga a música: não volte aqui. Nós do RN: Antigamente era muito difícil viver de música. E hoje?Pedrinho Mendes: Hoje é mais difícil ainda. Só que aí eu finquei o pé. Claro que - como tenho pai, mãe, tios e irmãos - tem meses que quem banca é o "paitrocínio" mesmo. É a mãe que chega junto no aluguel, é o irmão que paga a escola do meu filho porque naquele mês não deu pra pagar, é Maeterlinck que chega com o fardamento escolar. Porque não dá pra sustentar. A gente faz alguns shows durante o ano, como o Projeto Seis e Meia, Circo da Luz e Cientec (Semana de Ciências, Tecnologia e Cultura), mas se for somar, não dá nem um show desses por mês, quando se ganha um cachê diferenciado. Aí tenho que cantar em um buffet onde alguém está comemorando bodas de prata, recebendo cachê menor. Como os dois elepês viraram CDS, e depois eu lance outros dois discos, um eu interpretando e outro eu interpretando, coloco esses discos na bolsa e vendo. Passei a ser vendedor. Se os caras vendem discos-pirata dos outros, porque não posso vender original meu? Rende uma certa condição de tirar o mês.
Nós do RN: Como você avalia o fato de o poder público contratar artistas de fora por pequenas fortunas, pagar seus cachês em dia, e dispensar para o artista local um tratamento exatamente o oposto?Pedrinho Mendes: Natal é muito madrasta: sempre adota os filhos dos outros, aos quais acha lindos, e acha os seus próprios filhos feinhos. Isso é um fator provinciano. Há um excesso de hospitalidade e de se impressionar com uma coisa só porque não é daqui. Fiz um show de 1.500 reais pra Prefeitura no dia 4 de julho e só recebi na primeira quinzena de janeiro. Não discuto quando se paga 220 mil reais para Padre Fábio. Mas se tem condições de pagar 220 mil por um show dele, subtende-se que tem 30 mil pra pagar um show de Valéria, Sueldo, Babal ou Pedro Mendes. Mas pagam mil, dois ou três mil. Essa diferença enorme prejudica e muito o artista local. Às vezes saio daqui, como fui a Icapuí, no Ceará, para cantar quatro músicas em um acampamento sul-americano da juventude, e ganhei 1.500 reais. Cachê que pra receber em Natal eu tenho que fazer um Seis e Meia, com banda, e cantar uma hora. Acho que há até uma falta de respeito. Sou autor de uma música que é considerada o hino extra-oficial da cidade. Já cantei "Linda Baby" muitas vezes para o hasteamento da bandeira de Natal. Às vezes eu abro show aqui para gente que tava enterrada lá em São Paulo, que nunca mais tinha feito um show na vida. Ele leva vinte mil e eu ganho mil.
É isso aí, Pedrinho. Você é um craque, mas onde você joga a grama foi comida pelos "cosmopolitas" da cidade. Tem de arranhar o joelho no pedregulho. Ainda tem fela da puta com teorias de que é preciso escolher os menos ruins na eleição. Tem menos ruim não. É tudo mais ruim. Marcos Lima.
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