Khrystal amarrou a voz na calda das notas musicais. E com nó cego. Só pode. Com aquele jeito arretado, segue no encalço desse cometa melódico, feito Tom perseguindo Jerry. É uma afinação inseparável entre intérprete e melodia. O xote, o côco, o regionalismo mais puro é que seguem Khrystal. Eles precisam dela. Ora, já morreram Lua Gonzaga, Elino Julião, Jackson do Pandeiro. E a melhor morada para os ritmos do nosso Nordeste musical fincarem novo chão é a voz da nossa potiguar.
Não é coisa de preto. Nem de sulista ou nortista. É música para o Brasil ouvir e cantar. No Praia Shopping, ontem, tinha gringo rebolando, paulista cantando e natalense com a letra de uma composição potiguar na ponta da língua. Dela e de Elino Julião – plateia quase em uníssono cantando Coisa de Preto e Forró da Coréia. Ou ensaiando passos de côco em WWW.Sem ou balançando a cabeça e batendo palma no ritmo dos xotes do novo trabalho, O Trem – canções de melodia gostosa, ritmada.
A energia no palco é imcomparável em centenas de quilômetros. Já disseram que se James Brown estivesse de uma lado do palco, nada adiantaria Beatles, Rolling Stones ou quem fosse. As atenções estariam para o rei do Soul. Vi algo parecido com Tina Turner, em fins da década de 70. Khrystal pulsa nordestinidade. Ela apaga qualquer artista brasileiro que dividir palco com ela. Parece voz política, de contestação de um povo que pede espaço, atenção. Mas é pura música. É "só" música!
A banda é mais entrosada que Pelé e Coutinho. Craques da nossa música. E ainda com bônus das excelentes composições de Ricardo Baia. Zona Norte Zona Sul encaixa perfeita na proposta musical e pessoal de Khrystal. É provocativa, melódica e escancara hipocrisias. Não à toa produziu polêmica no Auto de Natal. E desce Khrystal do palco do Praia e pergunta à plateia, olho no olho: “Onde mora seu preconceito?”. O do sulista do país, lhe digo, mora no Nordeste, ou estenderiam o tapete vermelho a Khrystal.
- Foto: Aurino Neto
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