Em tempos de pirataria, loja de CDs e DVDs vende cerveja e petiscos para complementar rendaA febre dos downloads gratuitos de músicas e geringonças eletrônicas em formado Mp3, Mp4, Iphone e outros filhos da modernidade têm seus dias contados. Basta lembrar o longo período de reinado dos vinis ou o fenômeno da tecnologia digital do CD. Este último, até pouco tempo, era a grande coqueluche dos inveterados fãs de música, seja ela qual fosse. Para o comerciante Ary Ramalho, há apenas oito anos a venda de CDs atingiu o auge. Hoje, amarga dias e mais dias de poeira nas prateleiras. São os filhos pobres de uma indústria fonográfica ainda perdida na era da democratização da música via internet ou mercado informal.
Ary abriu a loja Letras & Músicas em 1993, mais ou menos quando o advento do CD de música começava a se popularizar no mercado. Já no início vivenciou bom volume de vendas. Assistiu ao crescimento do mercado, dos lançamentos e reedições em novo formato digital, sem os charmosos ruídos dos “bolachões”, mais práticos e de fácil manuseio. O sistema da loja era o de troca e compra de CDs. E sempre se diferenciava pela quantidade razoável de raridades musicais e qualidade dos trabalhos comercializados. Foi assim que Ary conquistou um público fiel, amante da música.
Há mais de 20 anos na Rua Floriano Peixoto, em Petrópolis, Ary assiste outra realidade. A loja hoje mantém a clientela dos velhos tempos. Mas a pedida agora é outra. O comércio de CDs e DVDs permanece. Estão ali nas prateleiras e gôndolas da loja. Mais escondidos estão alguns vinis – reis por boas décadas, desde 1948 até os fins da década de 80. Por trás do balcão é onde está a maior novidade: geladeiras repletas de cervejas, refrigerantes e mais uma variedade de bebidas. Acima, uma prateleira com saquinhos de petiscos. É a alegria dos freqüentadores.
A velha loja de CDs raros é hoje muito mais uma confraria de habitues de gosto incomum. De quarta à sexta-feira, das 18h às 20h ou nos sábados a partir das 11h30, visitam a Letras & Músicas para papear a respeito de artes em geral, regado a cerveja e música, claro. São autônomos, profissionais liberais e poetas malditos e benditos. O local, de poucas cadeiras, facilita a mobilidade e o bate-papo. Na TV de 50 polegadas, alguma novidade em DVD é exibida. E ajuda a vender algumas unidades. “A venda de CD é inviável hoje em dia. A proporção é de 10 para 1, se comparado a 2002”, compara Ary.
O comerciante, formado em Estatística diz que mantém a venda de CDs e DVDs como complemento. “De rock e música clássica ainda se vende mais porque são clientes mais exigentes, que admiram o encarte do CD, o material gráfico. E no caso da música clássica, a própria internet, não buscou muito esse nicho de mercado”. Com a experiência de quase três décadas no mercado, Ary afirma ser insensatez remar contra a maré da evolução. “O CD é um produto em queda. É a evolução inevitável. Não há volta. A internet atingiu em cheio a indústria da música que nem teve como se defender”.
Para manter o negócio, Ary começou de forma despretenciosa a trazer algumas cervejas aos clientes que por ali gostavam de se encontrar para discutir música e outros assuntos. O negócio tomou corpo à proporção da queda na venda de CDS. E aos poucos se tornou a principal pedida da loja. Reformas foram feitas para adaptar a loja a um pequeno bar sem deixar de perder a essência de loja de CDs, mesmo sendo o tal produto em queda e amparado no aforismo “dançando conforme a música”. É Ary quem ironiza, sem dó: “O saudosista do CD vai ficar mesmo na saudade”.
* Matéria publicada hoje no Diário de Natal
Contas rápidas: se a loja abriu em 1993, como está na Floriano Peixoto há mais de 20 anos?
ResponderExcluirErro: está há 13 anos!
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