Vídeolocadoras sucumbem frente à pirataria e enxergam nas novas tecnologias a saída para sobrevivênciaEm seis anos o número de locadoras de vídeo caiu quase 95% em Natal. As oito sobreviventes do naufrágio da legalidade frente aos “piratex” nadam contra a maré e se agarram a outros serviços para manter o comércio. O cenário é claro: a ilegalidade venceu o comércio legal. O mercado da pirataria – travestido de informal ou problema social – forçou a falência de cerca de 130 videolocadoras na cidade na última década. E embora pareça tendência o crescimento dessa prática criminosa, o surgimento de tecnologias como o blue ray e o 3D prometem inviabilizar a cópia pirata e reacendem a esperança de velhos comerciantes do ramo.
A queda no faturamento nos últimos seis anos – desde que o advento do DVD surgiu e facilitou a cópia pirata dos filmes – se aproxima aos 60% nas principais videolocadoras da cidade. O número de funcionários foi reduzido em aproximadamente um terço. O valor do aluguel dos filmes está congelado há dez anos em quase todas elas. E a redução da freqüência de jovens acende a luz vermelha para o futuro. Diante do cenário pouco promissor, comerciantes adotam novos critérios na compra dos filmes, procuram novos serviços para atrair o cliente e esperam pacientemente mais dois ou três anos para a chegada do blue ray.
Pizzaria, mini-conveniência, lanchonete e comércio de eletrônicos e equipamentos de áudio e vídeo são algumas das alternativas encontradas pelos donos de videolocadoras para sobreviverem por mais tempo. Fátima Alves está à frente da Videolaser há 20 anos. A locadora detém o maior acervo de filmes de arte da cidade – gênero pouco explorado pelo mercado pirata. Ainda assim, a queda no faturamento se aproxima dos 70% nos últimos seis anos. Fátima demitiu seis funcionários e mantém quatro. Diz que o momento é de selecionar os filmes a serem comprados para evitar prejuízo em compra equivocada, de pouca demanda.
“O preço de um filme lançado no mercado gira em torno de 120 reais. O que eu e muitos estão fazendo é esperar 45 dias para comprar pela metade”, confessa Fátima. No outro lado do ringue, a vantagem da prática criminosa em comercializar o filme muitas vezes antes do lançamento nos cinemas. “E ainda seleciono mais o filme que compro. Hoje vou mais pelo diretor, pelo ator para saciar o pedido dos clientes. Esses filmes de temporada o cidadão encontra mais fácil na pirataria”. Fátima lamenta que mesmo os filmes de arte (em maioria, europeus) tenham registrado queda na procura. Mas junto com o segmento de filmes eróticos, manteve boa demanda.
Fátima culpa a “péssima” fiscalização e a falta de tempo das pessoas pela baixa na loja. “Natal talvez tenha a pior fiscalização do país. Turistas e clientes da loja reclamam que a pessoa é quase forçada a comprar porque em cada esquina tem oferta de DVD pirata e ninguém faz nada”. A comerciante lembra a iniciativa da prefeitura em fechar o comércio pirata no camelódromo da Cidade Alta, quase vizinho à sede da prefeitura. “Intimaram, depois concederam prazo, reaprazaram e desistiram. Estão lá do mesmo jeito. Uma cliente minha, francesa, fica impressionada com o volume da pirataria em Natal. E com o comércio ilegal ao lado, muitos deixam de freqüentar a locadora”.
A nova era do blue ray“Quando comecei, em 1984, o aluguel do filme em VHS equivalia ao valor da entrada dos cinemas Rio Grande e Nordeste. A entrada para o cinema hoje vale 12 reais e o aluguel do filme gira entre dois e cinco reais. Aluguel de DVD não dá mais lucro. Se eu continuasse apenas com isso já teria fechado”, lamenta Ronaldo Miranda, dono da Canal Um. Desde o início Ronaldo vislumbrou o crescimento da pirataria e mergulhou no rio calmo do comércio dos equipamentos de áudio e vídeo para compensar as primeiras quedas de lucro com a pirataria em VHS. E já pensando à frente, já começou o aluguel de filmes em blue ray, adequados em televisões com alta definição ou full HD.
A estimativa de Ronaldo é de que em menos de dois anos o blue ray mine a cópia pirata de filmes. “A mídia (o disco virgem, com capacidade de 25 GB, enquanto o DVD tem capacidade para 4.6 GB) do blue ray custa entre 28 e 35 reais. Se for de dupla camada são 285 reais. É inviável para a cópia pirata. Eles precisariam de uns três anos para chegar a um preço comercial. Mas nesse tempo, já terá surgido a tecnologia em 3D (disco com capacidade para 500 GB), que será impossível a reprodução. E o cinema já se iniciou nesse mercado. Filmes em 3D representarão a nova era da indústria do cinema”, opina Ronaldo.
A própria evolução tecnológica das televisões também representa importante arma contra a pirataria. “A imagem de um DVD pirata em uma TV de alta definição ficará péssima, pior do que já é. Se for a TV com LED, pior ainda. Fica uma imagem lavada porque a tecnologia só aceita imagem de alta definição para preencher os espaços”. Mesmo com a promessa de uma volta das cinzas, Ronaldo afirma que o aluguel de filmes deixou para sempre de ser negócio promissor, como foi no início. “Mesmo com o fim da pirataria, há também o download gratuito na internet, embora o tempo para baixar um filme em blue ray dure em média seis dias e com qualidade abaixo do esperado”. E conclui: “Acredito que o tempo das videolocadoras passou. Vivemos novos tempos”.
"A locadora detém o maior acervo de filmes de arte da cidade". Não detem não. Acho até meio óbvio e preguiçoso esse acervo da Videolaser. A de maior e melhor acervo é a Planeta Vídeo, que fica ali em Petrópolis, na Trairí com Campos Sales. Faltou dizer na matéria que aquela vendinha lá, a 7ª Arte, é um dos pontos de vendas de dvd's piratas que mais prejudica uma boa locadora, e só quem vai lá comprar nesse comércio ilegal é gente de muita bala na agulha.
ResponderExcluirPois é a 7ª arte é um dos antros de pirataria de Natal, mas fica praticamente do lado da prefeitura e alguém faz alguma coisa? Não! E digo mais, é capaz de algum político ter um batalhão de vendedores de dvd´s piratas. Aqui em Natal, não duvido de nada!
ResponderExcluirAh sim, Ronaldo, para baixar um Blue Ray leva menos de um dia, a cabotelecom disponibiliza velocidade de 10mb, então é rapidinho...
Carlos, mas pagar 10MB, salvo engano, são R$ 160. Será que compensa? Mas é uma alternativa.
ResponderExcluirInté!
Rapaz, eu não pagaria! Mas para quem vai piratear "vale a pena".
ResponderExcluirPorra, tu foi mais rápido! Tava com uma pauta dessa na cabeça faz tempo. Ia fazer pra Catorze. Mas a agenda lotada acabou me atrapalhando.
ResponderExcluirSempre vou na Videolaser. Gosto demais dali. Me lembro que ano passado aluguei uma fita VHS só porque não tinha em DVD. Era A Natureza Quase Humana, roteiro do Charlie Kaufman.
Pois é, perdeu para Sérgio! Tem que ser rápido mané! Depois fica dando desculpa!
ResponderExcluirA geração de hoje já nasceu sem lojas de CDs é com Internet com banda larga de 10Mbits ou mais provavelmente nem sabe o que e um vídeo locadora. No Torrent e possível baixar um filme completo com mais de 5.5 GB em 5 minutos.
ResponderExcluirDesculpe mais e o fim das videolocadoras assim como aconteceu com as lojas de CDs. Os donos demoraram a esboçar uma reação E não acompanharão a mudança do mercado. provavelmente hoje em dia não tem mais como reverter esta situação. Até os piratas chegaram ao fim.