quinta-feira, 13 de maio de 2010
Múltiplas escatologias
Por Marcos Silva
no blog Papo Furado
Amigos e amigas:
François Silvestre fez uma crítica erudita àquilo que chamaram de socialismo, qualificando-o como escatológico. Entendo que François explorou inteligentemente o duplo significado desse adjetivo: referência filosófica aos objetivos finais da condição humana e referência médica ao estudo de fezes. Aquilo que chamaram de socialismo (URSS, China, Coréia & Cia.) anunciava um estágio superior e até final da humanidade e patinou (ou ainda patina) entre fezes de autoritarismo que exalam o odor característico.
Penso que aquele socialismo fake não é levado a sério por ninguém, exceto pelos que desfrutam de suas benesses (minoria partidária) ou que sofrem seus horrores. Nesse sentido, atacá-lo é chutar cachorro morto ou moribundo, mesmo que portador de raiva e perigoso.
Por uma questão de respeito à crítica como exigência do pensamento, considero urgente estendermos o adjetivo ao capitalismo, o capitalismo escatológico. Esse é cachorro vivíssimo, igualmente hidrófobo e ameaçador rotweiller ou pittbull. Convido todos a não se iludirem com a aparência do bicho.
Abraços a todos e todas:
Marcos Silva
Do blogueiro: concordo e discordo do Marcos. Penso que o socialismo real nunca existiu. E se existisse, fracassaria. Talvez em épocas remotas, quando sequer havia hierarquia estatal... Então, é difícil vislumbrar a prática de uma teoria. Mas imagino uma humanidade completamente despreparada para receber as bençãos do socialismo. Um mundo igualitário é utopia. Homens foram feitos para liderar, outros para serem liderados e outros para nunca aceitarem lideranças. Isso para ficar em um exemplo. O mundo é treinado há mais de 300 anos para competir, para consumir, sobrepor, usufruir, luxar. Mesmo o sagrado livre-arbítrio pode atrapalhar decisões em um sistema dito igualitário. Ainda assim, mesmo sob todos esses revezes, imagino um mundo mais equilibrado sob vários aspectos do que essa "pré-humanidade" assistida hoje. O capitalimo é um sistema autodestrutivo. Mesmo que esse fim demore ou dure até 2012. Os tempos são de mudanças. Essa confusão e esse medo todo talvez até estimule um anarquismo comedido. Mas atingir o nível pretendido para um socialismo marxista ou trostkista, ah, estamos há séculos de distância!
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Prezado amigo Sergio:
ResponderExcluirObrigado pelo comentário.
Lembrei de uma antiga canção de Caetano Veloso: "Eu nunca quis pouco / Falo de quantidade e intensidade / Bomba de hidrogênio / Luxo para todos, todos" (Muito).
Certamente, as teorias socialistas foram importantes utopias, embora Marx e Engels vissem pejorativamente essa condição. Como utopias (não-lugares, lugares inexistentes), eram críticas às sociedades opressivas. Quando viraram eutopias (lugares existentes e de suposta perfeição), tiveram brevíssimos momentos de invenção (a URSS entre 1917 e 1921, vozes de múltiplos socialismos - anarquistas, reformistas, comunistas), sucedidos por sufocantes centralismos e monopólios.
As utopias podem desempenhar funções críticas ainda hoje. A função de eutopia está monopolizada, hoje, pelo capitalismo mesmo - "Consumir é viver / conviver é sumir", outra antiga canção, agora de Paulinho da Viola e Marcus Vinicius).
Talvez possamos aprender, com a experiência dos socialismos fake, a estabelecer metas um pouco mais modestas de igualdade e a reconhecer diferenças que não são opressivas.
Quanto a luxar: por que não, se for um direito para todos? Eu costumo repetir: dinheiro é ótimo, pena que poucos tenham acesso ao suficiente para uma vida decente. Uma meta imodesta: decência para todos.
Abraços:
Marcos Silva