Desprestígio à arte provoca transferência de escultura gigante de Natal à praia de Caraúbas
O anjo azul de 12 metros de altura esculpido na avenida mais movimentada da cidade será transferido para outra cidade. A notícia parece menor quando o motivo para a remoção é o desprestígio do natalense com a arte. A Galeria Anjo Azul – onde a escultura de Jordão está alojada – fechou por falta de público. E lá estavam expostas obras dos maiores artistas potiguares e de nomes internacionais. Outro sintoma da cidade que desconsagra qualquer artista foi constatado ao doar a mais cara e renomada obra de um dos maiores escultores do Estado. Segundo o próprio Jordão, durante semanas ninguém quis receber o Anjo.
O interesse partiu da vitralista Analys Berti. A área da Galeria Anjo Azul foi vendida junto com a estátua a Adroaldo, dono de loja de tapetes. Até iniciar a reforma, Adroaldo colocou à disposição o Anjo Azul a quem desejasse levar. Seria uma espécie de troca: ela doaria a quem patrocinasse a retirada da estátua. Analys, amiga de Adroaldo, abocanhou a chance e entrou em contato com a prefeitura de Maxaranguape para firmar compromisso de fincar a escultura na praia de Caraúbas – um distrito da cidade ainda dominado pela beleza rústica de uma vila de pescadores, localizada a 50 quilômetros de Natal.
Por enquanto há o compromisso da prefeitura e dois projetos em mente para abrigar a estátua. O primeiro é próximo à Igreja de Caraúbas. “Um arquiteto até já veio falar comigo. Parece que só falta a ‘dinheragem’. Minha ideia era de água ao redor da estátua, com água jorrando e iluminação bonita”, vislumbrou Jordão. A ideia da nova proprietária da obra é a outra alternativa: “Na praça ela iria competir com a Igreja que é muito bonitinha e de mesma altura. Seria mais adequada mais embaixo, numa enseada, próxima à vila de pescadores. Mas por enquanto o quero mais é atitude em retirar a estátua”, estima Analys.
A remoção da obra é complexa. “É coisa tão cara quanto foi a elaboração da escultura. E essas coisas sendo pela prefeitura são muito morosas, né?”. O escultor adianta ainda que será preciso cavar o redor da base e retirar as peças possíveis de remoção para facilitar o trabalho do guindaste em colocar a obra em um caminhão baú, para só então iniciar novo trabalho de concretagem da estátua – esculpida em concreto armado – em seu novo local de exposição.
Jordão encarou a transferência com ponderação. Após trabalhar a olhos vistos na obra entre o dezembro de 2006 e outubro de 2007, o artesão disse perder a visibilidade diária de uma escultura fincada em uma das principais avenidas da cidade. Mas comemorou também as possibilidades do novo local, mais visto por turistas e enaltecida pelos nativos. “Até estou pensando em montar um cantinho para eu trabalhar lá em Caraúbas”. Essa notícia também motivou Analys, já proprietária de um atelier na praia. “Podemos montar no local um ponto cultural e artístico. Será ótimo para a cidade”.
Longe do prestígio conquistado pelo colega de ofício, Chico Santeiro, em meados do século 20, quando chegou a receber uma casa na pitoresca praia de Areia Preta, pelo então governador do Estado, Dinarte Mariz, Jordão ainda consegue sobreviver da arte, em uma casa humilde situada no conjunto Morro Branco. Ficou mais conhecido como o autor da estátua Anjo Azul, encomendada pelo comerciante Anchieta Miranda, então dono da Galeria homônima e abrigo para variadas vertentes da arte: escultura, pintura, entalhes, antiquários, objetos decorativos e outros níveis da arte.
* Matéria publicada hoje no Diário de Natal- Foto: Daiane Nunes
Mas convenhamos: a escultura estava em um local totalmente inapropriado. Em uma praça, com uma fonte, realmente pode ficar interessante, mas ali era totalmente estranho, não um estranho legal, um estranho-estranho mesmo.
ResponderExcluirQuanto à galeria, estive lá uma vez e não foi à toa que fechou. Os preços eram absolutamente impraticáveis. Coisa pra gringo ver (e pagar)