Por Julio Daio Borgesem
Digestivo CulturalAo contrário dos jornais que passaram anos ignorando a questão da internet para depois se relançar como “do futuro”, o mercado editorial brasileiro se comportou de forma mais madura, e depois do Kindle (e do iPad), resolveu encarar o assunto da digitalização.
A Companhia das Letras saiu na liderança com, justamente, A Questão dos Livros, de Robert Darnton, ex-professor de Princeton e atual diretor da biblioteca da Universidade de Harvard. O volume foi considerado datado pela imprensa e, de fato, Darnton coligiu seu ensaios antes do iPad (a Amazon, por exemplo, surge mais como livraria do que como editora ou distribuidora de livros eletrônicos).
Possivelmente redigido no auge do Google – antes da Apple ultrapassá-lo em valor de mercado –, o livro discute basicamente o avanço do gigante das buscas em direção ao acervo de bibliotecas públicas.
Darnton escreve à maneira de um acadêmico francês com aversão ao capitalismo, mas seu argumento faz sentido (embora tenha perdido a força): o Google Book Search está se apoderando de um patrimônio comum, para veicular anúncios e “monetizá-lo”, atropelando editores, autores e guarda-livros.
O tom de A Questão dos Livros é apocalíptico, e alguém que o ler sem as últimas informações do iPad e do Kindle, vai se preparar para a débâcle da civilização. O fato é que, em matéria de livro eletrônico, a Amazon tomou a dianteira e a Apple lançou sua versão de leitor apenas neste ano.
Outros fabricantes, como a HP, também devem consolidar seus aparelhos, mas a verdade é que o Google não se definiu em matéria de tablet (apesar dos rumores). Ninguém imaginava, ainda, que o iPhone (2007) fosse se consagrar como plataforma e, na sua esteira, o promissor iPad. Assim, os temores de Darnton se revelaram infundados, porque o Google Book Search não se tornou tão hegemônico.
Mais um exemplo: Tim O'Reilly, o editor e visionário da Web 2.0, teme, hoje, muito mais a Apple do que o Google (em termos de monopólio). A digitalização dos livros é, definitivamente, um fato, mas A Questão dos Livros serve para nos mostrar que a discussão de ontem não é a de hoje, muito menos os vaticínios e os temores.
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