Visito Pipa há uns 25 anos e nunca me alonguei no percurso até Baía Formosa. Visitei no último fim de semana, convidado pelo 2º Festival Gastronômico da Albacora. É fácil o vislumbre de uma praia ainda dominada pela rusticidade da pesca artesanal à futura enseada repleta de grandes hoteis e restaurantes sofisticados. Já há indícios disso. A beira-mar ainda é morada de nativos. Mas em terrenos mais urbanos as construções de grandes empreendimentos já acontecem.
A paisagem do mirante ainda é bela. Dezenas de barcos ancorados ou em atividade, se lançando em alto mar. Pescadores jogam tarrafas e o sinalizador fincado na ponta do "Picão" (uma parede de arrecifes) ainda serve de referência à noite. São mais de 100 barcos nesta época de redes cheias. Embarcações dos municípios de Galinhos, Diego Lopes, Caiçara e redondezas ficam até o fim de dezembro. Nativos de Baía Formosa, há uns 60 barcos, a maioria motorizados, sendo uns 20 botes.
O peixe albacora, que nomina o Festival, é o mais comum e característico da região. É um atum grande, na verdade; muito saboroso. Mas ali também se pesca muito galo do alto, cioba e paru. A situação difícil dos pescadores - eternos personagens de Hemingway - se repete lá na Baía. São maltratados pela interferência dos atravessadores e donos de barcos, sem apoio da Colônia de Pescadores, tal como no Canto do Mangue natalense.
A Colônia tem mais de 900 cadastrados. Pescadores mesmo, menos de 300. Até taxista e bugueiro pagam a taxa mensal de R$ 9 para receber aposentadoria pela Colônia. Enquanto os pescadores - reais beneficitários - ficam à margem. Alguns se lançam por 6 horas mar adentro. Dormem dias no mar, em pequenas embarcações. Os compartimentos são sem ventilação, muitas vezes. Quando chegam, vendem o quilo do peixe por R$ 1 ao marchand e estes, por R$ 2,50 ao cidadão.
Em breve, esses pescadores serão mais escanteados pela lei de mercado. Além dos surfistas, a "gringaiada" também descobriu Baía Formosa. Há um polonês desejoso em montar ali uma Mostra Internacional de Cinema, além de uma mansão projetada pelo arquiteto Felipe Bezerra - coisa de cinema, com o perdão do trocadilho. Foi dele a ideia de montar um telão sofisticado para exibição de dois filmes durante o Festival Gastronômico. Filmes que causaram extremo constrangimento. Crianças e famílias inteiras convidadas a assistirem cenas de sexo explícitas e diálogos narrados - uma lástima!
O Festival propriamente dito foi uma beleza. A primeira edição serviu de experimento, no ano passado. E já neste segundo evento, um público numeroso esteve presente. O formato do Festival é extremamente aconchegante. Os 21 estandes são conjugados formando uma rede de 21 bares e restaurantes com frente para o mar - ou mirante, já que estão situados no alto. Um palco é montado no meio deles, de costas para o mar e de frente para o público. Vi shows de Macaxeira Jazz, Rodolfo Amaral, Catita e Gafieira, e um reggaezinho ambiente show de bola, antes dos shows.
A albacora é a iguaria presente em todos os pratos. Tem até cachorro quente e sanduíche de albacora. Os preços atingem o máximo de R$ 15. A degustação-show, com cozinha japonesa e um sushi delicioso custa apenas R$ 5. Provei dois pratos, ambos muito bons. E não há competição. Vale mesmo a participação e a propaganda do lugar, do comércio. As oficinas atraíram bom número de curiosos, inclusive com a galera do Tropa Trupe. Há duas pousadas vizinhas ao Festival. Fiquei numa delas, o que facilitou e muito o trajeto.
Chamou-me a atenção também o grande número de crianças em busca de latas de cerveja vazias. Baía Formosa ainda é município pobre, ao que parece. Tem o seu charme rústico, mas carece de atenção. Tem muito potencial e muito "olho grande" em cima. Todo cuidado é pouco para não virar uma segunda Pipa, cheio de desordem. O crescimento sustentável da região e o benefício à população nativa devem ser pensados com certa urgência. E o Festival é uma mola-mestra para atrair turistas e investimentos.
- Fotos: Sergio Vilar
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