sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Nem sempre vale a intenção

Cheguei por volta das 19h30 ontem no estádio Machadão para cobrir a mais nova atração do projeto Natal em Natal: o Festival da Música. Encantei-me com o Balé da Cidade do Natal e a peça inspirada no romance de Dona Militana. Cheguei depois do Boi de Reis – herança de Manoel Marinheiro. Achei fraca a performance de Rodolfo Amaral e saí antes do show de Rita Lee.

Minha decepção foi com o local do evento. Assisti praticamente todas as edições do Auto e do Festival, no Anfiteatro do Campus da UFRN. Escutava reclamações de que faltava espaço. Muitas pessoas assistiam em pé. Mas éramos felizes e não sabíamos (?). Sentia-me no Bem Brasil (programa musical da TV Universitária) ou mesmo em uma arena romana.

No anfiteatro, o Auto era mais Auto. E com o perdão do trocadilho, ali do alto tínhamos uma visibilidade perfeita das apresentações. O espaço ficou apertado, sobretudo nos últimos anos quando o evento se popularizou e evoluiu. Ora, oferta gratuita, de qualidade e de fácil acesso...

Grande número de pessoas assistia em pé. Mas sabe quando tem gente fodida e rindo da vida? Ali tinha calor humano. Se era em pé, era também em grupo. Confesso que a sensação deixada ano passado foi a de que o local ficou pequeno ou que necessitaria de mudanças. Mas que fosse para melhor. Um dos entrevistados de ontem disse que a solução seria melhor estruturação lá, no Anfiteatro. Não a mudança de local.

A reclamação das pessoas no Machadão era da falta de visibilidade. E com razão. Sentadinhas na grama, as pessoas assistiam praticamente a parede de uma espécie de passarela colocada em frente ao palco. Os fotógrafos tiveram dificuldades para um clique perfeito. Era difícil enxergar o corpo inteiro da pessoa. Já o palco principal, estava ainda mais distante, atrás da passarela e ainda protegido por grades. Sempre ouvi que o artista tem de estar onde o povo está.

Outro ponto falho: as pessoas ficavam dispersas. Além do palco distante, dois telões foram colocados para melhor visualização. Nada daquele ponto uno de convergência. Uma turista disse que faltava calor humano. E outra: muitas pessoas entraram pelo acesso errado (o acesso principal) e assistiram os shows da arquibancada.

Elogio desde sempre a gestão atual da Fundação Capitania das Artes e seu presidente, Dácio Galvão. O prefeito Carlos Eduardo Alves tem investido muito na cultura. As intenções são sempre as melhores. Essa semana, o secretário de Turismo, Fernando Bezerril, me disse que o projeto Natal em Natal estava engavetado há 18 anos e só agora alguém pôs em prática. E não duvido. O que acho que falta é saber por em prática. Explico:

Nada melhor que boas ofertas culturais e gratuitas, como o Festival da Música, o Encontro Nacional de Escritores e o Festival de Cinema. Mas esses três eventos precisam serem reformulados. São excelentes idéias que com melhor visão e planejamento podem se tornar eventos consolidados na cidade.

O ENE trouxe este ano uma lista de escritores nacionais e locais variada e de qualidade indiscutível. Faltou organização e infra-estrutura. O formato de uma grande tenda climatizada não cabe. E isso ficou provado no show de Zeca Baleiro quando uma multidão quase invadiu o local. O Festival de Cinema tem uma proposta interessante, mas insiste em exibir filmes já caducos. Quando a coisa é pública, nem sempre o que vale é a intenção. Acho que é isso.

Um comentário:

  1. A verdade é que falta gente competente para gerenciar esses eventos. As pessoas que neles estão executando funções que exigem, principalmente, boa vontade, o fazem igual a limpeza de seus traseiros, ou seja, "pra que limpar a bunda se vai cagar de novo?". Em outras palavras, elas sabem que no ano que vem tem mais e sabem, também, que em Natal não existem críticos com cunhão para detonar festivais como o Goiamum, que tem uma proposta muito interessante, mas que cometeu falhas imperdoáveis por causa de preguiça e má gerência. Sobre o FestNatal, só este ano vi reportagens fazendo críticas em vez de coisas bonitinhas... O Encontro de Escritores, a Bienal do Livro e o Festival do Camarão deveriam também marcar história, funcionar bem, mas isso exige muito trabalho. Para que trabalho, não é mesmo? E agora essas apresentações no Machadão. Não fui porque já sabia que não ia prestar. E vc só confirmou essa minha "previsão". E olha que gente competente tem.... desempregada!! Valeu, Vilar!!

    ADRIANA AMORIM

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