terça-feira, 30 de setembro de 2008

Poticanto apresenta Manassés

O Projeto Poticanto – Um Canto 100% Potiguar apresenta amanhã o show da cantora Andrezza Costa interpretando músicas de Manassés. Sem atribuição de um caráter comercial ou competitivo, o Poticanto é uma busca pelas raízes musicais do RN. Realizado desde junho de 2007. Em cada edição um intérprete potiguar homenageia um compositor do estado. Nesta semana, o projeto apresenta uma novidade: a “Sessão Poética”, onde um convidado afeiçoado por poesia, recitará poemas de algum autor potiguar. O pontapé inicial desta nova programação fica por conta de Rodrigo Bico, recitando alguns poemas de Diva Cunha. O Poticando acontece duas vezes por mês, sempre às quartas-feiras, às 20 horas, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP). A entrada é franca.

Liberdade de empresa

Do presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Cícero Sandroni, durante encerramento do seminário “Brasil, brasis – liberdade de expressão: base da democracia”, realizado na última quinta-feira. “No Brasil não existe liberdade de imprensa, existe liberdade de empresa”.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Nova Funcarte (?)

Palavras do diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, em sua coluna diária hospedada no periódico mossoroense Jornal de Fato: “Todo santo dia me perguntam se é verdade que a candidata Micarla de Souza tem um compromisso firmado com o deputado Luiz Almir de entregar-lhe a Capitania das Artes, caso seja eleita. Respondo que não sei, porque não falei com ela sobre o assunto. Só acho que a Capitania está caminhando muito bem na gestão Carlos Eduardo e tenho certeza de que Fátima Bezerra não rifou o secretariado na Bolsa Mercantil de Futuros, muito menos na ‘Bolsa Mercantil sem Futuro’. Agora, só acho uma coisa. Caso Micarla tenha assumido o compromisso, é justo porque Luiz Almir é seu defensor, é artista e está no nível do que seu grupo de apoio quer para Natal”.

Os dizeres irônicos são pura especulação, como o próprio diretor reconhece. Mas levantam uma questão relevante a despeito de quem virá para o lugar do atual e elogiado gestor da Funcarte, Dácio Galvão. Sabe-se que dificilmente ele permanecerá, mesmo com uma vitória de Fátima Bezerra. Uma das exigências de Dácio é manter sua equipe completa. E, como sabemos, seja quem for o próximo prefeito, alguns indicados serão encaixados em cargos comissionados. A prática infeliz do loteamento de cargos é de praxe para qualquer gestor. Rumores, também especulativos, indicam o vice da FJA, o petista Fábio Lima como possível nome para a Funcarte caso seja Fátima a vitoriosa nesta eleição. Gente melhor informada e dentro do grupo da candidata afirma que “é o que ele quer, mas não será fácil assim”. Pro lado de Micarla surge também o nome do ex-coleguinha de TV Ponta Negra, Edson Soares.

Seja quem for o nome, a perda de Dácio Galvão será uma baixa significativa para a cultura da cidade. E o próximo prefeito não pode brincar com a cultura natalense e substituí-lo com qualquer nome como forma de compensar favores. É preciso dar continuidade a projetos importantíssimos e consolidados no calendário cultural da cidade. Aliás, outra mania asquerosa de gestores que ocupam cargos é desmerecer obras de outra autoria. Bate um medo só de pensar na extinção do Encontro Natalense de Escritores ou mesmo de toda a programação do Natal em Natal. Melhor imaginar as melhorias que o programa merece. Prefiro nem imaginar novos projetos culturais interligados tão somente ao turismo. Pode ser impressão ou pessimismo, mas acredito que vamos viver de nostalgia nos próximos quatro anos.

Concurso de poesia

As inscrições para o concurso de poesia Luís Carlos de Guimarães começam hoje e prosseguem até 30 de outubro. Cada autor potiguar deve inscrever no mínimo cinco e no máximo dez poemas inéditos. Os três primeiros colocados receberão prêmio em dinheiro de, respectivamente, dez, oito e cinco salários mínimos e 50 exemplares do livro que será editado pela Fundação José Augusto com os trabalhos premiados. Aos demais classificados, menções honrosas e 25 exemplares do referido livro. O Regulamento do prêmio está na página: www.fja.rn.gov

Poemas de Helmut

Escritos do poeta-boêmio, Helmut, recolhido dos chãos do Beco da Lama por Eduardo Alexandre, após pedido negado de dois reais pelo poema, a um dos freqüentadores do Bar de Nazaré: “Abusei da autoridade/ encontradiça na cidade/ e perdida lá nos campos! / Mesmo até os pirilampos/ perderam o brilho do olhar! / Cegos ficaram/ e pelos campos foram-se/ para não mais voltar”. A história completa o leitor pode ver no blog Alma de Beco, logo aí ao lado.

sábado, 27 de setembro de 2008

Cascudo no Senado

Exausto do trampo ontem preferi ficar em casa. E qual não é a surpresa de assistir na programação de sexta-feira à noite um mini-documentário sobre nosso Câmara Cascudo exibido pela TV Senado. Uma beleza. Muito mais pelas histórias, causos e relatos dos entrevistados. Escolheram bons nomes: a neta e coordenadora do Memorial Câmara Cascudo, Daliana; o poeta, presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras e freqüente visitante da casa do professor, Diógenes da Cunha Lima; e o escritor Tarcísio Gurgel. Muita coisa boa foi dita. Um panorama geral, mas com algumas peculiaridades como o descaso de Cascudo com a preciosidade de sua obra. Professor Tarcísio contou que Cascudo escreveu a história da literatura potiguar do século 20, até os anos 30. Para o restante estavam incumbidos Veríssimo de Melo e Manoel Rodrigues. Um escritor carioca, Artur Reis, visitou Cascudo e viu a obra escrita, jogada em cima da mesa. Ficou tão deslumbrado que levou para publicar no Rio de Janeiro. O livro nunca foi publicado e se perdeu pelos chãos cariocas. Os poucos depoimentos de Cascudo, com sua voz de fidalgo, também valeram. Bateu um orgulho danado de ser potiguar.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Prof. Pasquale em Natal

Ora, ora, o professor de língua portuguesa, Pasquale, (aquele do “é isso”) está em Natal para bater um papo amanhã na Poty Livros do Shopping Orla Sul, a partir das 18h. Pasquale vai dar algumas dicas e desvendar os segredos desta bendita língua portuguesa como um dos maiores especialistas do país no assunto. Está previsto também uma sessão de autógrafos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Coppola no Cineclube

Amanhã o Cineclube Natal, em parceria com a Assembléia Legislativa, apresentará o filme A conversação (1974), do gênio Francis Ford Coppola, dentro do projeto Cine Assembléia. A sessão começa às 18h no auditório da Assembléia Legislativa. A entrada é gratuita (assim como a pipoca!).

Basta dizer que é o filme que Coppola realizou entre os dois "Poderoso Chefão" e Apocalipse Now, mas A Conversação é muito mais do que o produto de uma boa fase de um gênio – na verdade, é uma obra-prima muito particular. Certamente, A Conversação consiste num dos grandes filmes dos anos 70. As opções de Coppola – como os longos silêncios – a melancólica trilha, o roteiro preciso e as atuações intocáveis constroem esta obra inteligente, realista e intensa. E, provavelmente, graças ao tema da invasão de privacidade, o filme é mais atual hoje do que na época de seu lançamento.

Se você se interessa por películas que representam bem o espírito da época em que foram feitos, sem perder, entretando, sua relevância, esta é uma boa pedida.

Avisos paroquiais

Para o bom humor desta terça comum. Recebi por imeio e compartilho com vocês alguns avisos paroquiais “pescados” nas fachadas das igrejas aqui e alhures, com pequenos comentários inoportunos deste blogueiro. Geralmente são recados escritos de muita boa vontade, mas de péssima redação.

“Para todos os que tenham filhos e não sabem, temos na paróquia uma área especial para crianças”. (É bom fazer o teste de DNA antes de conhecer a área!)

“Quinta-feira que vem, às cinco da tarde, haverá uma reunião do grupo de mães. Todas as senhoras que desejem formar parte das mães, devem dirigir-se ao escritório do pároco”. (ouvi falar de padres pedófilos, mas tarados ainda não!)

“Na sexta-feira às sete, os meninos do Oratório farão uma representação da obra Hamlet, de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade está convidada para tomar parte nesta tragédia”. (coitados dos jovens atores!)

“Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência. É uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que há na sua casa. Tragam os seus maridos!”. (Depois nós é que somos machistas!)

“Assunto da catequese de hoje: Jesus caminha sobre as águas.Assunto da catequese de amanhã: Em busca de Jesus”. (Afogou-se?)

“O coro dos maiores de sessenta anos vai ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia”. (A melhor idade é a pior tonalidade)

“O mês de Novembro finalizará com uma missa cantada por todos os defuntos da paróquia”. (Deve ter sido fixada em um centro espírita)

“O torneio de basquete das paróquias vai continuar com o jogo da próxima quarta-feira.Venham nos aplaudir, vamos tentar derrotar o Cristo Rei!”´. (Xô, Satanás!)

“O preço do curso sobre Oração e Jejum não inclui a comida”. (Vai ser pão duro assim na...)“Por favor, coloquem suas esmolas no envelope, junto com os defuntos quedesejem que sejam lembrados”. (Só se forem cremados, imagino)

Marina Elali e Capim Cubano

Este blog vai bombar com a notícia: Marina Elali e Capim Cubano vão tocar juntos no programa Tudo é Possível, da moça dos dedinhos, Eliana. Será domingo, às 14h. Nada mais pop do que juntar a cantora “minha deusa” natalense com os espanhóis-paraguaios de João Pessoa, do Capim Cubano. Uma mistura “típica” nordestina ou de cidades sem identidade cultural? A questão é mais complexa do que parece. Fica a pergunta. Marina participou do vídeo clipe da música Estoy Enamorado, do grupo, e agora vão cantar juntos a canção. Quem viver verá.

Novo espaço cultural

Depois do Museu Djalma Maranhão, o bairro da Ribeira recebe domingo o Espaço Teart de Cultura – um novo espaço cultural alternativo, sede do Grupo Teart de teatro. O espaço fica em frente ao Teatro Alberto Maranhão, vizinho ao Museu de Cultura Popular. A festa de inauguração começa às 16h. Vai haver performances de Crésio Torres, Renato Oliveira, Loura Branco e Rodrigo Bruggemann; exposições e poesias e muita música com Graldo Carvalho e Zé Martins. A entrada é R$ 2.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Museu em ruínas

O antigo Engenho Guaporé, construído em 1850 nos verdes campos cearamirinenses e transformado em Museu Nilo Pereira é um dos monumentos históricos do Rio Grande do Norte esquecido. Durante mais de dois anos serviu de depósito para a Fundação José Augusto. Foi entregue à secretaria de Infra-Estrutura para reforma e até agora nada. Semana passada visitei o município para apurar matéria política e procurei saber do estado do museu. A própria prefeita, Ednólia Melo, se mostrou indignada com a situação.

Uma possível “viagem” ao passado dessa aristocracia canavieira rende apenas fotos de destroços. O turista interessado em conhecer os casarões de Ceará-Mirim; da vida de um Nordeste de contradições, de uma linhagem de nobreza que jamais cruzavam as calçadas com os escravos, certamente se deslumbrará com os engenhos Verde Nasce ou o Santa Thereza. Mas passará direto pelo caminho de entrada do Museu Nilo Pereira, de visão quase encoberta pelo mato. Mesmo a placa indicatória, à margem da BR-406, está apagada.

O antigo Engenho Guaporé pertenceu ao ex-senador Geraldo Melo. Foi cedido à FJA para restauração e abrigo do Museu Nilo Pereira, em 1978. O Governo do Estado tombou o monumento dez anos depois. Segundo informações colhidas na cidade, não houve nenhuma reforma desde então. Objetos valiosos e históricos da antiga nobreza foram roubados. Em janeiro deste ano, o coordenador do Cedoc (órgão ligado à FJA) João Natal, afirmou que em fevereiro organizaria um grupo de trabalho para reaver trâmites burocráticos (a burocracia, sempre ela!) e acelerar o processo. Estamos fechando setembro e iniciando a primavera.

Mesmo de paredes emboloradas e abandonada, a Casa Grande ainda se mostra imponente a aproximadamente 300 metros da rodovia. O antigo Engenho Guaporé foi erguido em ponto elevado entre verdes canaviais. Um dia abrigou o governador da Província, Vicente Inácio Pereira, por volta de 1860. Uma dezena de palmeiras e um pé de azeitona rocha centenário permanecem nos domínios do Casarão. Uma família de pais agricultores se apossou do local. Cuidam do possível. Plantam e sobrevivem com os filhos pequeninos. Estão lá há pelo menos três anos.

Há um pedido de restauração do Museu Nilo Pereira (nome do neto do então governador da Província) na página eletrônica do Ministério da Cultura em meio a uma lista de outros projetos nacionais. Na mesma página, a data de solicitação da verba: 9 de março de 2006 e uma lista com 12 documentos pendentes a serem entregues. Ao lado, a providência tomada pelo Minc: “Projeto arquivado tendo em vista não atendimento pelo proponente à diligência realizada por esta gerência”. E o brasileiro gosta de dizer que somos um país sem memória. Culpa de quem?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Da viagem a Mossoró

Amigo leitor, a viagem a Mossoró sexta-feira para cobrir a visita do presidente Lula foi demasiado cansativa e só hoje pude atualizar este espaço. Como tive pouco espaço no jornal para publicar tudo que colhi por lá, devido ao horário tardio que retornei a Natal e à própria visita do presidente em Natal, mais importante, publicarei aqui muitos fatos que não saíram na mídia. Claro, as gafes do nosso carismático presidente. Entre outros detalhes de bastidores. Amanhã estará por aqui.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

De TV Brasil à visita de Lula

Assisti ontem à noite uma entrevista feita por três jornalistas de órgãos de imprensa distintos com o presidente Lula. Foi transmitida pela TV Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação. Como sabemos, uma mídia estatal. Esperava perguntas encomendadas ou demasiadas parciais. Mas não. Os jornalistas, comandados por Luiz Carlos Azedo, em muitas ocasiões empurraram o presidente contra a parede.

Lembro bem que a discussão para implementação da TV Brasil no Congresso e na opinião pública rendeu polêmica e opiniões incisivas contra o que parecia uma mídia a favor do governo. Chegaram a comparar o ato como medida ditatorial. A comparação chegou até aos radicalismos do presidente venezuelano Hugo Chávez. Não foi o que vi ontem. E nada mais emblemático do que uma entrevista com o presidente para medir a parcialidade.

Procurei agora algo sobre a TV Brasil na Internet e me surpreendi com a programação. Sobretudo de cinema. Domingo agora vai passar O Caçador de Fantasmas (1975), de Flávio Migliasso. Vale salientar que apenas o cinema nacional tem vez na emissora. A programação abrange ainda esporte e jornalismo de boa qualidade. Pelo menos pude constatar premiações nacionais já de algumas reportagens produzidas pela TV.

E na entrevista com Lula, vale salientar, o presidente comentou de sua posição em se abster da campanha eleitoral municipal. Citou que irá comparecer apenas em pouquíssimas cidades brasileiras. Citou algumas do ABC paulista, de onde emergiu como sindicalista e mantém amizades; e São Paulo, porque segundo ele há candidatos de oposição direta do Governo Federal. Será que essa explicação vale para Natal?

Ontem mesmo o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, respondeu em coletiva à imprensa natalense que “este cidadão (o senador José Agripino Maia) não era tão importante para merecer a vinda do presidente apenas para derrotá-lo”. Eu concordo com o petista. Talvez o Presidente da República é que discorde.

E falando em Lula, atualizo este espaço esquecido apenas amanhã à noite. De madrugada viajo a Mossoró cobrir a visita do nosso presidente. Apenas agenda administrativa. É o que dizem. Alguém acredita? Até!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Água

Achei oportuno divulgar o artigo do professor Rinaldo Barros. O problema da água precisa ser olhado com mais seriedade:

“Começo logo com algumas informações altamente preocupantes. Em 2025, 8 bilhões de habitantes deverão compartilhar a mesma quantidade de água doce que existe atualmente. Estima-se que as reservas serão, em média, de 4.800 m3 por ano e por habitante, contra 16.800 m3 em 1950.

A América do Sul dispõe da quarta parte da água disponível em todo o mundo, embora ela abrigue apenas 6% da população. No extremo oposto, 60% dos habitantes do planeta vivem na Ásia, que não dispõe mais do que um terço dos recursos em água existentes.

Atualmente, 30% da população mundial dispõem de menos de 2.000 m3 por ano e por habitante. As regiões mais expostas à penúria de água são o Sahel (no oeste da África), o Mediterrâneo, o Oriente Médio, o sul dos Estados Unidos e a Ásia.

Acendeu a luz amarela. As sociedades humanas precisam reformar rapidamente sua administração dos recursos em água doce, sobre os quais pesam ameaças cada vez mais importantes. Caso mudanças não sejam promovidas em tempo hábil, a segurança hídrica, alimentícia e energética, em breve poderá estar comprometida.

Em resumo, esta é a preocupação dos organizadores do 13º Congresso Mundial da Água, que foi realizado em Montpellier, na França, agora em setembro.

O congresso de Montpellier, cuja abordagem predominante é científica, está sendo realizado alguns meses antes da reunião do Fórum Mundial da Água, que está agendado para março de 2009 em Istambul (Turquia) e que reunirá lideranças políticas, industriais e organizações não-governamentais (ONGs). Elas abordarão as questões da evolução da vazão dos rios oeste-africanos, o impacto do aquecimento climático sobre a irrigação do arroz na China, e a administração dos conflitos entre usuários na Espanha, entre outras.

A população mundial não pára de crescer, e a água vem se tornando cada vez mais rara. A principal causa deste desequilíbrio é o aquecimento climático. À medida que a temperatura segue aumentando, a evaporação da água dos rios e de todos os cursos de água em geral torna-se mais importante. Com isso, a quantidade de água disponível vai diminuindo.

Todavia, o grande culpado pela rarefação da água é o crescimento das formas de poluição de origem urbana, industrial e agrícola. "Raros são os países que efetuam corretamente o saneamento das suas águas usadas", constata Cecilia Tortajada. "Na Cidade do México, o principal curso de água encontra-se poluído de tal forma que a municipalidade é obrigada a captar a sua água potável a quilômetros de distância".

A salinização das águas doces, que é provocada pela exploração excessiva dos lençóis freáticos costeiros ou dos rios, as torna igualmente impróprias para o consumo. Com isso, elas não podem ser aproveitadas sem custosos processos de saneamento prévios.

Ora, as necessidades de água vêm aumentando sem parar. O crescimento da população mundial, que ocorre essencialmente nas grandes metrópoles, vem concentrando a demanda em determinadas regiões, o que complica o abastecimento de água potável.

Contudo, e principalmente, são os volumes necessários para garantir a alimentação da população mundial num futuro próximo que causam preocupação. Atualmente, uma proporção de 70% em média da água doce utilizada em todo o mundo é destinada ao setor agrícola.

Do Congresso de Montpellier saíram as seguintes recomendações: essas respostas devem ser dadas pelos Estados, pelas coletividades locais e pelos usuários que enfrentam esses problemas. O caro leitor já fez a sua parte?

Nestes tempos eleitorais aqui no patropi, onde estão as propostas sobre essa questão? O que será feito para que os nossos rios, lagoas, açudes, represas e aqüíferos subterrâneos (hoje, contaminados por nitrato – cancerígeno) sejam despoluídos e preservados, para que tenhamos água doce e potável em abundância?.

Que herança iremos deixar para os nossos filhos e netos?
Soluções técnicas as há, faltam apenas (?) vontade e coragem política. Resumo da ópera: é urgente construir uma política de uso adequado da água. A mãe Natureza e as futuras gerações agradecem".

La Bodeguita

O convidado para o debate desta sexta-feira no espaço alternativo La Bodeguita Socialista, é o professor do Cefet de Salvador, mestre em sociologia pela Unicamp e autor do livro Marx e a Técnica, Daniel Romero. As discussões (início às 18h30) vão girar em torno dos 70 anos da quarta Internacional Socialista e Trostky, fundador do movimento. Em seguida, o La Bodeguita – agora só, no Centro da Cidade, após o fechamento do Bardallos – abre o sebo-bar e as atrações musiciais. Para quem não conhece, o espaço fica na rua Gonçalves Ledo, 681, Cidade Alta, próximo ao velho Badallos.

Los Hermanos em DVD

“Todo carnaval tem seu fim”. Essa inevitável frase deve ter passado na cabeça de cada um naquela noite em que o quarteto carioca Los Hermanos lotou a Fundição Progresso. O show de despedida do grupo foi gravado e agora vira DVD pela Sony&BMG. Los Hermanos na Fundição Progresso – 09 de junho de 2007, registrado para sempre. A palavra registro vem bem a calhar. Não é daqueles shows exaustivamente ensaiados e com surpresas na manga feitas para surpreender o telespectador. Nem ao menos foi depois trabalhado, consertado e revisto em dezenas de horas de estúdio. O registro é cru, documental. Um filme realista em que o enredo principal é a relação de um grupo musical e seu imenso público. Nesse contexto o grupo pode estar mal iluminado, a câmera pode tremer e o intervalo entre as músicas pode não ser cortado. Talvez tenha sido planejado para ser exatamente assim, mas é como acontece. Afinal de contas para um grupo que sempre impôs sua realidade não fica bem se despedir muito comportadinho, limpinho. Essa aparente anarquia foi formatada de duas formas: um DVD com as 26 músicas e um generoso extra com outras cinco gravadas no dia anterior. O CD tem um encarte mais amplo, mas traz apenas 14 músicas.

Da reeleição de Lula

“É delicioso resgatar os argumentos lançados pela mídia em 1997, em favor da reeleição de FHC. Comparados com a grita contra um terceiro mandato de Lula, eles revelam a tendência a adaptar-se às circunstâncias, típica do camaleão. Mesmo que, confirmando sua essência, ele finja ser outro animal...”.

O texto completo do jornalista Guilherme Scalzilli, pelo Lê Monde Diplomatique Brasil, pode ser lido neste site.

Programação para a semana

REVISTA
Quinta-feira - Nem só de Preá vive o potiguar. A sétima edição da revista Bula +, produzida por universitários do Departamento de Artes, será lançada esta quinta-feira, no Circo Tropa Trupe, ao lado do ginásio pequeno da UFRN, às 17h30. Haverá programação cênica, saraus e vídeos. A revista é excelente. Mistura arte, literatura e filosofia em um conteúdo gráfico de ótima qualidade.

LIVRO
Quinta-feira - Memórias de Bárbara Cabarrús é o nome do livro de Nivaldete Ferreira, a ser lançado esta quinta-feira na Capitania das Artes, às 19h. O romance é ambientado no RN do século 19, mas a própria personagem adverte: “O que ela oferece é leite de pássaro...” E como ressalta a autora, “escrever é infinito e sem tempo, pouco importando a geografia em que se passa a (ir)realidade da ficção propriamente literária”.

SHOW
Sexta-Feira – Dose dupla na noite de música do Praia Shopping, com Lis Rosa e o show Menino das Laranjas, a partir das 20h30. Em seguida, o Trio Groove do Norte, com início da apresentação às 22h30.

FILME
Sábado - A rapeize do Cineclube apresenta o filme A Menina e o Porquinho (1973), versão original do diretor Charles A. Nichols e Iwao Takamoto. A sessão é gratuita e será exibida às 9h, no Sesc Restaurante, Cidade Alta (Avenida Rio Branco, 375), dentro da Sessão Cine Curumim. O filme é voltado ao público infantil ou aos mais saudosistas. A história do porquinho Wilbur é bem bacana.

RÁDIO
Sábado e Domingo – A Rádio Universitária FM (88,9) recebe sábado o grupo Café Com Vento, às 17h, com reprise no domingo, às 12h. O Café do Vento é um grupo originalíssimo, com sonoridade de estética própria e forte presença cênica no palco. O nome do CD divulgado será o Calangotango. O quarteto de músicos executa violino, percussão e dois violões.

MÚSICA
Domingo – O compositor e músico Geraldo Carvalho leva sua banda e seu talento regionalista ao Parque da Cidade (prolongamento da Prudente de Morais), a partir das 17h. A entrada é franca. Outras informações pelo celular 9940-6008.

Coppola x produtoras

O cineasta americano Francis Ford Coppola questionou ontem que um jovem diretor desconhecido possa rodar um filme como O Poderoso Chefão (1972) como ele fez, “contra a vontade dos estúdios”, devido ao maior controle exercido atualmente pelas produtoras. "A não ser que seja Ridley Scott ou Steven Spielberg, não se pode escapar da produção como eu fiz com 'O Poderoso Chefão'. Embora não agradasse ao estúdio, eram incapazes de me controlar porque eu era jovem e rápido". Ele descartou que volte a filmar a história de alguma outra grande família do crime e apontou que quer seguir realizando filmes que sejam mais pessoais e nos quais possa mostrar suas próprias experiências.

"Enquanto estiver vivo, vou seguir fazendo filmes a cada ano ou a cada um ano e meio, mas sempre com um roteiro pessoal e original, assim como Woody Allen, que é o que mais admiro porque faz filmes sempre”, assegurou o cineasta, respondendo assim qualquer dúvida sobre uma eventual aposentadoria. Coppola iniciou há três semanas as filmagens de algumas seqüências do filme Tetro, em Alicante, na Espanha. (com informações da agência EFE).

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Poticanto homenageia Antônio Ronaldo

O Projeto Poticanto – Um Canto 100% Potiguar, volta ao palco do Teatro de Cultura Popular Chico Daniel – TCP (anexo da Fundação José Augusto) hoje (quarta), às 20 horas, com Geraldo Carvalho interpretando as músicas do também potiguar Antonio Ronaldo. O Poticanto acontece quinzenalmente, com uma edição inédita e uma reedição do projeto que adentra em seu terceiro ano.

Sobre as atrações, Geraldo Carvalho nasceu em Angicos. É autodidata no violão. Aos 12 anos inicia seus estudos de Teoria e Solfejo na Escola de Música da UFRN. Com influências musicais de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Elino Julião, Chico Buarque, Caetano Veloso e Djavan, Geraldo inicia sua trajetória musical.

Antônio Ronaldo é mossoroense. Em 1971, Antônio Ronaldo muda-se para Natal, quando já brincava de compor. Vidrado no tropicalismo e na contracultura se junta ao movimento de poesia alternativa que campeava nos anos 70 (geração mimeógrafo ou marginal). Em clima de desbunde e sufoco, passa a escrever seus primeiros versos e participar de espetáculos teatrais e festivais de músicas.

Formado em Direito, Filosofia e com mestrado em Educação, Ronaldo foi colaborador de diversos tablóides que circularam nos anos 80, como Delírio Urbano e Hotel das Estrelas. Na música seus principais intérpretes são: Cida Lobo e Geraldo Carvalho. Dentre os parceiros, alguns são poetas, outros compositores. A criação musical de Antônio Ronaldo caminhou sempre ao lado da literatura, sendo este vínculo seu principal distintivo nessas quase quatro décadas militando, sem nunca ter se ausentado do solo potiguar.

Atualmente está atuando como co-produtor do CD Zila Mamede: O Exercício da Palavra Cantada, cujo lançamento está previsto para os próximos dias. Prepara o lançamento do seu primeiro CD Sátiro, onde interpreta 12 canções de sua autoria, metade delas em parceria com poetas e compositores também potiguares.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Convidados do ENE

A programação do Encontro Natalense de Escritores começa a ser montada e já apresenta alguns nomes de peso, como Ariano Suassuna, Ignácio de Loyola Brandão, Washington Novaes e José Sarney. Este último, com o peso apenas do bigode, mas a intenção de debater a literatura transitando com a política é válida. Fernando Morais também vem para comentar a biografia ACM – Uma Biografia em Progresso. O mediador será o advogado-poeta Diógenes da Cunha Lima. Carlos Newton, já elogiado como o grande nome da literatura potiguar por Ariano, em entrevista que fiz com ele há alguns anos, comporá a mesa com o sertanista.

A pré-abertura do evento, com início em 27 de novembro, recebe o jornalista e escritor Zuenir Ventura para o lançamento da segunda parte do livro 1968 (o livro que não quer acabar nunca). Em seguida haverá uma mesa para discutir o texto literário na bossa nova. Os convidados, ainda não confirmados, são Nelson Motta e Fernanda Takai. Isto é o que está definido até o momento. Há também uma lista de nomes a serem confirmados e outros, sugeridos. José Miguel Wisnik, Arthur Nestrovski e Paula Morelenbaum talvez façam uma aula-espetáculo sobre a Bossa Nova, com foco no texto de Vinícius.

A lista dos nomes que estão sendo contatados tem ainda Manoel de Barros, Milton Hatoum, com foco na obra de Machado de Assis. Paulo Emílio Sales também pode fazer parte da mesa sobre Machado, mesmo sem Lygia Fagundes Telles, que já descartou a possibilidade de vir. Completam a lista Marcos Sá Corrêa, Virgílio Maia e o poeta Ferreira Gullar. Particularmente achei mais interessantes os convidados sugeridos: Arthur Xexéu (Jornal O Globo) formaria mesa com outros editores. Entre as possibilidades, jornalistas das revistas Bravo!, Continente, Cult e Panorama. Alex de Souza é outro nome sugerido para compor mesa com Véscio Lisboa e discutir o texto de Miguel Cirilo. Ainda na lista, os nomes de Carlos Lyra e Roberto Menescal, e o potiguar imortal da ABL, Murilo Melo Filho.

É uma lista diversificada. Por hora, me parece bacana. Ferreira Gullar – embora com mais de 50 anos de poesia tem sua obra criticada por alguns, mas sempre rende ótimos apontamentos em discussões literárias. Virgílio Maia também pode trazer muita coisa boa pelo seu trabalho de etnógrafo e poeta regionalista, ligado ao Movimento Armorial. Como a temática da Bossa Nova está bem explorada nesta edição, sugiro o nome do jornalista Nicolau Frederico para mediar alguma mesa. Nicolau mantém um blog voltado ao assunto. Enfim, vamos esperar a lista completa e a organização do evento, que nesta terceira edição deve separar o local do show da tenda armada para os debates. Aperfeiçoar o que já é bom. É isso.

Concurso de poesia

No período de 30 de setembro a 30 de outubro estarão abertas as inscrições para o concurso de poesia Luís Carlos de Guimarães. Para concorrer, os candidatos precisam ter nascido ou serem domiciliados no Rio Grande do Norte e inscrever no mínimo 5 e no máximo 10 poemas inéditos. O concurso premiará até 15 autores, cabendo aos três primeiros um prêmio em dinheiro de, respectivamente, dez, oito e cinco salários mínimos e 50 exemplares do livro que será editado pela Fundação José Augusto com os trabalhos premiados. Aos demais classificados, caberão menções honrosas e 25 exemplares do referido livro. O Regulamento do prêmio está na página da Internet da Fundação José Augusto: www.fja.rn.gov.br. Outras informações e dúvidas nos telefones (84) 3232-5320 / 5301.

Seis e Meia

A noite de amanhã do Projeto Seis e Meia reúne dois talentos potiguares: Sueldo Soaress e o grupo Delicatto. Noite de poesia, música negra e erudita no tom apropriado do cancioneiro popular. Sueldo é um velho garimpador da nossa música. Vem do time de Pedrinho Mendes, Valéria Oliveira e outros. Despontou nos idos de 80 e o swing de sua música vem amadurecido. O Delicatto traz o conceito da música lírica próxima à emoção das pessoas. Na montagem da apresentação de hoje, o grupo propôs um show completo, com cenografia, iluminação, figurino, dança e interpretação cênica, somados a música e levados ao público com requinte e cuidados técnicos. Noite potiguar que reservam surpresas.

sábado, 13 de setembro de 2008

Marçal Aquino - Final

Sérgio Vilar - Como você vislumbra o roteiro de um filme? É da mesma forma da linguagem literária, pelas ruas, ou não?
Marçal Aquino - Não, é muito diferente. Quando escrevo literatura – e isto é um método meu – eu sei muito pouco sobre a história. Quanto menos eu sei, melhor é. Daí eu vou escavando e vou descobrindo. No cinema tenho que saber de tudo antes. Ou tudo fica lento. É preciso um resumo do que acontece para poder ter controle sobre a narrativa (Marcelino Freire ressalta que “finalmente” chega a cachaça de Marçal). Então, a grande história do cinema é você poder contar a história numa outra linguagem, de audiovisual. E faço isso com muita naturalidade. Até brinquei hoje à tarde dizendo que é como se a gente apertasse a tecla Sap: vou escrever um roteiro que se adapte ao cinema; vou escrever texto literário. Faço tudo com prazer, mas o grande barato da minha vida é a literatura. É a minha casa, onde eu tiro meus sapatos e fico à vontade.

A literatura certamente passa pela sua experiência de vida. Sartre poderia explicar melhor isso. Mas você consegue separar ao máximo e criar personagens totalmente fora do seu contexto?
Realmente, literatura passa por tudo o que eu vivi. Não tem escapatória. Eu seria uma pessoa completamente diferente se eu não me interessasse por literatura. Seria uma pessoa menos feliz.

Suas preferências literárias passam por leituras obscuras, autores clássicos ou o quê?
Eu gosto de caras que falem ao meu coração muito mais do que para meu cérebro; do cara que bota medo no mundo, sem importar que mundo é esse e eu me interesse por saber o que tem ali. Esse é o escritor que me pega pelo colarinho e me leva com ele.

Marcelino Freire faz uma pergunta: “É mais importante beber ou escrever?”
Importante é amar. Ou nada vale a pena. O resto a gente faz contato com o mundo visível. Agora, o que interesse no mundo visível é outra coisa.

Quais outras coisas?
São as coisas todas que me tocam. A lista é pequena: beber, fuder, escrever, ler, ir ao cinema, amar, viajar e sonhar.

Você representa o novo na literatura nacional e vem das terras pernambucanas de Ariano Suassuna. O que ele representa para a literatura nacional?
Para a literatura por si só, com o encanto que está enterrado dentro daquilo que ele ainda escreve. Acho A Pedra do Reino uma coisa fabulosa. Eu vi a montagem em São Paulo e pensei: “Como aquilo pode ser tão atual?”. Ou seja: o humano nunca é temporal. E o Ariano saca isso. Está na vivência dele. E segundo que ele, a pessoa Ariano, é de uma integridade admirável. Ele é um farol para quem deseja aprender a se comportar. Ele me lembra, em certo sentido, o Graciliano (Ramos), porque era outro homem que tinha uma literatura magnífica e foi também magnífico na sua integridade pessoal.

O último dos sertanistas?
Ele é o último muita coisa. É um animal em extinção e precisa se cuidar bem. É melhor que o mico-leão-dourado, mas ninguém faz por ele.

Você acha que a contribuição do Movimento Armorial alcançou a dimensão desejada?
É difícil ser pontual. O Movimento Armorial ficou muito circunscrito numa região. Mas ele se espalha. O Lenine, o Antônio Nóbrega, por exemplo, não seriam possíveis sem o Armorial. Veja que a arte começa no núcleo e termina por se abrir. Além daquela coisa medieval que está na base da coisa, o que é que aquela linguagem permite aos artistas contemporâneos explorarem? O próprio Lirinha (do Cordel do Fogo Encantado) é influenciado por esse movimento. De certa maneira, a arte quando ela é grande, extrapola o seu momento e os fluidos vão saindo, vão andando e gerando novos frutos. Essa é a grande maravilha da boa arte.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Marçal Aquino - Parte 1

Seria fácil classificar Marçal Aquino como escritor, jornalista e roteirista de cinema. Ou ressaltar seu trabalho como repórter policial do periódico jornalístico-literário Jornal da Tarde, seus livros, como O Amor e Outros Objetos Pontiagudos, ou filmes excelentes como Cheiro do Ralo e Cão Sem Dono, ambos de 2007. Mas Marçal Aquino é também um idealista. E um cara estranho. Primeiro por encarnar a verve de escritor como poucos. E escritores são seres estranhos. Apesar dos 13 livros lançados e atividades variadas como redator e roteirista, o cara não tem carro e mora em residência alugada. Puro idealismo.

Aos 47 anos, esse caipira de Amparo tece uma das trajetórias mais sólidas e conscientes da literatura atual. O entrevistei numa mesa de choperia aqui de Natal. Ele tomava cachaça com amigos. Mostrou-se entendido no assunto ao recomendar ao garçom. Na mesa ainda estavam o escritor pernambucano Marcelino Freire e o escritor potiguar Rodrigo Levino. Os três haviam participado de discussões a respeito de literatura em um evento literário produzido no Natal Shopping. A seguir, Marçal fala um pouco de literatura, jornalismo, cinema e da arte de viver independente destas três atividades.


Sérgio Vilar - O que achou da mesa literária agora a pouco?
Marçal Aquino – Foi mais uma conversa entre eu, o Marcelino e Levino, basicamente falando de literatura contemporânea; do que ocorre no meio literário; de tendências e, principalmente, das dificuldades. Fazer literatura no Brasil hoje é um exercício duro. Você não pode nem pensar em transformar isso numa atividade economicamente viável. A literatura depende de uma dose de sonho; de paixão. Literatura hoje é muito difícil. Ouço falar que as pessoas têm lido mais. Mas certamente não é literatura. Estão lendo de tudo: Zélia Gasparetto... Claro que devem ler, mas a literatura está cada vez mais um objeto de culto de uma minoria; de uma ceita. Eu digo ceita porque é parecido com algumas igrejas por aí. É uma turminha que gosta pra caralho desse tipo literatura. Ok. É para essa turminha que quero falar.

Você vive de quê, tem fome de quê?
Sou jornalista, seu colega. Cinema e Literatura são atividades que realizo por sonho. Ganho dinheiro como redator. Já não faço mais a linha policial. Hoje em dia faço de tudo. Desde 1994 não tenho patrão. Tirando letra de câmbio e bula de remédio eu escrevo para o que aparecer. Mas sou jornalista. Está aqui a carteirinha para provar.

Aqui em Natal matamos um leão por dia para sobreviver como jornalista. É como se vivêssemos da literatura...
Meu nome tem uma certa circulação, como escritor ou roteirista de cinema, e mesmo como jornalista. Então, me convidam. Pagam bem para eu escrever certas coisas. E dá pra ir tocando. Não tenho grandes ambições. Não tenho nem carro. Tenho uma filha de 15 anos para criar. É meu único compromisso. Moro numa casa de aluguel. Não gasto com nada. E sou um cara que gosta de escrever literatura. Então, todo meu esforço é no sentido de comprar o meu tempo e financiar o meu sonho. O leão que mato é pequenininho, como aquele do Caetano. Às vezes não preciso nem sair de casa. Fico na Internet, arrumo um trabalho e faço.

Quantos cenários você grava na memória para escrever um livro?
Isso já é mais complicado. Não é tão pragmático assim. De repente eu venho a Natal e daqui a 15 anos vou escrever um livro que se passa em uma cidade e eu saco que é Natal, e escrevo com base em minha memória. Já aconteceu isso. Já passei 20 dias em Natal escrevendo um livro que nada tinha a ver com a cidade; tinha com a Paraíba. Essa coisa da memória, do que fica impregnado na gente, para efeito de ficção, é impossível você largar. Você nem sabe que aquilo voltou pra você tanto tempo depois. É maravilhoso isso.

Os escritores são seres estranhos. Alguns escrevem a partir de uma frase. Outros, de um trocadilho fazem um livro; uma cena; uma história...
Se você me perguntar de onde vem minha literatura eu digo que vem da rua. Dependo muito da rua. Não posso ficar em casa pensando em literatura; em James Joyce. Preciso ir à rua; ouvir a fala; captar a poesia e a miséria. E a partir daí faço literatura.

Esse olhar à rua é o olhar do repórter?
Não tem como fugir disso. Eu tenho um lado de minha literatura... (o garçom avisa que não tem a cachaça pedida pelo escritor. Ele pergunta quais as que têm. Marçal havia pedido a cachaça Campo Limpo e optou, então, pela Serra Limpa). Mas a idéia é a seguinte: eu preciso dessa inspiração. E evidentemente um pouco desse olhar é treinado pelo jornalismo. Eu adoro ouvir conversa alheia. Gosto de captar falas. O diálogo, pra mim, é uma coisa super fácil de escrever porque só ando de ouvidos abertos. O Nelson Rodrigues dizia que o problema do escritor brasileiro é que ele toma pouco cafezinho. Ele quis dizer que o cara vai pouco pra rua. Eu preciso ver, ouvir. É quando dispara em mim a vontade de produzir.

Você passou acho que mais de dez anos como repórter policial. Você já chegou à redação com vontade de escrever um conto a partir do fato apurado para a matéria?
Fui repórter policial durante a década de 80. Trabalhei no Jornal da Tarde, onde o que se buscava era o texto literário. Às vezes até dava trabalho. Somos tão acostumados a fazer jornalismo de forma objetiva, com o quê, quem, onde, quando, como e porque... Mas meu chefe me recomendava uma novela policial. O repórter era incentivado a isso. Pegávamos os elementos ao redor, que sequer tinham importância para o fato, mas era importante para a dramatização. Foi uma escola maravilhosa.

A elaboração de roteiro de cinema é mais dificultosa para você?
Eu sempre gostei de cinema, mas como expectador. Fui parar no cinema meio que por acidente. Um diretor quis adaptar um texto meu, eu fui lá ajudar e acabei entrando na brincadeira pra valer. Já estou no oitavo longa. No Brasil isso é muito. Não dá dinheiro. Faço por paixão, também. É uma coisa cara, coletiva. É igual a suruba: chama-se um monte de gente pra fazer. Literatura pelo menos é um exercício solitário.

Como você analisa esta linguagem de roteirista?
Vejo da seguinte forma: é uma outra maneira de contar a história (ou estória). Não é como escrever literatura porque literatura é um território muito próprio. Mas é uma forma de contar uma história dentro de uma linguagem definida. E aí você adequa. Como ocorre com o jornalismo: também se escrevem textos, mas não é de literatura ou de cinema.

Cineclube no TCP

Neste domingo, o Cineclube Natal apresentará a produção alemã O Enigma de Kaspar Hauser, do diretor Werner Herzog. A sessão começará às 17h. As entradas para a sessão custam R$ 2.O filme conta a triste saga de Kaspar Hauser, um jovem que foi trancado a vida inteira num cativeiro, desconhecendo toda a existência exterior. Quando ele é solto nas ruas sem motivo aparente, a sociedade se organiza para ajudar Kaspar, que sequer conseguia falar ou andar, mas este logo acaba se tornando uma atração popular. O filme é baseado livremente numa história real. Um dado peculiar: a interpretação é de um ator amador: Bruno S. Ele passou toda sua juventude em instituições para doentes mentais e foi visto por Herzog em um documentário.

O filme também reflete sobre a influência da linguagem e do histórico cultural na percepção da realidade. O Enigma de Kaspar Hauser é tema de discussão na filosofia, ciências sociais e antropologia há muito tempo. Entre os tópicos decorrentes da análise do filme estão a prática social condicionada, o convívio social como construtor da identidade psicológica do homem, o conflito entre persona e sociedade, além de infinitos paralelos com correntes filosóficas de grandes pensadores. Não conheço o diretor ou o filme. Mas pela sinopse achei o filme totalmente inclinado a reproduzir a teoria do Mito da Caverna, de Plantão. Me parece bastante interessante.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Auta de Souza em documentário

Dentro das comemorações pelo natalício da poetisa potiguar Auta de Souza (1876-1901), a TV Universitária e o Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-rio-grandenses lançam o documentário Noite Auta, Céu Risonho, realizado com o patrocínio do Programa BNB de Cultura 2008. O vídeo terá dois lançamentos. O primeiro será amanhã (12, dia do aniversário de Auta) em Macaíba-RN (terra natal de Auta), no Pax Club, a partir das 19h. O segundo será em Natal no dia 16 de setembro, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel – TCP, no mesmo horário.

O projeto Noite Auta, Céu Risonho é de autoria da professora Ana Laudelina Ferreira Gomes, do Departamento de Ciências Sociais da UFRN. Auta de Souza teve uma trajetória curta, faleceu aos 25 anos incompletos vitimada pela tuberculose, deixando um único livro publicado, chamado Horto. O vídeo tem uma proposta ficcional que objetiva compensar os poucos registros documentais oficiais que existem a respeito da vida de Auta de Souza. A poetisa é representada pela atriz Marinalva Moura.

Foram realizadas filmagens em Macaíba, em Natal e no Recife, oportunidade em que foi colhido um depoimento de Maria Lúcia Zarzar, sobrinha neta de Auta. O cenário de época principal é o Solar do Ferreiro Torto, mas foram filmadas também algumas cenas internas no Solar Caxangá, ambos em Macaíba. Foram permitidas no vídeo algumas licenças poéticas, como o Solar Ferreiro Torto aparecendo como a casa de Auta e a caracterização da poetisa como noiva para abordar o seu único romance desfeito.

Alguns dos poemas que compõem os cancioneiros da poetisa, tanto o tradicional como o contemporâneo, são interpretados por músicos como Alvamar Medeiros e Mirabô Dantas.
Para divulgar a biografia da poetisa entre os estudantes potiguares, o vídeo será distribuído em escolas da rede pública de ensino do Estado. Mais informações sobre o lançamento podem ser obtidas através do telefone: 84-9138-7111 (Dayana Oliveira) ou pelos e-mails: analaudelina@uol.com.br e dayanasoliveira@gmail.com.

11 de Setembro

O 11 de setembro é, com certeza, a data mais lembrada do ano, afora alguns festejos profanos e sagrados do nosso calendário. A “tragédia” dos aviões em choque com as duas torres americanas causou comoção no mundo há 7 anos. Foram milhares de vítimas inocentes. O filme de Oliver Stone, As Duas Torres (2006) mostram um panorama razoável do ocorrido, embora o filme seja muito ruim. Apesar do número de mortes e da perplexidade mundial, afirmo convicto que o fato foi benéfico à população do globo. Houve uma mudança de paradigma e pensamentos; um alerta; uma luz sobre o papel dos Estados Unidos no mundo e uma conscientização dos malefícios do imperialismo yankee durante décadas. Antes os aviões se chocassem com a Estátua da Liberdade e esta caísse sobre as águas de Manhatan, sem vítimas. Seria mais emblemático. Infelizmente alguns “mais” precisaram morrer para salvar outros. E não se engane: foi sempre assim na história das eras.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Vilões do próximo Batman

Foi em uma entrevista ao MTV News, da emissora de TV norte-americana, que o ator Michael Caine (O Plano Perfeito) confirmou os boatos sobre os vilões da seqüência de Batman - O Cavaleiro das Trevas. Quando perguntado sobre quem gostaria de ver enfrentando o homem-morcego no próximo filme, Caine revelou que "eles já os tem em mente" (se referindo ao estúdio Warner Bros., responsável). "Os vilões serão Johnny Depp como o Charada e o Pingüim será Philip Seymour Hoffman. Eu li isso nos jornais", contou. Ao contrário dos fãs que apenas especulam sobre a informação, Caine revelou que foi se informar direto com executivos do estúdio. (com informações do Cineclick Digital).

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A praia revisitada

A nostalgia vive também o não-passado. A praia abandonada recomeça – novo encanto. Lembranças ressurgem claras. Como o tapete de areia. Uma anterioridade intocável. Um mundo incabível ao abraço do palpável. A natureza embora viva sequer desconfia da maravilha da revisita. O tédio das ondas de mesmo destino ceifou qualquer visão além. São como as catraias inertes sobre as toras de coqueiro. A espera é a mesma. E há outros passantes mais alegres. Ainda estusiasmados com o belo natural. Sou apenas o que espreita. Porque seria notado?

A praia já não respira como antes. Persegue a eternidade sufocada. Os arrecifes recebem chorosos em solidão o rebentar das ondas. Já não há a flora ou fauna de outrora. O lixo de outros mares espantou a natureza viva de minha infância. Talvez por isso o cansaço da orla, alimentado pela desesperança dos dias de sol. A alegria alheia dos visitantes de setembro antecipa a estação da dor. Os veraneios são intermináveis à praia-refúgio. Antes a solidão dos dias invernais. É quando a alma congela e a tristeza dormente descansa da euforia forçada.

A melancolia da praia-refúgio é de cais de porto. Tem alma faroleira. E balanço lânguido como as palhas de coqueiro. Não é a melancolia freudiana, depressiva. Está intimamente ligada à alegoria, ao contido, ao reprimido, às esperanças torturadas. Uma alma perfumada pelo que um dia Kierkegaard apontou como inerente ao humano. Mas permanece ainda a sabedoria do eterno como sustentáculo dos dias. A praia lamenta tão somente o destino eterno das rotinas de maré. E o mar, com suas paredes de vidro, rodeiam um universo infinito de solidão.

O exercício de viver a melancolia acalma os dias intempestivos. A violência das ondas é empurrada pelos ventos ainda fortes. Nem de longe reflete os sentimentos da praia. São ventanias ainda de agosto; passageiras. Não se coadunam com a angústia nativa da praia ou do mar. Provocam o mar revolto e se afugentam em outros recantos tempos depois. É quando o mar me desperta o medo; quando está fora de si. O mar da praia-refúgio sente preguiça de sofrer e alongar a vida. Não é o mesmo das ondas bravias de agosto e setembro.

Talvez eu tenha um pouco de mar; daquele mar. Navegante de minhas lembranças de menino, respiro a brisa do lençol verde-escuro e guardo na solidão minha força maior. Sinto-me eterno no escuro da noite; mais leve nos dias de segundos congelados. A vida contemplativa carece da melancolia. Não é à toa, Goethe afirmou ser a melancolia uma submersão em um mar de sensibilidade. Esperarei os dias angustiados de calor passarem e levarem com os seus a doce ilusão da alegria para um reencontro mais íntimo entre meus sonhos infantis e a praia eterna entediada.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Propostas culturais

A candidata Fátima Bezerra apresenta amanhã no restaurante Calígula, na Ribeira, o programa de governo para a cultura. Será a partir das 19h. Até onde sei, é a primeira candidata a se preocupar com o tema. Até então, segurança (competência do Estado!) e saneamento têm recebido melhor atenção. Entre as principais ações para a área, a candidata cita a criação da rede municipal de pontos de cultura; a ampliação do cadastro municipal de agentes culturais; e a elaboração do Mapa Cultural da cidade e do Plano Municipal de Política Cultural; além do Fundo Municipal de Cultura. Esta última, uma belíssima proposta que também poderia ser seguida no âmbito estadual.

Crenças e Religiões

O Coral Harmus do Instituto de Música Waldemar de Almeida, apresenta o concerto Crenças e Religiões amanhã, às 20h, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP). O espetáculo é a peregrinação pelo mundo da música religiosa de diferentes credos como a música cristã, hindu, indígena e africana. A execução de peças vocais e instrumentais procuram conduzir à reflexão dos costumes e características de algumas das religiões e crenças mais difundidas no mundo. A entrada custa R$ 7,00, informações e senhas no TCP: 3232-5307.

Sétima Arte lança site

A “locadora” de filmes e shows em DVD, Sétima Arte, lançou seu site com atualização semanal do acervo: www.7arte-filmes.blogspot.com . As raridades cinematográficas encontradas no Sétima Arte, no Centro da Cidade, podem ser procuradas agora no mundo virtual. Os filmes estão divididos por gênero e países ou dispostos em ordem alfabética, para facilitar a vida do cinéfilo. No site há ainda a seção: Dicas para Educadores, com algumas preciosidades como Morangos Silvestres (de Ingmar Bergman) e Cinema Paradiso (de Giuseppe Tornatore).

sábado, 6 de setembro de 2008

Duelo de escritores

Engana-se quem pensa que fazer literatura no Brasil é impossível. Um grupo de Santa Catarina aliou internet, boas idéias e vontade de escrever e criou uma batalha virtual: o Duelo de Escritores (www.duelodeescritores.com). Já em sua 30ª rodada, o projeto funciona de forma simples: em cima de um tema proposto, cada participante escreve um conto, crônica ou poesia, e uma votação define qual é o vencedor e quem escolherá o próximo tema. Votam os duelistas e o público. Já são aproximadamente 6,5 mil acessos e mais de 300 votos. Cada um escolhe a melhor forma de abordar o tema. A dinâmica do Duelo de Escritores é simples. Todos os dias terminados em 1 (1º, 11 e 21) são postados os temas. Os escritores têm até os dias terminados em 6 (6, 16 e 26) para escrever os textos e postá-los no site. Leitores e duelistas votam nos melhores textos até os dias terminados em 0 (10, 20 e 30). Os textos são até legais e a participação do público é razoável. Está aí uma boa idéia a ser implementada por esta cidade de escritores ávidos em mostrar escritos.

O Menino Maluquinho em Natal

O projeto Um Caminhão para Ziraldo chega a Natal segunda-feira. O caminhão, devidamente adaptado para se transformar em um palco, leva cultura e diversão a dez cidades do estado. A peça Quadrinhos de Ziraldo, encenada por dez atores, leva a platéia ao mundo do Menino Maluquinho e permite que a nova geração tenha um contato mais direto com a cultura nacional. Depois de Natal, o caminhão segue para São Gonçalo do Amarante, Paranamirim, Ceará - Mirim (11), São José do Mapibu (dia 12), Mossoró (15), Assu (16), Apodi (17), Baraúna(18), encerrando Areia Branca no dia 19 de Setembro. Sempre com duas apresentações: uma as 10 e outra às 15 horas. A estrutura do espetáculo conta com um caminhão de treze metros e meio de comprimento, incluindo um palco criativo e itinerante, onde artistas encenam a peça Quadrinhos de Ziraldo mostrando diferentes situações e aventuras do Menino Maluquinho.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Cinema Novo já é velho

Câmera na mão e uma idéia na cabeça funcionaram maravilhosamente com o Cinema Novo de Glauber Rocha, nos idos de 60-70. Fosse assim no tempo-hoje, muitos projetos de documentários no Estado seriam concebidos sem problema. Infelizmente (?) as novas tecnologias clamam por qualidade, que requer dinheiro, incentivo. Este ano, somente no nosso RN cerca de 20 roteiros foram apresentados ao projeto Doc TV, do Governo Federal. Todo ano o vencedor recebe aproximados R$ 100 mil para montar o documentário. Os “derrotados” têm seus projetos afundados ou filmados em qualidade duvidosa devido à falta de recursos. E mais das vezes são roteiros inteligentes, que renderiam ótimos projetos.

Sangue de Barro foi o roteiro contemplado com a 4 edição do Doc TV aqui no Rio Grande de Poti. O projeto é da jornalista Mary Land Brito. Trata da vida de um antigo serial-killer de São Gonçalo do Amarante. É uma história curiosa e trágica. Pode render excelente documentário. A lástima, como disse, é o esquecimento dos outros roteiros. Um em especial, me chamou atenção. O documentarista Paulo Laguardia está pronto para iniciar filmagens da vida de Djalma Maranhão. A seleção do Doc TV deste ano escanteou biografias e o projeto sobre Djalma ficou de fora. Sem recursos desejados, Laguardia espera concretizar sua idéia sem a estrutura necessária, como microfones externos, iluminadores e a qualidade do audiovisual comprometida.

Resta ainda uma segunda chance. O roteiro também foi encaminhado à análise da seleção para projetos aprovados pela Lei Municipal de Cultura Djalma Maranhão – parece ironia o documentário tratar do homenageado com a lei de incentivo à cultura. Se aprovado, Laguardia vai tentar patrocínio com empresas privadas. Quem conhece o trabalho do documentarista pode comprovar a competência. Assisti recentemente o documentário O Vôo Silenciado do Jucurutu, produzido por ele sobre a cineasta potiguar Jussara Queiroz. Muito bom.

Durante o lançamento do Doc TV 4, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel, em maio, o diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, prometeu, na frente de jornalistas, roteiristas e diretores, patrocinar o segundo colocado. Voltou atrás com a palavra - coisa que no interior é a moeda de mais valia. Quis fazer a velha média. Seria uma excelente idéia da FJA. Talvez até repartir a grana e contribuir com mais dois projetos.

Mesmo sem patrocínio, Laguardia filmará o documentário. Sob a sombra do conceitualismo do Cinema Novo, que já é velho. Como a falta de incentivo à cultura também é. O foco principal do roteiro será a campanha de alfabetização promovida por Djalma Maranhão. E se De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, com uma câmara na mão e uma idéia na cabeça também se filma um documentário.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A tração da (A)Fundação

De uma leitora, via imeio: “O absurdo do absurdo foi a Camioneta importada (4 x 4) que ele (o diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto) fez a Fundação comprar, mas continua devendo locações feitas anteriormente, além de não fazer as manutenções dos carros da Fundação, e isso coloca em risco os funcionários que andam nos carros”. A leitora ironiza ainda que o cordelista deverá ser o “novo playboy” em Mossoró, onde vai andar com motorista particular. Tudo pago pelo contribuinte.

E completa: “Ele exigiu um carrão com tração 4x4, e será que a Fundação vai fazer alguma obra em cima de dunas? Fica a pergunta para o governo responder. Como o carro é uma cabine dupla com carroceria, pode ser que seja para transportar a revista preá, pois os funcionários não podem andar na carroceria, tampouco na cabine. Como o governo restaurou todas as estradas do RN, os carros não necessitam ser 4x4, a não ser que eles queiram andar nas fazendas, com estradas de areia ou barro. Vai ser uma dureza para o pobre coitado. E haja combustível pago pelo povo”.

E só para constar: a compra do “carrão importado” por parte da Fundação José Augusto foi publicada no Diário Oficial do Estado. Não lembro agora a data precisa. Mas a notícia foi publicada até na coluna de Cassiano Arruda, no Diário de Natal. E a aquisição foi sem licitação! E lembro-me que andava em um Fiat Uno pra cima e pra baixo, em estradas carroçáveis ou até intransitáveis pelo interior do Estado quando da apuração das matérias da revista Preá. Detalhe: o então diretor geral da dita Fundação, François Silvestre, também usava o Fiat Uno.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Do Mercado da Redinha

A resistência dos bravos pescadores da Redinha em abandonar os boxes de peixes situados ao lado do Mercado resultou em benefício. A Semsur começou ontem a instalar pontos improvisados para instalação de freezeres e luz para os pescadores poderem trabalhar depois de quase dois meses em que o movimento no comércio caiu mais de 50% devido à reforma. As divisórias dos boxes são de tapumes. A iluminação são gambiarras, mas a intenção é válida. Toda obra traz transtornos. E é preciso elogiar a iniciativa da prefeitura. A situação daquela gente era demasiado precária. Ninguém olhava por eles. Sou testemunha presente disto. A fedentina espantava clientes. Os banheiros eram impraticáveis. E a conseqüência do abandono recaía no Mercado da Redinha – ponto histórico-cultural da “praia bonita”, como citou Cascudo.

Visitei hoje o Mercado. Dia até movimentado para uma segunda-feira. Os pescadores ao lado estavam mais aliviados com a mudança. Esperam repor o tempo perdido. E as proprietárias dos boxes do Mercado esperam ansiosas e satisfeitas pelo término da reforma e padronização do corredor dos pescadores para iniciar as obras no Mercado. De menor peso. Serão feitos o retelhamento, pintura e melhoramento dos boxes. Um por vez, para evitar prejuízo das comerciantes. Pelo menos há quatro anos freqüento o Mercado com assiduidade e tenho feito até pesquisa por ali. É a primeira vez que constato alguma satisfação entre as comerciantes. Dona Ivanize Januário – filha da saudosa Dalila e “Seo” Geraldo Preto – era uma felicidade só. Os apreciadores da ginga-com-tapioca também agradecem.

Espaço vermelho

e um dos ícones da noite intelectual de natal – o Bardallos – está prestes a ruir fisicamente, logo em frente o boteco cultural La Bodeguita Socialista, promete incorporar o espírito de espaço alternativo no Centro da Cidade. Para esta sexta, às 19h haverá o lançamento do livro O Anti- herói das Estradas, do poeta, escritor e jornalista Osório Almeida. O artista plástico Gil Crispim, técnica de acrílico sobre tela, está expondo seus trabalhos ao lado do premiado chargista Amancio. Uma das curiosidades do boteco é que, sempre as 18h30, é tocado o hino dos trabalhadores do mundo – a Internacional. No mesmo espaço também figura o sebo Iskra, com preciosidades de Marx, Engels, Lenin e Trotsky.