terça-feira, 23 de setembro de 2008

Museu em ruínas

O antigo Engenho Guaporé, construído em 1850 nos verdes campos cearamirinenses e transformado em Museu Nilo Pereira é um dos monumentos históricos do Rio Grande do Norte esquecido. Durante mais de dois anos serviu de depósito para a Fundação José Augusto. Foi entregue à secretaria de Infra-Estrutura para reforma e até agora nada. Semana passada visitei o município para apurar matéria política e procurei saber do estado do museu. A própria prefeita, Ednólia Melo, se mostrou indignada com a situação.

Uma possível “viagem” ao passado dessa aristocracia canavieira rende apenas fotos de destroços. O turista interessado em conhecer os casarões de Ceará-Mirim; da vida de um Nordeste de contradições, de uma linhagem de nobreza que jamais cruzavam as calçadas com os escravos, certamente se deslumbrará com os engenhos Verde Nasce ou o Santa Thereza. Mas passará direto pelo caminho de entrada do Museu Nilo Pereira, de visão quase encoberta pelo mato. Mesmo a placa indicatória, à margem da BR-406, está apagada.

O antigo Engenho Guaporé pertenceu ao ex-senador Geraldo Melo. Foi cedido à FJA para restauração e abrigo do Museu Nilo Pereira, em 1978. O Governo do Estado tombou o monumento dez anos depois. Segundo informações colhidas na cidade, não houve nenhuma reforma desde então. Objetos valiosos e históricos da antiga nobreza foram roubados. Em janeiro deste ano, o coordenador do Cedoc (órgão ligado à FJA) João Natal, afirmou que em fevereiro organizaria um grupo de trabalho para reaver trâmites burocráticos (a burocracia, sempre ela!) e acelerar o processo. Estamos fechando setembro e iniciando a primavera.

Mesmo de paredes emboloradas e abandonada, a Casa Grande ainda se mostra imponente a aproximadamente 300 metros da rodovia. O antigo Engenho Guaporé foi erguido em ponto elevado entre verdes canaviais. Um dia abrigou o governador da Província, Vicente Inácio Pereira, por volta de 1860. Uma dezena de palmeiras e um pé de azeitona rocha centenário permanecem nos domínios do Casarão. Uma família de pais agricultores se apossou do local. Cuidam do possível. Plantam e sobrevivem com os filhos pequeninos. Estão lá há pelo menos três anos.

Há um pedido de restauração do Museu Nilo Pereira (nome do neto do então governador da Província) na página eletrônica do Ministério da Cultura em meio a uma lista de outros projetos nacionais. Na mesma página, a data de solicitação da verba: 9 de março de 2006 e uma lista com 12 documentos pendentes a serem entregues. Ao lado, a providência tomada pelo Minc: “Projeto arquivado tendo em vista não atendimento pelo proponente à diligência realizada por esta gerência”. E o brasileiro gosta de dizer que somos um país sem memória. Culpa de quem?

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