sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Fragmentos

FRANÇOIS
O “furo” jornalístico conseguido pela repórter Gabriela Freire, com uma entrevista esclarecedora com o antigo diretor geral da Fundação José Augusto e autor do recente livro Alças de Agave, François Silvestre foi curioso. A primeira ligação da repórter foi recebida por uma senhora que, ao ser indagada sobre se o número pertencia a François, negou e desligou na cara da repórter. Numa segunda tentativa, insistente, atendeu o próprio François, monossilábico que só ele. “Diga”. “Pergunte”. Diz a repórter que ele só se alterou ao comentar um equívoco publicado em matéria do JH 1 Edição.

SEIS E MEIA
A polêmica hipótese do fim do Projeto Seis e Meia, levantada por este blog, pode dar uma reviravolta. Mas nenhum mérito cabe ao diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto. Comenta-se que foi preciso interferência da governadora Wilma de Faria, em conversa particular com o heróico produtor do projeto, Wilian Collier. Pelo visto, o projeto – o mais longevo do Estado – pode continuar, mesmo aos trancos e barrancos, como tem se arrastado há alguns anos.

LITERATURA
Gostei da lista de obras literárias recomendadas pela Comperve para o vestibular 2009. Achei boa a variação dos gêneros e autores. Mesmo banal e ofício para pobres de escrita como este escrevinhador de cenas da esquina, a crônica está presente na Coleção Para Gostar de Ler (Volume 7), com vários autores. O conto tem o bom Drummond como representante, na obra Contos de Aprendiz. O clássico de Graciliano Ramos, Vidas Secas é obra obrigatória a qualquer estudante. Além dessas, Eles Não Usam Black-Tie, texto para teatro, de Gianfrancesco Guarniere.

MIRABEAU
Meio atrasado o comentário, mas ainda válido: a entrevista com o compositor Mirabeau no ainda excelente programa Memória Viva foi sensacional. Além do apresentador/mediador, Tarcísio Gurgel, a jornalista Rejane e o jornalista Carlos de Souza, o Carlão. Apenas reforcei a idéia de que nossos talentos não devem nada a ninguém. Pelo contrário. Quem tem um Mirabeau ainda em atividade não precisa de muito mais. É nosso maior poeta musical, sem dúvida. Dou por visto – ainda não tive acesso – ao livro sobre Areia Branca, com as poesias escritas por Deífilo e musicadas por ele. Imagino uma maravilha.

ENTREVISTAS
A edição de O Poti deste domingo virá com uma entrevista bacanérrima com o jornalista e poeta maior destas plagas, Sanderson Negreiros. Há tempos ele não dava entrevistas e resolveu falar à repórter Hayssa Pacheco de sua obra e novo livro. Para a outra semana, outra boa entrevista com o crítico e poeta vencedor de dois prêmios Jabuti, Frederico Barbosa. O rapaz mete o aço em Ariano Suassuna e Ferreira Gullar. Durante a semana, outro luxo: um “pingue-e-pongue” com o poeta do “kaos”, Jorge Mautner. A entrevista foi feita a este blogueiro nada menos que há dois anos, numa mesa de bar, na boa Ribeira. Tudo inédito.

CINEMA
Uma dica bacana de programação para este domingo, e que eu coloco aqui no final do post para não lotar o Teatro de Cultura Popular e eu minha amada ficarmos sem ingresso. Vai ser exibido por lá o filme nacional, elogiadíssimo pela crítica, Árido Movie. Ingressos a preços populares. Salvo engano, coisa de R$ 2. O horário é às 17h. No Cinemark e Moviecom, a programação também está muito boa: “4 meses, 3 semanas, 2 dias”, vencedor da Palma de Ouro, em Cannes. Tem ainda O Caçador de Pipas, Juno, Rambo 4 (eu gosto!) e Mutum. Quem preferir, tem Som da Mata a partir das 16h30, também domingo e no Parque das Dunas, com Sérgio Groove e Primata. Boa pedida, também. É 1 R$ o ingresso.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Tá lá outra cabeça estendida no chão

Menos de uma semana e outro preso foi degolado em Alcaçuz. Coisa da época de Lampião, daqueles sertões cangaceiros de nunca mais. Quando soube, corri pra ler e acreditar. Tácito comentou em seu Substantivo Plural (http://www.substantivoplura.com.br/) dessa mistura macabra de ficção e realidade. É que parece mentira mesmo. Antes fossem histórias da carochinha.

É por isso que reafirmo: precisamos das ilusões para manter porções alheias à realidade do humano, demasiado humano. E nada melhor que a poesia. Ontem entrevistei o poeta e crítico pernambucano, radicado em São Paulo, Frederico Barbosa, vencedor de dois prêmios Jabuti. Ele falou uma coisa curiosa: a poesia é uma forma de organizar o caos. A conversa será publicada no outro domingo.

No mais é uma notícia que me chega para alisar o ego. Este blogueiro fará coro ao time de colunistas do portal Diginet. É, como disse, um desses arroubos de ilusão. Daquelas notícias que aliviam dores e proporcionam algum sorriso de canto de boca. Por outra, a intenção de um mestrado foi por água abaixo. É que a prisão do jornal impresso é de segurança máxima. Acho que estou sendo degolado aos poucos...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Entre pedras da praia

É inverno em Santa Rita. Não pelo atraso nas horas do relógio. Até o inverno parece apressado nestes dias nervosos. Chegou com cara de verão este ano. O calor ainda é insuportável na urbe. Em Santa Rita já se pisa em areia fria. Deve ser a vocação da praia. Não fosse os visitantes passageiros de alegria onusta, Santa Rita viveria só de inverno, como quadro parnasiano.

O vento ainda é pouco. As gaivotas voam desenganadas com a estação. As catraias adormecem estacionadas e descansam o tédio no salgado das horas. Se ali estão é porque o peixe já é pouco. As tainhas migraram para águas mais quentes em praias de verão. Bem sabem que Santa Rita afugenta a estação veraneio.

Ainda se vê um ou outro pelas beiradas da praia. São visitantes mais contemplativos, de alma faroleira. Caminham o olhar no marulhado das águas ou no céu ofuscado pelas nuvens gris. Vêem os arrecifes chorosos após pancadas de ondas daninhas. Enquanto ondas-musas deságuam milênios no alisar da areia. É quando o mar seduz a inspiração a um novo bailado. E a solidão bandida e insana entrega-se a qualquer ensejo.

O cenário em Santa Rita é de passado fugidio. Daí tantos visitantes mergulhados em solidões e nostalgias. É que a saudade, amigo leitor, é palavra que dói. Por vezes subo seus degraus e a visão do alto é de uma distância impossível. Desejo pular e abraçar minhas lembranças. De certo haverá uma mão sem luvas a me encher de afagos. Mas apenas caminho degraus acima. E a saudade daqueles mares do ontem percorre o porão das memórias mais coloridas.

Entre arrecifes da praia recosto fardos da existência. O cenário ameniza tombadilhos de uma vida navegante. É inverno, sim. O silêncio da nuvem pesada arqueja – silêncios sempre à escuta. A luz já é morena. A melancolia dissolve-se na brisa tardia. E numa solidão de pedra, uma janela sobre o mar. Vontade de um fim doce sob as águas...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Os dias são estes

Homem decapitado em Alcaçuz. A cabeça é colocada na marca do pênalti até alcançar o gol. O algoz está despreocupado; diz que foi mais esperto. No estacionamento do Cefet, nosso Thomé foi a própria bala. Em São Paulo, um “depressivo” pára, pensa por bons minutos e decide: entra na contramão de uma avenida de seis pistas. Ainda percorre quatro quilômetros em zigue-zague até encontrar o fim no choque com um caminhão. No Rio, uma grávida é fortemente agredida por um cobrador de ônibus. No trânsito desta vila mal iluminada, um estressado-depressivo-frustrado sai do carro parado sob o semáforo para tirar satisfação com o apressado motorista de trás, por conta de uma buzinada ao abrir do sinal. Pergunto: quando sairá o segundo filme de Um Dia de Fúria?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

De Ivan Lins e do fim do Seis e Meia

A Fundação Capitania das Artes está de parabéns pela escolha da atração e estrutura oferecida no show de Ivan Lins, dentro do programa Pixinguinha, salvo engano, aberto pelo próprio autor de Madalena e outros hits da clássica MPB.

Achei a apresentação meio paradona. Claro, não poderia esperar uma puxada hard core de Ivan Lins. Ainda assim, poderia ser mais agitado. Achei muito instrumental. E antes fosse um time de músicos mais ousados nos improvisos. Muito piano no ouvido cansa, pelo menos os meus. Depois de quase duas horas de show e nada dos velhos hits.

Talvez não tenha sido a opinião geral. Acredito que não. Interessante mesmo foi a escolha de um talento indiscutível da nossa música e que há muito não dava as caras por aqui. E melhor: ao preço de R$ 1.

Um pessoal do condomínio vizinho e com sobrado voltado para o pátio da Funcarte atrapalhou bastante a apresentação. Houve até princípio de briga. O bom senso ficou de fora e eles gritaram e procuraram avacalhar o show. Alguma coisa tem que ser feita ou vai se repetir.

Enquanto a gestão municipal da cultura mostra a que veio, ainda espero resultados da Fundação José Augusto. A desculpa de que vai arrumar a casa já soa ridícula. Melhor por uma faxineira para chefiar os ditames da coisa do que um cordelista, então.

Perto de findar o mês do carnaval, apenas umas apresentações do Bolshoi. Nada de substancial. Pior: soube por cima que o Projeto Seis e Meia – o programa cultural mais bem sucedido do estado – pode acabar por falta de grana pra pagar os cachês dos artistas. Os integrantes da banda Os Grogs esperam há quatro meses o dinda.

Já que não fez nada de relevante para a cultura potiguar em mais de um ano, o diretor geral da FJA, Crispiniano Neto, pode “conseguir” ter como marca maior de sua gestão o fim de projetos grandiosos como a Revista Preá e, mais ainda, o Projeto Seis e Meia.

É esse o retrato da nossa cultura. O chefão do senado, nosso potiguar Garibaldi disse, em entrevista ao jornalista Alex de Souza, que não lembrava de um único projeto cultural em sua gestão de quase uma década à frente do Governo Estadual. É lamentável.

Enquanto isso, nos bastidores da Funcarte há planos ainda sigilosos de elaborar um programa semelhante – para não dizer uma cópia fiel – do Seis e Meia, no mesmo dia e horário, e também com uma atração nacional e outra local. Isso para fazer frente ao quase falido Seis e Meia e mostrar, de forma clara e comparativa, o que é gerir cultura.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A Casa de Alice

Assisti ontem A Casa de Alice, dentro da programação de arte do Cinemark. Os leitores mais fiéis deste blog já devem esperar mais uma crítica chata de um jornalista desentendido. Não. Gosto de comentar apenas alguns filmes que vejo. Seja por chamar-me a atenção de forma positiva ou negativa.

A Casa de Alice contradiz muito do que disse nos textos anteriores e ratifica outros pontos de vistas meus. Mostra a criatividade, inteligência e o tal olhar da sociedade brasileira. O melhor é que os atores são desconhecidos. Consegui identificar apenas uma. E nem era a protagonista. Nada de Selton Mello, Wagner Moura ou Lázaro Ramos. Parece um filme independente e já muito premiado em festivais internacionais.

É um filme com muito menos estardalhaço que o Meu Nome Não é Johnny e, na minha opinião, melhor. Mais original e inteligente. Provoca; instiga a platéia a refletir. Por vezes lembrou-me o cinema europeu. O estilo é muito “cru”, como disse minha namorada. Aprecio esse excesso de realidade. Sinto-me livre de Hollywood.

O filme também traz outra particularidade que aprecio muito: o diretor Chico Teixeira (outro desconhecido pra mim), soube adicionar os silêncios – aquelas cenas paradonas, com os atores olhando para o nada e que parecem desnecessárias. Coisa parecida vi em Eu, Tu, Eles e O Outro Lado da Rua. Os silêncios do primeiro serviram para retratar a rotina arrastada do sertão nordestino. No segundo, uma quase metáfora da solidão na terceira idade.

Acho que os silêncios de A Casa de Alice serviram também para mostrar a solidão. Mas é outra solidão que não a da velhice. É a solidão como carência; da tristeza e do medo. É a solidão dos nossos dias. Uma solidão camuflada e hipócrita. A falsidade, o egoísmo e a carência estavam em cada fala ou olhar dos atores. De todos eles.

A sinopse do filme se confunde com a rotina de uma família de classe média baixa brasileira. Alice trabalha em um salão de manicure. Sustenta três filhos. Os dois mais velhos ganham dinheiro de forma ilícita. O marido é taxista e a trai com uma vizinha adolescente. A mãe também mora com ela e já sente o peso da idade. Mais tarde, Alice revê um antigo namorado e tudo parece mudar...

Como disse, o filme reflete não só os problemas de uma família brasileira, como retrata a solidão e hipocrisia do nosso tempo. Mas outro ponto também merece relevância: o sexo como fator preponderante em um casamento. Lembrei de O Centro do Mundo (2001). O filme mostra o sexo como o centro do universo na vida de todos. E Schopenhauer já falava disso bem antes. Talvez tenha sido o primeiro filósofo a abordar o assunto de forma tão clara e objetiva.

Enfim, A Casa de Alice mistura de forma inteligente (filme de baixos custos) a rotina da contemporaneidade universal a partir de um núcleo de família brasileira. Mostra vidas entediadas; o desajuste familiar pela questão econômica e sexual. Dentro daquele apartamento, o egoísmo impera. Fora dele, a hipocrisia parece morar nas calçadas do cotidiano. A fragilidade do ser humano é colocada em evidência. E dela, brota a inveja, exibida de forma primorosa nas conversas entre a manicure (maravilhosamente interpretada por Carla Ribas) e sua cliente.

O final do filme traz o expectador de volta à dura realidade e põe fim à esperança. O desprezo parece ser irmão da solidão, e ambos, amigos íntimos de uma vida construída sob pilares de argila. Embora todos os temas pareçam estar em nós ou nas calçadas da nossa rotina, tudo parece assombroso. E qualquer semelhança com nossa realidade, não é mera coincidência, não.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Comentário dos comentários

Amigos Alex e Tácito, seria ingênuo de minha parte tomar o cinema americano como referência. Considero, sim, como mau exemplo. E não só o cinema. Mas aí a discussão enveredaria por caminhos outros até chegar ao elogio recebido de “socialista descabido”. Já entrevistei dos maiores críticos do gênero da América Latina, um cubano do qual esqueci o nome. Ele classificou nosso cinema como emergente. Citou boas produções recentes e comparou com outras indústrias daqui mesmo do continente latino. Postou o Brasil atrás de Argentina, por exemplo.

Amadurecemos muito na época da retomada, pós-Collor. Produzimos mais ainda. Estivemos na ante-sala do Oscar e mostramos Central do Brasil, Cidade de Deus e Diários de Motocicleta ao mundo. Temos ainda o Auto da Compadecida, só nosso e de mais ninguém. Mas se já temos tempo e dinheiro para super produções, grande parte num vale o vintém gasto. Exemplos: Zuzu Angel ou Mais Uma Vez Amor. Coisa de cinema imaturo, de experimentalismo, de cinema em desenvolvimento. Outro ponto negativo, ao meu ver, é a carência de bons atores de cinema. Não é à toa a repetição de um mesmo time, composto, entre outros, por Lázaro Ramos, Wagner Moura e Selton Mello.

A Globo Filme é boa contribuinte na produção de filmes descartáveis. Empresta um elenco de talento duvidoso e acostumado às novelas, e produz filmecos como o do Casseta e Planeta ou Os Normais, além de financiar outros mais ousados, mas também de má qualidade. O tal filme de Chorão (que nem pra músico presta), o Magnata, é horrível. Assisto verdadeiras preciosidades do cinema argentino, iraniano e até mexiano. Claro, também aqui. Mas comparando é que opino na imaturidade do cinema brasileiro. Evidente, ele retrata “o olhar da sociedade”, como frisou Alex. E talvez por isso, tamanho desleixo em algumas produções.

E sobre a famigerada discussão da pirataria, o doce do angico não será posto nesta mesa. A discussão é longa, e como frisou Tácito, discuti-la de forma maniqueísta é um atraso. Chamar de hipócrita o leitor é afirmar o óbvio. Hipócritas somos todos. E quem negar está sendo um. DVDs e CDs piratas não são o fim do mundo. Talvez sejam o início de um, que muitos não assimilaram ainda. Como exemplificou uma vez Alex Medeiros, a fita cassete reproduziu o LP de vinil; a fotocópia multiplicou livros de faculdade; a fita VHS copiou o filme da TV. Os tempos são outros!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Dos comentários

Os últimos comentários – publicados em meu blog hospedado no DNOnline e referentes à minha opinião sobre o filme Meu Nome Não é Johnny, sobretudo pela minha recomendação de esperar o “piratão” do filme – foram incisivos. Prefiro assim. É a partir daí que surgem novas idéias. Então, permita-me, amigo leitor, alguns adendos:

Incentivo o leitor não à pirataria, necessariamente, mas à arte boa e barata. Infelizmente, como jornalista que não se vende, recebo apenas R$ 663. É meu salário para pagar despesas fixas que ultrapassam esse valor. Cinema é “artigo” de luxo pra mim. Ainda assim vou, quando a certeza da qualidade do filme é maior.

Serei mais preciso em minha recomendação: se os R$ 12 (em média) do ingresso não fizer falta ao leitor, vá ao cinema. Pague também o da namorada e uma pipoca e refrigerante para os dois. Programinha para aproximados R$ 40. No texto fui claro ao afirmar que é um bom filme. Não é de todo um desperdício de dinheiro para quem tem. Como se sabe, ainda está em falta nas locadoras. Nos camelôs já se encontra, com imagem gravada no cinema, de má qualidade.

É notório, amigo leitor, que a pirataria tem mexido com os neurônios dos empresários da indústria cinematográfica e fonográfica. Como também é uma ilegalidade sob vários aspectos. E é mais sabido ainda que o ingresso do cinema está um absurdo; que o preço dos CDs, mais ainda; que a internet é uma realidade e tornou-se uma ferramenta alternativa por buscas de filmes e músicas e que os empresários nada têm feito para baratear seus produtos. Ou melhor: alguns têm se mexido – sob pressão – para buscar opções. Um exemplo é uma espécie de cineclube via internet, com senhas mais baratas. Muitas gravadoras também liberaram músicas para download.

E esse início de mudança de paradigma se dá por que? Porque o consumidor está cansado e liso para comprar “arte” a preços caríssimos. O que não deixa de ser uma forma de exclusão. E o amigo leitor deve saber da legislação mais manjada da nossa Carta Magna: o direito igual para todos.

Claro, Sandro, como disse no início, que o cidadão vá ao cinema e tire suas conclusões, como você recomendou. Apenas deixei as minhas impressões e sugestões. Cada um sabe o que faz falta e o que não faz. Melhor: deve saber distinguir o que é certo e errado. Lembro apenas que o debate sobre pirataria é muito mais profundo que essas breves palavras aqui escritas. E por isso, não acho ser “lamentável” minha recomendação de espera, como escreveu o Mário.

“Radical e socialista descabido” foram os melhores elogios que recebi neste ano. Obrigado, Márcio. Acredito piamente serem os radicais quem modificam o sistema, que revolucionam. Jesus Cristo foi dos maiores radicais que tive notícia. E sou, sim, um socialista convicto e “radical”. Só discordo quando afirma que os leitores são contra a pirataria e que merecem minha retratação. E mesmo que fossem, este é um espaço aberto para minhas opiniões e a dos leitores. Portanto, que eu, você e outros possam expressar-se livremente.

Querida Kate, também concordo que o Brasil tem que comer muito baião-de-dois para atingir uma maturidade no cinema. Embora tenha avançado muito nos últimos cinco ou dez anos. E o filme está longe de figurar entre os piores. Como disse, é um bom filme. Melhor que muitos por aí. Só achei pouco original e inferior a Cidade de Deus e Tropa de Elite. Mas você lembrou bem da trilha sonora. Achei excelente e esqueci de comentar. Agradeço mais uma vez sua sempre rica participação!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Meu nome não é Johnny

Sinto-me constrangido em criticar filmes de empatia quase unânime. Mas, sinceramente, Meu Nome Não é Johnny não me acrescentou nada. Ao sair do cinema, a sensação de um bom filme para uma tarde de domingo, sem aquela euforia ou impacto das intrigantes obras cinematográficas, inspiradoras para novas reflexões e conceitos.

Muitos colocam o trabalho do diretor Mauro Lima como o último de uma trilogia iniciada por Cidade de Deus e continuado com Tropa de Elite. Acho muita ousadia para um filme sem originalidade alguma. Cidade de Deus mostrou a guerra no tráfico, a vida no morro e originou uma série de outros filmes na mesma linha. Tropa de Elite também inovou em tema e estilo.

Meu Nome... é um filme muito bem produzido, com alguns fiascos de interpretação e um roteiro primoroso. Mas a história de como um “playboy” entra para o tráfico de entorpecentes é tão manjada quanto a discussão do porquê de um rapaz de classe média se envolver com a marginalidade.

E outra: o filme é praticamente uma cópia de Profissão de Risco (2001), com Johnny Deep – também baseado em fatos. Ambos tratam da obsessão rápida e fácil pelo dinheiro e pelo consumismo. Ambos os traficantes (interpretados por Deep e Selton Mello) eram de classe média e se tornaram referências no tráfico.

E mais, o assunto foi tratado de uma forma não tão semelhante, mas com mesmo tema em Bons Companheiros, de Scorcese, e com os Chefões, de Coppola. Em todos eles, o enfoque na condição humana como predominância à vida. Em Meu Nome... , por exemplo, a vida do traficante João Guilherme é o olho do furacão. Com isso, a vida de centenas de pessoas que ajudou a destruir fica apagada, ou pelo menos subentendida.

No mesmo dia assisti o “piratão” de Quase Dois Irmãos (2004), de Lúcia Murat. Este, sim, poderia ser encaixado na trilogia. Também uma história verdadeira, mostra não só a formação do Comando Vermelho como aborda de forma inteligente e verdadeira o apartheid entre pobres e ricos e a impossibilidade de uma sociedade igualitária, mesmo quando a condição circunstancial das classes é a mesma, como a de prisioneiros.

Pra resumir: achei um bom filme pop. Não fosse o excesso de drogados em tela, poderia figurar no Tela Quente, da Globo. Afora a atuação de Selton Mello, não vi outra merecedora de destaque. Cássia até “Kiss”, mas não deu como juíza. Estava horrível, como também as cenas no tribunal. Da bela Cléo Pires, já não há o que se esperar.

Enfim, se o nome do rapaz é Johhny ou João, acho melhor o amigo leitor que não viu o filme esperar o piratão do que pagar a fortuna do ingresso do cinema para saber.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Da simplicidade das canoas

Quem afirma é Amyr Klink da genialidade presente na arquitetura das canoas e jangadas. O hoje experiente navegador começou a estudar a difícil arte náutica a partir da construção de pequenas embarcações até chegar ao mais complexo navio. E a grande descoberta de Amyr Klink pode ser transferida para um campo mais sombrio: o da vida. Depois de pesquisar, testar e se decepcionar muitas vezes, ele viu na simplicidade dos cascos das jangadas o segredo para um veleiro perfeito, leve como uma canoa e robusto como um cargueiro.

Para isso, experimentou alumínio, em vez do aço. Como mastro, também excluiu forquilhas, dobrados, entre outras parafernalhas metálicas e pesadas por um bambu. Viu também que um mastro, em vez de dois, basta. E para isso tudo demorou décadas até a conclusão do Paratii 2, seu veleiro oceânico. Também foi dessa maneira – a busca pela perfeição a partir do não-convencional e da simplicidade – a construção, depois de obstáculos vencidos, de um estaleiro próprio para barcos como os dele; para barcos de gente que acredita que pode fugir da tecnologia convencional para ser original e eficiente.

O que um pescador artesanal e sem instrução elaborou a partir do aprendizado rude advindo de gerações passadas, quase por impulso, Amyr Klink demorou alguns anos para aprender: que um casco de jangada é veloz, pode estacionar em qualquer banco de areia sem a precisão de poitas e equilibra-se com perfeição por não ter quilhas. Tudo isso são entraves enfrentados por velejadores de embarcações montadas a partir de convenções modernas. Amyr ousou, venceu e pode ensinar: pesquisa, determinação e coragem podem levar a um lugar que parece distante, mas está sempre ao lado: a simplicidade.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

E o Pierrot sai de cena...

Fim de carnaval. O Pierrot saiu cambaleante de tristezas pelas ruelas adjacentes à alegria do carnaval. Sugou as mágoas e frustrações de todos e levou todo o desespero da humanidade para o esconderijo onde se esconde durante o ano todo. Agora somos nós a enfrentarmos nossas sombras e as artimanhas do cotidiano. Há dois mil anos um outro morreu por nós. Não há mais bodes expiratórios para nos livrar dos males das esquinas e da alma.

A partir de hoje são 40 dias de privações aos verdadeiros cristãos. É a tal Quaresma. Uma preparação para a maior festa do cristianismo: a Páscoa. Os 40 dias lembram o período em que Jesus passou longe de todos, em jejum e à mercê das tentações da alma. Não sei se farei jejum ou darei mais esmolas para atender as súplicas da Igreja Católica. Talvez mais orações a algumas privações. Quem sabe 40 dias de recolhimento, leitura, reflexão?

Sinto que serão dias de mudança. Como frisou o pároco da igreja do Bom Jesus das Dores, na Ribeira, durante a missa de ontem, o momento é o ideal para mudanças; para a conversão. Para o período, recomendaria leituras pesadas de filósofos niilistas. Mais: tente plantar uma horta, mesmo que em apartamento. É possível. E fuja do trânsito. É o tempo mais inútil que se tem no dia. São privações mínimas e atitudes idem para uma vida mais amena.

Se vale outro conselho, ouso escrever: malhe, chacoteie, esnobe a vida. Você está zombando da hipocrisia alheia e de uma humanidade perdida. Claro: olhe primeiro para dentro de si e seja mais justo consigo. Depois, bata na vida como se ela fosse o Judas Iscariotes. Não precisa esperar o sábado de aleluia. A gratidão com Deus é pela existência e não pelo que outros fizeram dela. Rir da vida é o melhor remédio. Mas para isso, isole-se ao máximo, sem perder a ternura, a gentileza e o bom senso. Mas calma, amigo, são apenas 40 dias. Para o resto não há fuga. É a lei da prisão das ruas.