terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Da ânsia de viver

Li hoje que a ansiedade acelera em 43% as chances de um ataque cardíaco. Relacionei de imediato o índice com as dezenas de anciãos com mais de 90 anos que encontrei pelo interior do estado quando de um trabalho de mapeamento cultural. A urbe mata, envelhece e incrimina. Sinto isso a cada minuto.

Quando durmo penso nos problemas do dia seguinte ou no que me afligiu hoje. Se algo foi bom, já se imagina a perspectiva da piora ou o despertar da ânsia em melhorar. Quando acordo, a pressa, o trânsito, as contas para pagar. Almoço em “self service” pela praticidade de tempo. Nada de saborear a comida ou uma ceia em família. À noite o cansaço e o desejo de um fim de semana mais tranqüilo em que se possa ler e assistir um filme.

E chega o fim de semana. Vem a vontade de aproveitar tudo em uma noite de sexta. O exagero até a madrugada já toma um pedaço do sábado. E novamente a ânsia de viver. E, sem perceber, o banho de mar é apressado, a leitura é desconcentrada e os carinhos são menos intensos. O domingo é o dia do descanso. Um descanso sem contemplação, mas imaginativo e atormentado, de prevenção aos castigos da semana.

No fim do mês, além das contas, as filas nos bancos, supermercados ou um possível início de bola de neve financeiro. E se for acompanhar o movimento da bolsa de valores (uma cartada para melhorar os rendimentos), entra-se em colapso.

Enquanto a vida corre na urbe, no interior a vida caminha na velocidade das bicicletas sobre o paralelepípedo. A variação ocorre em uma ou outra safra perdida. Geralmente a renda é a mesma todo mês. Se é pouca, é o suficiente para comer, educar e viver. Sem a ânsia. Sem o trânsito. Sem a pressa. O tempo é o senhor de tudo. E no interior, ele é descansado. Responde apenas aos chamados da natureza.

No interior há mais tempo para ler. Geralmente em rede na varanda. Se a labuta na lavoura é árdua, enrijece os músculos, queimam a gordura da carne vermelha e prolongam a vida sã por mais de uma década.

As notícias chegam como eu as tinha há 20 anos atrás: por jornais impressos ou noticiários televisivos. Nada de internet e da possibilidade de acompanhar a cada 15 minutos as novidades do dia; dos pregões ou do que ocorre no BBB.

No interior, amigo leitor, há mais oratórios; o povo é mais religioso. No interior se come melhor. Lá se valorizam mais as sombras das árvores, as pipas, a conversa em banco de praça. No interior de vida besta, a tecnologia de ponta inexiste. Tudo é mais simples. E daqui, no coração da capital, eu me pergunto quando aprendi a me contaminar e a contagiar tanta gente com meu olhar de frustração. Quando?

Nenhum comentário:

Postar um comentário