terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Nas asas da história

Assisti ontem ao auto de Parnamirim. Achei mais simpático do que qualquer outro que vi até agora, mesmo as grandes produções dos de Mossoró ou o belíssimo espetáculo de Natal. Fui ano passado também e já noto uma tímida evolução. A segunda edição do espetáculo Nas Asas da História encenou a trajetória de nascimento da cidade a partir das notícias transmitidas pelas duas antigas amplificadoras do então vilarejo. As chamadas Bocas de Ferro eram o meio por onde os parnamirinenses recebiam notícias do mundo – uma espécie de alto-falante de Luís Romão, que “ajuntava” populares em Natal para ouvir notícias da Guerra.

O escritor e ensaísta Tarcísio Gurgel trouxe para narrar a história o locutor da primeira amplificadora da cidade – a Santo Antônio –, Oswaldo Moreira, além do professor de história Maurílio, que ministra aulas na Escola Municipal Augusto Severo. No palco, mais de 60 atores parnamirinenses. Coisa bonita de se ver. A estética Armorial – herança do romanceiro popular nordestino – incorporada ao espetáculo, aliado ao didatismo da peça facilitou o entendimento do público em conhecer a história luta de Parnamirim.

Tarcísio Gurgel – que já emprestou seu talento ao Auto de Natal – conseguiu mais uma vez inserir a história de nascimento de Jesus à história de fundação de Parnamirim. E se neste novo espetáculo (que se estende até amanhã no Parque Aluízio Alves) a história parte de personagens populares como as lavadeiras do bairro parnamirinense de Passagem de Areia, a tradição da atividade aeroviária da cidade não ficou de fora. E lá estava o piloto francês Paul Vachet e seu linguajar francês-tupiniquim prevendo o “progressór” de Parnamirim Field com a construção da Base Aérea.

Os aviões eram comuns em Parnamirim mesmo antes da construção da Base. As aeronaves comerciais da Air France sobrevoavam a cidade e pousavam no Rio Potengi. Mas foi a construção de uma Base Aérea, que viria a ser a proteção das Américas e empregaria mais de 80 mil pessoas o motivo para imigração de milhares de pessoas em busca de melhores condições de vida. E Tarcísio Gurgel foi buscar nos moradores antigos de Passagem de Areia a história das lavadeiras que migraram para os arredores da Base para lavar os uniformes dos militares e formarem um dos primeiros bairros da cidade – fundada em 17 de dezembro de 1958.

E um dos personagens de Passagem de Areia é o marceneiro José e sua mulher, a lavadeira Maria. Qualquer semelhança com o nome do casal bíblico não é mera coincidência. José e Maria fugiram da miséria em busca de trabalho e uma terra mais promissora para criar o filho que estava por nascer. Jesus nasce junto com a cidade de Parnamirim. Os três Reis Magos – representando a diversidade religiosa da cidade com o catolicismo, o candomblé e o protestantismo – abençoaram o menino Jesus, em cena depois já mais crescido e bonito, como a cidade Trampolim da Vitória próspera.

A adoção da estética Armorial tem sido fórmula para apresentações de sucesso indiscutível pelo Nordeste. Mas é um toque ousado e o diretor do espetáculo, Lindemberg Faria (integrante do Grupo Brincarte) recebe todo o mérito. A infra-estrutura do auto de Parnamirim está aquém do de Natal ou dos oratórios e autos mossoroenses. E talvez aí resida o charme do espetáculo. O palco é pequeno e relativamente baixo. Em frente, o grande público sentado em cadeiras de plástico. Na primeira fila, o prefeito Agnelo Alves e o autor do texto, Tarcísio Gurgel. É visível o tom popular do auto, muito mais do que enseja a intenção e a tradição de um espetáculo com este estilo.

O cenário foi menos produzido e criativo do que na primeira edição, quando a figura de uma aeronave apontada para o céu metaforizava a ligação da cidade com a atividade aeroviária. Nada que prejudicasse a contação de uma história gloriosa (que este ano recebeu o nome de Alô Sim, Alô não. Com vocês, Parnamirim!) que cada vez mais se incorpora na memória dos parnamirinenses. Afinal, como indagou pela segunda vez o texto da peça, uma cidade o que é? O que foi? O que será? E já responde: “Uma cidade se justifica por sua história e seu povo”.

3 comentários:

  1. espetáculo musical lindo!!!!!

    Emocionante............

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  2. Que bom que gostou do espetáculo ,realmente tive a oportunidade de assistir só no passado e esse ano participar . Vale apena conferir mais vezes ;D obrigada pelos elogios á cultura de minha cidade ;]

    thalita wartuza

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  3. Realmente foi incrivel saber e ver como as pessoas se encantaram pelo espetaculo ! foi incrivel de certo modo ajudar para que o espetaculo fosse belo assim como foi e que causase um exslente impressao a todos. Esta sendo maravilhoso trabalhar com esse espetaculo incrivel e obrigada por todos os elogios.

    Larissa Medeiros

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