"Ninguém sabe da missa um terço"
Às vésperas do reinado de Momo, a Funcarte vive um carnaval. Denúncias, dívidas, suspeitas de exoneração e um presidente sem férias e por duas vezes levado à urgência hospitalar por uma razão: estresse. Uma carta aberta de uma ex-assessora técnica da Capitania, que acusa o presidente de assédio moral, jogou de vez Rodrigues Neto em um furacão do qual já se formara com a produção do fim do Natal em Natal e início da programação do carnaval - o período de férias que provavelmente será adiado de novo em razão da consequente organização do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, em abril. Em entrevista de quase uma hora ao Diário de Natal, Rodrigues Neto explicou o assunto, que envolve mais de R$ 400 mil do Governo Federal referentes ao edital do Iphan para modernização dos museus, e verba para implantação de um Pontão de Cultura. O montante voltou aos cofres federais por atraso na prestação de contas ou envio de relatório. A acusação é mútua. Na entrevista a seguir, Rodrigues Neto evita a polêmica, mas desabafa contra a "imprensa marrom".
O projeto do carnaval 2011 foi reformulado e apresentado à prefeita Micarla de Sousa esta semana. Qual foi a reação?
É um projeto grande de R$ 5 milhões, impossível aos cofres muncipais. A prefeita tentará patrocínio do Ministério do Turismo. O Governo do Estado disse que não entra. Meu objetivo é fazer um evento tão grande quanto o Natal em Natal. Mas infelizmente dispomos de R$ 2,2 milhões (mesmo valor de 2010). Por isso, o redimensionamento, com mais enfoque na Redinha e circuito Ribeira/Rocas e esquecendo mais o que não acontece. É inviável montar uma estrutura cara no carnaval em Ponta Negra para apenas um dia de grande movimentação. Então, apoiaremos o sábado do bloco Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens, e o domingo consagrado do Centro, com as Kengas. O pessoal do hip hop se integra à programação dos 10 anos da Casa da Ribeira, apoiado pela Funcarte. Faremos a festa do Rei e Rainha do carnaval junto com o Baile das Kengas e economizamos R$ 40 mil. Também diminuiremos o número de bandas e priorizaremos a qualidade: Khrystal, Perfume de Gardênia, Pedro Mendes... E assim, fazendo milagre com esses recursos, esperamos o mesmo sucesso do ano passado.
A Funcarte encontra dificuldade de patrocínio em razão de dívidas com fornecedores?
Não é tão grande. 2010, sim, foi horrível. Mas entramos 2011 com dívida pagável. Pagamos cerca de 70%. O restante dá pra eles segurarem. Quem não pode esperar são os artistas. Entraremos no carnaval sem dever nada ao artista. É ordem da prefeita. E ainda espero apoio do Governo. Em 2010 Rosalba percorreu o circuito do carnaval com a gente e elogiou muito. Sabemos dos cofres esvaziados do governo, mas vamos tentar.
Há acúmulo de dívida na Funcarte desde 2009?
Infelizmente ainda temos dívidas do Natal em Natal de 2009. São João não temos mais, nem carnaval...
Chega a R$ 700 mil?
Quase isso. Mas é totalmente pagável. Está tudo planejado dentro dos aportes financeiros para 2011. É o que chamamos de "resto a pagar", referente a 2010. São contas da Cosern, Telemar, reparo de prédios, fornecedores, mão-de-obra especializada e pagamento de artista. Essa é a dívida total da Funcarte hoje. Mas, olhe: pouca gente sabe o que passamos ali para cumprir compromissos. Os artistas prometeram não subir no palco do Auto de Natal sem o dinheiro em mãos. Um dia antes, em 23 de dezembro, às 11h, e o dinheiro da Lei Rouanet (R$ 1,2 milhão) não havia caído. Eu tive um pique de pressão e fui levado ao Hospital São Lucas; quase tive um piripaque. Outra vez desmaiei naquela Funcarte e fui levado direto à Promater quando soube do cancelamento da verba da Lei Rouanet (o dinheiro do Iphan que voltou). Olhe, ninguém sabe da missa um terço. Agora, a prefeita ficou sabendo da carta e eu tive que contar minha versão.
Há suspeita de sua exoneração na futura reforma do secretariado municipal. Você esteve com a prefeita esta semana. Foi comentado a respeito?
Tenho 20 anos de amizade com Micarla, 15 de TV Ponta Negra e 5 com política. Fui um dos fundadores do PV e meu cargo está à disposição da prefeita. Jamais faria qualquer objeção. Agora, não responderei insultos da imprensa marrom: de twitter, blogs. Publicam o que querem, mas veja: você é o primeiro jornalista que me liga pra saber o outro lado. Sou a favor da liberdade de expressão, das mídias sociais e do jornalismo responsável. Não uma conspiração infundada a meu respeito. Mais que uma função, o trabalho que realizo é uma missão. Foi um trabalho abnegado, e o status de presidente da Funcarte não me comove. Independente de cargo continuarei com Micarla como sempre estive: quando fui vice ou quando não fui nada; continuo com ela, com o PV e com o jornalismo sério.
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