terça-feira, 13 de novembro de 2007

Da prisão das ruas

Vontade de sumir. De escapar. As armadilhas estão em cada esquina. Em cada palavra dita, o odor da hipocrisia. De poucas e passageiras alegrias se vive. De migalhas de vida, se sobrevive. Onde estão escondidas as ilusões? A realidade dói. É preciso máscara para camuflar a face horrenda da frustração demasiada.

Se são linhas tortas, pergunte a Deus. Fato é que a escrita do mundo é um romance melancólico de Dostoievski. Versos de Chapman já contavam que nenhuma pena pode escrever nada de eterno, se não for mergulhada na tinta das trevas. O ar está pesado. E a fragrância desse perfume é a da carência, do medo e da raiva. É o que respiramos. E o perfume é extraído de raízes profundas da ganância e da competitividade excessiva.

A sabedoria de Buda concluía: a vida é sofrimento. Como remédio para a enfermidade da existência, ele pregava o desapego às coisas, idéias, pessoas e à própria vida. Se o homem conseguir livrar-se dos desejos, apegos e do eu interior, encontraria o caminho para uma vida amena. E o caminho é varrer da mente as vontades e apegos através do exercício da meditação.

Cortar os fios da vontade que ligam o homem ao mundo é missão quase impossível. Schopenhauer sugere a arte. A música de Wagner, por exemplo, o fazia transcender as vontades do mundo. Mas o amigo leitor há de concordar: somos sugados pela rotina. Não há como se dedicar à meditação exclusiva ou à música. O contato com o homem é necessário. Seja no trabalho, em casa, no convívio em cada esquina do cotidiano.

Antes, o homem pudesse olhar para trás; para a ilusão do mundo e sorrir, indiferente como um jogador de xadrez ao final da partida. Mas somos puxados para trás e para frente a cada instante. São as vontades do mundo. E o mundo está perdido. A transformação do inferno em metáfora ou a descrença ativa no céu deixou o Ocidente sem coordenadas. Vagamos como zumbi, intolerantes, carentes e solitários. E acredite: dos dois, o inferno demonstrou ser o mais fácil de recriar.

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