domingo, 16 de março de 2008

A Vida dos Outros

Não me empolguei com o vencedor do Oscar 2007 como melhor filme estrangeiro, A Vida dos Outros e classificado no topo de muitas listas de melhor filme do ano passado. Um bom filme, aquém dos últimos premiados do Oscar ou mesmo de outros estrangeiros como a produção brasileira O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias.

Vale o preço do ingresso. É um ótimo filme. Sem conhecer a sinopse, fui ao cinema a espera de qualquer coisa. E com a expectativa lá em cima. Não só pelas premiações e o comentário do jornalista Tácito Costa, um cinéfilo inveterado. A motivação partiu, principalmente, dos últimos filmes exibidos no Cinecult.

Temi quando já nas primeiras cenas percebi mais um filme com abordagem sobre a ditadura ou regimes ideológicos, como o exemplo do concorrente brasileiro. E que nem indicado foi. Como o filme brasileiro, A Vida dos Outros também conseguiu uma abordagem criativa. Traz uma temática muito humana, sem maniqueísmos.

O filme começa na Berlim oriental de 1984, sob a égide do regime socialista. O centro da trama não são os vigiados do regime comunista alemão, mas os vigias. Um deles, cismado, decide desmascarar um dramaturgo cujas peças exaltam o regime comunista. À medida que o dramaturgo tem sua vida monitorada, o vigia incorpora muito do vigiado. Seu talento, caráter e seu amor por uma atriz. E decide acobertar as tramas do dramaturgo contra o regime e proteger, também, o amor entre ele e a atriz.

Essa posição de voyeur em que o diretor Florian Henckel coloca o expectador, ao deixar o vigia monitorar toda a vida do dramaturgo é um primor do filme. É uma forma de o expectador incorporar a visão do agente de repressão, do carrasco, do espião. É assim do início ao meio do filme. Depois a coisa puxa pro senso comum. Foi o grande defeito da obra, na minha opinião.

Tudo no filme é muito enxuto e ainda assim explicativo. Um roteiro muito bem encadeado. E com passagens excelentes, como quando o vigia, por intermédio de escutas clandestinas, ouve o dramaturgo tocar no piano uma Sonata Para um Homem Bom, e se emociona. O dramaturgo ainda diz algo assim: “Quem escuta essa música. Quem realmente sabe escutar, não pode ser uma pessoa má”.

Na hora me veio uma comparação meio idiota com um depoimento que colhi de Matilde Pinto Galvão, uma das quatro natalenses presas no golpe militar de 1964 aqui no Estado. Ela disse que os policiais da época eram tão estúpidos e broncos que não adiantava argumentar dos livros de poesia e romances apreendidos pelo conteúdo subversivo porque eles não entendiam. No filme, o agente alemão se emocionava com a música erudita.

É um filme para se alugar. O último dia em exibição foi hoje. Desculpe o amigo leitor pela dica atrasada. Mas fica a sugestão de uma ida freqüente às exibições do Cinema Cult, todo dia às 15h. É um filme por semana. Semana passada saí maravilhado com o mais novo documentário de Eduardo Coutinho, Jogo de Cena.

Outra “sugesta” bacana são os filmes escolhidos pela rapaziada do Cineclube. A programação é quinzenal e ao preço de R$ 2, sempre às 17h e com exibição no Teatro de Cultura Popular, anexo à Fundação José Augusto. Semana retrasada assisti Árido Movie. É difícil entender a ausência de público. É o tipo programa bom e barato. Não tinham 15 pessoas no TCP. Não sei qual filme foi selecionado para hoje. Teria que escolher entre os dois e minha motivação para a produção alemã me puxou. Mas para o próximo estarei lá. É isso.

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