Ex-vocalista e líder da banda Cordel do Fogo Encantado estreia peça teatral no Teatro Alberto MaranhãoO quase anônimo José Paes de Lira largou a notoriedade do apelido Lirinha e os vocais da banda Cordel do Fogo Encantado para se lançar no universo teatral como roteirista e ator da peça Mercadorias e Futuro. O espetáculo une texto, som, luz e improviso. Será apresentado amanhã no Teatro Alberto Maranhão.
No palco, Lirinha interpreta Lirovsky, um vendedor de livros que inventou uma parafernália de máquinas em forma de carrinho para ajudar em seu ofício. Mas ele não é um simples vendedor. É um comerciante de registros proféticos, mercador, rastreador de pistas, pesquisador e também inventor de máquinas.
Abordando temas como arte, comércio, direito autoral, dificuldade de unir arte e negócios e como trabalhar e ganhar dinheiro, Lirovsky tem o desafio de vender um livro de profecias e de mostrar como o livro é importante na vida das pessoas. Se utilizando de um aparato tecnológico sempre ao alcance, Lirovsky faz da narrativa de Mercadorias e Futuro uma linguagem nova, levando ao público a mistura de música, poesia e improvisações.
Nas linhas a seguir, Lirinha respondeu algumas perguntas enviada por e-mail pelo Diário de Natal e de antemão descarta uma volta breve do Cordel do Fogo Encantado.
Entrevista - LirinhaO motivo do fim do Cordel do Fogo Encantado foi sua “extrema necessidade de trilhar outros caminhos”, conforme post em seu blog. Seria o trabalho de ator e roteirista de teatro?Não precisamente. Já trabalhava com isso quando o Cordel estava na ativa. Eu sou um dos guardiões do Fogo Encantado, criei o nome, chamei as pessoas. Eu sei o que fiz: uma banda única, forte, verdadeira. A mensagem foi dada.
A linguagem do espetáculo guarda semelhança com as letras ou a filosofia da banda?Sim, a profecia. Só que na peça o personagem é um apocalíptico anárquico e a abordagem é reflexiva e irônica. A trilha musical da peça é bem diferente do som do Cordel.
Como tem sido trabalhar com um público diferente, mais maduro e menos “universitário”?Ainda não consigo ver diferenças na relação com o público.
As temáticas pretendidas no espetáculo são contemporâneas, a exemplo da discussão do direito autoral. Qual sua opinião a respeito e de que forma a questão é abordada na peça?A peça não dá respostas pra essas questões. É o pensamento de um vendedor de poesia, na rua, perdido nas funções espetaculares da venda. Historicamente o direito autoral é uma conquista dos artistas, mas faz parte de um conflito artístico atual: botar preço naquilo que não tem preço, negociar o invisível, ser propriedade de uma pessoa o que vem de todos.
A essência da peça passa por essa questão?Sim. A peça nasceu daí. A evolução do direito autoral passa pelo comércio de bem, antes restrito às feiras, onde era comercializada a literatura de cordel e onde mora toda uma sabedoria e oralidade popular.
Você deixou o vocal de uma banda consolidada no mercado e já escreveu livro, se lançou como ator, diretor de teatro… Você tem medo do risco de trabalhar em várias vertentes e não conseguir fixar seu nome tão bem quanto foi com o Cordel, ou suas pretensões são outras?Não. Em arte não se pode ter medo. Em cima do medo, coragem. E eu quero me distanciar cada vez mais de estratégias mercadológicas de carreira artística. Minha estratégia atual é fazer mais música e poesia, sempre e mais.
Incorporando o personagem profético da peça, Lirinha estará trabalhando com o que daqui a um ou dois anos? Há chances da volta do Cordel?Não vou deixar a música, é o que vejo. E não vejo retorno do Cordel agora. Mas o personagem da peça pede o direito do profeta errar, porque não se deve esperar de um profeta o que não se espera de um poeta. Ou seja, profecia é poesia sobre o futuro e nada mais.
Mercadorias e FuturoOnde: Teatro Alberto Maranhão
Data e hora: amanhã, às 20h
Quanto: R$ 60 e R$ 30 (meia)
Vendas: Livraria Nobel (3222-2565)
Contato: 3222-3669 ou 8837-1553
www.mercadoriasefuturo.com.br
* Matéria publicada hoje no Diário de Natal
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