Por Julio Daio Borgesem
Digestivo CulturalEmbora, na era da internet, os jornais tropecem cada vez mais, volta e meia sentimos falta da grande reflexão de que só os antigos jornalistas eram capazes. Com o papel imitando progressivamente a Web, os textos diminuindo de tamanho, as “notinhas” tomando conta de tudo e a habilidade de refletir à la longue se perdendo no ar, é um alívio – até quando? – encontrar um texto como o de Juan Luis Cebrián, aqui editado em livro pela Objetiva.
Cebrián não usa o subtítulo “Jornalismo, democracia e nova tecnologias” para vender os lugares-comuns típicos de “gurus”, palestras e cursos. Em dez ensaios propõe, efetivamente, reflexões originais sobre assuntos como o “quarto poder”, as origens do jornalismo, a liberdade de imprensa, a censura, o “infotainment”, a globalização e, inescapavelmente, a internet.
Embora tenha feito a glória de El País na Espanha, Juan Luis Cebrián, ao contrário dos nossos jornalistas de papel, não leva a World Wide Web para o lado pessoal e consegue, como poucos homens de mídia em sua geração, analisar o fenômeno em todas as suas implicações. Talvez porque seja um grande realizador, e não precise mais lutar pela sobrevivência, Cebrián encontra o distanciamento necessário, jamais polarizando o debate com generalizações simplistas. Para completar, escreve muitíssimo bem. (A tradução, de Eliana Aguiar, merece o devido crédito.)
Parafraseando Michael “TechCrunch” Arrington – que, recentemente, discorreu sobre a inutilidade dos “formadores de opinião da internet” criticarem o avanço incontestável do Facebook –, o velho jornalismo não vai se salvar ficando apenas na discussão de ideias. De qualquer forma – até para sair desse frenesi de velocidade, instantaneidade e brevidade –, a sociedade continuará precisando de ensaístas como Cebrián, nem que seja para entender o que está acontecendo. Juan Luis Cebrián, finalmente, pode ser considerado uma das últimas encarnações vivas do “jornalismo como o conhecíamos”.
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