quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O ano em que meus pais saíram de férias

O título do texto é o do filme exibido segunda-feira no Cinemark, dentro da promoção de R$ 2. Um luxo, digamos. É de encher os olhos. E fui com essa expectativa. Há poucas semanas, entrevistei um crítico de cinema cubano, convidado do Goiamum Visual e ele elogiou muito o filme – um dos indicados do Brasil ao Oscar.

Acredito em boas chances. É o estilo de filme que a Academia gosta. Uma estória sentimental e uma criança como protagonista. Como pano de fundo, o contraste da euforia com a fantástica conquista da seleção do tri campeã de futebol e a ditadura do general Médici.

Alguns podem confundir e pensar na tentativa de retratar a época. Discordo. Acredito na intenção de mostrar a transitoriedade entre a fase infantil e adolescente do personagem Mauro, interpretado pelo ator-mirim Michel Joelsas. E o diretor consegue penetrar bem nesse mergulho psicológico e comportamental de uma criança.

Mauro é filho de pais perseguidos pela ditadura. Diante do cerco militar, os pais são obrigados a fugir e deixar Mauro na casa do avô, em um bairro famoso por abrigar imigrantes e nordestinos, com a desculpa de que sairiam de férias. Diante da morte do velho, Mauro é criado por um judeu e vive a expectativa do início da Copa do México, data em que seus pais prometeram voltar.

Para retratar a solidão do menino, Cao Hamburger recorreu à metáfora do goleiro. O pai ensinou a Mauro que o goleiro está fadado a uma condição solitária durante uma partida de futebol. Quando ficou só após a fuga dos pais, Mauro também sentiu a mesma situação. E ascendeu o sonho de se tornar goleiro.

Cao Hamburger consegue retratar as solidões, as carências, decepções e aprendizados da criança. Tudo de forma simples, mas excepcional. E mesmo sem a intenção de mostrar pioritariamente a tensão dos anos de chumbo, o diretor – em seu segundo longa – conseguiu retratá-los melhor que muitas produções temáticas, como Olga.

Não é um filme pra mudar a vida do telespectador. Nem tem essa proposta. Alguns podem achar monótono pelos poucos diálogos. Mas acredito que o diretor quis mesmo retratar momentos de solidão. Foi assim também com O Outro Lado da Rua, de Marcos Bernstein – um longa que retrata a solidão na terceira idade.

Além do mais, os gestos, os olhares de Mauro falam muito mais e confirmam o clichê de que uma imagem vale mais que mil palavras. E pra quem não sabe, Cao Hamburger foi diretor da série e do filme Castelo Rá-Tim-Bum. Ele deve conhecer o universo, os dramas e as reações infantis. Um filme que vale muito a pena, mesmo ao preço normal dos cinemas. Se for R$ 2 e com promoção também na pipoca? Que alento ao bolso e ao bom gosto!

Um comentário:

  1. Nesse filme fica bem claro a transição da infância para a adolescencia. Gostei do filme e do comentário.

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