Antonio Nahud Júnior
Escritor e jornalista
Quando eu me deparei com Natal fui enfeitiçado por uma ternura intensa, atordoante, que não me largou mais. Foi um caso de paixão à primeira vista. Noutras paragens, sentia uma lírica saudade. Como esquecer os efeitos fugazes de luz e movimento, a despreocupação com contornos, a aversão aos tons sombrios e os enquadramentos originais, tudo isso envolto numa aura de alegria de viver? Na Vila de Ponta Negra, onde morei inicialmente, diante daquela imensidão azul do Oceano Atlântico, tive a confirmação de que estava gamado por esta terra. Para conhecer suas entranhas, passei a andar sem destino pelas ruas do Centro Histórico, pela Ribeira e Petrópolis, Alecrim e Tirol, descobrindo sobrados de outros tempos, sebos, igrejas, mercados populares, botecos, becos e ruelas. Pouco a pouco montei o quebra-cabeça urbano, concordando de coração com o poeta Bosco Lopes: "As muitas outras cidades que me perdoem, mas Natal é fundamental". Aqui cheguei cheio de miragens, há cerca desete anos, mas ainda me recordo. O meu espírito foi tomado por uma tranqüilidade, uma paz diante dos braços suaves de mar, das dunas brancas e selvagens, do moroso rio Potengi ao crepúsculo, dos dias ensolarados, dos cajueiros enfeitados, da gente acolhedora e cativante, das luas incendiadas e do vento permanente, vindo do mar, através de suas avenidas largas.
Entre perplexo e alumbrado, encontrei poetas e prosadores arrojados, ou melhor dizendo, líricos e trágicos. A "Noiva do Sol" do folclorista Luís da Câmara Cascudo - seu totem, seu ícone incontestável, seu historiador oficial através de mais de cem livros publicados. No entanto, certamente, meu guia, meu rito, minha iluminação potiguar, foi - e continua sendo - Diógenes da Cunha Lima, um poeta afiado, um amigo constante. Aprendi com o Professor Diógenes que "há em Natal um sentimento de que qualquer coisa de boa está para acontecer". A sua sabedoria me aproximou da poesia de Ferreira Itajubá, Myriam Coeli e Luís Carlos Guimarães; dos desenhos de NewtonNavarro e das cores sóbrias de Dorian Gray Caldas; da prosa de Sanderson Negreiros, Oswaldo Lamartine, Tarcísio Gurgel e Nei Leandro de Castro; do jornalismo de Carlos Peixoto, Cassiano Arruda Câmara, Marcos Aurélio de Sá e Vicente Serejo. Entre o rio e o mar, os mistérios e os sortilégios, piso o mesmo chão de piratas franceses, aventureiros holandeses, enfadonhos lusitanos e militares norte-americanos ávidos por farra e miscigenação. Cidade de tipos pitorescos, de extravagantes, de pavões impressionistas, de liturgia mundana, de colunismo social persistente e dinâmico, já que é um segmento desvalorizado ou em extinção noutras capitais.
Terra de geografia amável; de oiticicas, craibeiras, juazeiros, acácias, paus d`arcos, sucupiras em flor e até um baobá; do Solar Bela Vista, Forte dos Reis Magos, Teatro Alberto Maranhão e da Coluna Capitolina Del Pretti; da permanência, constância e vigor de Ailton Medeiros, João Marcelino, Marize Castro, Jovens Escribas, Ana Cláudia Bezerra, Abimael Silva, Moacy Cirne, Khrystal, Civone Medeiros, Francisco Ivan, Ítalo Trintade, Nalva Melo, Racine Santos, Sheyla de Azevedo, Henrique Fontes, Giovanni Sérgio, Paulo Augusto, Flávio Freitas, Clotilde Tavares, Regina Costa, Franklin Jorge, Sérgio Vilar, Valéria Oliveira, Marluzia Saldanha, Cláudia Magalhães, Toinho Silveira, Marcelus Bobs, Roberta Sá, Diana Fontes, Vicente Vitoriano, Hugo Macedo, Marcos Sá de Paula, Aécio Emerenciano, Assis Marinho e tantos outros. Eles retratam em seu trabalho, seu ambiente, seu cotidiano, sua cidade interior, cenográfica, inventada e verdadeira, única.
Natal é hoje uma das capitais que mais crescem e se modernizam no Brasil, a menos violenta, com uma população de mais de 800 mil habitantes e uma significativa qualidade de vida. Cidade sem tempestades, clara e tranqüila, aberta e cordial, por vezes provinciana. A "esquina do continente", recebendo ventos constantes, condição que lhe concedeu o título, segundo a NASA, de detentora do ar mais puro e renovável do continente sul-americano, e um dos quatro pontos mais estratégicos do mundo, junto com Suez, Gibraltar e Bósforo. Fundada num dia de Natal, em 1599, o nome do município tem origem no latim "natale" e ligação direta com a sua data de fundação. É o meu porto, uma quase existência, uma paisagem encontrada. Pelo calor humano, pela certeza de bons amigos, pelas oportunidades que aqui tenho, pelo seu sol majestoso e pela sua gente, é que amo Natal. Muito obrigado, bem-amada, pela dádiva deste retorno, pela doçura acolhedora e a amorosa intimidade. As minhas palavras beijam o seu coração.
[image: O que é ponto parênteses?]
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Há 5 horas
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