quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O homem que desafiou o diabo

E o filme de Moacyr Góes continua a colecionar críticas ferrenhas sobre a adaptação para o cinema da obra do escritor potiguar Nei Leandro de Castro, As Pelejas de Ojuara, como O Homem Que Desafiou o Diabo.

Assisti ao filme no último sábado. A maior sala de cinema do Cinemark estava quase lotada à tarde. A resposta do público parece ter sido boa. Risadas, comentários. Sobretudo a linguagem, claramente identificada com cada um de nós, potiguares.

Se critiquei os críticos paulistas e cariocas sobre as resenhas elitistas sobre o filme, retiro, em parte, o que eu disse. Algumas, de fato, foram demasiado preconceituosas, até. Na verdade, senti-me atingido, como nordestino e potiguar, com críticas a um filme montado aqui, com atores locais e baseado numa senhora obra literária de um escritor de indiscutível qualidade.

Mas não há como negar: o filme é um desleixo só. Li o livro de Nei Leandro assim que foi lançado, acho que em 2004. A seqüência da narrativa é dinâmica, realmente. Nada perto de um quase trailler que vi na montagem do filme. Tudo muito corrido, sem um encadeamento firme entre as cenas.

A cena de luta com o personagem de Otto parece uma seqüência de filme dos Trapalhões, como lembrou o crítico carioca Eduardo Valente. E quem leu o livro sabe que não precisava esse caráter “trapalhão”.

Acho que o filme se prendeu muito em uma comédia regionalista. Não precisava tanto. O livro não tem esse caráter. Se tivesse seguido a tônica da obra literária – a de retratar costumes através do universo mítico do sertão –, alguns personagens, como o poeta Moisés Sesyon não precisariam ser encaixados à força na narrativa.

Alguns aspectos também achei de extremo mal gosto: a imagem do Forte dos Reis Magos é despropositada. A escolha de atores globais pareceu-me pura jogada de marketing. A encenação no Castelo de Engady, no café entre Ojuara e o Corcunda foi paupérrima. Pareceu coisa improvisada, feitas às pressas. As cenas de sexo permearam as chanchadas da Atlântida, longe do cunho poético-erótico de da verve literária de Nei Leandro.

Vale uma ida ao cinema por pura curiosidade. Afinal, é filme todo montado aqui na terrinha de Cascudo. Tem participação de personagens locais, como a fraca e rápida atuação do escritor Tarcísio Gurgel (e não poderia ser diferente) e do convincente Pedrinho Mendes. De resto, é esperar o filme de Xuxa, filmado em Jacumã. Quem sabe?

Um comentário:

  1. A virada do Zé Araújo para o Ojuara foi um horror e a Mãe de Pantanha, que merecia só ela um livro e um filme, ficou ainda pior. Aquele figurino da Flávia Alessandra parecia saído da ala das bruxas de numa alegoria impressionista de Joãozinho Trinta. Tb achei rápido demais as cenas. Mas ainda assim é muito divertido.

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