segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Contrapartida municipal

O presidente da nau Capitania das Artes começou com o pé direito sua administração. César Revoredo ganhou a simpatia da mídia especializada ao adiantar a manutenção dos antigos projetos e montar sua equipe com nomes bem quistos da gestão passada. A preocupação inicial dos críticos e jornalistas de cultura quanto à política recomendada de unir turismo e cultura parece superada com o discurso da contrapartida social ou democratização do fazer cultural. Acertadamente, Revoredo exige a participação popular nos eventos como retorno de investimentos. A precisão dessa exigência ficou evidente nas três edições do Encontro Natalense de Escritores (Ene). O público buscava mais as atrações musicais ou os convidados pops do que os debates de excelentes nomes da literatura. O resultado eram cadeiras vazias e a escassez da tal contrapartida para um investimento alto.

Para compensar a dinheirama gasta, o capitão da cultura natalense vai remar na política de editais. Há duas semanas comentei neste espaço da postura semelhante do secretário de Audiovisual do Ministério da Cultura, Sívio Dá-Rim, quando cá esteve para participar do Goiamum Audiovisual – programa bem encaixado nas queixas de Revoredo. O Goiamum, como o Ene, recebe elogios escancarados da mídia, mas continuam sem atrair o grande público. Outra ação importantíssima já abraçada pelo presidente da Funcarte – pelo menos em discurso – é a criação de um Fundo Municipal de Cultura. O exemplo deveria respingar na seara estadual. São iniciativas já atrasadas e de grande serventia à produção de arte e cultura sem a dependência das leis de incentivo.

Nas áreas de música, artes visuais, teatro e cinema as ações parecem bem planejadas. Senti falta apenas de um olhar mais interessado para nossa cultura popular. Temos o Araruna, os congos de Vila de Ponta Negra, o Boi de Reis de Felipe Camarão, entre outros grupos genuínos de nossa cultura sem merecerem uma palavra sequer do presidente nas entrevistas que concedeu até o momento. Nem por isso as críticas, nem tanto os elogios pelo discurso bem articulado; compromissado. As impressões são primeiras. O primeiro grande teste será a organização do carnaval multicultural próximo mês. Só aí vamos ter uma primeira idéia da eficácia das ações da nova Funcarte. E aí a mídia, que tem rendido elogios aos primeiros passos de Revoredo, poderá exigir sua contrapartida, amparada no cumprimento da palavra.

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