Levante dedos em V e grite “paz e amor” como quem realmente acredita em um futuro sem guerras; um mundo solidário, sem competição. Difícil, né? Os tempos são outros. Há exatos 40 anos meio milhão de jovens cabeludos e vestidos em roupas coloridas estiveram reunidos em uma fazenda novaiorquina chamada Woodstock para ouvir rock e celebrar a contracultura a favor da paz. Esses jovens ficaram conhecidos como hippies. E aquele cenário desfavorável ao american dream ficou marcado na história como o maior festival de música do século 20 e a melhor tradução de uma época de esperança e psicodelia.
Enquanto Jimmy Hendrix incendiava o hino americano em sua guitarra naquele verão de chuvas em Woodstock e Joe Cocker entrava para a história “com uma ajudinha dos meus amigos” Beatles, o jovem idealista Petit das Virgens tomava umas cervas e tocava uns violões no antigo bar Tenda do Cigano, por trás do Hotel Reis Magos, na Praia dos Artistas. Era o único bar aberto em Natal após as 22 horas à época. “Comentávamos entre nós que naquele momento rolava o maior festival de música em Nova Iorque”, afirma o hoje produtor cultural e jornalista.
Um ano e meio depois, ele e o músico Fon sentiram a influência daqueles três dias de chuva e sol na fazenda Woodstock. Ambos viajaram a Nova Iorque quando o feito era quase exclusivo aos homens de negócios. Longe dos paletós e gravatas e muito próximos da aura psicodélica da época, os dos hippies chegaram às terras do Tio Sam e viajaram por 20 estados americanos tomando carona nas estradas. “A época pedia solidariedade. Era a influência de Woodstock; era a aura daqueles tempos. Hoje não conseguiríamos pela violência e individualismo”, lamenta Petit.
Naquela época, também há 40 anos, quatro cabeludos de Liverpool finalizavam seu último trabalho juntos e atravessavam a rua para outra era. O álbum Abbey Road chegava às lojas no fechar das portas da criativa e revolucionária década de 60. E o Festival de Woodstock surgia, despretenciosamente, como um novo começo ou como a cara do novo mundo que se descortinaria pelo resto da década de 70. “O Woodstock foi muito mais importante que o Abbey Road porque mudou o modo do mundo pensar. Gerou uma cultura da cooperação e não mais da competição”, opina Petit.
O jornalista argumenta a partir do que viveu no trajeto pelas avenidas norte-americanas e o que ouviu sobre Woodstock. “Foram três dias sem violência. Faltou comida, mas o que tinha foi repartido. Dois anos mais tarde pegaríamos carona naquele festival e traçamos praticamente um trajeto triangular pelos Estados Unidos”. Seria possível um novo Woodstock neste mundo cinza de hoje? “Seria preciso um motivo forte. Naquela época havia a Guerra do Vietnã. A Guerra do Iraque não sensibilizou os jovens de hoje. E se fosse refeito seria pelas mãos de empresários, nunca por amadores, como foi feito”. E conclui: “Infelizmente o capitalismo engoliu aquele sonho hippie”.
* Matéria publicada neste sábado no Diário de Natal
O sonho nunca acaba. O que acaba é o sonho de cada geração, com o envelhecimento dos seus códigos.Abraço de François.
ResponderExcluir