sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Por uma sociedade alternativa


Já são 21 anos sem o maluco beleza. Se vivo fosse, o cowboy fora da lei até assistiria sociedades alternativas defendidas por ele. Estão espalhadas por Brasília, Oriente Médio... Todas inspiradas na filosofia do ocultista Aleister Crowley: “Faze o que tu queres há de ser tudo da lei”. A interpretação da ideia, infelizmente foge radicalmente da sociedade utópica sonhada por Raul Seixas. Nela, inexistiam atos secretos ou fundamentalismos. Mesmo sem alicerces teóricos, a sociedade alternativa se amparava tão somente na celebração da vida. E a festa começa amanhã. Pelo menos durante a 20ª edição do Tributo a Raul Seixas, a chama místico-filosófica da sociedade alternativa estará viva.

O evento está inserido no calendário cultural de Ceará-Mirim como a mensagem de Raul guia o cotidiano dos milhares de fãs que aportam na cidade durante o Tributo. Vem maluco beleza de vários estados nordestinos para viver um dia fora da lei, “há dez mil anos atrás” (sic) e conferir um acervo de discos, vídeos exibidos em telão, shows ao vivo, exposições e raridades de colecionadores, como Erivan Pereira, o idealizador do Tributo e cópia genérica do parceiro do compositor Paulo Coelho. Segundo Erivan, o evento foi o primeiro tributo a Raulzito (iniciado em 18 de agosto de 1990) e permanece como um dos maiores do país.

Erivan, além de fã, foi amigo da família do ídolo, até a morte da mãe de Raul, Maria Eugênia Santos Seixas. Durante vários anos manteve contato e trocou cartas e objetos com a mãe do ídolo. “Ela até pedia alguns objetos que eu tinha e enviava outros que guardo até hoje”. Afora a isso e a semelhança física com o maluco beleza, Erivan também assistiu ao único show de Raul Seixas em Natal, em 1º de setembro de 1983, no Palácio dos Esportes. “Ainda guardo os cartazes do show”. Antes disso, em 1981, fundou o que hoje é o primeiro e único fã clube de Raul Seixas do Rio Grande do Norte: o Raul Seixas Club.

A fisionomia da cidade vizinha, de verdes canaviais, muda ao assistir quase duas mil pessoas com jeitão hippie, cavanhaques no rosto e óculos escuros (todos desprovidos de colírio, claro) aportando na cidade. E chegam por todos os lados: de carro, ônibus, a pé e principalmente de trem (este não vem surgindo por trás das montanhas azuis). Se aglomeram de forma anárquica – como pede a sociedade alternativa – no Mercado Público para uma prévia etílica e descem ao Centro Cultural e Esportivo de Ceará-Mirim em seguida. O ponto alto do dia são as apresentações das bandas. Nesta edição, Dr. Pacheco, Os Grogs, Mobydick, KDA-2 e Sociedade da Grã-Ordem Cavernista.
O tamanho do evento provocou nova logística na estação da cidade, com passagem extra para as 23 horas, para carregarem de volta os malucos da sonhada sociedade alternativa.

* Matéria publicada hoje no Diário de Natal

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