Poucas dezenas de privilegiados assistiram a palestra do neurocientista Miguel Nicolelis agora há pouco no calourento auditório da Livraria Siciliano do Midway. Iniciativa de blogueiros progressistas e mais afeitos à produtividade do que à polêmica.
Palestra interativa, informal, bem humorada, produtiva e, sobretudo, otimista. A mensagem deixada pelo cientista foi, em suma, a do otimismo. Por momentos lembrei da teoria do Kaos, de Jorge Mautner - um vislumbre de esplendor magnífico aos terráqueos.
Nicolelis é alguém que acredita no futuro, na humanidade. Colo uma frase dele citada lá, fora desse contexto: "O problema da juventude de hoje é a falta de utopia". Pois é. Eis o problema. Eis o porquê do meu otimismo-defunto.
Mesmo uma juventude morta em sua descrença, o neurocientista lembrou o ativismo político eclodido no Egito. Penso ser caso pontual e motivado por situação quase insustentável. É diferente, ou único. Enfim... Invejo esse otimismo.
Nicolelis tem motivos para o otimismo exarcebado. Ele mostra, através da ciência, a possibilidade dessa utopia perdida. Penso que resida aí a revolução possível aos nossos dias.
Outro ponto norteador da palestra foi a identidade em tempos de coletividade, ou "teia social", como cita. Para Nicolelis, a convergência global cresce e toma poder.
Os fatores desse crescimento citados foram todos positivos. O principal ponto levantado talvez tenha sido a quebra do monopólio da comunicação pela grande mídia - ele citou o exemplo da última eleição quando a "blogosfera venceu a imprensa tendenciosa".
Gostaria de perguntar do individualismo crescente causado pela tal teia social; as relações interpessoais prejudicadas e o consequente crescimento da solidão, da depressão, e doenças similares. Sim, doenças!
Nicolelis mostrou desapego total a títulos, prêmios e até reconhecimentos ao seu trabalho. Seu foco é a construção da ciência favorável ao social, ao futuro da juventude, do progresso científico direcionado à saúde e educação. É o que lhe importa.
Um exemplo prático: ele afirmou preferir a pavimentação de 50 metros da rua onde está fincado o seu instituto científico, em Macaíba, ao Prêmio Nobel.
A necessidade da revolução educacional em todos os níveis, a interface máquina-cérebro, os limites da ciência; alusões à falência do modelo neoliberal; inúmeras reclamações da falta de apoio governamental à ciência; e diversas metáforas futebolísticas ao melhor estilo Lula, também foram alguns levantes da palestra.
Escrevi este post sem meu bloco de anotações. Pincei algumas frases do discurso inicial de Nicolelis. Muita frase exemplar, solta sem esforço e para guardar na caixola da memória. Deixo para a matéria do DN. Sairá na segunda-feira.
Agradeço o convite para mediação, desculpo qualquer equívoco e sugiro outras discussões, debates, de forma regular, "progressista".
* Foto: Canindé Soares
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