sábado, 13 de junho de 2009

Com Rubens Lemos Filho

“Os homens são todos iguais” (?). A frase é quase um aforismo às mulheres de alma mais modernosa. De certo alguma obviedade há nestes seres viris trocadores de pneus e amantes do futebol. Mas o título do segundo livro do jornalista e cronista Rubens Lemos Filho vai além dos estereótipos comesinhos. O Homem Óbvio retrata em 80 crônicas situações de pessoas comuns e seus conflitos e conquistas. Nas crônicas selecionadas pelo poeta Adriano de Souza, Rubens Lemos Filho apresenta um olhar apurado sobre o homem comum - o “metropolitano” da canção O Pequeno Perfil de um Cidadão Comum, composta por Toquinho e Belchior -, suas virtudes e defeitos. Inclusive os do próprio autor, em clara contestação da tese de que crônica não se escreve em primeira pessoa.

O lançamento da obra de Rubinho acontece nesta próxima segunda-feira, às 18h, no Teatro de Cultura Popular (TCP), anexo à Fundação José Augusto. A foto que ilustra a capa é de Giovanni Sérgio e retrata um homem comum andando pela cidade em um dia de chuva. O prefácio é do jornalista Vicente Serejo e a apresentação, de Erick Pereira. A edição ficou por conta da Editora Flor do Sal. As crônicas selecionadas foram escritas pelo autor nos últimos 20 anos, já publicadas em jornais, revistas e no blog do jornalista. Rubens Lemos Filho não lembra quantas já escreveu. “É tempo pra burro. Comecei em 1988, texto ainda inocente, adjetivo demais. Em particular, gosto das que falam do tempo e dos pecados cometidos por mim e somente a humanidade inteira”, relata o autor.

Como foi o processo de seleção? Quais os critérios usados? Você mesmo foi o responsável pelas escolhas ou contou com conselhos e ajudas de amigos?
Rubens Lemos Filho - Toda a seleção foi feita pelo editor, o jornalista Adriano de Sousa. Ele é um craque. Entregando na mão dele eu pude dormir sossegado. Acho que quem escreve não pode escolher o que deve ser publicado, no caso de uma coletânea. O leitor é o melhor selecionador e, no caso, Adriano é um leitor qualificado.

O título de obras literárias é um rótulo; uma síntese. Se já é difícil titular uma obra germinada de uma ideia e materializada em vários cenários, pormenores e significados, que dizer de de uma apanhado de crônicas. Como você chegou a este título e qual o significado dele?
O título surgiu do trecho de uma das crônicas. O título é a consequência de textos escritos por alguém despretensioso, sem arrogâncias ou desejos de reconhecimento literário. Acho que me retrata bem. Sou óbvio nas minhas atitudes, na minha franqueza, nos meus defeitos, na minha impaciência, na minha ojeriza a males como trairagem, ingratidão ou covardia. E na minha adoração por coisas simples como futebol, cinema, livros, privacidade e seletividade nas companhias.

Então é desta maneira que a obviedade do homem se mostra em você? Na simplicidade. Na visão sem rodeios das questões cotidianas. O homem óbvio não gosta de nada rebuscado, complicado, falso, enganador. O artificialismo é o contraponto do óbvio.

O futebol é recorrente em suas crônicas. Foi ele o fio condutor do livro ou outra temática também predomina no livro, mesmo que menos visível?
Alguns amigos dizem que eu termino rotulado como um escritor de futebol. O futebol não é o mote, mas termina sendo a glosa. Não acredito em um ser humano que não goste de futebol. Ele é a manifestação cultural mais democrática. Nas arquibancadas, há lugar para rico, pobre, bom, mau caráter, ateu, politeísta, comunista, reacionário, feio, bonito, ABC e América, Vasco e Flamengo.

A crônica é notoriamente um gênero híbrido. Os seus textos pendem mais para os lados do artigo ou da literatura? Aonde eles se fundem?
Eu prefiro não definir. Quem lê é quem decide o que eles são. Não gosto desse negócio de fulano, o poeta, sicrano, o contista, beltrano, o romancista. Talvez por que eu não seja vaidoso, prefira a introspecção. O que vale pra mim é escrever. A liberdade de escrever é o mais importante de tudo. Título fica para quem é campeão.

A atividade de jornalista ou de assessor de imprensa ajuda a observar o cotidiano de uma maneira diferente ou este olhar é treinado de outra forma?
Jornalista é um observador. E eu tenho a certeza de que a minha profissão mudou. Cabe aos leitores, de duas décadas atrás, a comparação se para melhor. Nos meus dias de repórter, a qualidade do texto era um fator essencial. E para que surja um texto no mínimo razoável, é preciso uma percepção mínima do que está em torno do repórter.

Certamente os textos são atemporais, já que foram escritos nos últimos 20 anos. Este é um estilo peculiar seu: o de escrever crônicas que escapem das banalidades do dia-a-dia ou os cenários cotidianos é que pouco mudaram?
Não. As crônicas são do dia-a-dia. O cotidiano geralmente não muda. O cenário humano idem. A cabeça das pessoas é que mudou. Está mais pragmática, mais financista, se isto é chamar de mais moderna, mais virtual, mais globalizada.

Este é seu segundo livro. Há planos para um terceiro? Qual o livro que você ainda sonha escrever?
O meu primeiro livro foi uma biografia do jogador Danilo Menezes. Considero uma reportagem sobre um craque e um período muito rico de Natal, que foi o começo dos anos 70, quando as tabas da aldeia começaram a virar espigões. É bem diferente desse segundo. Nunca escrevo com meta bibliográfica. Tanto que faz oito anos que lancei o primeiro. Se houvesse tempo para me dedicar, entraria de cabeça num livro-pesquisa sobre ABC x América, mas infelizmente eu não posso me dar a este luxo. Se alguérm quiser me patrocinar, vamos conversar.

Serviço:
Lançamento: O Homem Óbvio
Autor: Rubens Lemos Filho
Local: Teatro de Cultura Popular (anexo à Fundação José Augusto, Rua Judiaí, Tirol)
Quando: Segunda-feira, às 18h
Preço: R$ 40

P.S: Quem puder, pule este muro virtual e invada o terreno de Mário Ivo para sentar à mesa com Rubinho, em um delicioso café-da-manhã literário. O site está aí ao lado. É o Embrulhando Peixe.

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