segunda-feira, 29 de junho de 2009

Divisor de águas do pop


Se o papa é pop, muito se deve a Michael Jackson. O mito black and white revolucionou diferentes aspectos da cena artística. Criou passos e estilo próprio de dança com o moonwalker e o break. Foi dos primeiros a transformar o videoclipe em arma comercial. Representa ainda hoje o maior fenômeno da indústria fonográfica. E, antes de tudo, praticamente inseriu o fenômeno pop à música.

A história da música pop é contada a partir do álbum mais vendido de todos os tempos. Thriller foi lançado em 1982. Antes disso o cenário musical era dominado pelo rock progressivo, o punk ou o soul music, promovido, sobretudo, pela Motown, gravadora pela qual o Jackson 5 alcançou o sucesso e, mais tarde, lançou Michael Jackson em carreira solo, ainda no início da década de 70.

Mesmo antes da década de 80 o mundo conhecia apenas ritmos distantes da suavidade da indústria cultural fomentadora do estilo pop. A historiografia musical percorreu a monodonia da época medieval, a música orquestrada, as sinfonias, o gospel, o jazz, o blues até chegar ao rock dos anos 50 e 60. Ora, Michael Jackson criou o pop como Bob Marley fundou o reggae.

No álbum Off the wall (1979), Michael Jackson mostra uma identidade pop ainda sob influência da black music característica da época dos cabelos blackpower. A música "Rock with you" é bem representativa do período. O álbum também marca o início da parceria do ídolo ainda promissor com um dos maiores astros da história da música: Sir Paul McCartney. A união dos dois perdurou por álbuns seguintes até a briga pelos direitos autorais dos Beatles. Na época, o nome de Michael Jackson era maior que qualquer outro. Estavam ali, reunidos em um único corpo mutante, o talento bailarino de Fred Astaire ou a voz afinada de Frank Sinatra. Uma miscelânia inigualável (comparável, na música, apenas a Madonna) em 30 anos de música pop.

Polêmica e talento

A figura de Michael Jackson é associada ao talento e à polêmica. O jornalista potiguar Marcelo Barreto, 31, contextualizou ambas vertentes doídolo a partir de uma vida contida de quem se mostrou ao poder da indústria midiática aos cinco anos de idade. "Nessa idade ele já dançava e cantava como poucos adultos. Se destacou rápido dos irmãos também talentosos e descobriu sua homossexualidade quando era um astro ainda adolescente. Ele nunca teve vida privada e precisou mascarar durante toda a vida um lado gay e imaturo. Daí vieram as polêmicas a partir do contato mais íntimo com as crianças", opina.

O professor, bailarino e um dos nomes mais respeitados da dança no Rio Grande do Norte, Edeílson Martins coloca Michael Jackson no mesmo patamar de dançarinos célebres como a musa Ginger Rogers, Barishnikov ou Fred Astaire. "Talvez seja até maior porque conseguiu popularizar; levar a dança aos palcos e ao show business". Segundo Edeílson, Michael Jackson reelaborou passos da dança de rua e expressões culturais negras em novas criações aproveitadas depois por outros astros da música pop como Madonna e Britney Spears.

Repercussão

Nas ruas da cidade, os álbuns de Michael Jackson reviveram a época áurea dos recordes de vendagem. Mas o atual momento é diferente daqueles anos consumistas da década de 80. Nas duas lojas que restaram na Cidade Alta, nenhuma procura. A Discol, localizada na Rua João Pessoa, próxima ao Ducal, a caixa de som ecoava em alto e bom som a música do último álbum do cantor, o Invincible (2001). Nem assim. Na resistente loja já sem nome ao lado da C&A, também nenhum interesse. A comerciante de DVDs piratas, Edna Santos é quem comemorava: vendeu o que tinha do cantor. Carlos Costa vendeu os quatro DVDs que tinha e já buscou mais. "Foi um cara muito famoso, sabia cantar e dançar. Tinha aqueles problemas com as criancinhas, mas a música era muito boa", opinou.

* Matéria publicada no DN nem sei quando

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