segunda-feira, 8 de junho de 2009

João, Chico e as abelhas

Texto de Márcia, extraído do blog Parece que foi Assim. Vão lá e confiram outras palavras poéticas. O talento da moça precisa de outras janelas e holofotes.

João, Chico e as abelhas

Voltaram as abelhas. Chegam por essa época do ano, de floração dos cajueiros. Voltaram, com seus zumbidos e ferrões. Vem uma, entra, chegam mais duas, três, cinco, mergulham no café quente, enfiam o ferrão na língua do bebedor distraído, rodopiam pelos compartimentos todos até irem parar no resto do açúcar do fundo das xícaras, chávenas, açucareiro.

Voltaram as abelhas, com a chuva e o mau tempo.
Perto do dia de São João, festa da colheita, festa do milho, que enchia de fogueiras as ruas de areia da infância, de fogos e balões o céu, de bandeirolas as casas e o grupo escolar, quando as quadrilhas não eram mais que dança ou bandos nas histórias em quadrinhos.
Nas adivinhas de Santo Antônio, rostos na garrafa, nomes escritos a leite de bananeira nas facas, a água na bacia, o pedido pelo príncipe consorte feito pela princesa sem tanta assim.
Tempo de vender e comprar balaio e voto de rainha do milho, chita pro vestido, fita pro cabelo, galão, bico bordado, sianinha. Tempo sem pressa nos armarinhos de aviamentos.
Dia assim nasceu o caçula lá de casa. Contam que seis da tarde. Véspera de São João. Hora da fogueira. Mãe preparando pamonha. Pai mexendo o tacho da canjica. Irmão mais velho apanhando da lenha molhada, dura de acender.
Pra menina, só chumbinho. Estrelinha. Cobrinha, no máximo. Pra menino, bomba-bujão. Era pra ser assim por lá, mas quem obedecia? Misturava-se tudo. E um ou uma saindo chamuscados no final.

Voltaram as abelhas, com a chuva e o mau tempo. E o são João como era, não volta mais, que nada volta mais como era.
Só se renova. Só se refaz.
Já ontem nasceu João, neto de Chico - o caçula lá de casa.
Chegou com as abelhas de flor e mel.

Pra adoçar a vida. A festa do milho. E o mês de São João.

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