quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Entrevista com Diva Cunha

Um acontecimento marcante para as letras potiguares. Sobretudo para a produção literária feminina, em uma terra pródiga em parir talentos poéticos iniciados desde o pioneirismo de Nísia Floresta ao sincretismo de Ada Lima. É o 13º Seminário Nacional Mulher & Literatura e o 4º Seminário Internacional Mulher e Literatura. Ambos sediados no Hotel PraiaMar, em Ponta Negra. A programação segue até amanhã e homenageará a poetisa portuguesa Maria Tereza Orta e a escritora potiguar Diva Cunha.

A poetisa potiguar lançará durante o seminário o seu quinto livro de poesia, intitulado Resina. E dentro dele, a reedição dos três primeiros livros, já esgotados – Canto de Página (1986), Palavra Estampada (1993) e Coração de Lata (1996). O quarto livro de Diva Cunha, Armadilha de Vidro (2004), também estará exposto. Resina foi publicado pela editora Una, da amiga poetisa Marize Castro. Vem com mais de 80 poesias inéditas. A seguir, Diva Cunha comenta a importância do evento para o panorama da literatura feminina no Brasil.

Entrevista – Diva Cunha

Porque Resina?
Tiro o nome dos meus livros das poesias. Resina traz algo de seiva. E poesia é seiva; destila o que temos de melhor.

Traz a mesma linha de poemas dos outros quatro livros?
São poemas de maturidade. Trazem temas cotidianos que eu gosto e privilegio: pessoas, questões existenciais próprias da idade. Também discuto minhas influências literárias e presto homenagem aos meus mestres: Manoel Bandeira, Cecília Meirelles, Drummond, José Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Ferreira Gullar...

A poesia de Ferreira Gullar é contestada por alguns. A senhora não faz parte desse time, então.
Um poeta bom pode escrever um poema ruim. E um poeta ruim pode escrever um bom poema. Não há bons poetas, há bons poemas. E gosto de muita coisa de Ferreira Gullar.

A senhora escreveu junto com a pesquisadora Constância Lima Duarte um manual da literatura potiguar e um outro sobre a temática feminina nas letras norte-riograndenses. Qual a cara da poesia potiguar?
São muitas e muito boas. Temos a primeira escritora da América Latina, a pioneira Nísia Floresta. Temos o livro (Horto) de Auta de Souza, marcante na história da literatura feminina no Brasil... Um livro datado do século 19, apesar de publicado no século 20, ainda estudado e pesquisado por estudiosos brasileiros. Auta tinha apenas 24 anos quando escreveu. E considere as limitações de uma moça provinciana, tuberculosa desde os 14 anos…

O livro traz uma carga religiosa muito grande…
Sim, fruto do ambiente cultural em que vivia, muito marcado pela religião. A família morreu cedo... A religião funcionava como uma válvula de escape para ela.

E de lá pra cá vieram outras poetisas. Poderia destacar alguma?
E depois vieram muitas outras: Zila Mamede, Miriam Coeli, Palmyra Wanderley. E vou parar por aí para não esquecer ninguém (risos).

Já conheceu a poesia de Ada Lima?
Das mais novas estou meio defasada. Passei muito tempo na Espanha (onde terminava um doutorado) e me desliguei um pouco da produção atual. Mas é questão de tempo para eu me atualizar.

Qual a importância deste seminário para as letras femininas potiguares?
É importantíssimo. Já são mais de 500 inscritos do Brasil inteiro. Antigamente não se discutia isso. As mulheres sequer apareciam nos manuais de poesia ou literatura. Quando muito estava o nome de Cecília Meirelles. Você lembrou agora há pouco o nome dessa jovem. Ela deve muito às pioneiras que abriram esse espaço. É uma oportunidade de discutirmos literatura e a participação política das mulheres, também.


A temática feminina na literatura será debatida em uma rica e diversificada programação de conferências, mesas-redondas, minicursos e comunicações. Vários trabalhos inscritos tratam sobre os autores e autoras potiguares, entre eles Zila Mamede. Sua obra O Arado completa 50 anos neste 2009. O seminário terá a participação de renomadas conferencistas: Carole Boyce Davies, Constância Lima Duarte e Susan Stanford Friedman. É isso.

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