Lobão é a contradição de seu próprio personagem. Durante o último dia do Festival Literário de Pipa (Flipa), o cinquentão metralhou frases de efeito desmedidas, atirou contra todos e atingiu o próprio peito. A tradição folclórica, a Bossa Nova, o PT, os tropicalistas, a Semana de Arte Moderna de 1922, Ariano Suassuna e os discos produzidos na década de 80 foram apenas alguns dos alvos do roqueiro durante duas horas de “palestra”. Resultado: gargalhadas, aplausos e uma tenda super lotada. A mais concorrida dos três dias de evento. E a pergunta chave da conversa permaneceu ao fim da mesa: Lobão tem razão?
Primeiro é preciso personificar melhor o convidado, segundo ele mesmo: “Sou um troclodita pouco articulado”. Depois, foi mais específico: “Nacional Kid, Ghost-writer, as novelas da Globo. Isso sou eu”. Lobão é também epilético. “Conheci minhas crises epiléticas com Nietzsche. O Sartre eu não gosto: ele é muito MPB”. É também uma das figuras mais produtivas da cena rocker brazuca quando o gênero alcançou seus melhores momentos, durante os anos consumistas da década de 80. E quando o assunto adentrou a seara, o fantasma da Bossa Nova foi a bola da vez. “O rock é dionisíaco; a Bossa é apolínea. A Bossa Nova é um esforço tão banal quanto o instrumental de Ray Conniff; coisa de bunda mole”. E completou: “Detesto música instrumental, exceto a erudita”.
Chico Buarque foi pouco metralhado se comparado ao ex-ministro Gilberto Gil: “Chico era o noivo ideal tanto da esquerda ou da direita; a figura do rapaz certinho, com aquele visual bocó. Quando adotou o bigode ficou mais rock, mas depois esmoreceu”. Gilberto Gil? “A maior raposa que passou pelo Ministério da Cultura. Pagou um milhão pra Ivete Sangalo e Carlinhos Brown viajarem a Paris, no ano da França no Brasil para mostrar que o país é axé…” E atirou à queima-roupa no PT e no presidente Lula, para desalento da deputada federal Fátima Bezerra, sentada na primeira fila da palestra.
A Bahia ainda receberia alguns tiros. “Pagam mil reais para essa invenção baiana de micareta e reclamam do ingresso a 250 reais para ver Bob Dylan. Esse é o Brasil. Vejo um monte de baboseira na TV. O povo engole isso e acha ótimo”. Esse foi o mote para atacar o autor de Auto da Compadecida e Pedra do Reino: “Folclore é coisa de pobre. Você vê isso em Washington? Temos aqui um Ariano (Suassuna): um hitlerianozinho; um excelente escritor e péssimo filósofo. Ora, Michael Jackson não pode entrar em Pernambuco? E Maurício de Nassou fez o quê? O Ariano é ingênuo, idiota e católico”.
Os brasileiros segundo o evangelho de Lobão Para traçar o perfil do brasileiro, Lobão foi além, a partir da herança deixada pela Bossa Nova: “Até hoje o Brasil é contra a guitarra elétrica. Para os musicólogos, a música brasileira acabou com o fim do Tropicalismo. Caetano, Gil, são passado, mas permanecem intocáveis. Precisamos nos reiventar. Isso vem desde a Semana de Arte Moderna de 1922, que crucificou Olavo Bilac, cara”. E continuou: “Essa mentalidade regressiva tira nossa capacidade de sermos honestos com o que fazemos hoje. Fica essa retórica vazia, sem contestação, sem ruptura. Esses caras jamais representam o mosaico que o Brasil é. Eu não me represento na Carmem Miranda nem no Zé Carioca. Tudo isso faz parte da cosmogonia brasileira. Essa mentalidade tacanha rege a música brasileira e, ao final, tudo vira novela das oito”.
Cazuza e a indústria fonográfica “Cazuza foi meu melhor amigo. Mas alguém viu o filme de Cazuza? Me viram? Claro que não. Desapareci de muita coisa que tiraram o retrato no Brasil”. E foi justo quando estava apagado da mídia que Lobão deixou para trás anos de drogas, álcool e uma prisão na década de 80 para liderar uma campanha revolucionária e moralizadora contra o mercado musical brasileiro. Foi ele o principal responsável pela aprovação da Lei de numeração de Cds e Dvds, em 2003. Anos depois, assina com uma grande gravadora para o lançamento do Cd/Dvd MTV ao Vivo. “Disseram que eu fui contraditório. Mas nunca quis matar as gravadoras. Fiz meu trabalho independente e depois lançei disco pela Sony, que estava menor por minha causa”.
Underground no Faustão “A cena underground tem a sensação nociva de que a internet basta”. Lobão bateu contra a essência da música underground, das guitarras de garagem e sintetizadores barulhentos. Defendeu a participação dessa galera nas rádios e no programa do Faustão. “Tem que tocar no rádio. O mainstream tem dificuldade de absorver esse tipo de gente muito Lado B. Eles querem artistas mais inofensivos”. E aconselha: “Quer ser músico profissional? Assine um contrato. Não adianta. Imponha sua verdade. Os Beatles foram o que foram dessa maneira. Eles trocaram o baterista rebelde, colocaram aquele cabelinho de cuia e fizeram a sua música. A revolução de hoje consiste em estar no Faustão. O underground só critica. Você está no Brasil, cara. Se você não for o Calypso ocupa o espaço. Não é assim?”. Lobão tem razão?
o discursso do lobão é vago, chato e verborrágico. Ele se apropria do que está em voga para continuar se mechendo com música, no começo do parto do mercado independente disse que nunca mais pisaria numa gravadora, para logo depois assinar com a sony e lançar um disco acústico (muito ruim diga-se de passagem.
ResponderExcluirPrefiro o roqueiro drogado que ele foi na época do "O rock errou", aquele sim era um discursso coerente! :)
sim, ele tem razao.
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