Amigos leitores, vi somente agora que minha retrospectiva publicada neste domingo no Diário de Natal ficou sem um pedaço considerável do texto por falta de espaço. Publico então na íntegra por aqui.
Retrospectiva cultural 2009
A figura do antiheroi tem sido encarada como cult na modernidade, apesar de Lula. O problema é a carência de herois para contrapor o oposto e salvar a pátria cultural deste Rio Grande. 2009 merece esquecimento. No máximo, a lembrança do péssimo exemplo a ser corrigido. Um ano iniciado sob críticas no setor e encerrado sob um mar de absurdos.
Claro, iniciativas excelentes de alguns abnegados mantêm viva a esperança na cultura como única revolução possível nesta modernidade confusa, intolerante e sem liberdades. Salvo exceções tão ínfimas que se tornam obrigações do poder público, ações independentes ou patrocinadas pela iniciativa privada construíram o melhor da cultura em 2009.
Meus destaques do ano: A implementação da Lei do Patrimônio Vivo (de autoria do deputado estadual Fernando Mineiro); a Feira Literária de Pipa (Flipa); a estréia das revistas Catorze (eletrônica) e Palumbo (impressa); o Festival Agosto de Teatro; Editora Flor do Sal; e a ascensão ainda gradativa do Mercado de Petrópolis.
Outros eventos e iniciativas mantiveram a altivez e orgulho na excelência da proposta: o Poticanto – Um Canto 100% Potiguar; o site Substantivo Plural; o chorinho do Buraco da Catita; o Praia Shopping Musical; Editora Sebo Vermelho; Goiamum Audiovisual; a EDUFRN; o Nação Potiguar; e o Salão Abrahan Palatnik.
Os projetos e ações citadas são mostras do talento e criatividade potiguar, também evidenciada na literatura: segmento escanteado pelo poder público. Nenhum livro lançado. Nenhum prêmio literário. Sem Preá (apenas uma!) ou Brouhaha. Lei do Livro engavetada. E o primeiro ano sem a Bienal do Livro e o Encontro Natalense de Escritores.
Por outro lado, assistimos e lemos preciosidades como os livros de François Silvestre, Diva Cunha, Tarcísio Gurgel, Nei Leandro de Castro, Marize Castro, Lívio Oliveira, Pablo Capistrano, e mais uma seleção de contistas, jornalistas e cronistas que se lançaram no penoso exercício da escrita sem qualquer apoio público.
Se a literatura foi jogada ao limbo, músicos mendigaram apoios e conseguiram migalhas. Muitos ainda imploram pagamentos atrasados que só virão em 2010. O Seis & Meia parou antes do tempo endividado. A produtora do projeto em Mossoró, Toinha, está sob a mira de agiotas. Aqui, Collier paga do próprio bolso e ainda nutre a esperança do ressarcimento.
O produtor do Poticanto, Nelson Rebouças, ameaçou greve de fome após atraso de quase três meses no pagamento de R$ 1,7 mil por edição semanal do projeto. O projeto Sexta do Repente, na mesma situação. A primeira parcela do Prêmio Núbia Lafayette foi liberada aos 45 do segundo tempo, após oito meses de trâmite burocrático.
Na contramão dos incentivos, ouvimos excelentes trabalhos de Júlio Lima, DuSouto, Valéria Oliveira, Galvão Filho, Babal e Lívio Oliveira, Geraldo Carvalho, Antônio Ronaldo, Simona Talma, Esso Alencar, e outros. Para além das muralhas potiguares, Khrystal, Rosa de Pedra e Tricor. Ainda o eco lá do sul de Rejane Luna e Cida Airam.
Os festivais de música Mada e DoSol mostram maior visibilidade nacional a cada ano. O MPBeco se consolida e revela novos talentos. Fernando Luiz oportuniza o talento musical nas periferias. A música independente cresce unida, a citar o Coletivo Noize e o Xubba Music. E a perspectiva de união de compositores com a recente Rede Potiguar de Música.
A espera de atenção, prestígio ou dignidade, velhos conhecidos da nossa cena musical: Glorinha Oliveira ainda pede apenas um “rancho próprio” para evitar o dispendioso aluguel. Terezinha de Jesus sobrevive longe da situação em que poderia gozar. Chico Elion lançou excelente trabalho em parceria com o filho Kiko Chagas e pouco se noticiou.
O teatro mostrou crescimento interessante, dinâmico. Muito mais pelo esforço e união da categoria. Os editais prometidos ainda estão pendentes. O Teatro Sandoval Wanderley permanece fechado aos espetáculos. Em espaços inusitados, grupos encenam peças, ensaiam, discutem projetos e se mostram.
O Clowns de Shakespeare ainda é o grande nome do teatro potiguar, com peças elogiadas em cartaz no circuito nacional. Mas temos também o coletivo Atores à Deriva; o Estand’art; o Alegria, Alegria; o circo do Tropa Trupe (na UFRN) e o destaque desse ano: o grupo Facetas, Mutretas e Outras Histórias, afora os talentos individuais de Quitéria Kelly, Titina, Pedro Queiroga, o irrequieto Henrique Fontes e o trabalho da Casa da Ribeira.
A peça Entre Quatro Paredes, da dramaturga e atriz Cláudia Magalhães, quebrou o estigma das peças teatrais escritas pelo talento potiguar sem espaço na literatura. Outro feito da atriz foi o livro Esquina do Mundo, que será encenado em janeiro com direção de João Marcelino e trilha de Danilo Guanais. Tudo pela iniciativa privada.
O Beco da Lama – cenário para o livro de Cláudia – viveu mais uma eleição para escolha do presidente da Samba e fecha o ano com criação de outra entidade – a Bamba – voltada aos mesmos propósitos: revitalizar o Centro Histórico e promover ações sócio-culturais no Beco de tantas adjacências, egos, boemia e cultura.
A revitalização se faz necessária ainda nas leis de incentivo cultural – estadual e municipal. Sobretudo a primeira carece de maior democratização dos recursos. Os editais culturais prometiam amenizar o problema. Foram lançados 12 e pagos apenas a primeira parcela de um durante o ano inteiro.
A política cultural do município permaneceu de luz apagada até o meio do ano. Denúncias de pagamentos fraudulentos a artistas a partir de convênio com empresa particular engessaram as ações da Capitania das Artes. Resolvido o problema, o atraso no pagamento da folha salarial ganhou a mídia e incorreu em atos precipitados e conseqüente derrubada do presidente da instituição.
Em um ano nada foi criado. Muito do que existia foi derrubado. O Balé Municipal entrou em crise. Um carnaval razoável, um São João organizado, a manutenção do Goiamum e o fim do ENE, da Brouhaha, uma gestão interrompida e a avalanche de críticas ao novo presidente a partir de declarações equivocadas, publicadas neste DN.
Findamos o ano esperançosos. A porcaria da esperança que move o brasileiro à estagnação; à ilusão. Continuamos a espera de um Natal em Natal compensador. Da reconstrução anunciada da Cidade da Criança. Da conclusão do Centro Cultural da Zona Norte. Dos 40 Cds de músicos potiguares a partir do Prêmio Núbia Lafayette. E mais ainda: da aprovação da PEC 150 para que a Cultura seja respeitada, prestigiada. Nem que seja por obrigação de lei constitucional. Aliás, só assim para merecer respeito.
[image: Quais países usam o cedilha?]
O cedilha é um característico símbolo da língua portuguesa, mas poucos
sabem que ele também é utilizado em outras l...
Há 11 horas
A retrospectiva é boa, ruim foi 2009 mesmo. Agora, 'oportunizar' é foda. Tás virando administrador de empresas é? hahaha.
ResponderExcluirkkkkkkkk Realmente...rs
ResponderExcluirConcordo com a retrospectiva, e incluo no campo da música, a semana da música da ufrn, mais magra do que o ano anterior , mas com muita coisa interessante. E o buraco que ainda continua a se enterrar a nossa orquestra sinfônica estadual , a banda de música e o coral canto do povo. Principalmente a orquestra sinfônica que esse ano fez apresentações escassas e fracas...
ResponderExcluirSem querer colocar tudo no bolo de m... que se encontra a fundação josé augusto, no que tange a música, a nossa sinfônica já chegou no fundo do poço a algum tempo, estamos terminando o ano agora com ela começando a ser enterrada ...